26 de dezembro de 2005

Boas Festas

Esta foto, tirada por mim, a um minúsculo presépio de barro peruano, oferecido pela Ângela o Natal passado



Crónica lida aos microfones da estação emissora do Clube Asas do Atlântico no dia 26 de Dezembro de 2005

Bom dia!

Já não se enviam nem recebem postais de Natal.

Lembro, perfeitamente, que quando era criança em casa dos meus Pais os postais começavam a chegar a partir de 10 de Dezembro e só muito depois dos Reis deixávamos de os receber. Os postais de Natal eram obras de arte. Havia-os lindíssimos, de vários tamanhos e alguns salpicados de brilhantes. Era uma delícia olhá-los. Eram enviados uns, por amigos e familiares e outros por firmas fornecedoras de material à fábrica onde o meu pai trabalhava, mas todos eles eram escritos pelo punho de alguém, eram absolutamente pessoais, embora os das firmas, muitas vezes, fossem escritos por secretárias, mas sempre assinados pela pessoa que, realmente, enviava.

Nos princípios de Dezembro fazíamos uma lista de todos os familiares e amigos, ia-se à gaveta buscar os do ano anterior para que não fosse esquecido ninguém, quando chegava algum postal de alguém que não tínhamos incluído na lista por esquecimento ou por ser algum novo contacto havia sempre a possibilidade de comprarmos um postal de “agradeço e retribuo os votos de Boas Festas”.
Os postais ficavam, durante toda a quadra natalícia, expostos como se de obras de arte se tratassem, em cima do aparador para fazermos presentes quem os enviava, nesse gesto simples de colocarmos os postais em cima do aparador.

Mas nesse tempo o Natal tinha outro sabor. O sabor das coisas feitas em casa, do cheiro a rabanadas, a bolo-rei, ao tronco de natal feito de castanhas cozidas que o meu Pai moldava e que ficava tal e qual como um pequeno tronco de pinheiro, o sabor dos presentes que o Menino deixava no sapatinho e eram surpresa.
Tenho tantas saudades de Natais que passaram, do cheiro a bilharacos, a bolo-rei feitos pela minha Mãe, a mão cheia de nozes, avelãs, bombons daqueles pequeninos embrulhados em pratas coloridas que o Menino deixava no sapatinho; das plasticinas, o primeiro presente, que não a mão cheia, já eu contava uns 10 anos. Como os dias de espera do grande dia eram felizes...Ah, e o abrir das pinhas que o meu Pai trazia do pinhal da Varziela agora transformado, pelo "progresso", em zona industrial e comercial, e eram abertos na forno da padaria onde a minha Mãe cozia os biscoitos feito das natas que retirava dos 5 litros de leite que bebíamos diariamente e das claras dos ovos utilizados noutros comeres...

Mas vivemos o Natal presente e neste Natal foram imensos os e-mail com votos de Boas Festas que chegaram à minha caixa de correio electrónico. Postais de Natal, daqueles que se recebe pelos CTT só dois: um do Grupo parlamentar do PS e outro, de imenso bom gosto, lindíssimo, da nossa Câmara Municipal que foram colocados em cima da minha lareira. Os e-mails que recebi, li e respondi ficaram fechados nas ondas da internet e não os partilhei com os meus filhos, não coloquei, fazendo presente quem mos enviou, em cima da lareira. Foram também mais do que muitas as mensagens que chegaram ao meu telemóvel. Algumas delas ainda as li em voz alta, mas a grande maioria tive que apagar depois de responder para dar lugar a outras que estavam à espera de entrar no telemóvel para eu as poder ler. Também estas não foram para cima da chaminé.

Vivemos à velocidade de um click, de um send, de um enter; as mensagens que nos chegam, apesar de enviadas por amigos, são impessoais, geradas, quase sempre, por alguém que ninguém conhece e difundidas por todos e para todos. São mensagens a metro, iguais para todos. Há uma forma qualquer, pelo menos nalguns telemóveis, de enviarmos a mesma mensagem a todos os números que estão na memória, pelo que quando fazemos o envio nem pensamos em ninguém em especial…vai tudo a eito.

Eu respondi cada e-mail individualmente, escrevi e respondi a cada mensagem, cada uma de cada vez, colocando em cada uma o nome do e a amizade que dedico ao destinatário e mesmo assim achei tão impessoal que telefonei a grande parte dos amigos e familiares. O espírito do Natal está a perder-se ou pelo menos a transformar-se.

Deixo-vos com o conteúdo de um dos e-mail que recebi e veio de uma paróquia de Évora:

“Que cada um consiga no seu lar, na sua família, na sua vida, acolher o Menino que se fez Homem e habitou no meio dos Homens. Que o Natal seja cada vez mais sinal de renascimento e de uma segundaoportunidade para aqueles que julgam perdida a jornada.”


Abraços marienses,

Santa Maria, 26 de Dezembro de 2006

Ana Loura

18 de dezembro de 2005

SIDÓNIO


" PIANO, POETAS e TROVADORES”


estas três fotos são da minha autoria



O Emissor Regional dos Açores da antiga Emissora Nacional, foi inaugurado, em Ponta Delgada, no dia 28 de Maio de 1941. Mas só a partir dos anos sessenta começou a investir noutras ilhas do arquipélago, Faial e Flores.

Com o 25 de Abril e a Autonomia Democrática, a RDP ganha novo fôlego com o apoio do Governo Regional.

“A nossa missão vai muito além das 9 ilhas do Arquipélago dos Açores, colaborando a RDP/Açores na programação e informação nacional, com a RDP/Internacional e realizando e produzindo para as Comunidades dos Estados Unidos, Canadá e Brasil o programa “Rota das Ilhas”, emitido por mais de 50 estações de rádio daqueles países. “

“O Centro Regional dos Açores da RDP possui, 23 emissores de FM, 3 de Onda Média, 11 da Antena 2 e 9 em DAB, estes últimos permitindo a recepção de todos os canais da RDP nacional (Antena 1, Antena 2 e Antena 3).”

“Tem 45 trabalhadores em Ponta Delgada, 5 em Angra do Heroísmo e 3 na Horta.”

