Bom dia!
Chegam cartas, chegam pedaços
do meu país
Chegam vozes. Chega um silêncio que me diz
as revoltas as lágrimas os cansaços.
Chegam palavras que me apertam nos seus braços.
Chegam notícias do meu país.
Chega o José o Alípio o Manel a Toina
chegam do Sul e falam a cantar
chegam do Norte e trocam os bês pelos vês
chegam mulheres descalças e homens de boina
chegam os antigos senhores do mar.
Chega gente que chora em português.
Chegam palavras com guitarras de Lisboa
chegam palavras que me sentam a sua mesa
para falar das nossas coisas: trigo e tristeza.
Trevo e sal.
Chegam palavras que me trazem vinho e boroa
Chegam palavras que me trazem Portugal
Chegam palavras como sinos a tocar.
Há fogo em Sintra. Greve no Barreiro.
E chegam de Águeda palavras de há vinte anos:
Mataram no Gravanço o filho do moleiro.
E o Ti Faustino a dizer: Se ainda houvesse republicanos…
Chegam palavras com o Alípio e o Botaréu
palavras de Águeda com sinos a dobrar
pelo Ti Faustino que já morreu que já morreu.
E há o Eugénio a tocar a Marselhesa
ao piano das palavras que o tempo me traz.
Chegam notícias de mim mesmo de há vinte anos:
O Manel gosta da Maria do Brás.
Ti Fausto Eugénio Vó Clementina
onde é que estão onde é que estão os republicanos
e a Maria do Brás que ficou sempre menina
dentro de mim em Águeda há vinte anos.
Chegam as palavras de ontem dentro das palavras de hoje.
O tempo nos constrói e nos destrói
vai-se o tempo Manel o tempo foge
por vezes dói Manel por vezes dói.
E esta gente por dentro das palavras
esta gente que se junta que se junta
esta gente que chega e que pergunta
Que fazer? Que fazer? Só palavras?
Esta gente que chega e que me abraça
com palavras. Com braços
por dentro das palavras. Que fazer?
Ah o tempo que passa e o tempo que não passa
este alarme estes gritos cansados pedaços
do meu país. E os olhos baços braços lassos e por dentro
uma ânsia a ferver.
A tempestade acumulada vento a vento.
Impossível cantar à mesa de um escritório.
Todo o poema é de rua. Todo o tempo é de combate.
E nada sei da poesia de laboratório:
Faço o que escrevo. Escrevo o que faço.
Abraço quem me abraça
Bato em quem me bate.
Escrever para depois não sei escrever.
Meu tempo é hoje. Tudo o mais é não ser.
Canto o tempo que passa.
E sei que passo com o tempo. E sei que passo.
Manuel Alegre, Correio
NOTA: O texto a bold foi o que fez parte da crónica lida aos microfones
Pergunto: E então novidades
As meninas da Sónia nasceram. Fico feliz, gosto da Sónia, do sorriso da Sónia e as meninas já nasceram. Tinha sabido que a Sónia estava grávida de gémeas também em resposta a um e então novidades. E é assim que vou sabendo que o polidesportivo ainda não foi inaugurado e que não se entende muito bem porquê, que a estrada do meio é cada vez menos estrada, é só covas, que lhe põem uns remendos em cimento que passadas horas os camiões rebentam, que a camioneta já nem por lá passa e que quem, morando na urbanização, a queira apanhar tem que ir ao açucareiro e que a responsabilidade se calhar até é minha que, infelizmente, nem por lá transito, pois não é da ANA, não é da Câmara, não é da empresa que está a fazer a obra da marina.
Este é o correio que recebo de vez em quando e que, também, me traz pessoas e abraços e braços nas palavras.
Abraços marienses
Árvore, 7 de Maio de 2007
Ana loura
Chegam cartas, chegam pedaços
do meu país
Chegam vozes. Chega um silêncio que me diz
as revoltas as lágrimas os cansaços.
Chegam palavras que me apertam nos seus braços.
Chegam notícias do meu país.
Chega o José o Alípio o Manel a Toina
chegam do Sul e falam a cantar
chegam do Norte e trocam os bês pelos vês
chegam mulheres descalças e homens de boina
chegam os antigos senhores do mar.
Chega gente que chora em português.
Chegam palavras com guitarras de Lisboa
chegam palavras que me sentam a sua mesa
para falar das nossas coisas: trigo e tristeza.
Trevo e sal.
Chegam palavras que me trazem vinho e boroa
Chegam palavras que me trazem Portugal
Chegam palavras como sinos a tocar.
Há fogo em Sintra. Greve no Barreiro.
E chegam de Águeda palavras de há vinte anos:
Mataram no Gravanço o filho do moleiro.
E o Ti Faustino a dizer: Se ainda houvesse republicanos…
Chegam palavras com o Alípio e o Botaréu
palavras de Águeda com sinos a dobrar
pelo Ti Faustino que já morreu que já morreu.
E há o Eugénio a tocar a Marselhesa
ao piano das palavras que o tempo me traz.
Chegam notícias de mim mesmo de há vinte anos:
O Manel gosta da Maria do Brás.
Ti Fausto Eugénio Vó Clementina
onde é que estão onde é que estão os republicanos
e a Maria do Brás que ficou sempre menina
dentro de mim em Águeda há vinte anos.
Chegam as palavras de ontem dentro das palavras de hoje.
O tempo nos constrói e nos destrói
vai-se o tempo Manel o tempo foge
por vezes dói Manel por vezes dói.
E esta gente por dentro das palavras
esta gente que se junta que se junta
esta gente que chega e que pergunta
Que fazer? Que fazer? Só palavras?
Esta gente que chega e que me abraça
com palavras. Com braços
por dentro das palavras. Que fazer?
Ah o tempo que passa e o tempo que não passa
este alarme estes gritos cansados pedaços
do meu país. E os olhos baços braços lassos e por dentro
uma ânsia a ferver.
A tempestade acumulada vento a vento.
Impossível cantar à mesa de um escritório.
Todo o poema é de rua. Todo o tempo é de combate.
E nada sei da poesia de laboratório:
Faço o que escrevo. Escrevo o que faço.
Abraço quem me abraça
Bato em quem me bate.
Escrever para depois não sei escrever.
Meu tempo é hoje. Tudo o mais é não ser.
Canto o tempo que passa.
E sei que passo com o tempo. E sei que passo.
Manuel Alegre, Correio
NOTA: O texto a bold foi o que fez parte da crónica lida aos microfones
Pergunto: E então novidades
As meninas da Sónia nasceram. Fico feliz, gosto da Sónia, do sorriso da Sónia e as meninas já nasceram. Tinha sabido que a Sónia estava grávida de gémeas também em resposta a um e então novidades. E é assim que vou sabendo que o polidesportivo ainda não foi inaugurado e que não se entende muito bem porquê, que a estrada do meio é cada vez menos estrada, é só covas, que lhe põem uns remendos em cimento que passadas horas os camiões rebentam, que a camioneta já nem por lá passa e que quem, morando na urbanização, a queira apanhar tem que ir ao açucareiro e que a responsabilidade se calhar até é minha que, infelizmente, nem por lá transito, pois não é da ANA, não é da Câmara, não é da empresa que está a fazer a obra da marina.
Este é o correio que recebo de vez em quando e que, também, me traz pessoas e abraços e braços nas palavras.
Abraços marienses
Árvore, 7 de Maio de 2007
Ana loura
Amiga lá no meu cantinho deixei-te um cartãozinho lindo..:)
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