31 de julho de 2007

Reféns Sul-coreanos


Foto retirada do site da petição

"Todo o homem é meu irmão" ouvia eu a voz do meu conterrâneo Padre António Rêgo dizer há muitos anos.
As notícias sobre o rapto dos Presbiterianos, sul coreanos, tem feito com que essa frase me martele o cérebro e a alma. Como é possível que, ainda, não se tenha criado um movimento internacional de boas vontades em defesa destas vidas? (se está criada, desconheço) Onde estão os defensores dos Direitos Humanos? Onde estão os defensores da vida humana? Não há forma de pressionar o governo do Afeganistão no sentido de acções que resultem na libertação dos Missionários Sul Coreanos. Estou triste, muito triste. A Comunidade Internacional reage a que estímulos? É preciso que sejam sacrificados mais meia dúzia? Ou todos para depois dizerem que coitados se calahr deveriam ter ficado em casa em vez de irem evangelizar?

Não é altura para avaliar as razões dos Talibãm, é, apenas, altura de exigir a libertação dos Sul-Coreanos que, ainda estão vivos

É ou não todo o homem meu irmão?


Acabo de encontrar na net uma petição http://www.avaaz.org/en/honour_the_afghan_code/b.php/?CLICKTRACK Assinem-na e passem a informação

30 de julho de 2007

"Calafonas"

Bom dia!

Como, penso, toda a gente sabe há um sítio na Internet onde guardo à vista de quem lá quer ir as crónicas que escrevo para vos ler aqui todas as semanas. Esse sítio é o meu blog Mulheres de Atenas cujo endereço é www.luadosacores.blogspot.com. Quem lá vai ler pode, se assim o emtender, deixar comentário, dizer o que pensa sobre o assunto da crónica, desde que o faça com urbanidade, sem insultar, sem ofender. Não é o caso de mais um anónimo que se sentiu com as críticas que fiz às queimadas realizadas no Aeroporto, se calhar até foi ele o “mandante”, quem sabe…Mas foram deixados comentários dignos de serem lidos. Um dos comentário, complemento a um anterior, reza o seguinte: “Outra coisa "fense"?? Eu fiz uma pesquisa no dicionário e o único termo aplicável que encontrei foi "vedação" não sei, mas, parece que esta palavra é estranha para certas pessoas. Infelizmente isto acontece cada vez mais vezes é uma pena ver a língua de Camões banalizada desta forma...”. Por me parecer que a pessoa que escreveu não conhece pormenores das nossas vivências de ilhéus eu apressei-me a tentar esclarecê-lo escrevendo um pequenino texto que passo a transcrever:

Quanto ao fense, tem razão, há que "traduzir". Como saberá Santa Maria e outras ilhas dos Açores têm forte influência da língua inglesa dos USA. Santa Maria, primeiro pela estadia dos engenheiros e técnicos para construção do aeroporto já quase no final da segunda Grande Guerra e depois pelo grande fluxo migratório de marienses para lá (EU). Quando fui para os Açores, Faial, comecei por ler Manuel Ferreira, Dias de Melo e Vitorino Nemésio e cedo me habituei às palavras suera, pana, mapa. Mas mesmo assim, estando eu em Santa Maria há mais de um ano uma amiga, não me recordo em que contexto fala-me num colchão de espurinas (nem sei bem se será essa a palavra) fiquei minente (ara, esta eu aprendi bem depois...). Há imensas palavras ligadas à aeronáutica e aeroportuária e fense é uma delas e sim, é a vedação que separa os terrenos aeroportuários própriamente ditos do resto da área do aeroporto onde está implantado o parque habitacional, oficinas gerais, capela, supermercado...Obrigada pela chamada de atenção e beijinho (sejas lá quem fores) Vou colocar este meu comentário em adenda ao post.

