Foto de Fernando Monteiro by Foto Pepe- Vila do Porto
Foto de Praia Formosa, Santa Maria by Ana Loura
Bom dia
De regresso à ilha depois de uns dias de férias no continente. Como é bom voltar ao nosso cantinho.
Normalmente fazemos balanços em datas convencionadas. Os balanços de actividades comerciais são feitos no final de cada ano e os balanços das nossas vidas, geralmente, são feitos quando fazemos bodas de prata ou de ouro ou quando mudamos radicalmente de rumo. A mim cabe fazer balanço, neste momento, essencialmente, porque no último dia 17 se completou 25 anos da minha permanência na ilha.
Cheguei a Santa Maria no dia 17 de Março de 1981, quinta-feira por volta das 11 horas da manhã. Vinha do Faial onde estava a dar aulas. Não havia ninguém à minha espera e eu só tinha um nome, da pessoa que assinava o telegrama a informar que tinha sido admitida e que me deveria apresentar, logo que possível. Aliás, trazia, também, a recomendação para me dar a conhecer e cumprimentar o Director, de então, do Aeroporto, o Senhor Israel, que me recebeu com extraordinária simpatia.
Confesso que o meu primeiro contacto visual com Santa Maria não foi dos mais agradáveis. Quando assomei à porta do avião e olhei em frente vi uma terra seca e acastanhada, muito diferente do verde da ilha de onde vinha.
Quando concorri poderia ter escolhido qualquer uma das outras ilhas onde a então ANA, EP era responsável pelo respectivo aeroporto, ou ter mesmo ficado no Faial. Mas, porque a senhora em casa de quem estava hospedada me teceu os mais rasgados elogios às belezas e vivências de Santa Maria, foi essa a minha primeira escolha. Tivesse sido outra e qual teria sido a minha vida nestes últimos 25 anos?
E qual foi a minha vida nestes últimos 25 anos? Casei, nasceram os nossos filhos, os três no velhinho Centro de Saúde, com atendimento de luxo, tiveram os sarampos e as bexigas loucas da praxe, frequentaram o Jardim Infantil da Mãe de Deus, a escola do Aeroporto e agora estão os três a preparar os seus futuros: dois em S Miguel e uma “lá fora” em Lisboa.
Foram muitas as pessoas que eu conheci, com quem criei e cultivei amizades. Santa Maria era, à época, e ainda o foi durante alguns anos, local de passagem inclusive de funcionários do aeroporto que vinham trabalhar em comissões de serviço: estavam durante algum tempo e quando a comissão terminava, ou renovavam ou iam embora de vez. Muitos estavam o tempo suficiente para que se justificasse trazerem consigo as famílias. O aeroporto, ou seja, a sua zona habitacional, fervilhava de vida. Havia crianças a brincar nas ruas dos bairros. Uma grande parte dessas crianças partiu há muitos anos. Contam-se pelos dedos das mãos os colegas dos meus filhos que ainda vivem em Santa Maria.
Muitas das pessoas que conheci na altura já morreram. Enquanto ia escrevendo estas linhas recordei duas delas: Fernando Faria e Fernando Monteiro. Duas pessoas que, independentemente das suas opções políticas, fizeram parte do número de pessoas que prezei e cuja memória cultivo e a quem dirijo o meu pensamento em jeito de abraço e homenagem.
De Fernando Monteiro, poeta mariense, talvez esquecido
De regresso à ilha depois de uns dias de férias no continente. Como é bom voltar ao nosso cantinho.
Normalmente fazemos balanços em datas convencionadas. Os balanços de actividades comerciais são feitos no final de cada ano e os balanços das nossas vidas, geralmente, são feitos quando fazemos bodas de prata ou de ouro ou quando mudamos radicalmente de rumo. A mim cabe fazer balanço, neste momento, essencialmente, porque no último dia 17 se completou 25 anos da minha permanência na ilha.
Cheguei a Santa Maria no dia 17 de Março de 1981, quinta-feira por volta das 11 horas da manhã. Vinha do Faial onde estava a dar aulas. Não havia ninguém à minha espera e eu só tinha um nome, da pessoa que assinava o telegrama a informar que tinha sido admitida e que me deveria apresentar, logo que possível. Aliás, trazia, também, a recomendação para me dar a conhecer e cumprimentar o Director, de então, do Aeroporto, o Senhor Israel, que me recebeu com extraordinária simpatia.
