29 de outubro de 2007

Um sonho Genuíno
















Bom dia!

O que fará com um homem com “idade para ter juízo”, avô de netos, pescador de profissão meter pés ao caminho, neste caso casco à água, e dar pela segunda vez a volta ao mundo tendo por única companhia, para além do sol, da lua, de animais marinhos, de algumas aves, das ondas do mar, as ondas da rádio por onde lhe chegam as notícias de terra firme e fica a saber o tempo e o mar que o espera? Ele há gente doida, dizem uns, os mesmos, talvez, que quando souberam que preparava a primeira aventura afirmaram tal velhos do Restelo que Genuíno não conseguiria. Ele há gente que teima em realizar os seus sonhos, persistem, dizem outros, os que sabem que, como diz o poeta “ o sonho comanda a vida”.


No ano de 2000, Genuíno Madruga, Açoriano nascido em S. João, na Ilha do Pico, mas a viver desde muito jovem na Ilha do Faial, partia no dia 28 de Outubro do cais de Santa Cruz onde se juntaram meia dúzia de amigos para uma despedida, essa sim solitária, pois eram muitos os velhos do Restelo e poucos os que confiavam na persistência e autoconfiança que este homem simples tinha na realização da empreitada a que se propunha.


Passadas 39 mil milhas, passados nove meses, Genuíno é recebido apoteoticamente na marina da cidade da Horta, ilha do Faial. “À sua chegada, após a primeira viagem de circum-navegação, estavam 4 mil pessoas e 50 embarcações” muitas destas embarcações foram esperá-lo ao mar alto e acompanharam-mo na sua entrada triunfal no porto. No cais a multidão amontoava-se.


Disse nesse dia, “antes de saborear o tradicional caldo de peixe que a comissão de recepção preparara para a festa do reencontro, Genuíno Madruga dirigiu-se a todos para dizer-lhes que era «o mesmo pescador de sempre» o que partira e agora voltava. «Mas, se esta viagem que acabo de fazer, sozinho e à minha única custa, sem subsídios de ninguém, me deu alguma coisa, foi a determinação de a usar em favor dos pescadores que continuam a ver sacrificado no mar o melhor das suas vidas».”


Para além da sua satisfação pela realização deste sonho, Genuíno foi embaixador dos seus colegas pescadores, em cada porto conviveu com pescadores inteirando-se das técnicas usadas comunicando-as, depois, aos seus colegas açorianos. Por onde passou fez questão de conhecer as diferentes realidades e deixar nota de onde vinha.


Do diário de bordo da segunda viagem solitária:


No dia “25 DE AGOSTO 2007Às 06h37 o Hemingway solta as suas amarras na marina da Horta rumando às Lajes do Pico.Às 10h10 Genuíno aproxima-se do porto da sua terra natal, S.João do Pico, onde tira várias fotos.Depois do Briefing e das despedidas, Hemingway e pescador largam amarras do porto das Lajes do Pico quando o relógio marca 14h47, estando centenas de pessoas no porto para o adeus e até breve.Às 15h00 o Hemingway tem as velas cheias de vento e ruma ao largo para depois seguir directo a Cabo Verde onde deverá chegar dentro de 10 dias.”


Mais uma vez e nesta viagem Genuíno não esquece as suas origens de pescador e é embaixador dos pescadores açorianos por onde passa. Do diário de bordo: “No passado dia 16 a Casa dos Açores de St.catarina recebeu me no Bar Restaurante do Amarante, em Pantanos do Sul. Este bar foi fundado em 1958 e, guarda muito do espólio referente a chegada dos Açorianos a estas paragens seu proprietário e mesmo vice-presidente da Casa dos Açores.” “Por fim, houve conversa entre pescadores de Pantanos do Sul e eu dos Açores. Falou-se acerca dos peixes...acerca de barcos...de apoios Governamentais que agora também chegam do Governo Brasileiro a estes pescadores artesanais cujas embarcações se assemelham muito as nossas de boca aberta. Falou-se também, como não podia deixar de ser, dos preços do peixe e das formas de comercialização q temos nos Açores e das que eles têm, ou melhor não tem, por cá.”