Ora, esta troca de palavras sobre as palavras que são muito nossas, mas de origem nos Estados Unidos da América fez com que eu me lembrasse que esta é a época, por excelência, para a visita dos nossos emigrantes. É vê-los a desembarcarem no terminal do aeroporto carregados com as bégas (malas) a “cheirar à América” atadas com cordas não vá rebentarem pelas costuras de tanto “candim” (rebuçados e afins) e “gamas” (chiclets, pastilhas elásticas), Hersheys (marca de chocolates dos mais apreciados) “snickers” (sapatilhas, ténis), latas de milho, cereais, coisas que se calhar deveria tem vindo à frente num bidão mas que o medo que não chegassem a tempo fizeram com que se tivesse pago muitos “taxes” de excesso de bagagem. É vê-los nos Impérios, com as roupas à moda da “Amerca”, eles de calças de cintura subida e elas com rendas aplicadas em tecidos finos de cores berrantes, sandálinhas de salto muito alto e fino, cabelos compridos, madeixas ou nuances, ondulados e franja levantada à força de laca, a falarem, os mais velhos, um misto de português com pronúncia da “Serra” (Santa Bárbara e Santo Espírito) e um inglês americano aportuguesado onde as palavras, as tais que o meu comentador não entende, apesar de já pertencerem ao nosso vocabulário corrente e por serem a maioria, os faz serem notados; os mais novos, vestindo calças de ganga com o gancho a chegar aos joelhos, T shirts “góticos” ou com as caras dos seus ídolos eavy metal, falam só em inglês mas ainda com algum sotaque da “serra” um pouco acanhados alguns pela diferença de vivências que encontram na terra dos seus pais e dos seus avós, vêm porque a isso são quase obrigados pois pouco lhes diz o como e o que se vive nas ilhas, mas mesmo assim colaboram na realização do Império que o pai ou a mãe prometeu quando ele ou a irmã estiveram doentes e, finalmente, conseguem pagar este ano. São assim os nossos “Calafonas” (de Califórnia, destino de muitos marienses), gostam que saibamos que estão cá, que, este ano, vieram à terra matar as saudades, alguns de muitos anos.

Desejo-lhes boa estadia nesta ilha que apesar de estarem longe, ainda, é sua.

Abraços marienses
Árvore, 30 de Julho de 2007
Ana Loura

25 de julho de 2007

O Aborto na Madeira ou a República das bananas



Como pode uma região de um país democrático que votou num referendo e por inerência da democracia deve pura e simplemente aplicar a lei seja qual tenha sido o resultado nessa região vir dizer que pura e simplesmente não a aplica, e criar normas internas que possibilite (q constituição é a nossa que permite uma aleivosia destas de a parte se sobrepor ao todo numa questão de âmbito geral?) que coisas destas aconteçam. E como se a gente levar isto tudo muito a sério entra em depressão e quem ganha são os laboratórios dos medicamentos genéricos ou não, tomo a liberdade de vos transcrever um delicioso diálogo que roubei do blog MOMENTOS cujo endereço vos deixo juntamente com a recomendação de uma visita pois gostei do que li http://banalidades.blogs.sapo.pt/

Quero rectificar: este post é citado pelo banalidades mas é da autoria de Trovoada sêca http://trovoadaseca.blogs.sapo.pt/ que também recomendo


Aborto ...
publicado por raio às 2007-07-24 08:05:56
na Madeira ...
João Trovão e Maria Relâmpago falam sobre a actualidade nacional ... quando Maria se vira para João e lhe pergunta:
- Que dizes aquela ideia de Alberto João Jardim não permitir a aplicação da Lei sobe a IVG na Madeira?
- Uma coisa normal!
- Normal?
- Sim! Normal ... dessa maneira, o Presidente do Governo Regional ... só está a impedir a existência de concorrência!...
- Quê? ... Ele tem clinicas onde se faz a Interrupção Voluntária da Gravidez de modo clandestino ou ilegal? ... Ou estás a querer dizer que ele ganha alguma coisa com o facto de o aborto continuar a ser proibido nessa região?
Equações de Maria que merecem a conclusão de João:
- Apesar de se poder pensar isso ... Eu não quis dizer nem uma coisa nem outra! ... O que eu quero dizer é que estando as mulheres impedidas de abortar nessa ilha ... ele continuará a ser o único aborto do Arquipélago! ... e até poderá mesmo passar a ser conhecido por Alborto ... João Jardim! ...

Mas com o que acabo de ler no jornal acho que vou chorar copioso pranto. Disse a deputada Rafaela Fernandes do PSD Madeira "a função das mulheres é procriar" Parece que estamos a falar de vacas parideiras e touros de cobrição. Ao que isto chegou...

23 de julho de 2007

ANA- mais um atentado ao ambiente


Foto "roubada" ao blog http://www.compararsantamaria.blogspot.com/


Não guardes para amanhã o que podes fazer hoje!

