26 de fevereiro de 2006

Ainda do Faial com Amor ou "Ela tinha os olhos verdes"


Ao meu longínquo amigo Mário Machado Frayão, poeta faialense (Onde quer que estejas...) autor de:

"Ela tinha os olhos verdes"

Ela tinha os olhos verdes
da cor das águas do Porto Pim
O anel
podia ser de Margarida
Clark Dulmo
Ainda vai chegar muita gente à Semana do mar
Sossegam as traineiras sobre um mar de luzes
e por cima das traineiras
sobre a nossa noite grasnavam garajaus
Descem
por uma escada em caracol
outras mulheres
que o sol e o mar nos entregam
cada dia mais formosas

Depois da Festa
(o melhor, além das moças,
bem moças e bem gentis,
mulheres de fala cantante,
foi quando as velas se ergueram nas canoas baleeiras
lembrando as asas de um pássaro)
depois da Festa
vou caminhar sobre a lava arrefecida
na costa da ilha negra
ilha da grande montanha.

Esclarecimento a um amigo:
Entendo que não vejas ponta de interesse na foto...acaba por se natural...e não veres interesse no poema e não gostares do título. Tudo isto é natural, pois há coisas que só a vida ensina...O que se vê na foto é a ilha do Pico e o canal que a separa da ilha do Faial de onde foi tirada a foto. Sabe quem sabe que o livro de Vitorino Nemésio Mau tempo no Canal é passado exactamente aqui...Faial/canal/ Pico e que Margarida Clarck Dumo é a personagem feminina da estória...e que no Faial há a Semana do Mar, e que no Faial há uma marina onde aportam, há decadas, iates de todo o mundo...e que no Peter se bebe Gin...e que acordar e olhar o Pico visto do Faial é fantástico e que olhar para o Pico é ver a mesma coisa sempre diferente...Mas isto só quem viu sabe e eu vi...durante seis meses em que devorei baleeiros, canal, Dias de Melo, Manuel Ferreira, Vitorino, Mário Frayão sentada na ponta da doca onde está aquele farol, vês?...o "restaurante" O Graciosa... A foto está muito boa e eu gosto dela...Beijinhos

Do Faial com amor






Crónica lida aos microfones da estação emissora do Clube Asas do Atlântico no dia 20 de Fevereiro de 2006

Bom dia!
Estive este fim-de-semana na Ilha do Faial na reunião do Conselho Regional do Partido Comunista Português. Nestas reuniões é feita a análise da situação política nacional e regional e são tratadas questões organizativas. Da análise feita à situação política regional ressaltou-me as questões preocupantes do aumento do desemprego e da emigração, sinais evidentes da recessão económica cada vez maior a nível quer nacional quer regional, apesar de os nossos governantes apregoarem que não, que está tudo bem que os açorianos vivem cada vez melhor.
A questão da chamada Coesão do arquipélago e da criação da empresa Ilhas de Valor também foi abordada e ficamos todos a saber, afinal, que de coesão é todo o arquipélago e que o dinheiro que vem da União Europeia e que ao abrigo do conceito de coesão deveria ser empregue nas ilhas cuja falta de desenvolvimento as afasta do patamar de nível de vida das ilhas grandes, Corvo, Flores, S. Jorge, Graciosa e Santa Maria, irá ser empregue na criação de um parque temático e...pasme-se, na Ilha Terceira. Os nossos governantes andam a criar conceitos e empresas baseadas em conceitos que depois são falseados. Mas Duarte Ponte, apressou-se a esclarecer o povo açoriano, na conferência de imprensa que teve como objectivo apresentar a nova empresa sedeada em Santa Maria e dirigida por uma mariense, dizendo: “a nova empresa poderá actuar em todo o arquipélago”, lá se foi o conceito de “Coesão”. Os nossos governantes são artistas em nos atirar areia para os olhos.
Claro que o alargamento do período de encerramento nocturno do nosso aeroporto não foi esquecido. Continuaremos a apoiar as iniciativas de protesto e logo tenhamos resposta ao requerimento apresentado pelo nosso Grupo Parlamentar na Assembleia da República daremos conta aos marienses