“Os programas preferidos pelos ouvintes e com mais audiência são: os Noticiários, o “Inter-Ilhas” e as “Manhãs da Rádio”.

Acabei de ler excertos de uma informação cedida pela Direcção da RDP Açores.

Quero salientar, desta informação, o facto de o programa “Inter-Ilhas” ser um dos de maior audiência de toda a programação da RDP. Não é por acaso que atinge enormes níveis de audiência, pois é produzido por um comunicador, um homem que usa as palavras e o encanto que põe nelas, na forma como põe à vontade as centenas de pessoas que passam pelos estúdios da RDP, quer pessoalmente quer por telefone. Sidónio Bettencourt presta, aos microfones da RDP e nos ecrãs da RTP, um serviço inestimável à cultura Açoriana pela divulgação que faz dos eventos mais humildes aos acontecimentos mais marcantes em todas as ilhas do Açores.

Sidónio Manuel Moniz Bettencourt, Sidónio Bettencourt, para além de produtor/apresentador do Inter-Ilhas e apresentador do “Atlântida” na RTP, foi Deputado regional, pelo circulo Eleitoral de S Miguel na legislatura iniciada em Outubro de 1996, é escritor/poeta tendo editado pela editora Salamandra, colecção Garajau, o Livro “Deserto de todas as chuvas” de onde vos leio: resignação

O tédio esta manhã. a ilha descoberta trazendo o mesmo cheiro amargo. a atmosfera sem pintura. o navio. o mar ao largo. o voo da gaivota sem ternura

Lá vão
A carroça, a bilha do leite,
O cão, a missa, o vapor, tudo aceite


O vulcão em banho de broa. O amor apertado na lança. Cantarei contigo sempre à toa do lado azul da esperança

Lá vão
A carroça, a bilha do leite,
O cão, a missa, o vapor, tudo aceite

Raiz em envelope fechado. sagrado, feito emoção. isto não tem fim, não…no meio o mar, o grito. a balada, a forçada razão

Lá vão
A carroça, a bilha do leite,
O cão, a missa, o vapor,
tudo aceite

Sidónio Bettencourt tem poemas incluídos Em “Nove Rumores do Mar” antologia de poesia Açoriana, editado pelo Instituto Camões.

Foi-lhe atribuído pelo Sindicato dos Jornalistas o Prémio “Gazeta” Reportagem de Rádio 1989

É autor de uma reportagem radiofónica “Baleeiros em terra” que fala da baleação no Pico. Esta reportagem Conquistou os grandes prémios «Reportagem Açores/rádio-95», «Clube Português de Imprensa-95» e representou a RDP no concurso internacional de rádio «Prémios Ondas da SER-95», em Barcelona. Esta obra está representada na Biblioteca Nacional Digital.

Diz Sidónio desta sua obra: «Baleeiros em Terra» é uma declaração de amor aos homens e mulheres do Pico que, da terra e do mar, escreveram com suor, devoção e tragédia o cântico persistente da sua luta histórica: a heróica saga de baleação. Segredos, silêncios, memórias, medos, mistérios. Gente incompreendida de um só rosto, muitas vozes, um só tempo. Um só lugar: Lajes do Pico. Este é um olhar possível sobre a realidade económica, social, cultural e religiosa de um povo de fé, querer e crer, ética e rituais, lendas e fantasias. A morte e a sobrevivência no santuário das baleias.”

Sidónio Bettencourt faz parte do trio de recital " PIANO, POETAS e TROVADORES” juntamente com a pianista Carla Seixas de Lisboa e o cantor Manuel Francisco Costa.

Sidónio Bettencourt não é apenas um apresentador de programas radiofónicos e televisivos, é jornalista com a Carteira Profissional Nº 792, e foi moderador em várias sessões do Congresso da Cidadania.

Sidónio Bettencourt tem o dom da comunicação comparável, quanto a mim, ao de Vitorino Nemésio, não tivesse nascido ele no mesmo dia que o grande escritor Açoriano, claro que uns anos mais tarde.

As palavras de Sidónio, mesmo em prosa, são prenhes de poesia.

Hoje, dia 19 de Dezembro de 2005, dia em que completa meia centena de anos de vida, faço esta pequena homenagem ao homem, ao profissional, ao comunicador, ao Poeta Sidónio Bettencourt.

Abraços Marienses
Ana Loura

METADE DE MIM
































As fotos, como sempre, da minha autoria são: Pôr de Sol visto da varanda de casa dos meus Pais em Azurara; Farol da Maia em Santa Maria; Rio Ave visto da ponte que liga Azurara, onde nasci, a Vila do Conde e que eu atravessei milhares de vezes a caminho das camionetas que nos levavam ao Liceu da Póvoa; vista da Praia formosa em Santa Maria onde vivo desde 17 de Março de 1981

METADE DE MIM


Crónica lida aos microfones do emissor do Club Asas do Atlântico no dia 12 de Dezembro de 2005




Aeroporto de Lisboa
Já cheguei a casa. Olho à minha volta e já vi, nestes poucos momentos "montes" de gente de Santa Maria, ouço falar "açoriano", o sotaque que diz “quem não sabe” ser a língua açoriana e eu explico que os Açores são nove ilhas cada qual com a sua identidade cultural e linguarejar próprio: “Aquilo a que, normalmente, chamas de açoriano é restrito a uma ilha, S Miguel, e nasceu numa zona específica mas que devido à mobilidade das populações ser cada vez maior por causa das estradas e acessos, se espalhou e tomou o resto da ilha e já se espalha por outras ilhas do arquipélago, mas ainda não é e certamente não será língua, muito menos dialecto”. Há linguarejares ilhéus que reflectem realidades tão diversas e ricas como, por exemplo, a realidade dos baleeiros do Pico.

