14 de dezembro de 2009

"Caçadores de borboletas"



Os filhos gémeos do Dr Sérgio Ávila à caça de borboletas. Gostei imenso de ter feito estas fotos.

O Império dos fósseis













Foi lançado, em Santa Maria (depois de o ter sido em São Miguel) no passado Sábado dia 12 de Dezembro de 2009, no Centro de interpretação ambiental Dalberto Pombo o livro "Açores Império dos fósseis". É conhecido o reparo que faço ao título do livro, já o exprimi por diversas vezes: falta nem que em letra minúscula "Ilha de Santa Maria" na capa do livro logo abaixo de Açores. Mas ultrapassada essa fase e em abono de toda a verdade, que procuro imprimir ao que digo, o livro é de uma beleza fotográfica surpreendente e para além disso numa linguagem acessível fala de forma séria do nosso património fóssil (único nos Açores e raro em ilhas), e das diversas expedições científicas realizadas nos últimos anos em Santa Maria lideradas por Sérgio Ávila, autor do texto e fotografadas por Pedro Monteiro.
A apresentação do livro foi feita pelo mariense Pedro Gomes num texto fluído que prendeu a atenção e que para quem se definiu leigo em matéria de paleontologia se saiu muito bem terminando com uma justíssima homenagem a Darberto Pombo conhecida e reconhecida figura de Naturalista cujo espólio se encontra muito justamente "acautelado" no edifício onde decorreu a apresentação. A sua neta a Dra Joana Pombo Tavares, responsável pelo Centro de Interpretação, abriu a sessão. Parabéns pela organização.


E porque gostei particularmente do texto de apresentação de Pedro Gomes e tive a sorte de o receber através de Daniel Gonçalves que sabia o quanto eu gostaria de ter o texto, aqui está ele




APRESENTAÇÃO DO LIVRO “AÇORES – O IMPÉRIO DOS FÓSSEIS”
VILA DO PORTO – 12 DEZ2009






Minhas Senhoras e Meus Senhores


As minhas primeiras palavras são de sentido agradecimento ao Doutor Sérgio Ávila e ao Pedro Monteiro pelo convite que me fizeram para apresentar o livro Açores – o império dos fósseis.

Conhecida a minha ignorância em matéria de fósseis e a falta de jeito para a fotografia – para além das tradicionais fotografias de família, em que, muitas vezes, pés ou cabeças, inexplicavelmente, desaparecem da objectiva – o convite é uma temeridade, que só a amizade pode justificar.

Em tempo de Natal, que convoca a memória e a alegria do reencontro, juntamo-nos para assinalar a combinação feliz entre os sentidos e a ciência.

Nestas ruas que percorri vezes sem fim, em que brinquei e me fiz gente, entre as gentes que conheço e em que me reconheço, estou em casa.

Ao fundo, a Matriz em que me baptizei. Mais ao lado, as casas em que morei. Aqui mesmo, onde nos encontramos, no Centro de Interpretação Ambiental Dalberto Pombo - local que evoca um amigo de longa data - a casa duma das minhas catequistas.

Aqui pertenço. Sou daqui, nesta singularidade de ilhéu que nos distingue de todos os outros portugueses.

Como povo açoriano – expressão de que alguns não gostam – definimo-nos na relação com o mar, com os vulcões, na luta contra as intempéries e a natureza inclemente ou contra a incompreensão do poder político que persiste em não entender que somos diferentes.

As adversidades moldam-nos o carácter. As dificuldades temperam-nos a coragem. A distância – todas as distâncias que temos de vencer – fazem-nos mais determinados. Não desistimos nunca.

Como escreveu João de Melo, num verso que gosto de evocar, somos o “povo que nasceu do mar”.


Minhas Senhoras e Meus Senhores


Comemora-se, neste ano de 2009, o bicentenário do nascimento de Charles Darwin e os cento e cinquenta anos da publicação da Origem das Espécies, o seu livro mais famoso.

Poucas obras na nossa história terão mudado duma maneira tão profunda, a perspectiva sobre nosso lugar no mundo.

No final duma viagem de cinco anos a bordo do navio Beagle, Darwin passou pelos Açores, a caminho de Inglaterra. Primeiro na Terceira, depois em S. Miguel.

Charles Darwin achou as ilhas pouco interessantes, não lhes dedicando mais do que quatro breves referências na Origem das Espécies. “Gostei imenso da visita, mas não encontrei nada digno de registo”, afirmou.

Pois bem, nas ilhas há uma história para contar e muita coisa digna de registo, como demonstra O Império dos Fósseis.

Cento e cinquenta anos depois, Sérgio Ávila e Pedro Monteiro ajudam a revelar o erro de Darwin, confirmando a biodiversidade destas ilhas e o facto dos Açores serem um laboratório natural, no meio do impaciente oceano Atlântico.

Não poderia haver coincidência mais feliz do que esta, para nos reunirmos em Santa Maria.

O Império dos Fósseis é um prazer para os sentidos.

A belíssima fotografia de Pedro Monteiro transporta a magia dos lugares e das coisas.

O Pedro Monteiro, com apurada sensibilidade de artista, faz da fotografia dum livro de carácter científico, uma obra de arte.

Através do olhar do Pedro Monteiro, os lugares chamam por nós.

O Império dos Fósseis é, também, um livro de divulgação científica.

Escrito por um jovem cientista, formado na Universidade dos Açores e já com um intenso percurso académico de investigação, este livro conjuga o rigor do cientista com a qualidade do divulgador da ciência.

De modo aparentemente simples, o Doutor Sérgio Ávila conduz o leitor pelos caminhos da expedição científica realizada em 2006 a Santa Maria, para estudo das jazidas de fósseis, transformando-o em mais um membro da expedição.

Oscilando entre o registo de diário de expedição e o da anotação científica, O Império dos Fósseis é um precioso guia de conhecimentos sobre fósseis e de redescoberta de Santa Maria.

A este propósito, o título do livro não podia ser mais significativo: tal como nos Impérios do Espírito Santo, em que a Fé a todos iguala, no louvor da terceira pessoa da Santíssima Trindade e na partilha da carne, do pão e do vinho, o saber que este livro revela é acessível a todos.

Fazer ciência e divulgá-la ao público em geral não está ao alcance de muitos. Sérgio Ávila e Pedro Monteiro conseguiram-no com este livro.

Afinal, O Império dos Fósseis significa ciência para todos.

