17 de março de 2010

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Eu que normalmente fotografo alí ao fundo à esquerda. (retirada do site do Gov Regional)
Foto do Hotel Terra Nostra no Aeroporto de Santa Maria cedida por Marco Coelho (Foto Pepe)

Fez hoje 29 anos que aterrei pela primeira vez na Ilha. Onze e pouco da manhã de uma Quinta-feira cinzenta e fria no meio de um dos Invernos mais rigorosos que vivi nas ilhas (temos a memória curta e geralmente o inverno que vivemos e este tem sido bastante rigoroso, é sempre o pior de sempre), tão rigoroso que cairam árvores centenárias no Faial e aqui caíram algumas também mas menos velhas. Confesso, já o tenho feito, que a primeira impressão foi de desilusão. A Dona Grimaneza, na casa de quem eu vivia no Faial, pintou-me a Ilha com as cores dos tempos áureos, de um aeroporto que fervilhava de vida e movimento, de um aeroporto, área residencial, com jardins bem cuidados, o Hotel Terra Nostra sempre cheio de gente onde a língua mais ouvida era o inglês, com pianista privativo a tempo inteiro, o Clube ASAS do Atlântico onde se realizam bailes, festas e concertos, que tem uma rádio ouvida até no continente. "Aninhas, escolha Santa Maria, vai ver que vai gostar". Quando concorri para a ANA (Olha, a Ana vai para a ANA, diziam os meus colegas da Escola Manuel de Arriaga) tive a hipótese de escolher ficar no Faial, ir para as Flores, S. Miguel ou Santa Maria. Vim para Santa Maria. Quando a porta do avião foi aberta e eu vi terra sem plantas, castanha em vez da verdura do Faial com o azul do mar e o Pico logo alí senti uma profunda decepção: "que fui eu fazer?".

Aqui estou. Estou porque afinal e apesar da zona habitacional do aeroporto no ano de 1981 já ser bairros de casas um tanto degradadas, os jardins já serem apenas relvados mal tratados, o Terra Nostra não ser sombra do que tinha sido (belas tostas de queijo comi durante muitos anos no bar do Terminal, belos bifes à Terra Nostra bem mal passados e sem ser batidos comi no restaurante do Terminal), os únicos aviões grandes de passageiros que nessa altura ainda faziam cá escala eram os da TAP (ainda sou do tempo do G2, mas só por poucos meses e não aproveitei) e o Concorde, cujas escalas pouco depois terminaram, Santa Maria cedo começou a ser para mim também Ilha-mãe, a meter-se debaixo da péle e eu a assumir o meu "nascimento" mariense que festejo hoje.


Abraço (efectivamente) mariense

7 de março de 2010

8 de Março. As coisas foram mudando





«Corria o maravilhoso ano de 1969. A questão era se era legal as mulheres usarem calças. É ler porque se trata de um artigo muito interessante para perceber como era a sociedade portuguesa há 41 anos.»

Graças à coragem de muitas mulheres, de conquista em conquista, as coisas foram mudando.

Eu fui a primeira rapariga a usar calças na minha terra, andava eu na segunda classe em 1959/60. Eu tinha problemas de circulação, as pernas gelavam e doíam-me as articulações. A minha Mãe que era toda moderna costurou-me umas calças, jardineiras, em fazenda de lã em quadradinhos pequeninos em tons e cinza e debruou o peitilho com bombazina. Fui alvo da chacota da malta, vim para casa muitas vezes lavada em lágrimas, já não me bastava o facto da lã me "arranhar" as pernas ainda tinha que lidar com os colegas a troçarem de mim. Eu era a Maria-rapaz... "o melhor do mundo são as crianças" que sabem como ninguém ser cruéis. O meu Pai na sua fleuma sorria e dizia: "ande eu quente e ria-se a gente, não ligues. Eles irão habituar-se a verem-te assim, não estás quentinha?" E eles habituaram-se. A minha Mãe foi a primeira mulher a usar calças por aquelas bandas e penso que das primeiras a nível nacional. A minha Mãe foi/é uma mulher fora de série.