Genuíno Madruga deixou no dia 26 de Outubro Santa Catarina rumo ao Uruguai.


Esta viagem não é uma mera segunda viagem, como poderíamos supor. Esta “tem contornos diferentes, uma vez que passará pelo extremo sul do continente americano, no sentido Este-Oeste, contra ventos e marés, rumando depois para a Polinésia Francesa.


Estar no mar sozinho, é estar alerta. Os desafios desta viagem são imensos, contudo a passagem do Cabo Horn, a grande barreira de coral no Pacífico e a travessia da Austrália para as Maurícias irão requerer atenção redobrada.


O Cabo Horn é mítico entre os navegadores. Lugar onde só navegam marinheiros ousados de "barba branca". Neste extremo sul do continente americano, as correntes e ventos sopram todo o ano no sentido Oeste-Este, sendo que a corrente pode atingir os 5 nós e os ventos variar num espaço de 4 horas entre muito calmo a ciclónico, para voltar a estar calmo de seguida. As temperaturas no verão rondam os 0-2 graus e os icebergs também navegam nestas águas.” Como vemos não será mesmo uma viagem vulgar.


Será uma viagem digna de um “velho” lobo-do-mar. Que bons ventos o tragam de volta de mais este sonho realizado contra os ventos e marés que alguns possam soprar contrários.


Fontes: site oficial de Genuíno Madruga: http://www.genuinomadruga.com
E
Artigo no Jornal Expresso do dia 25 de Maio de 2002 escrito por Fernando Gaspar. http://www.acores.com/a/genuino_madruga.html


Fotos : www.geocities.com/hortasail/main.html
Abraços marienses
Árvore, 29 de Outubro de 2007
Ana Loura

24 de outubro de 2007

"Coisas banais"





Por vezes ando pela net sem rumo definido e aporto a blogs e vou saltitando de
link em link até encontrar um que me faz parar por minutos. Hoje parei no Coisas
Banais http://sol.sapo.pt/blogs/isabelinha/default.aspx Gosto particularmente da foto somewhere over the rain(bow) . Para ti, Isabelinha fica aqui um gosto comum: o "nosso" Jorge Palma por mim e um beijo

15 de outubro de 2007

Casa dos Açores no Norte- actividades agendadas


CASA DOS AÇORES NO NORTE- Próximas actividades


10 DE NOVEMBRO - Apresentação do livro de Cristóvão de Aguiar. Está confirmada a actuação do Coral AXA. Inscrições para o jantar até 7 de Novembro.

1 DE DEZEMBRO - Jantar de homenagem aos sócios honorários e de mérito. Está assegurada a actuação do Grupo de Fados do Sindicato dos Bancários do Norte. Inauguração da exposição de pintura de Maria José Girão

COMEMORAÇÃO DOS 50 ANOS DO VULCÃO DOS CAPELINHOS - 19 de Janeiro. Presença da Drª Alzira. Colaboração a ser pedida à fac. De Ciências da Universidade do Porto
Endereço:
Casa dos Açores do Norte Rua do Bonfim, 163 4300-069 - Porto Portugal
Presidente: José Manuel Tavares Rebelo
Telefone: +351 22 519 4050
Fax: 00351 22 519 4059

14 de outubro de 2007

Dalberto Teixeira Pombo

Dalberto Teixeira Pombo- 9 de Novembro de 1928-11 de Dezembro de 2007
Hoje faço 55 anos, vim ao pc deixar os meus abraços a quem me visitar e recebo a notícia que o Senhor Pombo antes de ontem "se foi juntar a todas as borboletas do Céu." Estou triste e sem muitas palavras por saber que partiu, mas feliz por ter tido o previlégio de o conhecer. Para a Esposa, filhos e netos o meu abraço e a certeza de que ele anda a espalhar o sorriro e a contar as suas estórias e histórias naturais pelos átrios da cada do Pai

Bom dia!