Com este livro retomamos inquietações de sempre: quem somos? De onde viemos? Como evoluiu a vida na terra?

Em cada fóssil, os cientistas procuram uma nova resposta. A cada nova resposta, surge outra dúvida. Eis a essência do conhecimento científico.

Num certo sentido, O Império dos Fósseis desperta em nós a inquietação sobre o nosso lugar no mundo, sobre o princípio e o fim e o big bang do universo e da vida.


Minhas Senhoras e Meus Senhores


Se os fósseis e as suas jazidas são mapas silenciosos da nossa história biológica, o livro que hoje é lançado constitui um desafio à afirmação de Santa Maria como um geo-parque.

A paleontologia permite colocar Santa Maria num roteiro de locais de interesse científico - relevantes para a comunidade científica – e de geo-parques com inegável interesse turístico.

A partir de fósseis com milhares de anos, há uma oportunidade para diferenciar Santa Maria no presente, com um evidente sentido de futuro.

Apesar de ser uma ilha pequena, Santa Maria não tem de estar na periferia do conhecimento.

Certamente, Dalberto Pombo, pensou assim.

O Império dos Fósseis evoca a sua memória, numa justa e merecida homenagem, que ultrapassa a barreira física das ilhas.

Saúdo, neste momento, com amizade, a sua família aqui presente, partilhando a saudade pelo seu desaparecimento.

Conheci Dalberto Pombo desde sempre, como os Açorianos se conhecem. É um amigo de saudosa memória.

Escriturário por dever de ofício, foi um naturalista por devoção e um pedagogo por convicção.

No Corpo Nacional de Escutas – de que foi um dos fundadores - ou no Centro dos Jovens Naturalistas – que fundou e dirigiu – sempre privilegiou a transmissão de conhecimentos aos mais jovens.

Espírito inquieto, com uma curiosidade insaciável, Dalberto Pombo promoveu a divulgação científica e a educação ambiental, incutindo em todos a vontade de saber mais.

Auto-didacta, formou centenas de jovens – um dos quais eu próprio – iniciando-os no conhecimento científico e ensinando as técnicas e cuidados de colheita, classificação, preparação e preservação de espécies, nas áreas da botânica, geologia ou da biologia.

Ainda hoje, conservo algumas caixas com borboletas e insectos, colhidos em trabalhos de campo, devidamente “preparados” – como dizíamos na gíria de naturalistas amadores - para exibição, catalogados e que fazem as delícias dos meus filhos. Permitam-me referir, que os bichos têm resistido bem aos últimos trinta anos…

Lembro-me que, quando não havia alfinetes entomológicos (adequados à conservação de insectos), pois eram caros e difíceis de obter, recorríamos aos alfinetes de cabeça, surripiados à caixa de costura da mãe – alternativa sugerida por Dalberto Pombo, com o seu proverbial espírito de improviso.

De Lisboa à Nova Zelândia correspondeu-se com cientistas, universidades, centros de investigação e outros naturalistas e participou em inúmeras expedições, tornando-se uma referência incontornável.

Contribuiu para a descoberta de dezenas de novas espécies para a ciência, tendo sido homenageado com a atribuição a cinco delas do restritivo específico pomboi.

Refiro aqui, também, a descoberta, em S. Jorge, duma sub-espécie da borboleta Hipparchia Azorina que, tendo sido dedicada ao Centro dos Jovens Naturalistas tomou a designação de Hipparchia Azorina Cejonatura.

Sem dispor dos meios de comunicação de hoje, Dalberto Pombo não se intimidou com a pequenez insular, dando às coisas do espírito a dimensão que a geografia não autorizava.

Fez da ilha um mundo de outros mundos, com humildade e generosidade.

Como reconhecimento – sempre insuficiente – da sua dedicação ao bem comum, a Assembleia Legislativa concedeu-lhe em 2008 e a título póstumo, a Insígnia Autonómica de Mérito Cívico, para que tive o gosto de contribuir, enquanto Deputado.

No Centro de Interpretação Ambiental, onde estão depositadas as suas colecções, lembramos um homem de coração grande que amou a ilha que se tornou a sua terra.

Dalberto Pombo deixou seguidores. Os autores d’ O Império dos Fósseis são disso exemplo.

Saudade não é tristeza.

Que O Império dos Fósseis nos seduza e inspire a conhecermos os Açores como Dalberto Pombo procurou conhecer.

2 de novembro de 2009

"A caridade não se ensoberbece"







Fotos de Ana Loura
“A caridade não se ensoberbece”

Chegaram a Santa Maria no passado dia 16 de Outubro três contentores com o total de quinze toneladas e meia de alimentos; arroz, farinha, açúcar, massas diversas, manteiga, leite, bolachas, leite em pó, leite achocolatado, leite UHT, cereais, queijos, sobremesas, no âmbito do Programa de ajuda alimentar a carenciados, através do Banco Alimentar contra a fome de S. Miguel no resultado de uma conversa informal entre o Pároco de Vila do Porto, Padre Sérgio Mendonça, e a Dra. Luísa César, presidente do Banco. A instituição mediadora foi a Fraterna Ajuda Cristã da Paróquia de Vila do Porto em colaboração directa com o Instituto de Acção Social que forneceu as listagens de todos os beneficiários do Rendimento social de inserção. Dentre os que constavam na lista do IAS e os carenciados inscritos na FAC foram contempladas 148 famílias num total de 365 pessoas.

Mediante as listagens e num critério determinado pelo IAS os alimentos foram separados em caixotes acompanhados de uma credencial que os destinatários assinaram após terem recebido e conferido o conteúdo dos caixotes pela respectiva credencial.

A FAC, Fraterna Ajuda Cristã, é uma instituição de caridade ligada à Igreja e vive dos contributos dos seus associados e de diversos anónimos e do trabalho voluntário da sua direcção e colaboradores. Foram estes que durante uma semana debaixo de sol ou de chuva, juntamente com o Pároco, separaram os alimentos, colocaram dentro dos caixotes, carregaram-nos para as carrinhas de caixa aberta cedidas pela Logística e andaram pela ilha toda a entregá-los.

Quando fui ao cais tirar fotografias do andamento dos trabalhos recusaram-se a que os fotografasse é que: “a caridade não se ensoberbece” e o trabalho deles, a disponibilidade também foi caridade.

Bem hajam todos os que tornaram este Natal antecipado possível.

