4 de abril de 2006

Santa Maria


















Bom dia!

PRESÍDIO ILHÉU
Mar, sempre mar…
Céu, sempre céu…
O mesmo tom azul de nuvens manchadas,
No meu presídio ilhéu…
Mar, com a mesma cor cinza…
As mesmas garças…
A humidade salgada…
Um sabor de lágrima chorada,
A rolar, a rolar
Sobre o rosto,
De quem vive sonhando,
Para fugir, partir, emigrar!...

Mar… Sempre mar …
O mesmo horizonte, longínquo, distante…
Na minha ilha,
A mesma fonte rumorejante,
Escondida no vale,
Ou no socalco da montanha,
Gritante … Gritante …

Todos os dias rolando,
Com tudo no mesmo…
A mesma sombra passando,
A mesma jovem sonhando,
O ébrio cambaleando,
Lá vai tentando olvidar
Que vive – se é que vive –
No meio do mar … No meio do mar …

Mar… Sempre mar…
Torturante prisão,
A apertar, a cercar,
O meu louco desejo
De evasão!...

Para longe… Nem sei para onde…
Para qualquer parte,
Onde se esconde,
Dia a dia,
Na sombra da fantasia,
A minha fome de arte,
A minha sede de Poesia!...

Mar… Sempre mar…
Caminho… Sempre caminho…
Sempre em frente…Sempre em frente…
Mas tenho que parar!...

E parar,
Porque há mar, sempre mar…
É que, desde que nasci,
Anda-me ele a cercar
A suster o meu caminho!....

Mar…Sempre mar!....

ILHA DE SANTA MARIA

Quem pode partir, um dia,
Sem nunca mais te lembrar?!...
Ó minha Santa Maria,
Quem te pudesse abraçar!

Tenho saudades de ti,
Dos teus vales, dos teus montes …
Foi por ti que me perdi,
Ouvindo o canto das fontes……

E dos grilos, ao luar,
Nas noites quentes de estio,
Da brisa que vem do mar,
No Inverno, cinzento e frio.

Se, na tua soledade,
Te debruças sobre o mar,
Mais cresce em mim a saudade
De te ver e te abraçar ! …

Ó minha Santa Maria,
Ilha tão abandonada …
Rainha fizeram-te, um dia …
Hoje, escrava, não tens nada ! …

Onde estão as velas brancas
Dos teus moinhos de vento,
Que a brisa punha a girar,
Em constante movimento?

E o moleiro já cansado,
Subindo a colina, tinha
No velho rosto, enrugado,
Sulcos fundos de farinha! …

E na tarde, quando o sino
Dobrava, ao longe, Trindades,
Marcava no seu destino,
Um destino de saudades ! …

Tuas santas tradições,
Em Maio, mês de Maria,
No Terço e nas orações
Que, nas aldeias, de dia,

O povo ia rezando,
Mesmo ao sair das igrejas,
Para casa, caminhando …
Bendita, bendito sejas,

Santa Maria, ilha Santa …
Que tudo e tudo aceitas,
Mesmo de esperanças perdidas …
Mesmo de esperanças desfeitas! …

Ilha de Santa Maria!
Ó minha terra adoptiva!
Nunca mais te esquecerei,
Por muito e muito que viva.

Quem pode partir, um dia,
Sem nunca mais te lembrar ?
Ó minha Santa Maria,
Quem te pudesse abraçar !

São estes dois poemas de José Maria Lopes de Araújo, poeta Açoriano que viveu em Santa Maria, do seu livro Remos Partidos

Hoje para além destes dois poemas quero deixar-vos um texto que escrevi para ler no último Jantar Assembleia do Clube Lions de Vila do Porto num gesto de homenagem a esta organização de solidariedade tão importante.


















Saudação das bandeiras

Talvez que a evocação que eu vos começo a ler não seja aquela que me foi pedida pelos companheiros que me confiaram esta honrosa tarefa, mas em tempo de balanço de 25 anos de vida vivida em Santa Maria e em vésperas de partida de “metade de mim” é importante que eu diga que das reticências que o desconhecer do que de facto somos e me fez titubear na resposta que dei ao convite feito pelos meu Padrinhos para pertencer a este grupo de marienses depressa desapareceu e com ele a ideia que me fora transmitida por outros de que o Club Lions de Santa Maria é um grupo elitista e fechado.
Não, não somos nem uma coisa nem outra. Somos, outro sim, um grupo de pessoas que olha à volta e vê e vai ao pé daqueles que precisam e ajuda-os com aquilo que quem pode dá. Os Lions dão do seu tempo, do tempo das suas famílias, do seu esforço, do seu carinho, porque nós Lions servimos.
Quero deixar-vos com uma frase que encontrei num Mosteiro Franciscano: “O Pão que sobra da tua mesa pertence ao pobre”.
Nós Lions temos obrigação de sensibilizar aqueles a quem o Pão sobra para que o dêm àqueles a quem esse pão, por direito, pertence.
Metade de mim parte com a certeza de que aqui fica um grupo de gente com o coração grande, com o coração de verdadeiro Leão, Mas a outra metade, aquela que é e será sempre mariense fica. A todos os companheiros deixo o meu abraço fraterno e a minha confiança de que em Santa Maria há gente que serve.
Santa Maria, 31 de Março de 2006

Abraços marienses
Santa Maria, 3 de Abril de 2006
Ana Loura

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