29 de março de 2006

A mentira tem perna curta



Crónica lida aos microfones da Estação emissora do Clube Asas do Atlântico no dia 27 de Março de 2006
Nata prévia, apesar de ilustrada unicamente com fotos tiradas no nosso aeroporto há mais entidades e pessoas impícitas no texto da crónica.

Bom dia!

A mentira tem a perna curta, mais depressa se apanha um mentiroso q um côxo, quem mais jura mais mente. Diz-se de certas pessoas que mentiu com quantos dentes tem na boca, que mentiu como um saco roto. Há também, e referindo-se à mentira, o dito de que com papas e bolos se enganam os tolos, que existem pessoas que nascem sorrindo, vivem fingindo e morrem mentindo. Em tempo de guerra mentira é como terra. Nem tudo que reluz é ouro. Não faça aos outros o que não queres que te façam.

Estes são alguns ditos populares que mais directa ou mais indirectamente estão relacionados com a mentira.

Eu não poderei afirmar que nunca tenha mentido, mas abomino de tal forma a mentira que prefiro mil vezes uma verdade que me magoe, me seja desfavorável, do que uma mentira esfarrapada ou piedosa. A mentira tem, de facto, a perna curta, mais depressa se apanha um mentiroso que um côxo, e num meio pequeno como o nosso mais tarde ou mais cedo a verdade vem ter-nos à mão servida em bandeja e geralmente obra do acaso.

Quando confio numa pessoa e mais cedo ou mais tarde venho a saber que em qualquer altura essa pessoa deliberadamente me mentiu ou enganou, mesmo conhecendo-me e sabendo que eu detesto a mentira e que por me mentir me vai desiludir e magoar, essa pessoa pode ficar certa de que nunca na minha vida eu voltarei a ter a confiança cega que anteriormente nela depositava. Acabou e não há nada a fazer.

Eu sei que é preciso “Tê-los” no sítio, como muito sabiamente, também, diz o nosso povo para se dizer sempre a verdade numa de doa a quem doer, ser frontal e cairmos em desgraça por o ser-mos. Mas nada como se dormir com a consciência tranquila, já que as agruras e “cinzenturas” da vida e…as mentiras dos amigos... nos tiram o sono em quantidades e qualidades suficientes para nos estragar a noite e azedar o dia.

Bom, deixemos as considerações de carácter pessoal e vamos ao que interessa, embora aquilo que interessa esteja, de certo modo, ligado à questão da mentira: Eu tenho a mania das ecologias, como toda a gente sabe, e não é vício recente. Já quando eu andava a estudar no Porto, há mais de vinte e cinco anos, portanto, andava de bilhete de autocarro na mão ou o papelinho da chiclete/gama durante metros bem aviados para não os atirar para o chão, até a um recipiente do lixo…mania mesmo…

Agora tento separar o lixo que produzo em casa o melhor possível e meto-o no carro e vou levar até aos contentores que foram depositados para o efeito na rua atrás da minha…Tudo bem, eu parto do princípio de que esse lixo continua separado até ser entregue no destino para ser reciclado, oxalá que um dia destes eu não tenha a desilusão de saber que afinal depois de recolhido vai tudo para o mesmo saco…a ver vamos.

Mas desilusão eu já a tive, pois quando vou ao terminal do nosso Aeroporto vejo lá uns recipientes todos bonitos e aerodinâmicos com cestinhos dentro com a finalidade de lá serem depositados, separados, os lixos dos passageiros e acompanhantes, porque a ANA é uma empresa que se preocupa com o ambiente. Depois vem uma das senhoras da empresa de limpeza e “dumpa-o” para o mesmo saco. Lá estou eu a ser enganada e não gosto, claro que não gosto…Mas parece que é apanágio das empresas nacionais que se dizem verdes e amigas do ambiente esquecerem-se de o ser aqui na ilha, e não saberem onde ficam os pontos onde se faz a recolha selectiva, não fazerem acordos com as autarquias e canalizarem, pelo menos, o papel e as garrafas de plástico para os contentores devidos. Para mim o que elas fazem é uma forma de mentira, de fuga à verdade de não serem verdes mas pretas por faltarem à verdade e terem a responsabilidade de não estragarem o bem comum que é o nosso frágil ecossistema e se demitirem das suas responsabilidades para com as comunidades em que estão inseridas.