É vício, uma forma de ser, um apenas ser assim…deixar para a última hora o que poderia ir fazendo, nas calmas, pau-la-ti-na-men-te.
É o caso das crónicas, todos os Domingos à noite digo-me que a próxima crónica começará a ser escrita, no máximo na próxima Quarta Feira e…dou comigo a começá-la Domingo à noitinha ou mesmo à noite. Os meus amigos da Internet, do MSN já sabem que não há que falar comigo, estou online mas é por mania, para saber que não estou sozinha, que do outro lado da linha, da rede, está alguém a respirar, um coração a bater. Claro que há excepções, há pessoas raras a quem é permitido que me interrompam para uma breve conversa, para saber como vão e para saberem como vou. E para os distraídos escrevo: Não incomodar, estou a cronicar. Assim até podem pensar que sou uma espécie de Fernão Mendes Pinto, o que me dá status, importância. Mas aos amigos que vivem perto e sempre me podem bater à porta, àquela porta que abro para sair ou entrar do espaço físico, real onde vivo onde fisicamente me movo no dia a dia não poderei, da mesma form,a dizer não batas, não estou disponível para dois dedos de conversa. Não vou pôr lá na porta uma plaquinha do tipo Cuidado com o cão para demover das boas intenções de me fazerem companhia nos serões de Domingo quem sabe que estou só e por gostar de mim me traz um tuperware pequenino com uma deliciosa feijoada. Aconteceu hoje…e eu…lá se vai a crónica, estou tramada…caramba, porque não comecei eu a escrever na passada quarta feira? Sempre a mesma coisa. E lá conversámos, fomos para a cozinha, comi a feijoada que estava mesmo uma delícia, bebemos um copito de tinto e depois lá se foi a minha amiga embora e eu a pensar, foi bem agradável este bocadinho, mas eu deveria arranjar uma placa tipo Cuidado com o cão a dizer Não incomodar, estou a cronicar e pendurá-la de fora da porta da rua…

Bom, mas parece, até, que nem tenho tema para a crónica de hoje. Mas infelizmente até tenho. Vi em vários blogs fotografias que me chocaram, me entristeceram e me revoltaram. Uma coluna de fumo negro a subir no ar vinda de dentro dos limites da zona ar do aeroporto de Santa Maria. Pelo que me pareceu foi realizada uma queimada numa zona de mato. Pela cor do fumo questiono-me se teria sido “apenas” mato…Mas as questões fundamentais são: Pode qualquer pessoa realizar queimadas? É legal? Pode a ANA realizar queimadas? É legal? Pode qualquer pessoa poluir o ambiente? É legal? Pode a ANA poluir o ambiente? (o fumo não ficou confinado ao fense do aeroporto) É legal? Não havia animais no local da queimada? Pode a Ana, em termos morais no que se refere ao atentado à vida de animais indefesos, queimar vivos animais que estariam na área queimada? Sabemos que não é a primeira vez que nos Açores a ANA toma atitudes de atentado à vida animal, inclusive de espécies protegidas como foi o caso dos milhafres no Aeroporto João Paulo II em S Miguel. Será, também, que a queimada foi realizada ao fim do dia prevendo que os funcionários do Ambiente já estariam a gozar as delícias do descanso nas areias da Praia Formosa ou noutro recanto do paraíso? Ou a Secretaria do Ambiente não tem jurisdição sobre o ar da ilha que fica fora do fense e é poluído pelo que se faz dentro do fense? O certo é que haveria outras soluções mais racionais, menos atentatórias do património comum que é o ar que todos respiramos e aos animais que devemos respeitar, roçar o mato e enterrá-lo de modo a decompor-se naturalmente. Mas isso seria uma solução simples demais…O certo é que, mesmo que a ANA não esteja abrangida (não estará?) pela lei geral do país mandam as boas práticas que apregoa ter (é uma empresa ecológica como dizem os baldes de lixo espalhados pelo terminal e nos cartazes), mandarão os procedimentos da política de qualidade que lhe terá dado a certificação queimar silvas, coelhos, grilos e outros animais? Será que há processo de qualidade para a limpeza das áreas envolventes às placas, taxiways e pistas?

Estou revoltada com a prepotência, o desrespeito, e a quem deu a ordem para que se fizesse o que foi feito só me apetece insultar, dizer o que não devo por respeito a quem me ouve, porque a eles, por não me respeitarem nem respeitarem aos outros marienses, já não lhes devo respeito nenhum. Sei bem que esta crónica lhes vai valer um sorriso de escárnio e um encolher de ombros e alguma comentário jocoso. Mas eu hoje vou dormir de consciência tranquila porque disse o que pensava. E eles? Vão dormir também com as suas tranquilas? Ou será que já a perderam faz tempo?

