14 de agosto de 2007

Gala do desporto mariense -memórias







Fotografias da autoria de Ana Loura. Proibida a sua reprodução sem autorização da autora


Bom dia!
Por vezes basta uma palavra para que a nossa memória revisite o passado de forma tão clara que, momentaneamente, passamos a reviver os acontecimentos como se eles estivessem a acontecer nesse exacto momento. Os pormenores, de certa forma irrelevantes, ficam nas brumas do esquecimento.
Há dias ao conversar com o Zeca Valente sobre a gala do Desporto Mariense e ele me referiu um dos homenageados o tempo não só parou como dei comigo franzina, tímida nos meus quinze anos, no Ano da Graça de 1968; cenário: Povoa de Varzim; circunstância: Campeonato Mundial de Hóquei em Patins que estava a decorrer naquele final de Primavera já quase Verão na Cidade do Porto (e aqui divago na incerteza, mas era época de exames, portanto estaríamos em finais de Junho).




Naquela época o Desporto era, ainda, isso mesmo, desporto, não a indústria em que se tornou, em que os ídolos são de produção “laboratorial” e refulgem no firmamento de forma meteórica e o que hoje é bom em termos de prestação amanhã os pés de barro foram dissolvidos na água turva que os fazedores das coisas fáceis, efémeras, manipulam nas químicas do light, do pronto a usar e deitar fora.




Naquela época não era preciso que seleccionador nacional algum nos induzisse a aderirmos de forma empolgada ao apoio aos rapazes de carne e osso como nós que davam o seu melhor, sem anabolizantes e drogas quejandas para derrotarem equipas tradicionalmente melhores que nós. Nas salas dos exames Nacionais do quinto e sétimo anos, à socapa, tocavam pequenos transístores que transmitiam em surdina o jogo do dia em que participava a nossa selecção, e os nomes de Júlio Rendeiro, António Livramento, António Ramalhete, o Fernando Adrião e de um miúdo de estatura abaixo da média da selecção. Esse miúdo era o meu encanto, eu ficava de olhos no receptor da televisão a ver o Livramento jogar, mas quando Jorge Vicente entrava no ringue os meus olhos brilhavam. Já entenderam, a palavra, ou as palavras que o Zeca mencionou foram exactamente Jorge Vicente. O campeonato mundial de 68 decorreu na cidade do Porto, mas o país inteiro acompanhou, apoiou e vibrou. Como já disse, nas salas dos exames os professores enquanto nos vigiavam, não fosse a malta entrar numa de copianço, iam ouvindo o relato e nós víamos nas suas caras os sorrisos dos golos marcados e a apreensão dos golos sofridos e no final do exame, cá fora, nós os alunos queríamos saber com a ansiedade o resultado.

Acontece que a equipa passava as horas das suas tardes de folga na esplanada de um dos bares da Avenida dos Banhos na Póvoa. Creio até que estariam alojados num hotel da Póvoa ou Ofir. Nós, a malta jovem que frequentávamos quer o Liceu, que a Escola Comercial e Industrial, ao sabermos que eles andavam por ali acorríamos em bandos para os vermos, para pedirmos autógrafos e eles simpáticos, humanos como nós, nada de operações plásticas, cabelos pintados, conversavam, perguntavam e autografavam. Perdi o rasto de uma capa de argolas onde estavam os autógrafos da equipa completa, treinador e técnicos…glorioso ano de 1968 em que uma mão cheia de jovens portugueses nos fez viver dias de gloriosa alegria ao terem vencido o Campeonato Mundial de Hóquei em Patins.




Nessa equipa jogava o Açoriano Jorge Eduardo Braga Vicente que iniciou a sua carreira desportiva na equipa de futebol da Académica de Santa Maria e posteriormente, com a extinção da Académica, no Clube Asas do Atlântico, tendo sido treinado, nessa fase, pelo Senhor Valente. Posteriormente passou a pertencer à equipa de Hóquei e por ser um jovem promissor nessa modalidade, aos 15 anos, foi encaminhado pelo Senhor Mário Sarmento para q equipa do Atlético de Lisboa e posteriormente foi contratado pelo Sport Lisboa e Benfica. Foi Campeão Mundial em 1968 e 1972.




Disse Jorge Vicente numa entrevista: “O Hóquei foi tudo para mim na vida. Vivia-o intensamente e fazia parte de mim próprio”




Quando vim para Santa Maria fiquei surpreendidamente feliz por saber que Jorge Vicente é Açoriano e cresceu nas ruas do nosso Aeroporto.
No próximo dia 17 de Agosto irá realizar-se mais uma Gala do Desporto Mariense e nela a Câmara Municipal de Vila do Porto irá homenagear, Jorge Vicente para além de outros atletas do seu tempo, entre os quais José Moniz (o Santa Maria), Victor Silveira, José Avelino, Botelho e Manuel Sousa e alguns dos jovens atletas da actualidade. Homenagem mais que justa. Sintamo-nos orgulhosos daqueles que pelo seu trabalho, seu sucesso são conhecidos mundo fora. Pena que nem sempre se saiba que nasceram ou simplesmente cresceram na nossa terra.
Abraços marienses
Santa Maria, 13 de Agosto de 2007
Ana Loura

4 comentários:

  1. Amiga, hoje resolvi passar aqui um bocado da minha manhã, a cabeça estava a estoirar(culpa deste vento)rs.
    Mas, fiquei, li-te e passei momentos deliciosos.
    Fiquei com a cabeça leve,e...adorei as mulheres de Atenas, não conhecia esta versão.
    Jinhos grandes.

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  2. Olá, amiga...


    Passei por aqui para ler seu blog.
    Não entendo de esportes, mas desejo que seu sonho se realize. Aquele sobre o programa de rádio.
    Um final de semana abençoado para vc.



    Uma amiga do Brasil.

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  3. Ana

    Já sabia que escreverias sobre o Jorge Vicente e adorei o modo como me levas em imaginação a reviver os teus tempos.
    Não conhecia a história da carreira do Jorge Vicente, embora o nome sonante dele fosse bastante conhecido desde os meus tempos no " Asas".(1973)
    Ontem á noite tive o prazer de o ver ser homenageado no nosso querido e velhinho Cinema do Aeroporto, ver o ídolo nacional e internacional em carne e osso e estou feliz.
    Estas de parabéns pela maneira cativante que vens mantendo o teu blog.
    Está de parabéns S.Maria por ter Jorge Vicente e outras pessoas que ontem foram também homenageadas e "relembradas" no dinamismo que deram a esta ilha.
    Tomara S.Maria voltasse a ganhar o brilho que tinha outrora.

    Obrigada pela partilha
    Beijinho

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  4. Olá Ana
    Que saudades dessa equipa de hóquei fabulosa... lembro-me bem de como aqui sofriamos e vibravamos com os relatos (televisão era uma miragem...)
    Não sabia que o Jorge Vicente era de Santa Maria... E o Livramento que jogador!

    Obrigado por me trazeres estas recordações...

    Tiber

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