Pego no telemóvel e envio a seguinte mensagem: “Só para deixar um último beijo continental. Estamos a embarcar”. É como se uma porta se fechasse e para além dela ficasse metade de mim…A minha metade continental; a minha juventude, os meus Pais e amigos que estão na minha vida quase desde que nasci e outros mais recentes mas que também amo; ficou o “Ana Maria”, o Bom dia Menina que oiço quando ando nas ruas da minha infância; ficaram as livrarias, as discotecas onde me “abasteço” dos livros e cds que me fazem pagar o excesso de bagagem que a SATA não perdoa; ficou o “Rio da minha Aldeia” que por sê-lo é o mais belo do mundo, é único; ficou a feira das Sextas-Feiras onde compro, mas acima de tudo me passeio e passeio os olhos na fartura da fruta colorida, no verde dos legumes, nas loiças, calçado, roupa, peixes…nos ciganos que asseguram vender peças originais de marcas famosas ao preço da chuva. Ir aos ciganos é uma obrigação, mesmo que não tenha intenção de comprar seja o que for pois a festa do pregão, o remexer nas roupas amontoadas é um prazer indescritível. Na feira de Vila do Conde vende-se de tudo ou quase tudo, desde mobílias a peixe a preços inacreditavelmente baratos comparando com o que pagamos em Santa Maria. Quando, paro na dona Elisa, fornecedora da fruta que se come em casa dos meus pais, olho para preços e penso: “como é possível lá (e este lá quer dizer Santa Maria) a fruta ser tão cara? E não falo em diferença de cêntimos mas de mais de um euro em cada quilo.


Mas o que nos torna, verdadeiramente, continentais é o agora estarmos em Lisboa e mais logo à distância de 13 euros, em Vila do Conde. Eu de Lisboa não vejo as luzes dos carros que circulam em Vila do Conde e, no entanto, para lá chegar pago, apenas, 13 Euros.

Estou, neste momento, a bordo do avião. A distância que me separa do continente cada vez maior e a que me aproxima de casa cada vez mais curta. O meu coração acelera emocionada. Já tinha saudades de casa, da ilha que me limita, que fez e faz a outra metade de mim. A metade que olha o cais a partir do forte e sorri, a que se levanta mais cedo e de máquina ao pescoço vai ao cais pela milésima vez tirar mais uma foto (hoje o céu está lindo e o mar espelha-o como nunca). Esta metade Ana Loura que “nasceu” na ilha vai fazer 25 anos em Julho; a Ana Loura que ama a Ilha, que se envolve, se empenha e se dá à Ilha como se não fosse ilhéu de poucos anos mas de toda a vida. Estou voltando para casa, apesar de muitas coisas que não poderei falar neste momento, não para um degredo, mas para a terra onde os meus filhos nasceram trazidos à luz não por gente anónima numa qualquer maternidade, mas por gente com rosto e nome porque a Ilha é ilha.
Esta sou eu, dividida, pelo ser e o não ser ilhéu, pela saudade do lá quando estou cá e pela saudade do cá quando lá estou.

Abraços sejam eles quais forem

A bordo do avião, o ecrã indica que estamos a sobrevoar Santa Maria, 11 de Dezembro de 2005

Ana Maria/Ana Loura

9 de dezembro de 2005

"Os Cagarros vão regressar a Lisboa !!!!"




Crónica lida aos microfones da estação de rádio do Clube Asas do Atlântico no dia 28 de Novembro de 2005

Bom dia!

Este meu bom dia vem bem a propósito do título do programa radiofónico do meu muito querido amigo António Valente homenageado, e muito justamente, no IV encontro de Jovens marienses mais conhecido pelo jantar dos marienses em Lisboa.

Os Cagarros vão regressar a Lisboa !!!!
A Associação Juvenil da Ilha de Santa Maria e o Núcleo do Continente organizam, no próximo dia 26 de Novembro DE 2005, o IV Encontro de Jovens Marienses.

seu contributo na divulgação e desenvolvimento da sua terra natal.

Gostei imenso de encontrar os jovens que vieram para Lisboa, e outras cidades, estudar este ano com o ar de quem já está perfeitamente adaptado, de quem está a gostar apesar das saudades traduzidas no brilhar dos olhos ao verem as pessoas conhecidas, que alguns abraçaram efusivamente como quem que bom que estás aqui, parece que não te vejo há anos; ao verem os molhos, alheiras, morcelas que foram servidos em jeito de aperitivo acompanhados por um delicioso vinho abafado e, depois, as nossas sopas de Império tão excelentemente cozinhadas.

Para além da última leva dos jovens estavam já os veteranos e muitos dos que trabalharam em Santa Maria e que regressaram, uns, e outros que, sendo marienses optaram por viver no continente. Confesso que alguns houve que me foi difícil reconhecer. Estamos, mesmo, a ficar velhos. Mas quando nos reconhecíamos mutuamente abraçavamo-nos e era um tal que é feito deste ou desta? Quantos filhos tens? Onde estão eles? O que fazem?

A comida estava deliciosa, pena foi que o vinho não fosse de cheiro, mas também não se pode pedir tudo pois transportar o vinho ficaria caríssimo. O serão musical foi interessantíssimo, animado pelo grupo Rockclassicz formados pelo Zé Amaral, Paulo Raposo, Henrique Mariante, Ricardo Batista e João Pimentel. Até à altura em que consegui aguentar o fumo a actuação foi muito boa e animada. A malta adorou.

A organização, a Associação Juvenil de Santa Maria, com o apoio da Camara Municipal, esmerou-se. Estava tudo óptimo e para o ano há mais e eu se puder cá estarei.

De Lisboa, capital, envio os meus abraços marienses no dia 28 de Novembro de 2005

Ana Loura


5 de dezembro de 2005

LIBERDADE DE EXPRESSÃO


LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Crónica lida aos microfones da Estação Emissora do Clube Asas do Atlântico no dia 05 de Dezembro de 2005








Bom dia!

Raramente fico indiferente à vida que existe à minha volta. Gosto de observar. Por vezes sou surpreendida pelos acontecimentos que “decidem”, contráriamente ao que espero, surgir com variantes que me deixam preplexa; outras vezes acontecem tal e qual, de acordo com a minha matemática, a minha lógica. Em todos os casos gosto de analisar, ter opinião e exprimi-la, se for o caso.

