24 de maio de 2004

Crónica Nº 13- O que custa levantar dinheiro nos fins de semana e feriados

Bom dia!
Sábado passado quando fui à Vila cruzei com um amigo que vinha com o seu cartão multi-banco na mão e com cara de muito chateado. Tinha recorrido às 3 máquinas existentes na Vila e nenhuma delas satisfez as suas necessidades monetárias, e claro não foi por falta de provimento nas suas contas...
Acontece que as máquinas são exactamente isso, máquinas e só fazem aquilo para que estão programadas para fazerem e se não as alimentam com os euros elas não os podem dar. Se nelas é escrito que a caixa mais próxima fica no Cais do Pico, não pode aparecer no ecrã que a mais próxima fica no terminal do Aeroporto de Santa Maria. Se escrevemos num computador " se você não pagar a sua dívida até ao dia tal procederemos judicialmente" quando imprimimos não poderá dizer " caro cliente você está em falta. Agradecemos que regularize a situação com a brevidade possível"
Mas quanto à falta de dinheiro a um sábado de manhã é uma situação muito aborrecida. Custa a entender que seja possível nenhuma das 3 caixas existentes, duas na CGD e uma no BCA, não terem dinheiro no início de fim-de-semana. Ou estarão as 3 avariadas, o que não é provável, ou alguém, pelo menos duas pessoas, se esqueceram de por ou puseram lá poucas notas.
Imaginemos que o Golfinho tinha vindo, como o previsto, lá ia aquela gente de S Miguel para lá dizer mal, mais uma vez, de Santa Maria. E com toda a razão. Não faz sentido uma pessoa querer gastar do seu dinheiro, fazer umas compritas de artesanato mariense que por acaso até não se vê à venda e não poder comprar nem as bugigangas que têm colado o nome de Santa Maria e são feitas numa linha industrial qualquer da Baixa da Banheira ou Barcelos e podemos encontrar com rótulos de outras terras nas feiras, festas e romarias do continente. Vai mal o Turismo de Santa Maria se quem nos visita não poder levantar o seu dinheirinho nas caixas automáticas e não poderem comprar coisas genuinamente marienses.
Outra coisa que não entendo é como o Governo Regional assina contractos com a Açor Line e esta empresa sistematicamente dá início à sua operação tarde e a más horas. Como é possível ficarem impunes quando os contribuintes dos subsídios que esta empresa recebe para operar ficam no cais de embarque a xuxar no dedo com as férias ou os fins-de-semana estragados porque os gestores da Açor Line se lembraram que tinham que ter o barco operacional tarde e a más horas...e ninguém é responsabilizado, ninguém presta contas, ninguém indemniza. Isto é uma palhaçada...e ainda vêm cheios de sorrisos frente às câmaras e quase garantem que a viagem programada para Sexta a tarde se realiza e o pessoal vai para o cais para embarcar e fica a ver navios em seco...
Bom, mas como tristezas não pagam dívidas, senão as instituições bancárias que engordam com os juros que pagamos e não nos prestam serviço de tarelo aos fins-de-semana não nos mandariam aquelas cartas "simpáticas" e os comerciantes andavam se sorriso de orelha a orelha, vamos é na Quinta Feira, rir das nossas misérias e grandezas E(faz bem à alma e alivia o stress) ao assistirmos à Revista Omessa que irá à cena no Cinema do Aeroporto. Vale a pena, está muito boa, digo eu, porque participo e me divirto à grande.
Divirtam-se que esta vida são dois dias...e esperemos que o Golfinho navegue, haja dinheiro para gastos e artesanato genuinamente mariense.
Bom dia e boa semana!
Vila do Porto, 24 de Maio de 2004
Ana Loura