Se há pessoas por quem nutro profunda simpatia uma delas é o Senhor Pombo. Já por várias vezes tinha manifestado a minha preocupação por não terem, ainda, as entidades oficiais feito o que finalmente fizeram no passado dia 27 de Julho: recebido o espólio recolhido pelo Senhor Pombo ao longo da sua vida. Este homem é um conversador nato, nunca teve pressa ao contar as suas estórias e ao falar da sua enorme preocupação com o futuro dos livros, escritos e restante material recolhido ao longo da sua vida. Disse-me muitas vezes que a D. Noémia, sua esposa, já não conseguia limpar a sala tal era o volume de tralha amontoada por tudo o que é sítio e que há anos lhe fazia o mesmo ultimato no sentido de ele dar destino a tanta papelada, tanto livro. Afinal o destino chegou: a “tralha” do Senhor Pombo irá ficar ao alcance de todos, depois de devidamente catalogada e tratada, na Delegação de Santa Maria da Secretaria Regional do Ambiente e do mar. Nada mais justo ficar este espólio na ilha de Santa Maria. Esperemos que entretanto não haja nenhum “iluminado” que entenda que o lugar do espólio é um departamento da Universidade ou o Museu de Carlos Machado. Não que o espólio não mereça local que mais honre a sua qualidade, mas o ficar em Santa Maria é uma mais valia, mais um pólo de interesse para os visitantes. Nem só com campos de golfe se motiva a vinda de pessoas a Santa Maria (embora para mim seja discutível que o campo de golfe seja motivação, mas isso são outros quinhentos dos quais já diversas vezes falei)

No documento final do Atlantic Islands Neogene Internacional Congress realizado 12 a 14 de Junho de 2006 pela Universidade dos Açores e do Workshop “Paleontology in Atlantic Islands” realizado de 15-25 de Junho de 2006 em Santa Maria pelo Marine Paleobiogeography Working Group do Departamento de Biologia Universidade dos Açores diz-se no seu ponto
6 Agradecimentos
Agradecemos a ajuda inicialmente prestada ao Doutor Sérgio Ávila pelo Sr. Dalberto Pombo, um dos maiores naturalistas dos Açores e responsável pelo incutir em várias geração de jovens de Santa Maria, o “bichinho” pelo estudo do património natural dos Açores. Daí que, já em 2002, se tenha proposto no final do 2º Workshop a devida homenagem a este mariense, com uma sala “Dalberto Pombo” na “Casa dos Fósseis” (proposta de museu para Santa Maria).

No diário dos Açores do dia 17 de Junho último: Igualmente em projecto está a constituição de uma "Casa dos Fosseis" em Santa Maria, que se caracterizará pela construção de uma "Sala de Dalberto Pombo" – um mariense considerado o naturalista açoriano mais antigo vivo.

Noutro documento, este da autoria de Helen Rost Martins pode ler-se: Descobrimos, para nossa surpresa, que um Mariense (natural da Ilha de Santa Maria) já tinha começado, em conjunto com o seu grupo de "Jovens Naturalistas", a marcar tartarugas. Este naturalista amador, de nome Dalberto Pombo, partilhou as suas marcas connosco.

Mais uma das referências a Dalberto Pombo num documento sobre a Biodiversidade: As expedições científicas entomológicas às várias ilhas dos Açores (projecto BALA) só foram possíveis devido ao apoio generoso de Manuel Loureiro como Director dos Serviços Florestais (1998-2000), e ainda de Dalberto Teixeira Pombo (CJN - S. Maria), um dos poucos Naturalistas que alguma vez viveram nestas ilhas.