Adenda resultante de dois comentários

Querido anónimo/a, preocupar-me com a "porcaria" dos grilos é a mesma coisa que me preocupar com a "porcaria" dos touros com a "porcaria" de qualquer outro ser vivo, a paisagem, ambiente...tudo. Opções...sou assim e não há volta a dar-lhe.

Quanto ao fense, tem razão, há que "traduzir". Como saberá Santa Maria e outras ilhas dos Açores têm forte influência da língua inglesa dos USA. Santa Maria, primeiro pela estadia dos engenheiros e técnicos para construção do aeroporto já quase no final da segunda Grande Guerra e depois pelo grande fluxo migratório de marienses para lá (EU). Quando fui para os Açores, Faial, comecei por ler Manuel Ferreira, Dias de Melo e Vitorino Nemésio e cedo me habituei às palavras suera (pull-over, camisola ou casaco de lã), pana (alguidar), mapa (esfregona). Mas mesmo assim, estando eu em Santa Maria há mais de um ano uma amiga, não me recordo em que contexto fala-me num colchão de espurinas (de springs, molas) (nem sei bem se será essa a palavra) fiquei minente (parva) (ara (ora) esta eu aprendi bem depois...)Há imensas palavras ligadas à aeronáutica e aeroportuária, tanque farme, e fense é uma delas e sim, é a vedação que separa os terrenos aeroportuários própriamente ditos do resto da área do aeroporto onde está implantado o parque habitacional, oficinas gerais, capela, supermercado...
Obrigada pela chamada de atenção e beijinho (sejas lá quem fores) Vou colocar este meu comentário em adenda ao post


Abraços marienses
Árvore, 23 de Julho de 2007
Ana Loura

16 de julho de 2007

César e os "discos pedidos"


Foto retirada do site do Governo Regional

Bom dia!

A César não deveria bastar ser o Presidente do Governo Regional dos Açores, deveria, também, parecer o Presidente do Governo Regional dos Açores. Desbocar-se em observações deselegantes não é bonito, perder a pose desacredita e Albertos Joões o da Madeira basta. Dizer que as obras do Governo não são “discos pedidos” poderá querer dizer que não vale ao Povo a pena reivindicar, que os Conselhos de Ilha não têm razão de existir, que as reuniões realizadas com as Câmaras e Juntas de Freguesia são perdas de tempo e que o tempo programado para as tais visitas de desobriga às ilhas é demasiado longo e que até ficaria mais barato ao erário público uma visitinha relâmpago para cortar as fitas e that’s it, tá feito. Pois qualquer Secretário do pelouro é suficiente para ver o andamento das obras que mui sabiamente o governo, sem ser a pedido de ninguém, programa.

Pena são os abortos que por vezes daí saem como a profundidade do cais ferry ser insuficiente, mas disso não fala César, não lhe convém. Também não lhe convém falar que as “obras a pedido” constam no programa eleitoral do seu partido quando quer convencer os marienses a votarem nas suas listas quer para a Câmara quer para a Assembleia Legislativa Regional que depois lhe dá o mandato de formar governo e decidir quais as obras que, sem serem a “pedido” por quem vive nas ilhas e sente as necessidades e se considera com direito de pedir porque paga os impostos que pagam os vencimentos, deslocações, ajudas de custo, automóveis, do Senhor Presidente, dos Secretários e outros, magnanimamente decide oferecer a quem efectivamente tem direito porque paga. O Senhor presidente esquece-se que foi eleito para gerir e não para dar benesses, fazer favores. O Povo tem direito às obras que o Governo faz. A essas e às que por vezes não faz e deveria fazer, ou fazer de forma eficaz.

Do site oficial do Governo:

“O Governo Regional investiu, nos últimos três anos, cerca de 1,2 milhões de euros no parque habitacional da Santa Maria, uma ilha que está em pé de igualdade com as restantes no que diz respeito a apoios para a habitação e para a atracção e fixação de pessoas”

Pelo lido presume-se que Santa Maria apenas esteja em pé de igualdade com as outras ilhas no que respeita a estes particulares da habitação e atracção para a fixação de pessoas. Não entendo muito bem como que passado mais de um ano da criação da Sociedade Ilhas de Valor apenas na área da habitação os apoios a Santa Maria se equiparam aos das outras ilhas e não sou eu quem diz, é o Governo Regional.