Durante a minha estadia no Faial tive a sorte de poder assistir ao espectáculo promovido pelo pelouro da cultura da Câmara Municipal do Faial cujo responsável é Maria do Céu Brito eleita nas listas da CDU.
“José Medeiros nasceu em Vila Franca do Campo, Açores, em 8 de Dezembro de 1951. Em 1976 entra para os quadros da RTP. Trabalha alguns anos em Lisboa e regressa aos Açores, em meados dos anos 80 para continuar a carreira de realizador na RTP - Açores.“Embora envolvido na música tradicional e popular desde os anos 70, José Medeiros, tornou-se mais conhecido pela realização de várias séries televisivas para as quais compôs canções, fortemente baseadas na tradição e cultura açorianas, reflectindo a profundidade e a nostalgia dos sentimentos ilhéus.Destes trabalhos televisivos destacam-se: em 1986 os "Xailes Negros", em 1987 a "Balada do Atlântico", em 1989 "O Barco e o Sonho", em 1992 "Mau Tempo no Canal", em 1995 "O Feiticeiro do Vento", em 1996 o "Pepe Fotógrafo e as Valsas do Mundo" e em 1998 "7 Cidades”.
http://attambur.com/Noticias/20041t/tornaViagem_JoseMedeiros.htm
O espectáculo, baseado no novo CD de Zeca Medeiros contou com a participação de Filipa Pais. Gostaria de referir a minha mais profunda simpatia pelo trabalho deste, quanto a mim, mais completo artista açoriano que se move em áreas artísticas tão diversas como o teatro, a poesia, a música, a realização televisiva e de “diseur”de poesia.
O álbum musical “Torna Viajem” que foi a base do espectáculo, mereceu recentemente o prémio José Afonso.
Zeca Medeiros tem uma presença em palco que prende a atenção, cativa. Como disse, para mim, é o artista açoriano mais completo. E neste espectáculo intimista é perfeito o “entendimento” entre Zeca, os músicos magistralmente o acompanham. Filipa Pais tem uma participação que se integra perfeitamente no ambiente e que mantém o fio condutor do restante espectáculo
Parabéns àqueles que tiveram a oportunidade de assistir ao excelente espectáculo e a aproveitaram. Que o digam os marienses que encontrei na plateia.
A minha mais sincera simpatia e homenagem a um homem da cultura Açoriana, reconhecido em todo Portugal, Zeca Medeiros.

Abraços marienses

14 de fevereiro de 2006

Aqui eu te amo

De Pablo Neruda


Aqui eu te amo.
Nos escuros pinheiros se desenlaça o vento.
Fosforece a lua sobre as águas errantes.
Andam dias iguais a perseguir-se.

Descinge-se a névoa em dançantes figuras.
Uma gaivota de prata se desprende do ocaso.
Às vezes uma vela. Altas, altas, estrelas.

Ou a cruz negra de um barco.
Só.
Às vezes amanheço, e minha alma está húmida.
Soa, ressoa o mar distante.
Isto é um porto.
Aqui eu te amo.

Aqui eu te amo e em vão te oculta o horizonte.
Estou a amar-te ainda entre estas frias coisas.
Às vezes vão meus beijos nesses barcos solenes,
que correm pelo mar rumo a onde não chegam.

Já me creio esquecido como estas velhas âncoras.
São mais tristes os portos ao atracar da tarde.
Cansa-se minha vida inutilmente faminta..
Eu amo o que não tenho. E tu estás tão distante.

Meu tédio mede forças com os lentos crepúsculos.
Mas a noite enche e começa a cantar-me.
A lua faz girar sua arruela de sonho.

Olham-me com teus olhos as estrelas maiores.
E como eu te amo, os pinheiros no vento,
querem cantar o teu nome, com suas folhas de cobre.

13 de fevereiro de 2006

O MÉRITO A QUEM O MERECE



















Crónica lida aos microfones da estação emissora do Clube Asas do Atlântico no dia 13 de Fevereiro de 2006


O MÉRITO A QUEM O MERECE OU O TRABALHO DO PCP NA ILHA DE SANTA MARIA


Bom dia,
Como muitos dos marienses saberão, eu publico, de há algum tempo para cá, as crónicas que fui convidada a escrever para serem lidas aqui aos microfones do Asas, no meu blog “Mulheres de Atenas”. Decidi fazê-lo por duas razões: para que elas não se percam, e para que aqueles que as queiram ler tenham possibilidade de o fazer. Nos blogs, quem lê o que lá escrevemos pode comentar, se o dono do blog, no caso do “Mulheres de Atenas”, eu, assim o decidir. No início eu franqueei as portas e todos os comentários foram automaticamente editados, até os que, a coberto do anonimato me desconsideravam e aqueles que, também a coberto do anonimato ou assinados por identidades inexistentes queriam fazer do “Mulheres de Atenas” a sua tribuna para desancarem em quem não era das suas simpatias.