São muitas as referências ao Senhor Pombo na Internet em trabalhos de pesquisa científica das mais diversas Universidades, desde a de Glasgow até à Universidade da Florida

Para além de Naturalista conceituado e respeitado internacionalmente, o Senhor Pombo, foi um formador de jovens quer no agrupamento dos Escuteiros de Santa Maria do qual foi fundador e Chefe durante muitos anos, quer ao ter formado o Grupo de Jovens Naturalistas de Santa Maria. E é com uma referência feita por este grupo no Baluarte que termino esta minha homenagem a um homem que tanto admiro:

Dalberto Teixeira Pombo

“nasceu a 9 de Novembro de 1928 na simpática aldeia de Almofala, Figueira de Castelo Rodrigo. Veio para Santa Maria trabalhar para a Direcção Geral da Aeronáutica Civil em 1952, até à sua reforma em Dezembro de 1988, exercendo as funções de Escriturário de Tráfego, de Despachante de Mensagens e por último de Tesoureiro na depois formada ANA, EP. Casou a 23 de Abril de 1955 com Noémia Pombo, uma mariense, e tiveram um filho e duas filhas. Apesar de não ter nenhum curso universitário, pois só possui o curso Complementar do Liceu, foi um homem que sempre se interessou pela natureza e pelo ambiente, incentivando e ensinando os seus filhos nesse âmbito. Saia com eles para apanhar borboletas com rede feita por ele e os coleópteros que se encontravam nas flores. Ao serão todos se envolviam no trabalho de preparação das borboletas e nas diversas fases de preparação e até lhes ensinou a embalsamar um milhafre. Todo este ensinamento foi passado por ele aos netos, com o mesmo interesse e entusiasmo.

Foi um dos fundadores do CNE- Corpo Nacional de Escutas em Santa Maria e do Centro de Jovens Naturalistas, sendo deste, o seu responsável.
(…)

Descobriu dezenas de espécies ligadas à Biologia, sendo estas publicadas em vários artigos científicos, tais como da Sociedade Portuguesa de Entomologia, do Dr. Artur Serrano e Dr. Prof. Paulo Borges. De entre estas espécies há cinco que alguns investigadores lhe prestaram homenagem classificando os mesmos com o restritivo específico “Pomboi”
- um crustácio de água em 1974
- dois ácaros em 1992
- dois coleópteros, um em 1990 outro em 2002.

Com estas merecidas homenagens fica Dalberto Teixeira Pombo imortalizado. Esperemos que a classificação do acervo seja suficientemente célere para que seja o Senhor Pombo a cortar a fita da exposição permanente do seu trabalho de uma vida

Abraços marienses
Árvore, 15 de Outubro de 2007
Ana Loura

8 de outubro de 2007

"Açores terra de futuro"- artigo na revista Visão




Bom dia,

Recebi há dias uma mensagem no meu telemóvel a alertar-me para o facto do último número da revista Visão trazer uma reportagem sobre os Açores. Confesso que sou leitora eventual desta ou de outras revistas, compro se na capa há algum título apelativo. Foi o caso. “Açores terra de futuro” em letras gordas, tendo como fundo uma cascata, uma menina loira. Uma caixinha vermelha com a palavra especial sugeria um artigo grande e com a profundidade suficiente para dar uma ideia exacta do estado do arquipélago, já que a palavras escrita com os caracteres maiores, AÇORES, sugere que o artigo reflicta sobre todo o arquipélago. Lá comprei a revista que folheei de imediato para ter uma ideia global sobre o tipo de abordagem feita e em que medida a minha Ilha era falada. Bom, o resultado não foi animador, nessa vista de olhos nem uma vez aparece o nome mágico. Ora bolas…vamos ler, depois, com calma. Chego a casa e pouso a revista para pegar nela numa melhor oportunidade para uma leitura atenta “de rabo a cabo”, é que eu costumo folhear as revistas do fim para o princípio. E esta oportunidade foi hoje, depois de um Domingo passado com os meus Pais e os meus dois filhos que estão deste lado da vida.