NOTA: A Fraterna Ajuda Cristã é um movimento, como disse, ligado à paróquia que sobrevive e ajuda quem precisa com as quotas dos seus associados e dos donativos que pontualmente chegam às mãos da sua Direcção. Se pensarmos que podemos prescindir de um maço ou dois do tabaco que fumamos ou de quatro ou cinco dos cafés que bebemos por mês e fazermos disso uma quota fixa para a FAC, esta organização poderá chegar mais longe nas suas acções de apoio a carenciados. É que por pouco que tenhamos há sempre quem tenha menos do que nós.

Abraços
Ana

9 de outubro de 2009

Com amor e com...humor























Fotos de Ana Loura


Pequena nota para quem não for de Santa Maria: César, Presidente do Governo Regional, veio na Quarta feira dar "uma mão" a Nélia Figueiredo e correu as casas do aeroporto a dizer a quem lá vive que irá entregar-lhes as casas pelo valor simbólico de 5 euros. Ora nem acordo assinado ainda há com a Ana...enfim...muito baixo desce quem está com medo de não ganhar as eleições.


Não me surpreendeu de forma alguma a postura de Daniel Gonçalves nesta campanha eleitoral, participativo, assumindo por inteiro a responsabilidade que aceitou quando disse sim ao projecto da candidatura da CDU à Câmara Municipal de Vila do Porto. Daniel Gonçalves distinguiu-se pela positiva no debate transmitido pela RTP não entrando em ataques pessoais, sendo cordato, educado, tranquilo. Foi aplaudido por muita gente que se lhe dirigiu a dar os parabéns, gente de todas as candidaturas, gente sem partido, gente que ainda não tinha decidido em quem votar até aquele dia. Mas alguns, mais “exigentes”, que queriam ter visto “sangue”, disseram que ele não tem estatura para líder, que lhe faltava qualquer coisinha. Eu pensei: eles que esperem… Ontem no debate transmitido em directo pelo ASAS Daniel, sempre sereno, sempre sem levantar o tom de voz, mas firme, apresentou propostas quando era para as apresentar, contestou o que era de contestar, rebateu quando era de rebater, não “se ficou” quando chamado de mentiroso, mas sempre com o ar doce de quem sabe o que quer, de quem está certo de que o futuro está ganho porque a razão está com ele. Daniel Gonçalves fez render cada segundo que teve para intervir e apresentou o seu projecto, o projecto da CDU. Não lhe faltaram abraços à saída do estúdio do ASAS. Abraços de todas as cores políticas. Daniel tinha ganho o debate

A campanha termina à meia-noite de hoje e o lema principal da candidatura de Daniel Gonçalves, da candidatura da CDU continua a ser POR AMOR à terra em que vivemos e como vemos pela fotografia também com muito humor!

É com grande orgulho que agradeço publicamente a disponibilidade que todos os integrantes das listas tiveram em as integrar. Não é fácil assumirem-se simpatias em terras pequenas como a nossa. Ao Marco afirmo que se ele não for eleito é uma tremenda de uma injustiça por um lado e será uma menos valia para a Assembleia Municipal. Ele merece pelo todo o seu trabalho no blog, pela atenção permanente que dispensa aos assuntos da Ilha e a Ilha e os marienses também merecem que ele lá esteja pois será sempre um defensor do progresso sustentado da Ilha. Mas eu confio no bom senso dos marienses e o Marco na primeira sessão da Assembleia estará lá para assinar o compromisso de honra e assumir o seu lugar de Deputado Municipal.

Como costumo dizer: Amanhã há mais. A vida política em Santa Maria não se esgota com a eleição de Domingo. Nós, CDU, continuaremos sempre a intervir. Contem connosco, sempre com amor e com…humor



7 de outubro de 2009

A ajuda de César

Acabo de ouvir César no noticiário do ASAS e confesso que embora discordando de muitas das opções do governo eu o respeitava e respeitava César. Hoje ele mostrou-se por inteiro. Afirma que QUER trabalhar com Nélia Figueiredo, assim como uma criança mimada que diz "Assim não brinco" se ganhar outro dos candidatos e não darei nada a Santa Maria, "prontus", até parece que "os berlindes" são dele e não os nossos impostos que os pagaram. Quem ameaça uma ilha para que vote na sua candidata dizendo que só teremos aquilo a que temos direito porque cidadãos dum país, porque vivendo numa Região Autónoma para os quais contribuímos com os nossos impostos só se a sua candidata ganhar é chantagem pura e dura, é triste ao que a política (do PS) chegou nos Açores, ao que se rebaixa quem está desesperado a ver os votos a fugirem a passos largos. Prometer aos habitantes das casas AINDA da ANA (ainda não foi assinado o protocolo para a passagem dos terrenos e infre-estruturas para a posse da região) que as casas são suas a preços simbólicos, que quem tiver as casas sem condições de habitabilidade irá viver de graça nas casas da NAV (a NAV sabe disso?) ...é demais. Tenha vergonha, Senhor Presidente do Governo Regional, não se esqueça que o Senhor fez estas promessas como Presidente do Governo, assumiu-se como tal ao falar...
O senhor pareceu-se todinho como os ciganos que vendem relógios "de marca" e óculos "Ray Ban" pelas ruas de muitas cidades...

5 de outubro de 2009

Bacalhau


Foto da autoria do saudoso fotografo Carlos Adriano gentilmente enviada por: http://web.mac.com/jfagomes (recomento uma visita ao excelente site)



Veja o filme:

http://www.patricioclan.org/video/vids/flvplayer.swf?file=cod-fishing-1966-m-smmanuela.flv&autostart=true&fs=true



