27 de outubro de 2011

A Mãe das pombas

Ao ler este texto de Eduardo Bettencourt Pinto
(http://eduardobpinto.wordpress.com/2008/02/07/a-mae-das-gaivotas/), lembrei-me de fotografias que tirei há dias no Faial. De alguma forma roubei o título.





Em andando pelas ruas da cidade, máquina fotográfica ao pescoço, perco a noção do tempo. Paro nos nas esquinas, as janelas das casas em ruínas seduzem-me, meias abertas, vidros partidos. Cortinas esfarrapadas, encardidas, espreitam-me. O Mercado, paragem obrigatória, está fechado, é Domingo. Continuo deambulando, olho o relógio. Está quase na hora de partir. Mas, como eu gosto desta cidade! Os taxistas acertam os sonos, alguns, outros passam a flanela nos cromados. No jardim, chega uma mulher. Na mão um saco de plástico com milho. Pousa-o num banco. As pombas, que estavam nos galhos da araucária à espreita, começam a esvoaçar à volta da mulher. Poucas, de início. À medida que ela vai metodicamente espalhando o milho num carreirinho, o bando aumenta. As pombas quase cobrem a mulher. O taxista do pano de flanela acerca-se. Traz, agora, na mão bocados de pão que atira juntando-os ao milho.

- Parece que não estão com fome, hoje. Quem sabe a Aurora já cá tenha estado. Ela vem todos os dias.

- Ah, talvez. Achas? É cedo ainda. Hoje estão menos. Não sei o que se passa

E o homem assobia olhando o céu de roda. A mulher coloca a mão na testa em jeito de pala, o sol da manhã encandeia-a. Mas não vem mais nenhuma pomba.

-Mesmo assim comeram tudo. Amanhã há mais.

- Pois há. Então bom dia!

-Bom dia! Até amanhã.