Bom dia!
Quando estamos, fisicamente, longe uma de duas coisas é possível que aconteça: o esquecimento começa a pouco e pouco a instalar-se e o longe cada vez fica mais longe, ou as memórias e a saudade vão potenciando a frustração de não podermos participar nos acontecimentos e “limitarmo-nos” a ficar felizes com os sucessos e acontecimentos que acrescentam mais valias à vida dos que ficaram ou sofremos impotentes, frustrados numa raiva surda por não podermos pessoalmente chorar, abraçar os que a vida lá tão longe faz sofrer.
Para a Marta, mesmo sabendo que ninguém pode sofrer o nosso sofrimento, mas deixando o abraço solidário e amigo que gostaria de ter dado pessoalmente:
Do Salmo 39
Senhor. Vinde em meu auxílio.
socorrei-me e salvai-me.
Alegrem-se e exultem em Vós
todos os que Vos procuram.
Digam sempre: “Grande é o Senhor”
os que desejam a Vossa salvação.
Eu, porém, sou pobre e infeliz:
Senhor, cuida de mim
Sois o meu protector e meu libertador.
ó meu Deus, não tardeis.
Do Salmo 41
Digo a Deus: Sois o meu protector,
Porque Vos esqueceis de mim?
E ainda:
Porque estás triste, minha alma e desfaleces?
Espera em Deus: ainda o hei-de louvar,
meu Salvador e meu Deus.
Da Primeira carta de S. Paulo aos Coríntios:
Ora, se, se prega que Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, como dizem alguns de entre vós que não há ressurreição de mortos?
Mas, se não há ressurreição de mortos, também Cristo não foi ressuscitadp.
E, se Cristo não foi ressuscitado, logo é vã a nossa pregação, e também é vã vossa fé.
E assim somos também considerados como falsas testemunhas de Deus que Ele ressuscitou a Cristo, ao qual, porém, não ressuscitou, se, na verdade, os mortos não são ressuscitados.
Porque, se os mortos não são ressuscitados, também Cristo não foi ressuscitado.
Porque a morte é consequência directa do facto de se nascer, deveria de ser encarada com a naturalidade que merece qualquer facto natural. Mas porque fomos, desde tempos imemoriais, ensinados a encarar a morte como um castigo, principalmente quando ocorre antes da velhice, acontece que perguntamos sempre, como o salmista: “porque Vos esqueceis de mim?”, ou ainda: porquê só a mim acontecem estas desgraças? Onde estavas Tu, meu Deus que não a evitaste? A morte tem, apenas, a ver com a finitude da vida e com as circunstâncias que se conjugam para que ela ocorra: ou a velhice, ou doença ou acidentes que escapam pura e simplesmente ao nosso controle ou à nossa previsão. Quando isto ocorre só podemos pedir e esperar:
“Senhor, cuida de mim
Sois o meu protector e meu libertador.
ó meu Deus, não tardeis.”
E estarmos certos de que só aguentamos este novo embate porque Deus está, de facto, connosco, nos pega ao colo e nos enxuga o pranto, temos a certeza do Encontro porque não somos falsas testemunhas, mas crentes na Ressurreição. A dor da morte dos que amamos vai se esbatendo, transformando em saudade e em doce memória: sorrimos ao pensarmos nas alegrias que a sua breve passagem na nossa vida nos proporcionou e ficamos gratos por esses momentos de felicidade.
Se me amas não chores
Se conhecesses o mistério imenso
Do Céu onde agora vivo,
Este horizonte sem fim,
Esta luz que tudo reveste e penetra,
Não chorarias, se me amas!
Estou já absorvido no encanto de Deus,
Na sua infindável beleza.
Permanece em mim o teu amor,
Uma enorme ternura
Que nem tu consegues imaginar.
Vivo numa alegria puríssima.
Nas angustias do tempo
Pensa nesta casa
Onde um dia
Estaremos reunidos para além da morte,
Matando a sede
Na fonte inesgotável da alegria
E do amor infinito.
Não chores,
Se verdadeiramente me amas!
Santo Agostinho
“Esta Mulher só pode estar no coração de Deus”
Abraços marienses
Lisboa, 27 de Novembro de 2006
Ana Loura