Nasci em Vila do Conde, Caxinas, Poça da Barca, Póvoa de Varzim, Aguçadoura...perto e ao mesmo tempo longe do lar onde nasci e cresci. Mas havia as peixeiras que caminhavam quilómetros, canastra à cabeça, vinham em bando, como as gaivotas, sempre gracejando, ou quase sempre naquele dialeto a soar a mar (muito parecido com a fala de Rabo de Peixe, Faro, Nazaré), vinha a Dos Anjos que Marias eram todas, umas Dos Anjos, outras da Guia, outras de Fátima, mas todas Marias como a Mãe de Deus e todas tinham os "homes" embarcados no bácálhau que viria mais tarde cobrir os arames das secas que ocupavam a margem direita do Ave desde a Doca até à Senhora da Guia dos dois lados da estrada, que mulheres, também de pescadores , estendiam, viravam e guardavam, sentadas nuns cavaletes de forma a verem toda a seca da sua responsabilidade não fosse algum gato ou cachopo atrevido botar a mão e levar à surrelfa um dos peixes cobertos de abundante sal, o bacalhau escalado. Quando o sol ameaçava esconder-se por detrás do Castelo a mulheres recolhiam para carroças que puxavam até ao armazém onde o bacalhau ficaria guardado até ao dia seguinte. Nós, a caminho da praia, muitas das vezes faziamos menção de botarmos a mão a um bacalhau, a gente só queria ouvir as ameaças, os palavrões, os impropérios, nós eramos meninos finos, nas nossas casas não se falava assim e nós achavamos graça. A Dos Anjos era a nossa peixeira, a Dos Ajos ficava sempre para trás pois enquanto vendia o peixe fresquinho, da lota, Dona Margarida, a sinhora sabe que num a ingáno, se o peitxe não fosse fresco eu a si num lo bendia, sempre naquele tom a soar e a saber a mar, e a Dos Anjos tinha seu home embarcado nas terras do bacalhau e falava à minha Mãe nos dois pequeninos que deixara em casa à sua sorte, pois as mulheres tinham que vender o peixe, apanhar o sargaço e os pequeninos ficavam em casa deixados à sua sorte que Deus proteje os mais pequeninos e a Senhora dos Anjos bota-les a mão. Mas Dona Margarida, ele foi a tchorar e eu fiquei a tchorar, a sinhora num sabe o que aqueles homes passu naquele mar de Deus, é sêde, é fome, é os trabalhos, é os que caem e ficam enterrados naquele mar de Deus, o mê cunhado foi no áno passado e nunca burtou, a minha irmá butou luto mas nunca ninguém biu o meu cunhado morto, é a nossa bida. Até à cumpánha bortar eu num sei se o meu é bibo ou morto, que Deus nos ajude...


Por vezes esqueço que tenho passado e de repente...

30 de setembro de 2009

Anthero; Zeca Medeiros; Raul Resendes

ANTHERO




















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Um "parto" difícil esta sessão no ASAS, pois foi necessário esperar a disponibilidades dos participantes para se deslocarem a Santa Maria e andámos de adiamento em adiamento, de data em data. Demorou a concretizar-se mas valeu a pena cada minuto. Obrigada Dr. Pedro Bicudo que aceitou a sugestão de fazer a apresentação do filme em Santa Maria e tudo facilitou, deslocação e estadia do realizador Zeca Medeiros e do actor Raul Resendes que intrepreta Anthero e mais dois, ("se bem me lembro") dos personagens do filme, ao Tó Pacheco, ao ASAS (Cristiana, Tó Pincho) que abraçou de imediato a realização do evento, logística e tudo o resto e aos músicos do Sol Baixo que prepararam a homenagem possível ao escritor de canções e intérprete (a quem eu aqui já há algum tempo prestei a minha pequeníssima homenagem) Zeca Medeiros. Foi um serão memorável, a "casa composta" por espectadores atentos.

Acompanhei tudo o quanto pude neste regresso a Santa Maria de Zeca Medeiros que já cá não vinha desde os vinte anos da Maré (há coisas que marcam os calendários das nossas vidas e há coisas na vida que são contadas por anos da Maré, pelo menos até agora...). O Zeca para mim sempre foi o artista, o cantor, o realizador, pessoa por quem nutria, e claro que nutro, uma profundíssima admiração por todo o seu trabalho. Portanto era uma pessoa a quem eu via "de longe" Esta oportunidade de o conhecer de perto durante cerca de vinte e quatro horas confirmou-me o homem culto, com um sentido de humor muito especial, e estórias de vida que a gente ouve durante horas sem se fartar. Tive a sorte de assistir ao "despique" de memórias entre o Zeca e o Max, ri-me a bom rir e fiquei mais rica de vivência.
Voltando ao filme: uma ficção baseada na vida e morte de Anthero de Quental, uma viagem que passa pela terra onde nasci, eu e Anthero viajámos em sentido inverso, eu vim e ele foi. O Raúl desempenhou todos os papéis como se fosse actor há muito e fosse experiente na arte de representar diante das câmaras.

Rematando, gostaria de voltar a ver o filme. Creio ter ouvido alguém dizer que ele seria destribuído nas escolas, a ser verdade, excelente medida.
Mais uma vez obrigada a todos os que tornaram possível que este projecto se concretizasse. Que mais um sonho meu fosse realidade. Bem hajam
Abraço mariense
Ana

Nota: depois de ter lido o primeiro comentário reparei que tinha escrito uma frase de sentido duvidoso que se impõe esclarecer. O trabalho dos Sol Baixo foi excelente, prepararam três das cantigas do Zeca e intrepretaram-nas muito bem. (em baixo ficam os vídeos com a fraca qualidade que a minha máquina fotográfica permite) Quando falo em homenagem possível quero dizer que outros músicos marienses foram convidados, pois queria-se uma homenagem mais participada, Santa Maria tem um leque de músicos em áreas musicais diversificadas que iriam "vestir" trabalhos do Zeca com "roupagens" diferentes, mas por diversas razões declinaram o convite.

Espero ter esclarecido. Lamento que continuem a entrar aqui com má-fé e atirem pedras a coberto do covarde anonimato. Ele há pessoas com pouca coluna vertebral.

Abraços

28 de setembro de 2009

Ser cidadão, tomar partido

61,39% dos marienses não votou, não tomou partido, não participou, não foi cidadão.

Muitos estão deslocados por motivos de força maior (estudos, trabalho), mas muitos destes optaram em consciência não participar nos acto eleitoral. Opções que respeito, mas não entendo e me custa muito a aceitar. Um cidadão demitir-se de o ser pelo facto de não exercer a obrigação de participar no acto eleitoral. Demitir-se de ser cidadão é assim como a mesma coisa do que rasgar a Certidão de nascimento, o bilhete de identidade, deixar de ser nascido um determinado país. Por todos os motivos que tenha, nada justifica que por opção se torne apátrida. Será que esses 61,39% de recenseados em Santa Maria, digamos residentes, que agora basta residir, ter mais de 18 anos e pronto, somos cidadãos, podemos e devemos sê-lo activamente, e desses 61,39% retiremos uma fatia a olho correspondente às pessoas que estão fora de Santa Maria (não me refiro aqueles que apanharam o Viking para fim de semana) e reduzamos a percentagem para 40% de não votantes deliberados. É muito! Suponhamos que a população de Santa Maria ande pelos 5000 habitantes, é mais mas assim facilita as contas, 2000 não votaram. 2000!!!!!!!!!! São DUAS MIL pessoas que se demitiram de serem portugueses, optaram por não ter pátria, nação. Eu sei, vão dizer-me, oh pá, a malta não teve para se chatear, afinal para quê? Pois...estão esses 40% não terão o mínimo direito de levantar a voz seja onde for quando o Governo, os deputados eleitos pelos que se deram à chatice de ir votar, fizerem coisas que lhes desagrade. Têm apenas o direito de ficarem tão calados, tão no seu canto como o fizeram no dia 27 de Setembro de 2009! Nessa altura não se chateiem, também, a gente, os que votámos protestaremos.