Outra mentira deslavada e descarada é a estória da carochinha que o Governo Regional inventou e que veio substituir o best–seller dos Três Porquinhos sendo o Lobo mau substituído pelo próprio Governo vestido de pele de cordeiro e os três porquinhos nós os marienses todos: “Ilhas de coesão”. Pois fique o meu querido ouvinte e mariense atento a saber, que o bilhetinho que o vai leva a S. Miguel no novo barco que vem fazer as viagens no próximo Verão e nos vai trazer os Sanmiguéis, como nós carinhosamente chamamos aos nossos vizinhos do lado, a Santa Maria vai custar quase mais cinco Euros, quase mais mil escuditos. Este aumento está muito acima do valor da inflação e é uma vergonha virem contar-nos estas estórias de coesões, e de indemnizações compensatórias pagas com o nosso dinheiro para que as viagens sejam baratas e nos aumentem o preço dos bilhetes numa quantia tão elevada. Mas, mais uma vez, nós iremos aceitar porque não estamos para protestar, para nos chatear e mais uma e outra e mais outra vez eles nos vão mentir, escarnecer, dar caneladas e nós a votar neles e a cara alegre.

Pois é, detesto que me mintam, mas mais detesto é saber que essa mentira vem da boca de alguém em quem eu confiei e votei. Não é este o seu caso? Apesar de não ser o meu em relação aos nossos governantes, pois não votei neles, eu sinto que estou a ser enganada porque sou mariense.

Para terminar vou contar-vos uma coisa que se contava quando o Professor Marcelo Caetano proferia na RTP as famosas Conversas em Família que tinham como objectivo convencer o Povo de que estava tudo bem na República Portuguesa, que a Guerra Colonial não existia, apesar de toda a gente ver os filhos, os irmãos e os amigos a embarcarem para as colónias…Ora dizia eu que no tempo em que as raposas falavam…desculpem, em que O Professor Marcelo Caetano proferia as tais conversas, num café, nesse tempo ainda não eram muitos os lares com aparelho receptor de televisão, estavam muitas homens a assistir e um deles de olhos pregados no aparelho dizia baixinho: “Beija-me…beija-me” os outros estavam boquiabertos com os ditos do amigo, mas como era o Senhor Presidente a falar calaram-se e o tal sempre a dizer baixinho o Beija-me, beija-me…Quando acabou a Conversa um perguntou-lhe: “olha lá, tu estás doido??? Que estória é essa de pedires beijos ao Nosso Presidente?” Responde o homem: “É que sabes? eu gosto que me beijem quando fazem amor comigo e eu sei, perfeitamente, que ele me estava a lixar”.

Abraços marienses
Santa Maria, 27 de Março de 2006
Ana Loura

21 de março de 2006

Memória
























Foto de Fernando Monteiro by Foto Pepe- Vila do Porto

Foto de Praia Formosa, Santa Maria by Ana Loura


Bom dia

De regresso à ilha depois de uns dias de férias no continente. Como é bom voltar ao nosso cantinho.

Normalmente fazemos balanços em datas convencionadas. Os balanços de actividades comerciais são feitos no final de cada ano e os balanços das nossas vidas, geralmente, são feitos quando fazemos bodas de prata ou de ouro ou quando mudamos radicalmente de rumo. A mim cabe fazer balanço, neste momento, essencialmente, porque no último dia 17 se completou 25 anos da minha permanência na ilha.

Cheguei a Santa Maria no dia 17 de Março de 1981, quinta-feira por volta das 11 horas da manhã. Vinha do Faial onde estava a dar aulas. Não havia ninguém à minha espera e eu só tinha um nome, da pessoa que assinava o telegrama a informar que tinha sido admitida e que me deveria apresentar, logo que possível. Aliás, trazia, também, a recomendação para me dar a conhecer e cumprimentar o Director, de então, do Aeroporto, o Senhor Israel, que me recebeu com extraordinária simpatia.