17 de maio de 2004

Gateways e rotundas

Bom dia!
Têm estado na ordem do dia, nas notícias, nas conversas de café, duas questões relacionadas com o transporte aéreo e Santa Maria. Uma é a das Gateway (portas de entrada de transportes aéreos) e a outra a tarifa única de transporte.
Quanto à Gateway, uma antiga, justificada e viável ambição mariense, sou de opinião de que foi um erro o Governo Regional ter colocado no mesmo saco Santa Maria e o Pico. Creio que esta atitude teve como razão que a facilidade de implementação da medida em Santa Maria, puxasse pelo Pico e fossem aprovadas ambas. Santa Maria tem um aeroporto com todas as condições técnicas e logísticas. Se a medida for aprovada num dia poderá ser implementada no dia seguinte. Já o caso do Pico é diferente quer logística quer tecnicamente: a pista do Pico terá que ter dimensões que permitam aterragem de aviões de grande porte, uma aerogare com condições para voos grandes, controle aéreo de Torre e outras que não serão de fácil concretização e implicam o dispêndio de avultados montantes de dinheiro. Receio que esta opção tomada pelo Governo de enfiarem no mesmo saco Santa Maria e o Pico, pelas dificuldades de concretização neste último, pesem numa decisão negativa que penalizará Santa Maria. Houve neste caso falta de visão política.
Relativamente à tarifa única concordo inteiramente com ela, só estranho que a SATA não a esteja a aplicar, neste momento, esse critério nas suas promoções e estas existam só para os micaelenses, pois se um açoriano de qualquer outra ilha quiser "aproveitar" a promoção terá de pagar a passagem de ligação da sua ilha para S Miguel o que em alguns casos representará o encarecer a tarifa de tal maneira que esta ultrapassará, então, a tarifa de residente, ou, então ir a nado...o que não será muito prático. Não entendo como pode uma companhia onde há capital regional, financiada com dinheirinho nosso, possa ter atitudes discriminatórias em relação aos habitantes das diferentes ilhas. Não sei, até, se isso será constitucional...açorianos de primeira, os residentes em S Miguel, e os outros.
Para terminar vou dar, finalmente, a minha opinião sobre um assunto que já fez correr rios de tinta e saliva nos últimos meses. Não me pronunciei mais cedo porque queria ver em que paravam as modas ver o aspecto e funcionalidade finais para depois, em consciência, dar opinião. É certo que eu nunca tive dificuldades em transitar, passar, circular nas quatro canadas...se ia para a Praia, não tomava qualquer precaução, piscava para a direita, isto se vinha da Vila, e lá seguia eu toda lampeira à minha vidinha. Se vinha da Praia, fazia Stop, esticava o pescocinho e caso não viesse carro da direita ou da esquerda lá ia eu toda contente. E foi assim durante anos. Quando me apercebi e ouvi falar da construção da rotunda fiquei surpresa: pra que raio quer a gente uma rotunda?? Lá vai o Governo Regional esbanjar dinheiro em tolices... Olha a casa é tão linda...Lá se vai o mapa da ilha que o Senhor Saul (pelo que me disseram) mandou fazer há anos...enfim, tanta coisa eu pensei. Tenho lido e ouvido diversas opiniões, quase todas contra. Passei lá na semana passada e ontem e a minha opinião sincera é que está funcional e tirando aqueles dois calhaus (ainda se fosse uma pedrinha da Cré...) até está muito bonita e como eu não tenciono ir passear para lá os meus cães as caixas de saneamento não me metem aflição embora eu ache que se elas ficassem à face do passeio estariam melhor e quem sabe ainda as vão por assim. E lá está o mapinha que há vinte e tal anos tanta gente criticou e apelidou jucosamente com um título que não repito por impróprio de ser dito ao microfone. Acho que a rotunda é uma mais valia pela funcionalidade e pela estética...são gostos eu sei e eu gosto.
Vou esperar tranquilamente pela solução que está a ser implementada junto à escola primária...para já ainda é uma tremenda confusão e eu ontem até já me enganei. Penso que mesmo que provisória deveria de ter de imediato sinalização horizontal: os traços contínuos, os triângulos. Estou confiante que também venha melhorar a circulação na nossa Vila. E até já ouvi dizer que vai ter repuxo e tudo...modernices...Veremos. Aguardarei por que esteja pronta para dar o meu palpite.
Santa Maria,17 de Maio 2004
Boa semana
Ana Loura

10 de maio de 2004

Bull Sheet ou a besta apocalítica

Impossível tirar os olhos do ecrã da televisão. O horror atinge tais limites que incrédula e boquiaberta penso estar a assistir a um filme de terror. É pura ficção o que os meus olhos vêm. Mas a voz do locutor fala no português habitual dos nossos noticiários e o que vejo é real: seres humanos, tão humanos quanto eu, torturam e humilham outros seres humanos, tão humanos quanto eu e quanto eles próprios. "Seres humanos" nascidos e criados na nação "mais civilizada" do planeta Terra são os actores principais deste filme. Como, há muitos anos, no Far West não conheceram limites para conquistarem (quem conquista sempre rouba, diz o Fausto) aos índios as terras e os recursos para se poderem fixar e enriquecer e fazerem dos Estados Unidos um país rico onde a miséria e o desrespeito pelas minorias são de dimensões que ultrapassam a riqueza, os contrastes são escandalosos, um país de Roquefellers e de gente que morre de fome nas ruas perante a indiferença de quem passa, não conhecem limites para se imporem como nação política e economicamente poderosa.
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Num delírio da mais absoluta loucura divertem-se com o sofrimento e a humilhação que perpetram a filhos do povo que foram "libertar" das garras de um tirano que pelo menos tinha o mesmo sangue que os "libertos".
Falou-se neste Domingo no Apocalipse. Perguntou-se com que olhos olhamos o futuro, se há esperança, se o amanhã de paz é possível.
Sinceramente eu começo a ter vergonha de pertencer a esta humanidade, de saber que o ser humano é capaz de ultrapassar os limites da dor dos outros para seu prazer e alegria. Isto não é novo: tive oportunidade de ver um pouco do filme A Paixão de Cristo, exactamente a cena da flagelação em que os romanos invasores da palestina em nome da mesma "liberdade e Paz" que justificou que o exército Americano, com a conivência de alguns outros países incluindo o nosso pela mão do Senhor Barroso, invadisse o Iraque, flagelassem e crucificaram um inocente (os flageladores soltavam urros de felicidade ao flagelarem Cristo, os olhos brilhavam com o mesmo prazer que vimos nos olhos dos soldados americanos)...
Impossível que os graduados americanos desconhecessem o que se estava a passar. Agora vem o Presidente Bush dizer que lamente e irão ser abertos inquéritos...Bull sheet, como eles próprios dizem.
"Dou-vos um mandamento novo" disse o crucificado. Foi isto há dois mil anos... Haverá, ainda, esperança? Confio, apesar da tristeza que sinto, que ainda há, senão tudo seria em vão.
Boa semana
Santa Maria, 10 de Maio de 2004
Ana Loura