Eu votei, exerci a minha obrigação de cidadão, exerci o direito de votar, direito pelo qual lutei e milhares de pessoas lutaram, algumas morreram lutando, ao longo de anos de fascismo, um direito que Abril nos trouxe e a melhor maneira de defender esse direito é usá-lo!


Eu tomei partido há muitos anos e nunca me arrependi pois "somos muitos, muitos mil para continuar Abril"



23 de agosto de 2009

Maré 25 anos-2

Maré de Agosto, 22 de Agosto de 2009

As fotografias não estão por ordem cronológica








































22 de agosto de 2009

Maré-25 anos- 1


Algum do "espírito" da Maré é isto mesmo: o convívio, o encontro.

19 de agosto de 2009

Daniel de Sá-"Santa Maria, uma declaração de amor"

Há privilégios que nada no mundo os paga e eu por vezes sou privilegiada, a vida lá me dá um presentinho que me faz feliz. Foi com alguma surpresa que recebi um e-mail de Daniel de Sá cujo assunto era: Vou até Santa Maria. Pensei que fosse título de algum dos seus escritos sobre a Ilha. Abro o e-mail e não, era mesmo a anunciar que viria a Santa Maria para apresentar uma comunicação no Colóquio sobre Roosevelt. Fiquei surpresa e o muito feliz. Toda a gente sabe que Daniel de Sá se tem recusado a sair da sua Maia por questões de saúde e inclusive não veio a Santa Maria aquando o lançamento do Ilha-Mãe, por isso este anúncio sabia tão bem. O meu cérebro começou a trabalhar a mil à hora, eu queria recebê-lo, eu queria acompanhá-lo, eu queria ser o cicerone neste regresso à Ilha-Mãe ao fim de, imaginava eu, tantos anos numa romagem de saudade. Queria estar presente em cada emoção, queria registá-las em fotografia tanto quanto o meu pudor na invasão do íntimo do meu amigo me permitiria. E estive sim, ao seu lado durante o tempo todo que pude estar desde que desembarcou até que embarcou, excepto o tempo em que na Segunda à tarde estive de serviço.

Para ti, Daniel:


Em Santa Maria não existe nenhum Manuel Cordovão e a casa que só foi chamada assim depois de lá morares, a tua casa, tu que foste pastor de cabras, ovelhas e vacas e agora o és de palavras, não terá nunca pastor que a guarde, que guarde os teus sonhos de menino a correr pelos pastos a corta mato saltando muros de pedra sobre pedra até aos Asas para ouvires os relatos de futebol e hóquei ou leres os jornais e pouco falta para que a casa seja apenas uma memória e um dia já não poderás apontar para o canto à direita quem entra e dizeres aqui era a cama onde eu dormia e depois os olhos a percorrerem num vagar emocionado de quem vê o que já não existe no resto dos pouquíssimos metros quadrados e “ali dormiam os meus pais, ali a minha irmã…a minha mãe costurava e vinham moças aprender com ela, não sei como cabia tanta gente aqui e muitas vezes faziam-se festas” Santa Maria é assim, a tua, a nossa Ilha-Mãe não sabe preservar, guardar os objectos, as casas os lugares marcados pelo passado que tem que ser futuro: a nossa Capela, a tal “que antes fora lugar de culto de protestantes, católicos e judeus” levou-a o fogo e dela, a original, só resta a torre cujas pedras as mãos do teu pai afagaram. A reconstrução, dizes tu, mantém a traça da original; do ginásio, um dos melhores do país nos seus tempos áureos onde gerações seguidas praticaram as mais diversas modalidades já nada resta e da nossa casa de cinema, o Atlântida Cine onde o Sr. Cardoso te deixava entrar sem pagares bilhete, a ti e a mais umas quantas crianças, por causa dos bichos que lhe corroem os ossos e quem sabe por causa da falta de quem lhe tivesse acautelado a saúde, terá morte tristemente anunciada; das casas dos teus amigos, a do José Maria, a do teu padrinho, a de muitos outros restam os espaços cobertos de ervas; dos jardins onde as crianças dos bairros do aeroporto jogavam à bola até o polícia aparecer e lha “roubar” e os enxotar para casa a toque de ralhos e ameaças de acusá-los aos pais, jardins cuidados, floridos estão agora a monte.

Uma viagem de regresso à Ilha-Mãe, à saudade, à génese de ti na família, na Capela onde o Padre Artur te moldou a Fé no crescimento em graça, o teu padrinho a encaminhar-te os passos para o Externato para que crescesses também em sabedoria. Uma viagem de reencontros e encontros com pessoas que te amam, umas conhecendo-te desde sempre, o Rosélio, o Valente, o Hélder, a Zulmira, o Senhor Figueiredo, a esposa e a filha, o teu melhor amigo de infância…outras abraçando-te pela primeira vez, o Daniel, o Luís Candeias, o João Fontes, as minhas filhas.

Uma viagem em que mais uma vez expressaste o teu amor à Ilha-Mãe numa declaração de amor pública proferida no Congresso sobre Roosevelt ouvida no mais atento e emocionado silêncio. E eu ali, ao teu lado emocionadamente grata por me ter sido permitido estar apenas ali. Há privilégios que nada no mundo os paga e eu naquelas horas que passaram à velocidade do Concorde fui privilegiada.