Detesto o amorfismo daqueles para quem tanto se lhes dá, tanto se lhes deu, que chova ou faça sol, que o Presidente da Câmara seja A ou B, que o deputado vá para a Assembleia dormir a sesta ou intervir na discussão dos temas importantes para a comunidade que o elegeu. Fico espantada e muito decepcionada quando nos resultados eleitorais a abstenção atinge números vergonhosos que atestam que a grande maioria do Povo é amorfa, não tem opinião, se está borrifando, marimbando (desculpem o calão) para que o futuro seja amarelo, vermelho ou verde esperança.

Faço os possíveis por estar atenta, por analisar e, sobretudo, ter opinião.

Exprimir opiniões é sempre difícil, mesmo quando alguém nos pede que lha demos, pois poderemos correr o risco de essa nossa opinião ser contrária à dele ou, mesmo, ferir pessoas que prezamos.

Dizia António Aleixo: “Contigo em contradição pode estar um grande amigo. Desconfia dos que estão sempre de acordo contigo.

A verdade acima de tudo, com frontalidade mas sem ser ofensiva.

Já perdi um pouco a noção de há quanto tempo exponho públicamente as minhas opiniões aqui aos microfones do ASAS, mas creio que já o faço há cerca de dois anos. Já antes disso tomava posição pública e sempre o fiz assumindo, assinando com o meu nome ou com o meu pseudónimo que toda a gente conhece e sabe ser meu. Sei por experiência própria que dizer o que pensamos, assinando-o por baixo, e vivermos com o virar da cara dos que se sentem melindrados com o que dizemos não é fácil, mas é um dos preços da frontalidade, do assumirmos das nossas posições, do adormecermos de consciência tranquila. É uma questão de opção.

A liberdade de expressão é uma conquista de Abril, para mim tão importante como qualqdas outras que com ela fazem a Democracia. Exprimir as nossas ideias e opções no que dizemos, fazemos e no voto, é fundamental. Eu assumo esta minha condição de ser livre, consciente e responsável. Há quem não o faça e diga o que pensa a coberto do anonimato. Estará no direito de assim proceder? Talvez...Santa Maria é um meio pequeno, sei disso muito bem. Mas...eu assino o que digo e escrevo. É esta a minha opção!

Abraços marienses
Azurara, 05 de Dezembro de 2005
Ana Loura- Lua dos Açores

http:///www.noticiasdaamadora.com.pt/censura16/index.php
http://www.apdsi.pt/Actividades_2005/Actividades_de_2004/Activities_for_2004/Liberdade_de_Expressao/liberdade_de_expressao.html


LA, estive a mexer no blog, este post tinha a data de edição diferente da data da crónica lida no ASAS, pensei que a tinha corrigido e afinal parece que ficou com a data de ontem. Portanto não houve intensionalidade.

Sabes que não me preocupa nada não saber quem és? Porque os teus comentários são honestos e não agridem quem que que sejas. Criticas dizes que gostas dizes que não gostas de forma polida. Confesso que de vez enquando me questiono quem sejas mas sem stress. Sejas tu quem fores serás sempre bem vindo/a mesmo para exprimres discordância do que opino.

Beijinhos
Ana

23 de novembro de 2005

"É preciso ter lata"














CRÓNICA LIDA AOS MICROFONES DA ESTAÇÃO CLUBE ASAS DO ATLÂNTICO NO DIA 21 DE NOVEMBRO DE 2005





Bom dia
No Dicionário Enciclopédico de Língua Portuguesa das Selecções do Reader’s Digest encontramos os diversos significados para a palavra:

Lata- Folha de fero delgada, laminada e às vezes estanhada, utilizada na produção de objectos para usos industrial e domésticos; folha-de-flandres. Caixa de folha de ferro estanhado em que se conserva o azeite e outros produtos alimentares. Litro. Quartilho de vinho. Caibro tosco para assentamento de vigas. Trave transversal do navio. Pequena latada. Coisa que não presta, feita de material ruim, de pouco valor. Gíria A cara. Descaro, desplante, prosápia. Automóvel de qualidade inferior, em mau estado.

E eu digo, é preciso mesmo ter muita lata, eu diria mais, um grande latão. Estou absolutamente indignada, furiosa, revoltada. Gostaria de saber porque haverá alguém que me queira tão mal para dificultar desta forma a minha vida.

É público o meu amor a tudo o que é ser vivo e a minha defesa intransigente dos direitos de qualquer animal. Tenho na minha casa um aquário com peixes, uma caturra, gatos e cães. Faço os possíveis por lhes dar boas condições de vida, por lhes dar cuidados veterinários quando necessário. Muitos, direi até, a grande maioria dos meus animais foram adoptados. Uns voluntariamente, mais ou menos pois poderia sempre fazer vista grossa, pois estavam abandonados em bermas de caminhos e em risco de serem atropelados, foram trazidos para casa por mim ou meus filhos.

Mas muitos dos animais que tenho foram abusivamente deixados à minha porta por pessoas sem escrúpulos que resolvem o seu problema criando, com a maior desfaçatez, um a mim.

A minha vizinhança está farta dos meus animais e não se importa se o cão que ladra de noite foi abandonado à minha porta e eu com pena o acolhi, pois não existe canil municipal que o acolha e o futuro dele ser curto e triste, sujeito para além da fome a ser atropelado e maltratado. A vizinhança não se importa se o gato que faz as suas necessidades nos seus jardins ou nas soleiras das portas é dos abandonados que recolhi ou me largaram à porta. Quando aparecendo riscos nos carros foram os gatos da Ana Loura.

Acontece que o deixarem animais à minha porta se está a tornar o Pão-nosso de cada dia. Na semana passada foram duas gatinhas…Uma seguiu caminho e a outra, imaginem onde está…Ofereço-a a quem adivinhar…

Na Quarta-feira passada fui a um jantar de colegas e quando volto a casa, imagine-se: tinha um caixote de cartão com uma cadela e três, não um, nem dois mas sim três cachorrinhos. A Mãe, uma cadela já entrada na idade e com uma das patas traseiras partida, é branca com malhas acastanhadas. E agora digam-me: pego no presente e vou pôr à porta de outro? À porta da Câmara Municipal que deveria ter um canil e não tem? Por favor ajudem-me a encontrar solução para este problema que alguém para deixar de o ter e por ter uma enorme lata me fez passar a ter.

