Crónica lida aos microfones da estação emissora do Clube Asas do Atlântico no dia 26 de Dezembro de 2005
Bom dia!
Já não se enviam nem recebem postais de Natal.
Lembro, perfeitamente, que quando era criança em casa dos meus Pais os postais começavam a chegar a partir de 10 de Dezembro e só muito depois dos Reis deixávamos de os receber. Os postais de Natal eram obras de arte. Havia-os lindíssimos, de vários tamanhos e alguns salpicados de brilhantes. Era uma delícia olhá-los. Eram enviados uns, por amigos e familiares e outros por firmas fornecedoras de material à fábrica onde o meu pai trabalhava, mas todos eles eram escritos pelo punho de alguém, eram absolutamente pessoais, embora os das firmas, muitas vezes, fossem escritos por secretárias, mas sempre assinados pela pessoa que, realmente, enviava.
Nos princípios de Dezembro fazíamos uma lista de todos os familiares e amigos, ia-se à gaveta buscar os do ano anterior para que não fosse esquecido ninguém, quando chegava algum postal de alguém que não tínhamos incluído na lista por esquecimento ou por ser algum novo contacto havia sempre a possibilidade de comprarmos um postal de “agradeço e retribuo os votos de Boas Festas”.
Os postais ficavam, durante toda a quadra natalícia, expostos como se de obras de arte se tratassem, em cima do aparador para fazermos presentes quem os enviava, nesse gesto simples de colocarmos os postais em cima do aparador.
Mas nesse tempo o Natal tinha outro sabor. O sabor das coisas feitas em casa, do cheiro a rabanadas, a bolo-rei, ao tronco de natal feito de castanhas cozidas que o meu Pai moldava e que ficava tal e qual como um pequeno tronco de pinheiro, o sabor dos presentes que o Menino deixava no sapatinho e eram surpresa.
Tenho tantas saudades de Natais que passaram, do cheiro a bilharacos, a bolo-rei feitos pela minha Mãe, a mão cheia de nozes, avelãs, bombons daqueles pequeninos embrulhados em pratas coloridas que o Menino deixava no sapatinho; das plasticinas, o primeiro presente, que não a mão cheia, já eu contava uns 10 anos. Como os dias de espera do grande dia eram felizes...Ah, e o abrir das pinhas que o meu Pai trazia do pinhal da Varziela agora transformado, pelo "progresso", em zona industrial e comercial, e eram abertos na forno da padaria onde a minha Mãe cozia os biscoitos feito das natas que retirava dos 5 litros de leite que bebíamos diariamente e das claras dos ovos utilizados noutros comeres...
Mas vivemos o Natal presente e neste Natal foram imensos os e-mail com votos de Boas Festas que chegaram à minha caixa de correio electrónico. Postais de Natal, daqueles que se recebe pelos CTT só dois: um do Grupo parlamentar do PS e outro, de imenso bom gosto, lindíssimo, da nossa Câmara Municipal que foram colocados em cima da minha lareira. Os e-mails que recebi, li e respondi ficaram fechados nas ondas da internet e não os partilhei com os meus filhos, não coloquei, fazendo presente quem mos enviou, em cima da lareira. Foram também mais do que muitas as mensagens que chegaram ao meu telemóvel. Algumas delas ainda as li em voz alta, mas a grande maioria tive que apagar depois de responder para dar lugar a outras que estavam à espera de entrar no telemóvel para eu as poder ler. Também estas não foram para cima da chaminé.
Vivemos à velocidade de um click, de um send, de um enter; as mensagens que nos chegam, apesar de enviadas por amigos, são impessoais, geradas, quase sempre, por alguém que ninguém conhece e difundidas por todos e para todos. São mensagens a metro, iguais para todos. Há uma forma qualquer, pelo menos nalguns telemóveis, de enviarmos a mesma mensagem a todos os números que estão na memória, pelo que quando fazemos o envio nem pensamos em ninguém em especial…vai tudo a eito.