Confesso que o meu primeiro contacto visual com Santa Maria não foi dos mais agradáveis. Quando assomei à porta do avião e olhei em frente vi uma terra seca e acastanhada, muito diferente do verde da ilha de onde vinha.

Quando concorri poderia ter escolhido qualquer uma das outras ilhas onde a então ANA, EP era responsável pelo respectivo aeroporto, ou ter mesmo ficado no Faial. Mas, porque a senhora em casa de quem estava hospedada me teceu os mais rasgados elogios às belezas e vivências de Santa Maria, foi essa a minha primeira escolha. Tivesse sido outra e qual teria sido a minha vida nestes últimos 25 anos?

E qual foi a minha vida nestes últimos 25 anos? Casei, nasceram os nossos filhos, os três no velhinho Centro de Saúde, com atendimento de luxo, tiveram os sarampos e as bexigas loucas da praxe, frequentaram o Jardim Infantil da Mãe de Deus, a escola do Aeroporto e agora estão os três a preparar os seus futuros: dois em S Miguel e uma “lá fora” em Lisboa.

Foram muitas as pessoas que eu conheci, com quem criei e cultivei amizades. Santa Maria era, à época, e ainda o foi durante alguns anos, local de passagem inclusive de funcionários do aeroporto que vinham trabalhar em comissões de serviço: estavam durante algum tempo e quando a comissão terminava, ou renovavam ou iam embora de vez. Muitos estavam o tempo suficiente para que se justificasse trazerem consigo as famílias. O aeroporto, ou seja, a sua zona habitacional, fervilhava de vida. Havia crianças a brincar nas ruas dos bairros. Uma grande parte dessas crianças partiu há muitos anos. Contam-se pelos dedos das mãos os colegas dos meus filhos que ainda vivem em Santa Maria.

Muitas das pessoas que conheci na altura já morreram. Enquanto ia escrevendo estas linhas recordei duas delas: Fernando Faria e Fernando Monteiro. Duas pessoas que, independentemente das suas opções políticas, fizeram parte do número de pessoas que prezei e cuja memória cultivo e a quem dirijo o meu pensamento em jeito de abraço e homenagem.
De Fernando Monteiro, poeta mariense, talvez esquecido

AO MAR DO NORTE, MEU MAR BRANCO…
Oh mar branco
Do norte fundo
Envolve minha alma inteira
Enrola-me na tua espuma
Inquieta e fugidia…
Na onda de lua em praia
Leva-me para além
Do fundo azul
Minha nocturna
Vivência
Que me invadiu de tormenta!
Faz regressar minha esperança
Naquela bruma de renda
Dilui-me toda a saudade
Em conchas
De fogo vivo
Nas chamas
Do teu cadinho…
Oh mar branco
Enche a minh’alma
Oh onda
De vento deserto
Marulha na areia quente
Ecoa meu sofrimento
Constante no turbilhão …
No meu corpo dolente
Sofro a vazante
Da tua ausência
Em cada instante …
Oh vento
Do mar do norte
Regressa cindindo amor
Na minha nascente dia primeiro
Meu corpo em chama
Entrou ….
E nunca mais quis sair!

Abraços marienses

Santa Maria, 20 de Março 2006
Ana Loura

13 de março de 2006

85 aniversário



Fotos do jantar realizado em Vila do Conde


Bom dia!

Quanto mais velha estou mais feliz fico quando se aproxima a data do meu aniversário.
Não, não faço anos nos tempos mais próximos. Agora terei que esperar quase trezentos dias para ter a alegria de dizer: Mais um...este já cá canta, ninguém mo tira. Fazer anos é sinal de vida. Dos que morrem costumamos dizer que “faria tantos anos se estivesse vivo” dos que vivem dizemos: fará tantos anos...falamos ou no presente ou no futuro ou mesmo dizemos que fez queremos dizer que fez porque vivia.