É engraçado que ninguém me vem trazer peixe para eu comer, ninguém se vem oferecer para, de graça, me limpar o jardim ou pintar a casa, vêm é, isso sim, trazer-me inquietações e despesa…

Conclusão: preciso urgentemente de dar 3 lindos cachorrinhos de raça eventualmente pequena se saírem à mãe, e são-no mesmo, a quem prometer tratá-los bem senão os meus vizinhos fazem um abaixo-assinado para que eu seja expulsa do bairro…e eu não estou a brincar. Vão de porta em porta e perguntem.

Mas é preciso ter lata, uma grande lata para, a coberto do escuro, me deixarem à porta estes presentes.

Abraços marienses
Santa Maria, 21 de Novembro de 2005
Ana Loura

18 de novembro de 2005

COMUNIDADE














O Adriano a agradecer a presença de todos, a colaboração e apresentando os músicos e os cantantes


Crónica do dia 14 de Novembro- 2ª parte
Comunidade- qualidade do que é comum.
Comum- relativo ao que pertence a todos ou a muitos.

Realizou-se na Sexta-feira passada um jantar de S. Martinho para convívio e angariação de fundos para ajuda da construção do Centro Paroquial de Vila do Porto que, quanto julgo saber, irá servir todas as Paróquias da ilha, Será comum a todos nós comunidade Católica da Ilha.

É interessante como se consegue congregar à volta de um projecto comunitário pessoas tão diversas. Mas essa é a arte que o Adriano, o nosso Pároco, tão bem domina, com o seu encanto, simpatia e amor que põe em tudo o que faz, no arregaçar das mangas encabeçando, sempre, as equipas das pessoas que amorosamente oferecem o seu trabalho voluntário. Foi o caso deste jantar de que vos falo que quanto a mim correu na perfeição. Fartura de comida de confecção excelente, do bom vinho e das muitas e variadas sobremesas oferecidas para deleite dos paladares mais gulosos como o meu…tirei a barriguinha de misérias de coisas boas, lá se foi a dieta de meses para as urtigas, mas que me consolei, consolei sim senhores.

E consolei-me não só com as comidas, mas também com o convívio, com as cantigas dos excelentes repentistas e guitarristas que animaram o serão.

Eu pensei muito neste jantar e na Liturgia da Palavra deste Domingo…assentavam-se que nem luvas e mãos: os talentos que temos e fazemos render em prol da Comunidade que somos, uns catequistas, outros cantores, outros ministros da Comunhão, os que passam a toalha do altar e varrem a igreja e ainda os que cozinham, lavam louça e preparam as salas onde se realizam estas coisas. A comunidade faz-se de participação, dos talentos que somos chamados a desenvolver nela. Só participando naquilo para que somos chamados cumprimos a nossa vocação comunitária.

Eu dou o pouco que tenho e agradeço a quem me deu a oportunidade de o fazer, embora muitas vezes me questione se sou eficaz no que faço e na forma como o faço duvidando seriamente que valha de alguma coisa a alguém estes meus parcos talentos. Mas quem dá o que tem…a mais não é obrigado, ou talvez não…deve procurar melhorar ou mudar de caminho, procurar outro talento para desenvolver em prol da Comunidade. Quem sabe um dia eu encontre o meu verdadeiro talento. Você já procurou/desenvolveu/fez render o seu talento?

Um amigo, Irmão Silncio-Monje Trapista, disse-me um dia: "O Pai jamais diz NÃO mas um ESPERA mesmo que os teus pecados sejam uma floresta que rompe os caminhos da tua alma com as suas raizes do mal. Espera no Senhor e sê misericordioso O dia virá, do ENCONTRO, e as suas palavras jamais serão o que fizestes? Mas sim onde deixaste semeado o Amor que te ofereci naquele dia em que ambos nos encontramos?"

Abraços marienses
Ana Loura
Vila do Porto, 14 de Novembro de 2005

A montanha pariu um ninheiro
















Crónica lida aos microfones do Club Asas do Atlântico no dia 14 de Novembro de 2005

1ª parte

Bom dia

A montanha não pariu, ao contrário do costume, um rato mas um imenso ninheiro deles.
César, apesar dos pressupostos laços políticos que ligam os Governos Regional e o da República, não tem facilidade de diálogo com Sócrates. Isso foi evidente no provável equívoco gerado à volta da questão dos dinheiros a que temos direito e a República teima em esquecer de nos dar e o que é mais grave teima em tardar reconhecer que tem por obrigação dá-lo, isto é, que o deve.

Mas triste, triste foi a cena gaga feita pelo PS Açores que, na pessoa do seu presidente, afirma que os deputados eleitos pelos Açorianos e que têm assento na Assembleia da República votarão contra o orçamento Geral do Estado num acto de protesto à não assunção por parte da República da dívida que, de facto, existe. Só faltou ressuscitarem Brianda Pereira, a FLA e gritarem às armas, independência já! Depois afinal já havia entendimento e o dinheiro vinha já quase a caminho e votamos sim ao bendito do orçamento, mas afinal é boato, não da reacção mas da situação, não houve entendimento mas sim reuniões para o estudo do assunto e fica o povo a não entender em que fica o assunto e a ver os nossos deputados a votarem sim ao documento que regerá a nossa débil economia nos próximos anos. Mas afinal, Sócrates sabe que há dívida, aceita a sua existência? Em que ficamos? Onde está Brianda Bereira? Ou será que andam todos a ver só moinhos de vento onde há, de facto, o monstro da prepotência centralista de Sócrates? É, no mínimo, estranho este estar de costas voltadas de Sócrates/César. A ver vamos…Mas o certo é que mais valia que tivessem estado calados pois a credibilidade ganha-se com actos e perde-se muitas vezes, com uma frase dita e espalhada aos 4 ventos e cujo conteúdo é contradito pelas atitudes. Parece birra de crianças.