Ora vamos lá ler a visão que a Visão tem do arquipélago. Vejamos, então: começa pela referência a uma frase de Raul Brandão, nada de novo, quase todos o fazem, depois dá a perspectiva da chegada a S. Miguel, do trajecto Aeroporto/Cidade e para ilustrar a sua perspectiva de desenvolvimento da ilha diz que “do centro da capital açoriana, dificilmente se avistam as colinas verdes de que falava Raul Brandão, tal é o número de prédios e gruas que escondem o horizonte.” Acho esta afirmação exagerada e ainda bem que o é. Felizmente, apesar do chamado progresso, ainda se vêm bem as belíssimas colinas cobertas do verde matizado que tanto caracterizam a paisagem micaelense. Mas voltemos ao artigo. Depois de considerações de carácter económico, produto interno bruto, desemprego que diz ser o de menor índice a nível nacional, energias alternativas (hídrica e geotérmica nas quais a Região é pioneira), declarações do Presidente Carlos César que diz, e muito bem que somos uma região tranquila, mas sem assumirmos posições políticas conflituosas e a leitura que faço desta afirmação é de que as relações institucionais entre Açores e o Poder Central são mornas, pouco reivindicativas e não creio que isso abone muito em favor do nosso Governo, mas isso “são outros quinhentos”, o articulista passeia-se por mais duas ilhas dos Açores: Faial e Pico, dando nota de empresas recentes na área do turismo rural, ciências do Mar, webdesigne, construção de embarcações de pesca, whale watching. Refere, em pé de conversa com a Secretária do Ambiente, que 13% do arquipélago são áreas protegidas em termos ambientais, mas só fala das recentemente protegidas do Corvo e da Graciosa. Faz um balanço do fluxo turístico nos últimos meses e ao acréscimo de turistas nacionais provocado pela emissão pela TVI da novela filmada em S. Miguel (altamente subsidiada pelo Governo Regional e pelo Grupo SATA). Passa depois a referir os projectos de turismo rural, na ilha do Pico, e projectos de turismo de luxo em S. Miguel que inclui um hotel cinco estrelas, o Casino, um Centro Comercial de grandes dimensões que inclui uma sala de espectáculos; os projectos de campos de Golf do Grupo Madeirense Siram, em S Miguel e Faial. Santa Maria não é referida. A questão do não regresso dos jovens que se licenciam no continente também é referida, esta sim, uma questão comum às nove ilhas, essa e o precoce abandono escolar.

Um artigo de onze páginas, quatro delas quase apenas com fotografias, diga-se de grande beleza e qualidade. O balanço do artigo é apenas um: INCOMPLETO, pois se limita a falar em três das nove ilhas que compõem o arquipélago, não fala da diferença gigantesca de investimento e desenvolvimento entre São Miguel (principalmente) e as restantes ilhas; não fala que não há uma política de desenvolvimento harmónico e equilibrado, que as ilhas mais pequenas e menos desenvolvidas continuam a ficar esquecidas nas estratégias e políticas de desenvolvimento do Governo Regional, que os Municípios estão para o Governo Regional na mesma medida em que o Governo Regional está para o da República, não têm atitudes reivindicativas, “Sem assumirem posições políticas conflituosas” e que por isso não passamos da cepa torta.
Conclusão, o título que faz a capa da Visão edição 761 é pomposo e irrealista pois toma a parte de S. Miguel como se fosse o todo do Arquipélago.

Abraços marienses
Arvore, 8 de Outubro de 2007
Ana Loura

1 de outubro de 2007

Finalmente a Globalização

O ratinho estava na toca, e do lado de fora o gato:
- MIAU, MIAU, MIAU...
O tempo passava e ele ouvia
- MIAU, MIAU, MIAU...
Depois de várias horas e já com muita fome o rato ouviu:
- AU! AU! AU!
Então ele deduziu:
"Se tem cachorro lá fora, o gato foi embora"
.Saiu disparado em busca de comida.
Nem bem saiu da toca o gato ZUMBA!!
Inconformado, já na boca do gato perguntou:
Poça, gato!!! Que sacanice é essa???
E o gato respondeu:
Meu filho, hoje nesse mundo "globalizado" quem não falar pelo menos duas línguas "MORRE DE FOME".

Lê-se na Wikipédia que “A globalização é um fenómeno capitalista e complexo que começou na época dos descobrimentos e que se desenvolveu a partir da Revolução Industrial. Mas o seu conteúdo passou despercebido por muito tempo, e hoje muitos economistas analisam a globalização como resultado do pós Segunda Guerra Mundial, ou como resultado da Revolução Tecnológica.