Eu respondi cada e-mail individualmente, escrevi e respondi a cada mensagem, cada uma de cada vez, colocando em cada uma o nome do e a amizade que dedico ao destinatário e mesmo assim achei tão impessoal que telefonei a grande parte dos amigos e familiares. O espírito do Natal está a perder-se ou pelo menos a transformar-se.
Deixo-vos com o conteúdo de um dos e-mail que recebi e veio de uma paróquia de Évora:
“Que cada um consiga no seu lar, na sua família, na sua vida, acolher o Menino que se fez Homem e habitou no meio dos Homens. Que o Natal seja cada vez mais sinal de renascimento e de uma segundaoportunidade para aqueles que julgam perdida a jornada.”
Abraços marienses,
Santa Maria, 26 de Dezembro de 2006
Ana Loura
Tenho visitado alguns blogs amigos e reparo na nostalgia da época e na saudade dos nossos Natais de meninos.
ResponderEliminarTudo muda com o tempo, o nosso Natal não é igual ao dos nossos pais.
O Natal dos nossos filhos é diferente do nosso.
E para as gerações futuras, diferentes continuarão a ser todos os Natais. Porém existirá sempre o espírito Natalício no coração de cada criança, de cada um de nós.
Um amigo destas lides virtuais, deixou-me este comentário que afinal resume aquilo que queria deixar aqui, e que transcrevo, como sinal de que todos sentimos no fundo, do mesmo modo:
"Á medida que crescemos, o encantamento do Natal vai dando lugar a alguma nostalgia e tristeza porque há medida que avançamos no tempo vamos avançando no conhecimento. Hoje em dia não é fácil conviver com tanta coisa, digamos, menos boa. Isso e as saudades e as memórias abrandam o calor da festa. Mas apesar do encantamento ser outro, o espírito de natal pode perdurar se for passado com muita tranquilidade, um bom ambiente familiar e algum tempo para reflexão."
Beijo e continuação de Boas Festas
Vim parar ao seu blog por acaso. Pesquisei sobre abstenção e aqui estou eu.
ResponderEliminarHá quem tente valorar a abstenção, baseando-se em hipóteses interpretativas.
Gostei da forma frontal como escreveu o post Liberdade de Expressão.
Aproveito para desejar boas entradas em 2006.
Olá Ana!
ResponderEliminarVi o recado que deixou no messenger, mas não estava presente quando mo enviou! De qualquer forma, agradeço!
Eu acho que lhe enviei um e-mail a desejar as boas festas, escrito por mim, mas sinceramente não me lembro se me respondeu (creio que não!), pois tal como você, recebi muitos e-mails e mensagens escritas no telemóvel. Recebi somente 1 postal de Natal.
Finalmente, cá consegui deixar um comentário!
Quero que saiba que li todos os textos que escreveu desde o meu último comentário.
Passo a responder à sua questão, não cheguei a tentar comentar porque não vi esta opção disponível que pela qual costumo aceder para comentar.
Aproveito esta ocasião para lhe desejar umas boas entradas no novo ano!
Beijinho.
Ana.....nestas ultimas horas deste ano 2005, o meu pensamento vai para todos os amigos que durante este ano me dirigiram palavras de incentivo e afecto. Por isso, seria de todo impossível não estar agora, com esses amigos no coração, para lhes desejar que o ano de 2006 que rapidamente se aproxima, lhes desejar que ,seja um ano de muita paz, saúde e amor em suas vidas, e daqueles que mais amam. Para ti votos de muitas felicidades com um beijinho de carinho.
ResponderEliminarOlá
ResponderEliminarSou terceirense. Também sou bloguista e encontrei este teu cantinho ao ler os comentários do blog de um amigo. Gostei de estar aqui nas areias de sta. maria. Voc~e tem lindos textos. voltarei de certo! Já agora satisfaça-me uma curiosidade. Você é por acaso parente do António José Loura ? É que eu tenho um tio, por afinidade, que se chama David Loura e é simultaneamente tio de antónio José. Como Sta. maria é muito pequena não me espantaria nada que fossem parentes. assim confirmar-se-á a tese de que o mundo é uma pequena horta...
Um abraço da Terceira