Repensei a filosofia dos comentários e decidi que quem quiser comentar comenta e só publico comentários depois de os ler e se não os considerar ofensivos. Ultimamente, e a propósito da BTL choveram comentários, alguns já a ultrapassarem a razoabilidade da convivência democrática e da crítica política.

Um deles fez-me sorrir e guardei para hoje a sua publicação. Reza assim: “Incomodo PCP aqui na ilha não tem sido muito!” Sorri porque o acho injusto e porque só alguém com alguma má fé pode afirmar que o Partido Comunista Português em Santa Maria incomoda pouco. Se ele incomoda pouco, na óptica dessa pessoa, os outros incomodam quanto? Claro que poderia e deveria incomodar muito mais. Não faltam temas, falta, por vezes, tempo e apoio. O reconhecimento do nosso trabalho seria um forte estímulo para que intervenhamos cada vez mais.

Têm sido inúmeras as ocasiões em que temos tomado posição e temos levado às instâncias competentes assuntos de relevante interesse para Santa Maria. Na época em que o Governo da República intentou levar o Controle de Tráfego Aéreo para Lisboa, foi o Partido Comunista Português o partido que apresentou o assunto à discussão, na pessoa do deputado João Amaral, que apresentou o requerimento que levou à discussão desta questão na Assembleia da República. As pessoas esquecem-se depressa e dão o mérito a quem o tem só em parte. O Partido Comunista Português apresentou na Assembleia Legislativa Regional diversos requerimentos referentes a questões de reconhecido interesse para Santa Maria. Mas o pior cego é aquele que não quer ver ou os mal intencionados. O eleitorado açoriano, nas últimas eleições legislativas regionais não tendo votado significativamente na CDU e, portanto, não tendo eleito qualquer dos nossos candidatos, ficou sem a possibilidade de ver muitos dos assuntos que os afecta e que não fazem parte das preocupações dos outros partidos serem levados à Assembleia e Governo Regional.

Passaram-se 11 dias desde que se realizou a manifestação espontânea de protesto contra o alargar do período do encerramento nocturno do aeroporto de Santa Maria. No passado dia 10 o Deputado do Partido Comunista Português, António Filipe, apresentou na Assembleia da República um requerimento cujo conteúdo passo a ler:

Requerimento
(10-02-2006)
Assunto: Redução do horário de funcionamento do aeroporto de Santa Maria
Apresentado por: Deputado António Filipe (PCP)
Ex.mo Senhor
Presidente da Assembleia da República,
Chegou ao meu conhecimento que a administração da ANA, EP, decidiu reduzir o horário de
funcionamento do aeroporto de Santa Maria, não tendo dado explicações concretas sobre os
motivos dessa decisão nem sobre as suas implicações.
Essa decisão vem somar-se a outras que têm vindo a reduzir a importância estratégica desse
aeroporto, designadamente o abaixamento da sua classificação internacional e a redução dos
meios de segurança.
Tendo em consideração a importância do aeroporto de Santa Maria na economia dessa ilha, as
medidas tomadas pela ANA, EP põem em causa o equilíbrio, o desenvolvimento harmonioso,
e a coesão económica e social da Região Autónoma dos Açores.
Na verdade, a redução das escalas técnicas e do movimento em geral no aeroporto de Santa
Maria, não deixará de ter uma repercussão negativa nessa ilha, no contexto da Região, pondo
em causa o direito dos marienses em terem um desenvolvimento económico semelhante ao
dos demais cidadãos da Região Autónoma dos Açores.
Nestes termos, ao abrigo da alínea e) do artigo 156º da Constituição e da alínea l) do n.º 1 do
artigo 5º do Regimento da Assembleia da República, venho requerer ao Governo, através do
Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, que me informe o seguinte:
1.º - Quais as razões que motivaram a decisão da ANA, EP, de reduzir o horário de
funcionamento do aeroporto de Santa Maria?
2.º - Em que estudos se baseia essa decisão?
3.º - Existe algum estudo sobre as consequências económicas e sociais dessa decisão?
4.º - Foi dada alguma informação ao Governo Regional dos Açores e à Câmara Municipal de
Vila do Porto sobre essa decisão, os seus fundamentos e as suas previsíveis consequências?
O Deputado
(António Filipe)


Mais uma vez o Partido Comunista Português toma posição, como o fez em comunicado, e apresenta as questões onde elas devem ser apresentadas. Que a memória das pessoas, não seja nem selectiva nem curta e que o mérito das acções seja reconhecido a quem as toma.