11 de novembro de 2005

Manta de retalhos







Crónica lida aos microfones do Club Asas do Atlântico no dia 07 de Novembro de 2005

Bom dia!

Depois de ter faltado ao nosso encontro na passada Segunda-Feira por ter ido passar o fim-de-semana a ponte e o feriado a S Miguel com os meus filhos e não ter garantia de haver alguém no Asas que me gravasse a crónica cá estou com uma mão cheia de acontecimentos que quero comentar com os ouvintes do Asas que ainda têm paciência para me aturar.

Como muita gente saberá, embora eu ache que cada vez estas coisas passam mais despercebidas, o nosso Governo Regional veio, mais uma vez, em visita de desobriga e desta vez mais do que nunca, pois embora estivesse fartinho de saber que o elenco camarário estava nos últimos dias de posse veio reunir e trocar informações com quem já não ira ter protagonismo caramário. Mesmo assim veio cumprir a formalidade de prometer o que havia prometido desde há pelo menos 4 anos: a marina que toda a gente reconhece de absoluta necessidade para o desenvolvimento turístico de Santa Maria mas que quanto a mim irá servir, essencialmente, os marienses que têm barco de recreio e que durante estes anos tentaram demonstrar que o Marina será uma mais valia para todos os marienses. Não digo que não o seja de todo, mas eu continuo a pensar que haverá outras prioridades. Mas venha a marina e venham os turistas que depois a gente limpa Valverde, cria os caminhos pedonais e os roteiros de turismo ecológico e rural. Concordo que temos de começar por algum lado. Que seja, então pela marina.

Outra coisa que o Governo nos deu nesta sua vinda foi a Ecoteca, um projecto que eu apoio, embora não conheça muito bem quais as funcionalidades e potencialidades que abrangerá, mas se é a bem da ecologia e da preservação do bom ambiente da nossa ilha eu voto de olhos tapados. Prometo é estar atenta.

Mas mais, ainda, nos foi dado: a instalação em Santa Maria da empresa de apoio às ilhas chamadas de Coesão. Fica instalada cá e tem como responsável uma mariense. Mas dizem as más-línguas que César quando instado acerca dos resultados que sairão dessa empreitada terá afirmado que a criação da empresa será só para constar, de fachada…será? Será como o foi a Zona Franca oferecida a Santa Maria pelo PSD, onde se investiu muito dinheiro, empregou técnicos superiores, compraram-se vários estudos e que nunca teve resultados práticos para além das viagens que esses técnicos fizeram? Esperemos que a responsável nomeada tenha estatura para se impor a qualquer tentativa de a fazer figura decorativa das instâncias governativas da região e que este cargo não seja tido como a “paga” de ter aguentado o lugar de deputado Regional ao nosso ex presidente da Câmara. Desejo-lhe empenho e os maiores sucessos que serão, também, nossos e de todas as outras ilhas que sempre foram votadas ao esquecimento. Espero que essas “bocas”das supostas más línguas não passem de isso, pois assim sendo e juntando esta aquela de César ter dito (dizem também as más línguas) que investir em Santa Maria nem é necessário pois os marienses votam PS quer invistam quer não, faz César ficar muito mal visto pelos marienses pois a fidelidade do voto pode não ser sempre favas contadas. Um dia o pôvo acorda e abre os olhos.

Foi inaugurado o Matadouro Municipal!!! Falta, agora entrar em funcionamento. Eu acho esta inauguração extemporânea, cedo demais. Não seria muito mais lógico esperar que o matadouro estivesse pronto a entrar em funcionamento, com as máquinas, o pessoal lá instalado, a estrada reparada prontinho a funcionar para o inaugurarem? Mas, está bem…tudo à pressa quando os senhores do Governo cá vêm.

Como todos nós sabemos a campanha eleitoral terminou na Sexta-Feira anterior ao dia das eleições pelo que poderemos tomar à letra o discurso de tomada de posse da Presidente da Câmara recém eleita, Dr. Nélia Figueiredo, no dia em que tomou posse todo o novo elenco camarário. A Nova Presidente reiterou todas as promessas que fez no seu programa de campanha. Resta-nos dar-lhe o nosso voto de confiança e esperarmos por obra feita pois precisamos e merecemos e cá estaremos sempre que, solicitados, para colaborarmos com a nossa Câmara naquilo que a DRa Nélia entenda. Estaremos, também, atentos.

Fomos visitados pelo Senhor Presidente da República, ontem, Domingo. Esta visita insere-se num programa de divulgação turística que o Senhor Presidente decidiu fazer quase no final do seu mandato de zonas turísticas periféricos. Uma visita relâmpago que, se bem aproveitada e bem divulgada, poderá trazer dividendos no conhecimento de Santa Maria como destino no panorama turístico nacional, talvez com mais resultados do que a paupérrima participação de Santa Maria na bolsa de Turismo de Lisboa.

Esta crónica ficou assim uma manta de retalhos, mas não queria deixar de referir qualquer dos assuntos, hoje, pois perderiam a actualidade se tratados em data futura.

Abraços marienses

Santa Maria, 7 de Novembro de 2005
Ana Loura

27 de outubro de 2005

Preconceito


Crónica lida aos microfones do Clube Asas do Atlântico no dia 24 de Outubro de 2005