Confesso que o meu primeiro contacto visual com Santa Maria não foi dos mais agradáveis. Quando assomei à porta do avião e olhei em frente vi uma terra seca e acastanhada, muito diferente do verde da ilha de onde vinha.
Quando concorri poderia ter escolhido qualquer uma das outras ilhas onde a então ANA, EP era responsável pelo respectivo aeroporto, ou ter mesmo ficado no Faial. Mas, porque a senhora em casa de quem estava hospedada me teceu os mais rasgados elogios às belezas e vivências de Santa Maria, foi essa a minha primeira escolha. Tivesse sido outra e qual teria sido a minha vida nestes últimos 25 anos?
E qual foi a minha vida nestes últimos 25 anos? Casei, nasceram os nossos filhos, os três no velhinho Centro de Saúde, com atendimento de luxo, tiveram os sarampos e as bexigas loucas da praxe, frequentaram o Jardim Infantil da Mãe de Deus, a escola do Aeroporto e agora estão os três a preparar os seus futuros: dois em S Miguel e uma “lá fora” em Lisboa.
Foram muitas as pessoas que eu conheci, com quem criei e cultivei amizades. Santa Maria era, à época, e ainda o foi durante alguns anos, local de passagem inclusive de funcionários do aeroporto que vinham trabalhar em comissões de serviço: estavam durante algum tempo e quando a comissão terminava, ou renovavam ou iam embora de vez. Muitos estavam o tempo suficiente para que se justificasse trazerem consigo as famílias. O aeroporto, ou seja, a sua zona habitacional, fervilhava de vida. Havia crianças a brincar nas ruas dos bairros. Uma grande parte dessas crianças partiu há muitos anos. Contam-se pelos dedos das mãos os colegas dos meus filhos que ainda vivem em Santa Maria.
Muitas das pessoas que conheci na altura já morreram. Enquanto ia escrevendo estas linhas recordei duas delas: Fernando Faria e Fernando Monteiro. Duas pessoas que, independentemente das suas opções políticas, fizeram parte do número de pessoas que prezei e cuja memória cultivo e a quem dirijo o meu pensamento em jeito de abraço e homenagem.
De Fernando Monteiro, poeta mariense, talvez esquecido
AO MAR DO NORTE, MEU MAR BRANCO…
Oh mar branco
Do norte fundo
Envolve minha alma inteira
Enrola-me na tua espuma
Inquieta e fugidia…
Na onda de lua em praia
Leva-me para além
Do fundo azul
Minha nocturna
Vivência
Que me invadiu de tormenta!
Faz regressar minha esperança
Naquela bruma de renda
Dilui-me toda a saudade
Em conchas
De fogo vivo
Nas chamas
Do teu cadinho…
Oh mar branco
Enche a minh’alma
Oh onda
De vento deserto
Marulha na areia quente
Ecoa meu sofrimento
Constante no turbilhão …
No meu corpo dolente
Sofro a vazante
Da tua ausência
Em cada instante …
Oh vento
Do mar do norte
Regressa cindindo amor
Na minha nascente dia primeiro
Meu corpo em chama
Entrou ….
E nunca mais quis sair!
Abraços marienses
Santa Maria, 20 de Março 2006
A vida tem destas coisas camarada... o tempo passa... as pessoas partem... mas as recordações ficam... e ficam também as raízes e tu, quer estejas ou não em Santa Maria, és e serás sempre mariense e açoriana!
ResponderEliminarMirem-se no exemplo
ResponderEliminarDaquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos
Orgulho e raça de Atenas
Quando amadas se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem imploram
Mais duras penas, cadenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
guardam-se pros seus maridos
Poder e força de Atenas
Quando eles embarcam soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam, sedentos
Querem arrancar violentos
Carícias plenas, obcenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos
Bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar um carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas, Helenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos
Os novos filhos de Atenas
Elas não tem gosto ou vontade
Nem defeito, nem qualidade
Têm medo apenas
Não tem sonhos, só tem presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas, morenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos
Heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
mas suas novenas serenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos
Orgulho e raça de Atenas