Abraços marienses
Santa Maria, 13 de Fevereiro de 2006
Ana Loura

6 de fevereiro de 2006

Santa Maria unida



Crónica lida aos microfones da Estação emissora do Club Asas do Atlântico no dia 06 de Fevereiro de 2006
Bom dia!

Na passada Quinta Feira Santa Maria foi palco de um acontecimento que, quanto a mim, é marcante na vida política mariense: alguém conseguiu mobilizar centenas de pessoas em torno de uma questão que, não sendo nova, finalmente, une os marienses independentemente de politizados ou não, independentemente de estarem filiados ou simpatizarem com qualquer dos partidos da nossa “praça”.

A ANA SA, decidiu estender o período de encerramento nocturno do nosso aeroporto por mais duas horas e meia. O facto indignou os marienses que, não tendo, praticamente, reagido aquando do encerramento no restante período nocturno da meia-noite às 6 da madrugada se mobilizou através da difusão de mensagens por telemóvel e recados. Eu tomei conhecimento da realização da manifestação através de mensagem que agradeço ao emissor.A actuação economicista da ANA, no que toca ao Aeroporto de Santa Maria, já não é novidade, já o fez em relação às pistas que encerrou. Não entendo como o encerramento por mais duas horas evite o tal défice astronómico que a administração da empresa diz ser o resultado no ano transacto... Penso que nesse défice estará incluído os custos das obras no terminal que, como sabemos, serão amortizados pelas taxas aeroportuárias e pelas rendas pagas pelo concessionário do Restaurante Concorde, pelas rendas das lojas, dos Rent-a-car e Turismo, mas isso a ANA não diz. A ANA deveria, pelo facto de ser empresa pública, apresentar essas contas bem explicadas e ser fiscalizada pelo Tribunal de Contas pois acho a estória muito mal contada.

Mas o que muito estranho, também, na actuação da ANA é q decisão e implementação destas medidas sem que haja diálogo quer com o Governo Regional, quer com o da República. Ou será que há e agora andam a atirar-nos areia para os olhos ao dizerem que foram apanhados de surpresa?

A ANA não se pode comportar como qualquer empresa privada do vale do Ave que encerra sem dar cavaco. A ANA é uma empresa de capitais públicos, portanto com responsabilidades sociais e obrigação de prestar contas públicas.O problema do Aeroporto não se confina às horas do seu encerramento, vai muito para além disso: os preços dos combustíveis cuja diferença para o praticado aeroporto de P Delgada é elevada. Somos ou não uma ilha da Coesão? Temos ou não de ver na prática esse chavão aplicado? O Governo Regional tem por obrigação, nesse âmbito, de subsidiar o preço da gasolina de abastecimento aeronáutico para que as companhias aéreas prefiram, pelas excelentes condições da pista que a ANA cada vez mais quer reduzir, abastecer em Santa Maria do que em S Miguel. Não vale a pena o Governo criar figuras de retórica que não passem do papel, é preciso torná-las reais aplicando-as. Santa Maria faz parte do grupo das chamadas ilhas de coesão, tudo bem, vamos lá saber o que isso significa, procurar FINALMENTE as razões que a levam a ser isso e tomar medidas efectivas para que nos aproximemos do desenvolvimento sustentado e harmónico das ilhas mais desenvolvidas.Dando cumprimento a uma decisão tomada pelo grupo de manifestantes que, dando seguimento ao decidido no Terminal, compareceu no Hotel 5 às 18 horas para continuar o protesto (não entendo porque apareceu tão pouca gente...) está a circular um abaixo-assinado que fiquei incumbida de redigir e entregar nas lojas e a pessoas que os levem para as freguesias e, posteriormente, recolhê-los. Estarei, hoje às 12:30 e às 17:30 junto aos Supermercados Baptista e Ângelo para dar abaixo-assinados a quem quiser colaborar na recolha de assinaturas. Na próxima Segunda estarei às mesmas horas e local para os recolher. Posteriormente o abaixo assinado será entregue à ANA, SA, Governo Regional, Assembleia Regional, Ministro da República e Câmara Municipal.
Mais assuntos há em Santa Maria que precisam a união de todos os Marienses. Um deles, por exemplo, é a desanexação dos terrenos e infre-estruturas não aeronáuticas situados na áreas do aeroporto e que a ANA, SA administra e que deveria passar para a tutela da Câmara Municipal Um assunto que se arrasta há demasiado tempo. Para a Associação Equestre parece que o processo foi rápido. Quem tiver dados sobre este assunto, por favor, partilhe-os. Quem sabe conseguimos, juntos, o tal empurrãozinho que tanta falta faz.

