Bom dia!
“Senhor vamos montar uma tenda”, disse Pedro a Jesus aquando da Transfiguração.
Eu digo-me algumas vezes a mesma frase quando me encontro numa situação de felicidade calma, tranquila. Quem me dera que o tempo não passe quando estou em situações que me dão prazer, me fazem feliz, me afastam dos problemas, me fazem esquecer que a vida nem sempre é fácil.
É bom saborear os bons momentos como quem saboreia um gelado num dia de calor ou bebe um chá bem quente num dia frio de Inverno. Mas, a vida é feita de momentos de todas as cores, desde ao negro da tristeza ao verde da esperança passando pela cor da rosa do amor ao rubro da paixão e entremeando com os malvas das horas tranquilas em que se lê um livro e se ouve a nossa música preferida diante da lareira acesa numa noite de Inverno rigoroso e lá fora chove torrencialmente. Assim como o dia nas suas vinte e quatro horas passa da escuridão absoluta à luz radiosa do sol, nos dias de verão, (que não este, pois está parco em dias luminosos), passando pela luz ténue do amanhecer e ao declinar do dia pelo lusco-fusco assim a vida tem horas comparáveis mas, claro, sem uma alternância estabelecida.
Embora a paixão estonteante dos breves mas intensos momentos nos tire a respiração, nos faça bem à pele e nos leve ao outro lado do espelho, é, por definição e diz quem sabe, apesar de infinita enquanto dura, não sendo imortal, posto que é chama (Vinícios de Morais), efémera. Portanto, por mais felicidade que nos traga sabemos que mais dia, menos dia, mais hora menos hora haverá o momento em que diremos um triste “acabou”, apagou-se a chama.
São bons os dias amenos de Primavera, e mesmo os dias alaranjados do Outono. Nos tórridos dias de verão, enquanto este dura, eu sorvo cada momento da luz do sol, do prazer de entrar no mar e sentir a pele a arrefecer em contacto com a água fresca e ondulante. Afinal, há que viver a vida como ela se nos apresenta, pois a tenda acaba por ser um refúgio pouco real e quando, de repente, se esfuma e a realidade é a solidão do frio mundo em que “todos passam por nós mas ninguém nos conhece” como diz Gedeão.
Mas mesmo assim, alturas há, mesmo sabendo que a tenda é um refúgio, uma tentativa de eternizar o que não é eterno, seria tão bom que as situações, por nos fazerem felizes, se eternizassem. Acontece, muitas vezes que, quando o fim da paz, da serenidade destes momentos se aproxima e um exemplo disso é o voltar as costas à ilha para mais um período cá, sofro desalmadamente e acabo por nem saborear os momentos, passo da serenidade ao desespero, o sentimento de perca, embora eu saiba que seja temporária, é apenas uma “breve” ausência, torna aqueles últimos momentos dolorosos e eu ando a tratar dos assuntos de última hora de lágrimas nos olhos e o coração angustiado. Sei que não deveria reagir assim, que deveria olhar estas partidas com optimismo e dizer-me que ainda bem que posso ir a casa e que já, já estarei lá outra vez, que o tempo vai passar depressa e não sofrer antecipadamente o não estar lá.
Há dias senti esse desejo de que se montasse uma tenda. Fui particularmente feliz: estive desde quinta-feira à noite até Domingo ao fim da tarde com o Padre Adriano que veio de Roma para os Açores via continente para jogar futebol integrado numa equipa de padres Açorianos contra uma equipa de padres continentais (o jogo é hoje) aqui no norte para as suas muito merecidas férias depois do intenso trabalho na Universidade Pontifícia. Fomos a Fátima num pequenino grupo e lá, um dos integrantes, ao sairmos da capela da Adoração, citou baixinho essa frase Bíblica “Senhor montemos, aqui, uma tenda” e eu pensando que sim, aquele seria um dos momentos em que seria bom montá-la, eternizar o momento de paz interior pelo qual estava a passar.
Outro dos momentos desses dias em que eu gostaria que houvesse a tenda montada, foi aquele em que o Adriano celebrou a Missa do sétimo aniversário da sua primeira no altar da igreja em que fui baptizada, comunguei pela primeira vez, professei a minha Fé e fui crismada. Eu queria a tal tenda, que as imagens passassem em movimento lento, saborear cada segundo, eternizá-los.
Mas a vida é assim, os momentos são, “apenas” momentos e devemos vive-los sem perdermos migalha, pois migalhas são pão, mas sem medo de que eles cheguem ao fim e fique apenas o vazio. Devemos é agradecermos sempre o facto de terem existido e de termos tido a oportunidade de os vivermos.
Abraços marienses
Árvore, 2 de Julho de 2007
Ana Loura