Mais uma visita se cumpriu, no site do Governo Regional vem listado o programa realizado. Desejo sinceramente que o dito no site do Governo corresponda efectivamente ao realmente feito o que mesmo assim me parece pouco, mais show off que coisas palpáveis. Dizer que no Centro de Saúde há um considerável aumento das consultas de planeamento familiar a mim diz-me muito pouco pois sabemos das dificuldades que a população mariense enfrenta a nível das condições de atendimento; dizer que os contentores que a ESA vai colocar com equipamento também continua a querer dizer muito pouco pois não sabemos quantos postos de trabalho para marienses irão ser criados.

Não percamos a esperança em melhores dias.

Ontem entrou em vigor a lei recentemente aprovada sobre a interrupção voluntária da gravidez. Gostaria de reafirmar que fazer prevenção é tomar medidas antes das coisas acontecerem, portanto o recurso à interrupção voluntária da gravidez é um acto pós acto. O importante é prevenir, fazer um eficaz planeamento familiar. As gravidezes indesejadas não acontecem apenas aos outros.


Meninos e meninas vamos lá tomar a pílula, usar o preservativo, absterem-se de relações sexuais desprotegidas. Usem e abusem da recusa ao sexo pelo sexo e tenham umas boas férias nas nossas praias maravilhosas

Abraços marienses
Árvore, 16 de Julho de 2007
Ana Loura

9 de julho de 2007

Cativa-me.





















… Depois considerou, ainda: “ Julgava-me rico por possuir uma flor única e afinal possuo uma rosa vulgar. Isto e três vulcões que me chegam ao joelho- e um deles é capaz de estar extinto para sempre – não bastam para fazer de mim um grande príncipe…”
E, deitado na erva, desatou a chorar.

XXI

E foi então que apareceu a raposa:
- Boa dia, disse a raposa. - Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer "cativar"?
- Os homens, disse a raposa, têm espingardas e caçam. É bem incomodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que fazem. Tu procuras galinhas?
- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."
- Criar laços?
- Exactamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...
- É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra...
- Oh! não foi na Terra, disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
- Num outro planeta?
- Sim.
- Há caçadores nesse planeta?
- Não.
- Que bom! E galinhas?
- Também não.
- Nada é perfeito, suspirou a raposa.
Mas a raposa voltou à sua ideia.
- A minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens caçam-me. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu aborreço-me um pouco. Mas se tu me cativas, a minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos fazem-me entrar debaixo da terra.
O teu chamar-me-á para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
A raposa calou-se e observou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu sentar-te-ás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu olhar-te-ei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso rituais.
- Que é um ritual? perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um ritual. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!
Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria fazer-te mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não terás ganho nada!
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu far-te-ei presente de um segredo.

O principezinho foi rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela á agora única no mundo.
E as rosas estavam desapontadas.
- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. A minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (excepto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu tornaste eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.”

Deste belo texto do não menos belo livro “O Principezinho” de Antoine de Saint-Exupéry, piloto aviador nascido na cidade de Lyon, França, escritor, gostaria de tomar a liberdade de fazer ressaltar algumas palavras/frases que desde a primeira vez que as li me impressionaram e me ficaram na memória como paravras-chave da “receita” da amizade: Cativa-me, rituais, ser paciente, criar laços, A gente só conhece bem (ama) as coisas que cativou; só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos. Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante; Tu tornas-te eternamente responsável por aquilo que cativas… Não se pode morrer por vós.

Como a rosa do Principezinho a amizade tem que ser cultivada, adubada, regada com paciência, rituais, criando-se e estreitando laços, cativando. A beleza das pessoas não está na beleza física mas na beleza da alma e esta é, de facto, invisível aos olhos. É preciso gastar tempo com as pessoas/amigos para que eles ganhem espaço nas nossas vidas e se tornem importantes para nós. Nós somos responsáveis pela felicidade dos que amamos, dos nossos amigos.

Abraços marienses
Árvore, 9 de Julho de 2007
Ana Loura

2 de julho de 2007

"montemos uma tenda"




Bom dia!

“Senhor vamos montar uma tenda”, disse Pedro a Jesus aquando da Transfiguração.



Eu digo-me algumas vezes a mesma frase quando me encontro numa situação de felicidade calma, tranquila. Quem me dera que o tempo não passe quando estou em situações que me dão prazer, me fazem feliz, me afastam dos problemas, me fazem esquecer que a vida nem sempre é fácil.