A sua origem pode ser traçada do período mercantilista iniciado aproximadamente no século XV e durando até o século XVIII, com a queda dos custos de transporte marítimo, e aumento da complexidade das relações políticas europeias durante o período. Este período viu grande aumento no fluxo de força de trabalho entre os países e continentes, particularmente nas novas colónias europeias.

A globalização afecta todas as áreas da sociedade, principalmente comunicação, comércio internacional e liberdade de movimentação, com diferente intensidade dependendo do nível de desenvolvimento e integração das nações ao redor do planeta”

Algumas das causas da globalização são a, cada vez maior, velocidade de informação; a cada vez maior velocidade dos transportes e portanto o encurtamento das distâncias. Estes factores têm grande influência na deslocação das pessoas, nas migrações. Os trabalhadores migram na procura de melhor trabalho, ou mesmo de qualquer trabalho e os empregadores na procura de mão-de-obra mais barata. Em Portugal assistimos, neste momento à chamada deslocalização de empresas que vieram para cá quando a nossa mão de obra era “competitiva” e agora que encontram noutros países mão de obra ainda mais “competitiva”, quer isto dizer salários e garantias sociais, ainda, inferiores aos nossos, fecham as portas deixando milhares de trabalhadores portugueses no desemprego.

Um dos benefícios da grande velocidade na circulação da informação, é o chegar das novas tecnologias, das novas técnicas da medicina mais longe e a mais pessoas, chamamos a isto “democratização” dos meios e dos recursos, eles chegam mais longe e a mais pessoas. Ou deveriam chegar.

Diz Carlos Fontes (Professor do Ensino Secundário. Foi dirigente no Instituto de Emprego e Formação profissional (IEFP) e no Ministério da Cultura. Dirigiu e editou diversas publicações): “A principal consequência da globalização não foi a difusão dos mesmos produtos em todo o mundo, mas a brutalidade dos confrontos que emergem da circulação da informação.” E ainda: “Os ricos esperavam maior prosperidade e tem-na tido. Aos pobres foi-lhes prometido o paraíso, mas só depois duma fase de tormenta. O que têm tido, é apenas a miséria. A melhoria das condições de vida é cada vez mais uma miragem para a maior parte da população mundial.” E mais “A globalização acentuou de forma dramática a percepção das desigualdades entre os povos.”

A velocidade de informação, por um lado, mete-nos pelas nossas casas dentro a imagem de monges pacíficos e silenciosos a protestarem contra a ditadura e opressão a que estão sujeitos, mostra-nos em directo o assassinato de um fotógrafo. Mas, ao mesmo tempo, estas imagens estão de tal forma banalizadas que já nem reagimos, já poucos nos dizem.

O consumismo, uma das consequências da globalização, faz-nos, em nome do conforto a que teremos direito, consumirmos desenfreadamente o que é produzido com recurso à exploração de mão de obra paga miseravelmente, por pessoas que não têm acesso aos meios básicos de subsistência e muitas vezes com recurso a mão de obra infantil.
Volto a citar Carlos Fontes: “A globalização acentuou de forma dramática a percepção das desigualdades entre os povos.

A vida para dois terços da Humanidade tornou-se um sofrimento e privação quotidiana. Milhões morrem à fome, sabendo que noutra parte do mundo outros morrem por obesidade, atolados no consumismo. Olham à sua volta e constam que nada tem do que a outros sobra.”

O Planeta Terra não é propriedade de um terço da sua população, mas sim de todos. Este terço não tem direito de, em nome do seu bem-estar, exauri-la dos recursos que a todos pertencem. A Terra tende a ser, cada vez mais, uma aldeia global, será um destino inevitável? Eu desejo que sim, desde que os recursos, o trabalho e as riquezas sejam de todos e para todos. Os Açores são a nossa “pequena aldeia global” e, à nossa escala, verificamos as diferenças de desenvolvimento entre as ilhas, as desenvolvidas são-no cada vez mais, às ilhas menos desenvolvidas nem as “Ilhas de Valor” nos safam.

Que todos saibamos falar, pelo menos, duas línguas.

Abraços marienses
Árvore, 1 de Outubro de 2007
Ana Loura