Abraços marienses
Santa Maria, 06 de Janeiro de 2006
Ana Loura

3 de fevereiro de 2006

“Que tens que ver connosco, Jesus de Nazaré?”



















Bom dia!

“Que tens que ver connosco, Jesus de Nazaré?”

Hoje o tema será recorrente. Há questões que fazem parte do meu dia-a-dia e a minha forma de estar na vida é um deles.
Quando alguém me pergunta como posso ser comunista e católica eu já sorrio pois ser as duas coisas, para mim, é ser só uma: ser o que sou. As pessoas perguntam-me meias a medo: “O teu padre sabe quem tu és?” ou o” Partido sabe que és católica?” Claro, que toda a gente sabe quem eu sou e o que sou. Assumo publicamente as minhas opções.

Raramente falto à missa. Faltar sim, para mim não ir à Missa é faltar. Quando, por qualquer razão, não vou sinto falta e só não vou quando estou numa terra onde não me sabem dizer a que horas se realiza ou se a igreja fica muito longe.

Ontem, claro que fui e senti-me particularmente bem. Há dias em que tudo ou quase tudo concorre para que nos sintamos bem e felizes.

Alguém, há uns anos, chamou-me beata e rata de sacristia…confesso que me senti triste, ofendida, principalmente, por ter o “insulto” saído de onde saiu. Aliás pensando bem foram duas as pessoas que me disseram isso e uma há bem pouco tempo. Na primeira vez calei-me mas da última pus-me em bicos de pés e disse: “Olha lá, se há duas coisas na vida em que não admito que ninguém se meta são nas minhas opções quer políticas quer religiosas, sou o que sou e quem quer gostar gosta e quem não quer gostar cala-se”. Assunto arrumado.

O que terá Jesus a ver comigo? O que terá Jesus a ver com todos e cada um de nós, cristãos? Ser cristão é seguir Cristo. O que é seguir Cristo?
Lembro-me tantas vezes do Padre Jacinto Monteiro e do brilho do olhar dele quando falava do amor louco de Cristo por nós, no Seu amor apaixonado à humanidade. Tão apaixonado que no Jardim das Oliveiras se deixou apanhar pelos soldados Romanos depois de Judas, numa provocação que pensava iria fazer Jesus pegar nas armas e assumir a liderança real do Povo e libertá-lo do jugo Romano, o entregou aos soldados.

Jesus foi abatido porque era pelos escravos, pelos pobres, pelos doentes, pelos desfavorecidos. Não foi o Povo quem matou Jesus, foi o poder instituído, foram os Romanos porque o poder Judaico, farisaico assim o quiz, com o cínico lavar das mãos de Pilatos, de toda a hierarquia judaica, excepto Nicodemos. O Povo, esse, foi manipulado pelos grandes, pelos poderosos, por aqueles que, arranjando testas de ferro, lacaios, sempre o manipula.
Portanto ser Cristão é ser pelos mais fracos, pelos desfavorecidos, pelos doentes do corpo e da alma e ser por eles é ser contra quem os desfavorece, contra quem não lhes dá emprego, quem os explora e, acima de tudo ter coragem de o ser. Não andar “acender velas a Deus e ao Diabo”. É dispor-se para servir quem precisa e onde é preciso. Não esperar sequer ser chamado, é ir ao encontro, pegar nas redes e nas enxadas, pescar nas águas tumultuosas e cultivar as vinhas desta vida.

Os Cristãos não se podem calar à injustiça, à prepotência, ao insulto, à miséria, aos aumentos dos preços, aos aumentos dos impostos, ao desemprego, à falta de solidariedade social, ao compadrio. O Cristão tem obrigação de denunciar alto e bom som, não de encolher os ombros e dizer…estou safo, desta vez não foi comigo. Para o Cristão é sempre com ele pois ser Cristão é seguir o mandamento maior, o mandamento do amar o próximo como a si mesmo.
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Assisti, ontem, ao espectáculo de comédia do actor José Pedro Gomes. Gostei do humor inteligente. A casa de cinema não estava lotada, mas razoavelmente composta. Uma aposta de uma organização que teve o mérito de arriscar numa aposta que, seguramente, ganhou.


Abraços marienses

Ana Loura
Santa Maria, 30 de Janeiro de 2006