É bom saborear os bons momentos como quem saboreia um gelado num dia de calor ou bebe um chá bem quente num dia frio de Inverno. Mas, a vida é feita de momentos de todas as cores, desde ao negro da tristeza ao verde da esperança passando pela cor da rosa do amor ao rubro da paixão e entremeando com os malvas das horas tranquilas em que se lê um livro e se ouve a nossa música preferida diante da lareira acesa numa noite de Inverno rigoroso e lá fora chove torrencialmente. Assim como o dia nas suas vinte e quatro horas passa da escuridão absoluta à luz radiosa do sol, nos dias de verão, (que não este, pois está parco em dias luminosos), passando pela luz ténue do amanhecer e ao declinar do dia pelo lusco-fusco assim a vida tem horas comparáveis mas, claro, sem uma alternância estabelecida.


Embora a paixão estonteante dos breves mas intensos momentos nos tire a respiração, nos faça bem à pele e nos leve ao outro lado do espelho, é, por definição e diz quem sabe, apesar de infinita enquanto dura, não sendo imortal, posto que é chama (Vinícios de Morais), efémera. Portanto, por mais felicidade que nos traga sabemos que mais dia, menos dia, mais hora menos hora haverá o momento em que diremos um triste “acabou”, apagou-se a chama.


São bons os dias amenos de Primavera, e mesmo os dias alaranjados do Outono. Nos tórridos dias de verão, enquanto este dura, eu sorvo cada momento da luz do sol, do prazer de entrar no mar e sentir a pele a arrefecer em contacto com a água fresca e ondulante. Afinal, há que viver a vida como ela se nos apresenta, pois a tenda acaba por ser um refúgio pouco real e quando, de repente, se esfuma e a realidade é a solidão do frio mundo em que “todos passam por nós mas ninguém nos conhece” como diz Gedeão.


Mas mesmo assim, alturas há, mesmo sabendo que a tenda é um refúgio, uma tentativa de eternizar o que não é eterno, seria tão bom que as situações, por nos fazerem felizes, se eternizassem. Acontece, muitas vezes que, quando o fim da paz, da serenidade destes momentos se aproxima e um exemplo disso é o voltar as costas à ilha para mais um período cá, sofro desalmadamente e acabo por nem saborear os momentos, passo da serenidade ao desespero, o sentimento de perca, embora eu saiba que seja temporária, é apenas uma “breve” ausência, torna aqueles últimos momentos dolorosos e eu ando a tratar dos assuntos de última hora de lágrimas nos olhos e o coração angustiado. Sei que não deveria reagir assim, que deveria olhar estas partidas com optimismo e dizer-me que ainda bem que posso ir a casa e que já, já estarei lá outra vez, que o tempo vai passar depressa e não sofrer antecipadamente o não estar lá.

Há dias senti esse desejo de que se montasse uma tenda. Fui particularmente feliz: estive desde quinta-feira à noite até Domingo ao fim da tarde com o Padre Adriano que veio de Roma para os Açores via continente para jogar futebol integrado numa equipa de padres Açorianos contra uma equipa de padres continentais (o jogo é hoje) aqui no norte para as suas muito merecidas férias depois do intenso trabalho na Universidade Pontifícia. Fomos a Fátima num pequenino grupo e lá, um dos integrantes, ao sairmos da capela da Adoração, citou baixinho essa frase Bíblica “Senhor montemos, aqui, uma tenda” e eu pensando que sim, aquele seria um dos momentos em que seria bom montá-la, eternizar o momento de paz interior pelo qual estava a passar.

Outro dos momentos desses dias em que eu gostaria que houvesse a tenda montada, foi aquele em que o Adriano celebrou a Missa do sétimo aniversário da sua primeira no altar da igreja em que fui baptizada, comunguei pela primeira vez, professei a minha Fé e fui crismada. Eu queria a tal tenda, que as imagens passassem em movimento lento, saborear cada segundo, eternizá-los.

Mas a vida é assim, os momentos são, “apenas” momentos e devemos vive-los sem perdermos migalha, pois migalhas são pão, mas sem medo de que eles cheguem ao fim e fique apenas o vazio. Devemos é agradecermos sempre o facto de terem existido e de termos tido a oportunidade de os vivermos.

Abraços marienses
Árvore, 2 de Julho de 2007
Ana Loura