Fez no passado dia 6 de Março 85 anos o Partido Comunista Português. Não é um facto como outro qualquer. Significa que desde há 85 anos há pessoas, muitas pessoas, que abraçam o ideal da luta pelos que mais precisam. Gente de diversas condições sociais que acreditaram e acreditam que uma sociedade mais justa e fraterna é possível e lutam por ela, intervieram e intervêm na sociedade de forma a transformá-la. Só assim foi possível que o Vinte e Cinco de Abril acontecesse: muitos reconheceram que a sociedade daquela época era injusta, acreditaram ser possível a mudança e lutaram por ela, transformando-a Muitos deram a sua vida por esta causa. Uns deram a vida, entregando cada um dos seus dias ao trabalho político outros acabaram por dar mesmo a vida morrendo pela causa comunista, pelo ideal dessa sociedade mais fraterna e mais justa.

Não podemos falar da História do Partido Comunista Português sem falarmos no dia-a-dia do Povo português. As duas são indissociáveis.

O aniversário deste ano coincide com o balanço de um ano de governação de Sócrates. Se a maioria do povo Português deu, há um ano, a possibilidade de Sócrates governar com uma maioria absoluta, é certo que, neste momento se o arrependimento matasse, como se costuma dizer, muitos portugueses teriam morrido de arrependimento e frustração neste último ano: Sócrates passou por cima de muitas das suas promessas eleitorais, a política está desacreditada pela atitude arrogante de Sócrates.

O governo PS está a atacar o sector público, com a justificação manhosa do déficit. Os partidos de direita esfregam as mãos de contentes. Aos patrões da CIP e da CAP saiu-lhes a sorte grande: têm quem faça o “trabalho sujo” do grande capital com o selo de um governo “socialista”. A direita afirma que este Governo tem a coragem para fazer as transformações que o País precisa e aqui leia-se as transformações que convêm à própria direita. O anúncio da OPA da Telecom já deu ganhos a Belmiro de Azevedo e provocou um aumento de 2% nas acções da Portugal Telecom. Os salários reais dos trabalhadores portugueses tem descido drasticamente nos últimos meses. O poder de compra cada vez é mais baixo. O desemprego aumenta vertiginosamente. Os números reais ultrapassam em muito os números anunciados pelos Governo pois a grande maioria dos desempregados com mais de 50 anos de idade não estão contabilizados nos centros de emprego onde é feito o senso. Os jovens que terminam os cursos não têm saídas profissionais.

O Estado que, depois do Vinte e Cinco de Abril, tinha fortes funções sociais está a demitir-se, cada vez mais, delas, pois como sabemos quer transformar escolas e hospitais em empresas e disso é exemplo o aumento das taxas Moderadoras e o encerramento de escola; o financiamento das autarquias directamente pelos autarcas quando estes já alimentam cofres do Estado através dos impostos que são canalizados para o Orçamento Geral.

Por todas estas razões cada vez mais se justifica a luta política, Não basta denunciar, é preciso agir. Todos temos obrigação de denunciar e de agir. A acção é que leva à transformação e onde há injustiça há um Comunista a denunciá-la, onde é preciso lutar, há um comunista a fazê-lo. A oposição, em Portugal, é feita, principalmente, pelo Partido Comunista Português, pela CDU. Aqui nos Açores assumimos esta nossa vocação de oposição e apesar de não termos assento na Assembleia Legislativa Regional continuamos a denunciar e a agir em prol de um desenvolvimento harmónico para toda a Região. Temos desempenhado um papel fundamental que é reconhecido. Preciso é que esse reconhecimento seja traduzido em votos e que recuperemos os lugares que deixamos vagos na Assembleia. Não basta dizerem que fazemos lá falta, há que votar nas nossas listas.

Oitenta e cinco anos de história de Portugal, oitenta e cinco anos de idade do Partido Comunista Português.
"As gerações passam.
O testemunho é transmitido.
E o PCP continua comunista, a ser o Partido Comunista que é, e que queremos que continue a ser!"

Viva o Partido Comunista Português, viva Portugal
Abraços marienses
Lisboa, 13 de Março de 2006
Ana Loura