Bom dia!
“A palavra “preconceito” tem como significado uma opinião ou um conceito formados por antecipação, geralmente com precipitação, destituídos de análise mais profunda ou conhecimento de determinado assunto, sem levar em consideração suficientes argumentos contrários e favoráveis, sem o devido cotejo entre os múltiplos aspectos que incidem sobre os fatos, por conseguinte, sem a suficiente e necessária reflexão.
O preconceito está geralmente relacionado com a ignorância, aqui vista como a ausência de conhecimento acerca de determinado assunto. Invariavelmente se encontra acompanhada da teimosia, que é sua escrava fiel.
Muitos dos conceitos que hoje assumimos como nossos, de nossa autoria ou simples concordância, nos foram na realidade legados através de confortáveis estereótipos transmitidos de geração em geração, muitas vezes sem justificativa plausível que os ampare como legitimas ou verdadeiros.
Nesse sentido, cabe a cada cidadão arguir, duvidar desconfiar, a todo instante, contestar as fórmulas prontas, os rótulos, as receitas acabadas, não apenas com o objectivo de buscar as próprias respostas para tudo, mas principalmente para minimamente reconhecer as “verdades” e as “mentiras” que povoam o quotidiano individual, até para que a eventual “obediência ao sistema”, decorrente do pacto social anteriormente mencionado, se constitua no resultado de uma opção livre, segura, madura e espontânea.
Exercendo a sistemática confrontação das alternativas através da razão, da ponderação, do estudo (que proporciona o conhecimento), da experiência etc., naturalmente pode-se obter resultados significativos em prol do desenvolvimento moral e intelectual de todos e de cada um.
É preciso estar permanentemente preparado para enfrentar o “novo”, aquilo que ainda se desconhece, com o objectivo de melhor se relacionar com o futuro. Para tanto, é fundamental que as pessoas se encontrem desarmadas de ideias preconcebidas, despidas de preconceitos que em nada favorecem esse sempre difícil relacionamento.
Como é bom e confortável tratar com aquilo que já conhecemos, e, via de consequência, dominamos!
Entretanto, o “novo” se impõe a cada instante, Incomoda a quem não está suficientemente preparado para recebê-lo. Destrói aqueles que o rejeitam.
É comum acreditar que o preconceito só existe no “outro”. Apenas o “outro” é preconceituoso, esquecendo-nos de olhar para nós mesmos, ver o quanto de preconceito carregamos junto a nossos valores, até porque a circunstância mais grave dessa problemática é exactamente a de acharmos que nós próprios não possuímos preconceitos.”
Em: http://www.dhnet.org.br/oficinas/scdh/parte1/conceitos/preconceito.html
Rede de Direitos Humanos e Cultura do Brasil
Foram muitas as pessoas que nas últimas semanas me abordaram a manifestar a sua simpatia pelas minhas crónicas, pela minha intervenção nos debates transmitidos pela RTP e Asas no âmbito das eleições autárquicas. Mas, geralmente, essas manifestações de apreço eram rematadas por um “mas se a Ana estivesse noutro partido…”

Eu muito sinceramente não consigo entender como me podem dizer uma coisa dessas, sendo eu o que sou exactamente por pertencer, muito orgulhosamente, ao Partido Comunista Português.

Ao dizerem-me isto o que querem dizer as pessoas? Que pertenço a um bando de malfeitores? O que é para elas o partido Comunista?
O Salazarismo, numa atitude de defesa do regime, incutiu, ou tentou incutir, no espírito do Povo Português que nós, os Comunistas, comíamos as criancinhas ao pequeno-almoço, dávamos injecções atrás da orelha aos velhinhos. Diziam isso porque tinham medo das nossas posições em defesa dos que menos tinham. Mas entretanto já aconteceu o 25 de Abril, há Liberdade. Essa liberdade traduz-se na liberdade de expressão e em todas as outras liberdades conquistas de Abril. Por isso é estranho que haja alguém que, ainda, pense que ser comunista é ser o diabo em figura de gente.
Mas, ser comunista é ser justo, ser comunista é preocuparmo-nos pelos que têm menos, é acharmos que todos temos o direito à saúde, à educação, a uma casa digna desse nome…Como pode alguém dizer-me que aquilo que sou, comunista, é uma coisa má, uma coisa que me torna indigna de votarem em mim?
Preconceito. Só pode ser preconceito.
Como disse o autor do texto: “É preciso estar permanentemente preparado para enfrentar o “novo”, aquilo que ainda se desconhece, com o objectivo de melhor se relacionar com o futuro.”
Abraços marienses
Santa Maria, 24 de Outubro de 2005
Ana Loura

20 de outubro de 2005

"Nove ilhas uma só música"


Foto retirada do site do Coliseu Micaelense

Crónica lida ao microfone da estação emissora do Club Asas do Atlântico, dia 17 de Outubro 2005


Bom dia

“Nove ilhas uma só música”

A Orquestra Regional Lira Açoriana foi fundada em 1998 e é constituída por jovens músicos, em representação das muitas dezenas de bandas filarmónicas das respectivas ilhas.

Sob a orientação do Maestro António Melo, a constituição da Lira visou, à partida, enriquecer a participação no programa cultural que a Direcção Regional da Cultura promoveu no dia dos Açores, na Expo “98” em Lisboa.

O êxito retumbante desta iniciativa, logo no ano seguinte reiterado pela sua intervenção na Expo Am Meer, na Alemanha, levou à decisão do Governo Regional de manter a Lira Açoriana como símbolo por excelência da unidade da Região, fazendo-se evoluir a ideia fundadora inicial para a de um projecto alargado, que sirva de suporte à desejada evolução das filarmónicas nos Açores.

A orquestra funciona como uma escola de música e destina-se a interpretar um vasto repertório de música erudita e ligeira.”

Este é parte do texto de apresentação do programa do espectáculo dado pela Orquestra Lira Açoriana no passado Sábado no Coliseu Micaelense, programa esse de excelente qualidade, preenchido por obras de estilos diversos: De Jorge Salgueiro abertura para o Gil, opus 63, nº2; De Ulvaeus/Andersson, músicos do grupo Abba, Highlihts from “Chess” num arranjo de Johan de Meij; De Afonso Alves: Malhão Sentido, Malhão sonhado, uma fantasia sobre o tema tradicional “Malhão de Águeda”;
e de Antonin Dvorák a Sinfonia do Novo Mundo.

Aquilo que me pareceu antecipadamente um programa curto para um concerto, apesar da excelente qualidade, foi complementado por três “encores”, dois deles absolutamente surpreendentes e que confirmaram a vocação formadora e inovadora que nortearam a decisão de manter o projecto inicial: duas obras de dois jovens músicos da Ilha do Pico, a primeira, de Hélder Bettencourt, desenvolvendo temas populares açorianos com roupagens de jazz/blues que tornaram temas conhecidos como a Lira, olhos pretos e outros, absolutamente fascinantes; o outro tema, de Antero Ávila, a Cidade, completamente inédito fizeram o público vibrar e foi brindada com estrondosos e merecidos aplausos. Encerrou o concerto uma das mais conhecidas marchas do luso/americano John Philip de Sousa.