Para ti, Daniel apenas obrigada meu querido amigo.
Deixo-vos o texto "Santa Maria, uma declaração de amor"
De: Daniel de Sá

Considero-me um privilegiado quando me chamam mariense. Porque, como filho destas ilhas, tenho a sorte de ter pai e mãe. Foi meu pai São Miguel, minha mãe, Santa Maria. E, se pode ter-se dupla nacionalidade, por certo que poderá ter-se dupla “insularidade”.
Sou mariense, sim, e julgo que de pleno direito. Cagarro e santaneiro. O que foi outro privilégio, ter vivido em Santana. Mais de oito anos, depois de quatro por São Pedro, na casa do Sr. Armando Monteiro, e seis meses na Ribeira do Engenho, numa casinha que era toda ao pé da porta e tinha o telhado à altura do caminho.
De São Miguel saí ainda de cabelos compridos, de que guardo uma vaga memória mas somente do dia em que mos cortaram, já em São Pedro. Antes disso, e da ilha onde fui gerado e onde nasci, só sei o que me contava minha mãe. Tempo esse em que uma criança de dois anos podia andar pelas ruas e ir até longe, no longe relativo do tamanho do corpo, sem deixar preocupado quem quer que fosse. Palmo e meio de pernas bastava para fugir facilmente das rodas de uma carroça ou de um carro de bois.
Muito cedo comecei a ser aluno da vida, em Santa Maria. Que belas lições recebi! Recordo a sabedoria de um povo a quem vi cavar um poço antes do tempo da sede. Aprendi a sua bondade em coisas tão simples como aquelas grandes pedras, postas ao alto à semelhança de pequenos menires, onde o gado ia roçar-se placidamente. A minha definição como pessoa começou a fazer-se com estes e com outros ensinamentos casuais ou espontâneos, sem pedagogia diplomada.
Pode parecer um contra-senso considerar um privilégio ter vivido em Santana, porque aquela era uma das aldeias mais rurais de Portugal. Nem havia sequer uma canada razoável que lhe fosse caminho. A que existia servia, em parte, como leito de uma ribeira, onde aflorava a rocha irregular posta a descoberto pela erosão. Durante séculos, foi a única via que levava a Vila do Porto. Maior isolamento do que aquele é difícil de imaginar. Ainda assim, em Santana nasceram e viveram pessoas de grande valor humano e social. Prodígios da superação.
De súbito, tudo mudou em 1945. Em Santana propriamente não, porque ela ficou imutável na sua rústica ancestralidade. Mas, mesmo ali ao lado, fora feito um aeroporto para ser um dos melhores e mais concorridos do Mundo. A Vila deixou de ser a principal referência, porque até na religião os de Santana se tornaram como que paroquianos da capela de Nossa Senhora do Ar, que antes fora lugar de culto de protestantes, católicos e judeus. Ia-se e vinha-se usando atalhos desenhados por milhões de passadas, cortados aqui e ali por muros que era preciso saltar. A aldeia isolada ficara a poucos minutos de um mundo novo e impensável. Mas aquela gente recebeu-o quase com a mesma naturalidade com que via nascer o Sol todos os dias, o Sol que gretava o solo árido no Verão, depois de secos os lameiros do Inverno. Aquela gente, que resistira à angústia da fome, numa penúria humilhante e indigna da condição humana. Como um pouco por toda a ilha, aliás. Mas que manteve uma dignidade bíblica, porque a dignidade é um estado de espírito mais do que uma afirmação social.
A nossa casa nunca fora chamada casa antes de lá morarmos. E, nesse tempo, era um absurdo pensar que quem tivesse menos de dezasseis anos não podia trabalhar. Não o proibia a lei, e a isso obrigava a necessidade de as mães não terem falta do que pôr na mesa à hora de comer. Apesar disso, não lamento nada da minha infância.
Fui pastor de cabras, de ovelhas e de vacas. Cavalguei em pêlo e sem esporas nem freio, como os índios. Nunca ninguém me ensinou a ter medo do dia nem da noite. Fui cowboy ou índio na mata de Monserrate e nas do Aeroporto. Mas não estraguei nenhuma árvore, nem os meus companheiros de aventuras. Contei histórias ao meu amigo Elias, e contava-me ele outra por cada uma das minhas. Matávamos o menor número possível de personagens, quer fossem índios ou bandidos. Apenas o essencial para haver vencedores e vencidos.
Entretanto, ia aprendendo em livros ou num quadro preto. Primeiro na escola de Santana. Com a D. Eduarda na 1ª classe, a D. Doroteia, na 2.ª, a D. Úrsula, na 3.ª, a D. Francisca, na 4.ª. Continuam a ser das minhas heroínas preferidas. Fizeram o milagre de me ensinar a ler, de explicar que povo somos e a que terra pertencemos. Depois veio o Externato. Juntei à minha lista de heróis e de heroínas mais uns quantos predestinados para o bem e a sabedoria. Passei a pertencer também à geração do Cavaleiro Andante, sem dúvida a mais prodigiosa publicação juvenil que houve em Portugal. Não tínhamos dinheiro para livros nem revistas, por isso era o José Guilherme Correia que mo emprestava sempre. E alguns livros também, como o José Vieira Souto Martins, um amigo de que nada sei há meio século. Foi assim que pude ler Emílio Salgari, Mark Twain ou Enid Blyton.
E havia o Clube Asas do Atlântico. O Asas! Nunca ninguém me pôs na rua nem mostrou desagrado pela minha presença. Nem imaginavam o bem que me estavam fazendo. Ali ouvíamos os relatos do futebol e do hóquei das nossas alegrias patrióticas. E era onde eu tinha à disposição os principais jornais que se publicavam em Portugal. Um dos mais bem escritos era A Bola, e por isso, ao mesmo tempo que a rivalidade entre o Sporting e o Benfica era um dos principais factores de unidade dos Portugueses, o desporto, contado naquele jornal que mudou tanto que se pode considerar extinto, era também uma lição de cultura.
Não longe, o campo dos jogos épicos do futebol romântico de dois defesas, três médios e cinco avançados. Com o mítico Badjana a dar os últimos pontapés na bola, jogando pela equipa da Direcção do Serviço de Obras, onde meu pai trabalhava. Depois veio outro clube, o de Gonçalo Velho, para o qual minha mãe e minha irmã bordaram os primeiros emblemas.
No entanto, a alegria suprema tinha lugar reservado no Atlântida Cine. O seu porteiro deixava muitas vezes as crianças entrarem sem pagar bilhete. Por isso o Sr. Cardoso faz parte da minha lista de heróis particulares. E o grito “ó Cardoso, apaga a luz” ainda ecoa nas minhas recordações como o anúncio de todas as claridades. Outro benfeitor de homens a haver.
Na capela de Nossa Senhora do Ar aprendi o lado mais humano da vida. Aquele que pensa acima de tudo no que nos distingue dos irracionais. E, se é certo que sem uma fé sobrenatural se pode ser boa pessoa, o cristianismo à maneira do Padre Artur é o testemunho do bem na Terra.
Mas qualquer pedaço de mundo vale pelo que vale a sua gente. A do meu tempo era feita destas e de outras figuras que marcaram o modo de ser de um tempo e de uma geração em que havia na ilha mais forasteiros do que naturais dela. Sorte nossa que a maior parte dos que em Santa Maria buscaram um pouco mais de fortuna ou um pouco menos de infortúnio eram pessoas de deixar saudades. Por isso o reencontro com velhos pioneiros dos tempos modernos da Ilha de Gonçalo Velho é sempre um momento de festa que dificilmente tem semelhança quando as amizades foram feitas por outras bandas.
O próprio aeroporto, começado a construir durante a guerra, acabou por ser um lugar de passagem para a paz. Se, em 1918, Franklin Delano Roosevelt escolheu Ponta Delgada para apoio ao transporte de tropas a caminho da Europa, por aquelas pistas passaram sobretudo soldados de regresso a casa. O nome de código da operação, “Green Project”, era ele mesmo uma declaração de esperança numa nova era.
Foi neste ambiente, um dos espaços nacionais onde mais se concentravam pessoas com ensino superior ou com uma cultura acima da média, que começou a germinar a minha vontade de fazer das palavras escritas um uso para além da obrigação de alguma carta familiar. Sem Santa Maria, sobretudo sem o seu Externato, eu teria ficado pela 4.ª classe, tal como todos os rapazes que nasceram na Maia, em São Miguel, no mesmo ano que eu. Por um desses acasos que são difíceis de explicar, cresci logo nos primeiros anos de vida com uma curiosidade sem limites. Um dia, ainda antes de completar seis anos, perguntei a meu pai como é que se faziam versos. Ele era um improvisador de quadras e de histórias como poucos conheci na vida. Chegou a fazer o negócio de uma burra cantando ao desafio. E, nos intervalos do almoço, contava casos a homens da sua idade, mas tão interessados como crianças. Vi muitos filmes pelos seus olhos, ou ouvi-os da sua boca. Ele levou a sério a minha pergunta sobre poesia, e respondeu como se deve sempre responder a uma criança: dizendo a verdade das coisas como se se falasse ao adulto que a criança será um dia. Logo a seguir exercitei o meu novo conhecimento cantando para uma vizinha da minha idade, de que só guardo a memória de uns longos caracóis loiros. Sei que começava assim, esse que foi em rigor o meu primeiro poema: “Sou Daniel/ da ilha de São Miguel”.
Era, sim, com a sorte de ser da Ilha-Mãe também. E nela vivia então um poeta que fez parte do meu imaginário, e de quem eu muito quis ser imitador: Lopes de Araújo. Não tive a sorte de ser seu aluno, mas a ânsia de alcançar um estatuto semelhante ao seu foi talvez o maior impulso que me levou a dedicar-me à escrita.
Mas Santa Maria veio a ser para mim cenário de drama também. Numa certa manhã, os responsáveis pela Direcção do Serviço de Obras estavam reunidos para despedir pessoal. O critério escolhido foi o de optar pelos trabalhadores com menos filhos. O nome do meu pai foi um dos primeiros a serem falados, porque éramos só minha irmã e eu. Minha irmã não estudara porque as propinas equivaliam a um terço do ordenado de meu pai. Que levou um ano a decidir se eu deveria frequentar ou não o Externato. Acabou por resolver-se pela positiva, e eu revi a gramática da 4.ª classe, feita um ano antes, estudando-a enquanto vigiava as vacas. Valeu-nos que nunca paguei propinas no colégio, como chamávamos ao Externato.
O Miguel Corte-Real, esse homem da linhagem dos primeiros povoadores e a quem Santa Maria muito deve, não concordou com a ideia, alegando que eu estudava, e que meu pai e minha mãe, costureira, se sacrificavam a trabalhar mais do que podiam para eu ter aquele privilégio. Estava a questão por decidir quando chegou um funcionário com uma notícia dramaticamente irónica. Meu pai acabara de deixar vago definitivamente o seu lugar na vida.







