3 de maio de 2004

Dia Mundial do Trabalhador

Como já disse eu não alinho muito com os dias mundiais seja do que for. Acho que, se é importante lembrarmo-nos das coisas elas deveriam ser lembradas todos os dias. Mas a sociedade está assim organizada e lá comemoramos nós o dia Mundial da Criança e aí os miúdos têm tratamento especial nas escolas, dão passeios, comem gelados, vêm filmes, aturam os palhaços que detestam (lembro que uma vez veio cá um palhaço e vi um miúdo com tanto medo dele que chorava agarrado ao pescoço da Mãe), fazem-se colóquios sobre os problemas da infância e pensamos com muita solidariedade nas coitadinhas das criancinhas carenciadas que provavelmente existem mas que estão fora do alcance da nossa vista e muito mais do coração. Depois, há o dia do Idoso, vamos aos asilos, ah, desculpem já não se diz asilo mas Lar de Terceira idade, damos florinhas aos idosos, um docinho não muito doce por cauda da diabetes, saímos e não nos lembramos deles nos próximos 364 dias.
Nesta semana que passou entre outros dias mundiais, nacionais e afins comemorou-se o Dia Mundial do Trabalhador. Não vou dissertar acerca da sua origem Mas vou reflectir sobre o que ele representou num passado recente e o que representa na actualidade.
Eu ainda sou do tempo (adoro esta frase...como ela me faz antiga e conhecedora de factos e situações que os novos desconhecem) em que o sindicalismo era clandestino, em que o governo corporativo português tinha pavor que os trabalhadores conversassem, se juntassem e unissem em torno fosse do que fosse. Sindicatos legais, só os formados pelos bufos dos patrões. Mas os sindicatos existiam e apesar de proibidos eram fortes, tinhas sócios e dirigentes que trabalhavam nas organizações e estavam sempre sujeitos a serem denunciados por algum colega mais lambe-botas. Eram famosos o dos bancários, dos metalúrgicos, dos escritórios, dos ferroviários e mais uns quantos.
Quando aconteceu o 25 de Abril as organizações sindicais tinham poder reivindicativo, eram respeitadas, tinham poder negocial. O Primeiro de Maio foi durante anos uma grande festa. Festa no verdadeiro sentido da palavra, festa em que se festejava sem esquecer que era preciso continuar a lutar pelos direitos laborais. Durante alguns anos a vida em Portugal melhorou, aumentou o poder de compra, os direitos dos trabalhadores foram consignados na lei. Mas quando a alternância democrática fez chegar ao governo partidos ligados aos patrões e ao dinheiro começaram os pequenos ataques a esses direitos, começamos a apertar o cinto, por outro lado as organizações sindicais começaram a desmembrar-se, de um sindicalismo vertical, de classe e forte começaram a aparecer os sindicatos paralelos, o sindicalismo horizontal. Os patrões que antigamente negociavam com um sindicato que representava quase todos os trabalhadores começa a ter mais do que um interlocutor, começa a ver que contentando um dos sindicatos já tem a guerra sindical quase ganha. Temos actualmente sindicatos para todos os gostos e o resultado disso são os contractos a prazo, a perda do direito a um emprego estável. Os contratos a prazo tornam-nos mais fracos pois temos de "andar sempre em sentido" senão no fim do contracto: Rua! Não podemos "levantar cabelo", temos de ter toda a polivalência que o patrão entender. Lá se foram os contractos colectivos, lá se foi a unidade dos trabalhadores.
Tem esta reflexão a ver com a indiferença com que vimos passar o Dia Mundial do Trabalhador, o Primeiro de Maio. Os trabalhadores ficaram em casa, não festejaram nem reivindicaram. Não estão preocupados com a avalanche de despedimentos e de falências. Há uma apatia e uma falta de participação que me preocupa, me faz pensar nos próximos actos eleitorais, no exercício de um direito fundamental para a democracia: o voto. Cada português que se abstém de votar abre a porta ao oportunismo político, enfraquece cada vez mais a democracia.
A tendência crescente para a abstenção é preocupante. O descrédito em que está a cair a democracia tem que ser seriamente estudada e encontradas formas de envolvermos, de novo, todos os portugueses na vida democrática.
Espero que, com esta pequena reflexão tenha contribuído para iniciar o debate sobre as suas causas e a forma de alterarmos o estado de apatia instalado relativamente à vida política Regional, Nacional e Europeia.
Boa semana para todos
Ana Loura
Santa Maria, 03 de Maio de 2004