O lema “Nove ilhas, uma só música” que o Maestro diz corresponder ao desejo subjacente ao “alto patrocínio da Presidência do Governo Regional” eu gostaria de ver de facto, implementado no desenvolvimento harmónico de todo arquipélago quer no âmbito cultural quer no económico. O arquipélago não será, efectivamente um todo só porque tem um símbolo por excelência, uma orquestra que tem músicos de todas as ilhas, mas sim se o desenvolvimento se verificar em todas elas com a mesma intensidade e não se ouça dizer que César afirma, e não sou eu quem o diz, que não é necessário investir nesta ou naquela ilha porque em caso de eleições o PS lá ganha de certeza absoluta.

Em termos culturais o desenvolvimento será harmónico se todas as ilhas tiverem agentes culturais, no âmbito camarário, dinâmicos e se forem levados às ilhas espectáculos de qualidade, se as grandes orquestras não actuarem unicamente nas ilhas grandes, os concertos de piano não sejam excluídos das programações (em Santa Maria existe um piano que poderia ser utilizado se recuperado e afinado); a descentralização efectiva da cultura tem que ser pensada em termos globais do arquipélago e das próprias ilhas. As realizações culturais devem sair das grandes ilhas, das sedes de conselho e irem às ilhas pequenas e às freguesias.

Agora, só me resta desejar que Santa Maria seja brevemente contemplada com a actuação da Lira Açoriana na sua formação completa de, creio, 112 membros e que o prazer que tive ao assistir ao espectáculo no sábado passado seja sentido por todos os marienses.

Só uma nota complementar: quase não conseguia assistir ao concerto pois aquilo que se anunciava de entrada livre foi condicionado pela distribuição de bilhetes aos amigos primos e afilhados e quando o grande público se dirigiu à bilheteira já a lotação estava esgotada…valeu-nos que os primos amigos e afilhados ficaram em grande número em casa…

Abraços marienses

Ana Loura
Santa Maria 16 de Outubro de 2005

7 de outubro de 2005

Ao meu Amigo Adriano Ferreira

Ao meu Amigo Adriano Ferreira
Crónica lida aos microfones do Clube Asas do Atlânticao no dia 29 de Agosto de 2005
Bom dia


Antes de qualquer outra coisa que eu possa dizer ou de desenvolver qualquer ideia quero, mais uma vez, afirmar publicamente que perdi um muito querido Amigo, uma pessoa por quem nutria uma grande admiração e cuja amizade e respeito tenho a certeza de ter granjeado.

A morte de Adriano Ferreira deixa um grande vazio no panorama cultural e humano de Santa Maria.

Conheci o Adriano mal cheguei cá pois ele trabalhava na Meteorologia e nós reparávamos os equipamentos lá instalados. O Adriano tinha um porte garboso, era uma figura fisicamente difícil de passar despercebido, e quando falava o timbre da sua voz chamava a atenção. Só comecei a vê-lo realmente de perto quando fui convidada a fazer parte da família Lion de Santa Maria e ao, no início por acaso, ficar sentada nas assembleias ao pé do grupo de amigos de que o Adriano fazia parte e que nestes eventos tem tendência a juntar-se no cantinho de uma mesa. Apesar de algo mais jovem e ser, de certo modo uma intrusa naquele cantinho da mesa, eu senti-me em casa no meio daqueles casais que de uma alegria e jovialidade me fizeram sentir à vontade. Uma coisa que começou por ser um acaso passou a fazer parte da minha escolha, quando era possível, e acabei por fazer sempre o possível por me sentar junto ao “grupo” do Adriano. Claro que o termo grupo não traduz de forma alguma o ser-se e estar-se nos Lions, que funcionam como um colectivo, mas isso seria tema para outra conversa

O Adriano não passou pela vida por passar, o Adriano foi o companheiro inseparável da D. Lídia, foi um Pai como não há muitos, avô babado (adorava ouvi-lo nas apresentações que fazíamos de nós próprios quando vinha algum dirigente do movimento leonístico e ele dizia: Adriano Ferreira, a idade, casado com a Lídia, olhando para ela com a ternura a bailar-lhe nos olhos e que a D. Lídia retribuía com um sorriso apaixonado, 3 filhos e dois netos…quando o mais novo nasceu e ele disse 3 netos os olhos brilharam e disse ao Manuel Humberto, já tenho mais um do que tu…). Como dizia, o Adriano não passou pela vida por passar. Para além de marido, pai e avô, foi um interventor na sociedade mariense desde nas autarquias, como na direcção do Clube Asas do Atlântico, nos corpos directivos dos Lions. Mas a sua faceta mais conhecida e que cultivou com grande intensidade nos últimos 8 anos foi a de escritor em árias tão diferentes como a crónica, o romance e o documental. Deixou uma obra muito interessante que em muito prestigia Santa Maria.

Fui convidada para o lançamento dos livros que editou nos últimos anos e todos os autógrafos que me dedicou transpareceram a sua amizade por mim que muito me honrou.

A RTP Açores, embora à última da hora como muita coisa que faz, decidiu entrevistá-lo em directo no programa emitido aquando as comemorações do dia da Autonomia, numa entrevista relâmpago e quanto a mim de uma ligeireza quase ofensiva. Com tanta programação regional e ainda bem, será que a RTP não teve tempo ou equipa de luxo disponível para fazer o programa que se impunha sobre essa figura importante das letras marienses? De facto o tempo agora esgotou-se como se esgotou a vida do meu Amigo Adriano Ferreira.

Ao Homem tranquilo, ao meu Amigo Adriano Ferreira deixo aqui o meu último abraço e a minha admiração.

Que descanse em Paz


Santa Maria, 29 de Agosto de 2005

Ana Loura