2 de julho de 2009

SOPHIA




O poema


O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê

O poema alguém o dirá
Às searas

Sua passagem se confundirá
Com o rumor do mar com o passar do vento

O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento

No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas

( Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas )

Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas

E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo


Livro Sexto


Hoje, 02 de Julho de 2009 faz cinco anos que faleceu.

8 de junho de 2009

O Mulheres de Atenas apoia..

A manifestação foi adiada. Há notícias de que os horários estão a ser refeitos. Esperemos para melhor

...a manifestação convocada por SMS que recebi hoje para o próximo dia 12 de Junho com concentração às 21:45 junto ao Docas Bar para protestar contra os horários do barco de passageiros.

Remeto os meus leitores para o post no blog http://www.compararsantamaria.blogspot.com/ sobre os horários do Viking.

31 de maio de 2009

Vinde Espírito Santo...


Fotos da autoria de Ana Loura
Vinde Espírito Santo enchei o coração dos homens e renovareis a face da Terra


Hoje a Liturgia Católica festeja o Pentecostes! Os Discípulos estavam em casa escondidos com medo dos Judeus pois Jesus tinha sido assassinado de forma bárbara e eles temiam ter a mesma sorte. Jesus antes de subir aos Céus tinha-lhes prometido que eles não estariam nunca sós, que ficaria com eles até aos fins dos tempos e que para isso lhes enviaria o Espírito de consolação, o Paráclito, o Espírito Santo. Naquele dia eles sentiram uma rajada de vento e línguas de fogo poisaram nas suas cabeças, as portas e janelas do cenáculo abriram-se e eles sairam, finalmente sem medo e falaram a todos de forma que todos os entendiam cumprindo o envio "Ide e anunciai a Boa Nova até aos confins da terra"



Que eu tenha conhecimento hoje não se realiza qualquer Império na Ilha, não há qualquer festa em honra do Espírito. A Eucaristia dominical pouco mais foi do que uma Eucaristia dominical normal. Apenas se realizou a festa de de um dos anos da Catequese. As igrejas não ficaram cheias como as copeiras em dia de Império que se faz para cumprir promessa de preferência com a presença dos convidados vêm da Diáspora, não se serviam sopas ,mas "apenas" a palavra de Deus e a hóstia consagrada.







