Bom dia!
O que fará com um homem com “idade para ter juízo”, avô de netos, pescador de profissão meter pés ao caminho, neste caso casco à água, e dar pela segunda vez a volta ao mundo tendo por única companhia, para além do sol, da lua, de animais marinhos, de algumas aves, das ondas do mar, as ondas da rádio por onde lhe chegam as notícias de terra firme e fica a saber o tempo e o mar que o espera? Ele há gente doida, dizem uns, os mesmos, talvez, que quando souberam que preparava a primeira aventura afirmaram tal velhos do Restelo que Genuíno não conseguiria. Ele há gente que teima em realizar os seus sonhos, persistem, dizem outros, os que sabem que, como diz o poeta “ o sonho comanda a vida”.
No ano de 2000, Genuíno Madruga, Açoriano nascido em S. João, na Ilha do Pico, mas a viver desde muito jovem na Ilha do Faial, partia no dia 28 de Outubro do cais de Santa Cruz onde se juntaram meia dúzia de amigos para uma despedida, essa sim solitária, pois eram muitos os velhos do Restelo e poucos os que confiavam na persistência e autoconfiança que este homem simples tinha na realização da empreitada a que se propunha.
Passadas 39 mil milhas, passados nove meses, Genuíno é recebido apoteoticamente na marina da cidade da Horta, ilha do Faial. “À sua chegada, após a primeira viagem de circum-navegação, estavam 4 mil pessoas e 50 embarcações” muitas destas embarcações foram esperá-lo ao mar alto e acompanharam-mo na sua entrada triunfal no porto. No cais a multidão amontoava-se.
Disse nesse dia, “antes de saborear o tradicional caldo de peixe que a comissão de recepção preparara para a festa do reencontro, Genuíno Madruga dirigiu-se a todos para dizer-lhes que era «o mesmo pescador de sempre» o que partira e agora voltava. «Mas, se esta viagem que acabo de fazer, sozinho e à minha única custa, sem subsídios de ninguém, me deu alguma coisa, foi a determinação de a usar em favor dos pescadores que continuam a ver sacrificado no mar o melhor das suas vidas».”
Para além da sua satisfação pela realização deste sonho, Genuíno foi embaixador dos seus colegas pescadores, em cada porto conviveu com pescadores inteirando-se das técnicas usadas comunicando-as, depois, aos seus colegas açorianos. Por onde passou fez questão de conhecer as diferentes realidades e deixar nota de onde vinha.
Do diário de bordo da segunda viagem solitária:
No dia “25 DE AGOSTO 2007Às 06h37 o Hemingway solta as suas amarras na marina da Horta rumando às Lajes do Pico.Às 10h10 Genuíno aproxima-se do porto da sua terra natal, S.João do Pico, onde tira várias fotos.Depois do Briefing e das despedidas, Hemingway e pescador largam amarras do porto das Lajes do Pico quando o relógio marca 14h47, estando centenas de pessoas no porto para o adeus e até breve.Às 15h00 o Hemingway tem as velas cheias de vento e ruma ao largo para depois seguir directo a Cabo Verde onde deverá chegar dentro de 10 dias.”
Mais uma vez e nesta viagem Genuíno não esquece as suas origens de pescador e é embaixador dos pescadores açorianos por onde passa. Do diário de bordo: “No passado dia 16 a Casa dos Açores de St.catarina recebeu me no Bar Restaurante do Amarante, em Pantanos do Sul. Este bar foi fundado em 1958 e, guarda muito do espólio referente a chegada dos Açorianos a estas paragens seu proprietário e mesmo vice-presidente da Casa dos Açores.” “Por fim, houve conversa entre pescadores de Pantanos do Sul e eu dos Açores. Falou-se acerca dos peixes...acerca de barcos...de apoios Governamentais que agora também chegam do Governo Brasileiro a estes pescadores artesanais cujas embarcações se assemelham muito as nossas de boca aberta. Falou-se também, como não podia deixar de ser, dos preços do peixe e das formas de comercialização q temos nos Açores e das que eles têm, ou melhor não tem, por cá.”
Genuíno Madruga deixou no dia 26 de Outubro Santa Catarina rumo ao Uruguai.
Esta viagem não é uma mera segunda viagem, como poderíamos supor. Esta “tem contornos diferentes, uma vez que passará pelo extremo sul do continente americano, no sentido Este-Oeste, contra ventos e marés, rumando depois para a Polinésia Francesa.
Estar no mar sozinho, é estar alerta. Os desafios desta viagem são imensos, contudo a passagem do Cabo Horn, a grande barreira de coral no Pacífico e a travessia da Austrália para as Maurícias irão requerer atenção redobrada.
O Cabo Horn é mítico entre os navegadores. Lugar onde só navegam marinheiros ousados de "barba branca". Neste extremo sul do continente americano, as correntes e ventos sopram todo o ano no sentido Oeste-Este, sendo que a corrente pode atingir os 5 nós e os ventos variar num espaço de 4 horas entre muito calmo a ciclónico, para voltar a estar calmo de seguida. As temperaturas no verão rondam os 0-2 graus e os icebergs também navegam nestas águas.” Como vemos não será mesmo uma viagem vulgar.
Será uma viagem digna de um “velho” lobo-do-mar. Que bons ventos o tragam de volta de mais este sonho realizado contra os ventos e marés que alguns possam soprar contrários.
Fontes: site oficial de Genuíno Madruga: http://www.genuinomadruga.com
E
Artigo no Jornal Expresso do dia 25 de Maio de 2002 escrito por Fernando Gaspar. http://www.acores.com/a/genuino_madruga.html
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Artigo no Jornal Expresso do dia 25 de Maio de 2002 escrito por Fernando Gaspar. http://www.acores.com/a/genuino_madruga.html
Fotos : www.geocities.com/hortasail/main.html
Abraços marienses
Árvore, 29 de Outubro de 2007
Ana Loura
Abraços marienses
Árvore, 29 de Outubro de 2007
Ana Loura