Hoje não me apetece cronicar. Não me apetece e pronto.
Porquê? Não sei muito bem, mas se calhar é mesmo porque não me apetece. Ou porque ando cansada, sem vontade seja do que for, amorfa, com sono. Olho à minha volta e tudo me entedia. Estou farta! De quê? Cá sei…de tudo e de nada. Gostaria de adormecer sem hora para acordar. Gostaria de não acordar à hora “regulamentar”, ao bater das madrugadoras 7 horas como me acontece aos Sábados Domingos e feriados como se fossem vulgares dias de semana. Eu fico quietinha na cama à espera de reatar o sonho que nem estou certa de ter estado a sonhar, de voltar ao soninho reparador que tanta falta me faz. E posso dormir pois as tarefas a que, normalmente me proponho ao fim-de-semana, não têm hora marcada e não preciso de acordar tão cedo. Mas por artes de sei lá o quê, apesar do sono imenso, do tamanho da Légua da Póvoa, não consigo voltar aos braços do Morfeu. Começo a ficar irritada e então não vale a pena continuar na cama. O certo é que me fica o dia estragado. Tenho sono! E não tomando o cafezinho dos dias “normais” da semana ele não desaparece e passo o dia neste nem a dormir nem acordada, nesta “dormideira”, arrastando-me penosamente nas horas do dia e fico assim sem que me apeteça fazer rigorosamente nada…nem escrever a crónica…
Por isso e porque hoje não haverá “A crónica do dia” deixo-vos um poema de Fernando Pessoa
LIBERDADE
Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há bruma.
Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...
Abraços marienses
Árvore, 11 de Junho de 2007
Ana Loura
Abraços marienses
Árvore, 11 de Junho de 2007
Ana Loura
É belo o poema e como na tua solidão conseguis-te enquadrar Fernando Pessoa !. Sabes fazem-nos falta as tuas crónicas mas essa é também uma forma de comunicar e como tantas vezes o que descreves nos acontece! há dias em que o mundo não tem graça nenhuma e mesmo assim parece, com a nossa apatia, ele se torna um gigante mais difícil de compreender e afinal nós é que não nos compreendemos . Sai dessa e volta à realdade para não sofreres tanto - ama a vida, as flores e as crianças mesmo que por vezes esse amor pareça irreal.
ResponderEliminarL.A.
Não devemos permitir que os "papões" tomem conta da nossa felicidade,roubando-nos a paz e alegria de acordar e enfrentar um dia de luta.
ResponderEliminarSomos tão queixosos,quando há tantos que nem uma palavra têm a quem dirigir ou não têm que os escute.
Temos que ser gratas ao bom Pai,que nos abençoa dia a dia.
bjs e força....:)
Eu também ando em estado vegetativo ultimamente, mal escrevo sequer.
ResponderEliminarAbraço e melhoras.
Obrigada Ana por nos lembrares uma das facetas do que eu chamo "querido amigo Pessoa": ele consegue ser brilhantemente tres num só e ao mesmo tempo nenhum nos tres! um brilhante retrato da complexidade do ser humano e posso dizer que no meu passado os seus livros salvaram-me de momentos de muita solidão e incompreensão de mim mesma.. sei que sentia-me menos só no meu sofrimento ao ler e sentir a dor do Pessoa..(egoísmo meu reconheço)..
ResponderEliminarObrigada Ana sempre pelas tuas cronicas..
aproveita esses dias de tédio para descansar.. lol..
tédio passa, solidão é que é mais complicado.. mas tb aí o Pessoa me ajudou e mais tarde Deus claro..
bjs