VINDE ESPÍRITO PARÁCLITO


Vinde Espírito Paráclito,
Nossas almas visitai,
Enchei-nos da Vossa Graça
E os corações alentai.

Vós, ó Consolador nosso,
Sois o Dom de Deus Senhor
Sois a fonte de água pura
Fogo vivo e ardente amor.

Sois do Pai o prometido
E a fortaleça dos santos.
Concedei aos fiéis Vossos
Os sete Dons sacrossantos.

Dai luz à inteligência
Fortalecei a vontade.
Com o Vosso amor sanai
A nossa fragilidade.

Livrai-nos do inimigo
Em Vossa Paz nos guardai.
P’ra rejeitarmos o mal
Os nossos passos guiai.

Que nós sempre confessemos
Ao Pai e a Cristo Senhor,
E a Vós Espírito Santo,
Fonte de todo o amor.



Hino ao Espírito Santo


Autor: READ CABRAL


Alva pomba que meiga aparecestes,
Ao Messias no rio Jordão,
Estendei vossas asas celestes
Sobre os povos do orbe cristão.


Vinde, oh! Vinde, entre nuvens de glória.
Entre os anjos e bênçãos de amor,
Entre os cantos de eterna vitória
Que os querubins vos elevam, Senhor. (bis)


Quem aos pobres seus braços estende,
Quem lhes veste seus ombros tão nus,
Achará que tudo isto só tende
Para a glória e honra da cruz.


Vinde, oh! Vinde, entre nuvens de glória.
Entre os anjos e bênçãos de amor,
Entre os cantos de eterna vitória
Que os querubins vos elevam, Senhor. (bis)


Ofertai as mais belas oferendas,
Ofertai-as em nome de Deus;
Colhereis lá um dia mil prendas
Quando entrardes no Reino dos Céus.


Vinde, oh! Vinde, entre nuvens de glória.
Entre os anjos e bênçãos de amor,
Entre os cantos de eterna vitória
Que os querubins vos elevam, Senhor. (bis)


Semeando vosso ouro entre os pobres
A colheita no Céu a fareis!
O triunfo de esforços tão nobres
Só no seio de Deus achareis.


Alva pomba que meiga aparecestes,
Ao Messias no rio Jordão,
Estendei vossas asas celestes
Sobre os povos do orbe cristão.


22 de maio de 2009

Dia internacional da biodiversidade


Comemoramos hoje o Dia internacional da Biodiversidade.


Não querendo deixar de assinalar a data e porque as espécies existentes nos nossos mares não podem ser pescadas indiscriminadamente, porque há que pensar no futuro.
Aqui fica um pouco da Praia onde as águas ainda são límpidas.

20 de maio de 2009

Lamento borincano

Uma interpretação fabulosa!!

Lamento borincano
(Rafael Hernández)

Sale loco de contento
con su cargamento
para la ciudad, sí,
para la ciudad.
Lleva, en su pensamiento
todo un mundo
lleno de felicidad, sí,
de felicidad.
Piensa remediar la situación
del hogar que es toda su ilusión.

Y alegre, el jibarito va
cantando así,
diciendo así,
riendo así, por el camino:
"Si yo vendo la carga
mi dios querido
un traje a mi viejita
voy a comprar".
Y alegre también su mula va
al presentir que aquel cantar
es todo un himno de alegría.
En eso los sorprende
la luz del día,
y llegan al mercado de la ciudad.

Pasa la mañana entera
sin que nadie quiera
su carga comprar, ay,
su carga comprar.
Todo, todo esta desierto
el pueblo esta muerto
de necesidad, sí,
de necesidad.
Se oyen los lamentos por doquier
de la desdichada Borinquén, sí.

Y triste el jibarito va
cantando así,
llorando así,
diciendo así por el camino:
"Qué será de Borinquén
mi dios querido.
Que será de mis hijos
y de mi hogar".
Borinquén, la tierra del edén
la que al cantar el gran Gautier
llamo la perla de los mares,
ahora que tú te mueres
con tus pesares
déjame que te cante
yo también.



Caetano Veloso - Lamento Borincano

14 de maio de 2009

Açores em Lisboa








Louvável a iniciativa concertada de divulgação dos Açores em Lisboa/continente . Para além da revista suplemento no Correio da Manhã com excelente apresentação, dos cartazes publicitários em paragens de transportes públicos e outdors.


Na Feira do Livro de Lisboa temos a "livraria", quanto a mim um pouco pobre, (por acaso no dia em que fui à feira numa editora continental o escritor açoriano Cristovão de Aguiar esteve numa sessão de autógrafos)


Cristovão de Aguiar

Loja Açores

e agora a nova loja Açores inaugurada na passada Segunda-Feira na Avenida Elias Garcia, nº 57 onde encontrei uma apreciável variedade de produtos das Ilhas, desde carne ultracongelada, queijos, vinhos, doces, pimenta da terra, licôres, conservas.
Loja Açores

Só não encontrei os 30 kg de inhames, os 30 Kg de batata doce, as 30 embalagens de bôlos lêvedos nem as 24 Massas sovada porque estes tinham sido esgotados logo no primeiro dia, mas que prometem voltar a ter hoje Quinta-feira. Ah, também não encontrei qualquer dos produtos produzidos em Santa Maria (os molhos, as alheiras, o chouriço que a Salsicharia produz e já embala; os famosos biscoitos de orelha e outros). Atenção Associação agrícola e outros produtores de meloa, Cooperativa de artesanato de Santo Espírito, o nosso pão de casa, os nossos produtos podem apanhar o avião directo à Quinta-Feira, façam-se ao caminho rápido porque a loja não é muito grande e quem chegar primeiro é quem toma o lugar.




No espaço da loja estão um balcão de Turismo, à direita quem entra, e um balcão do RIAC à esquerda que segundo o funcionário me disse já emitiu nestes poucos dias de abertura alguns Cartões de Cidadão.



Ainda em Lisboa e por mero acaso ao entrar numa igreja, na freguesia da Victória, deparei com surpresa com um altar onde está durante esta semana uma réplica do andor do Senhor Santo Cristo. Perguntei o porquê e foi-me respondido que era o quinto anos em que a comunidade açoriana em Lisboa realizava, alí, uma festa em honra do Ecce Hommo.


É bom estar cá sentindo e vivendo a nossa presença nas nossas coisas e vivências.