6 de setembro de 2004

Crónica Nº 22- Que a MARÉ não vaze nunca

Crónica Nº 22

Bom dia!

Ora lá se acabaram as férias e voltamos ao convívio com os ouvintes do Asas.

Nesta minha primeira crónica depois das merecidas férias dadas a quem nos acompanha através da rádio quero deixar-vos um texto escrito a 29 de Agosto de 1987 e que tem a ver com o 20 aniversário da Maré, do Festival Maré de Agosto um dos mais antigos do país.

Dizia eu há 17 anos:

Recado à Maré de Agosto

Bem do fundo das minhas recordações emerge uma imagem de maré cheia na preia-mar e tão baixa na baixa-mar que eu, os meus irmãos e os outros putos das redondezas esperávamos com a maior alegria essa maré baixa, pois o areal da "nossa" praia ficava ainda maior, com tantas poças de água que cada um de nós tinha a sua pequena piscina privativa, as poucas rochas ficavam a descoberto e era uma alegria ver os pequenos peixes, as anémonas e as algas, apanhar conchas, búzios, apanhar mexilhões e lapas para o arroz que a Mãe faria.

Maré de Agosto eram as amoras que se apanhavam a caminho da praia, devagar, não fosse a maré estar ainda alta... Maré de Agosto era as marés vivas de S. Bartolomeu.

Hoje, Maré de Agosto é a Festa esperada ao longo de meses. Vivida numa semana, deixando a nostalgia que deixam as coisas tão boas que deveriam nunca acabar.

Maré de Agosto!

Como foi bom o nunca imaginado encontro com a lenda dos Andes, com o espírito de Jara, com a saudade de Angel Parra e todos os amigos de Allende que cantaram e cantam a magia da música Latino-americana e a esperança de que a vida volte a mudar.

Como foi bom reouvir e rever a Brigada da nossa música, da música que faz o pé saltar e as mãos baterem a compasso.

Como foi bom ouvir, embora por escassos minutos o Zeca Medeiros.

Como foi bom reouvir e rever os Rimanço, os Toques e todos os outros que têm feito a Maré subir ao longo destes anos.

Os Extreme. As palavras não têm a força necessária para dizer do quanto senti! A juventude, o som, o espectáculo, a melodia maravilhosa de uma das mais belas baladas que já tenha ouvido. E não ter ficado um disco para os momentos de saudade!

Como foi bom ter os Fringe tão perto com os seus Touros da Terceira, ouvidos e sentidos na quase intimidade da Chaminé. Três grandes amigos da Maré. Amigos da Primeira Hora, do nascer e crescer da Maré.

Como foi bom saber que em Santa Maria há jovens que fazem da música um modo de estar e participar. Foi bom ouvir e ver os Águias dos Açores.

Foi bom ouvir e ver todos os outros que estão na Maré desde o primeiro dia.

Que bom sentir o calor, a força, a "militância" do Antoine Laborde, do Luís Bettencourt, do António Sousa, do Zé Maria Bairos e de todos os outros que deram as suas forças, o seu descanso, o seu melhor para que a Maré fosse, ainda, mais cheia mais Maré de Agosto.

Ao contrário do que desejava no meu tempo de criança, hoje desejo do fundo do coração do uso completo da Razão que a Maré não vaze, que não fique o vazio e a nostalgia sem esperança de que a Maré possa ser e ser, ainda, mais Maré de Agosto para os próximos anos.

Força, amigos, que as esperanças não concretizadas este ano não sejam motivo para o vazar da Maré. Valeu e valerá a pena.

Um abraço.
Santa Maria 29 de Agosto de 1987
Ana Loura

Foi este o meu recado à Maré há 17 anos.

Este ano foi ano de festa, festa que não houve a não ser nos óptimos espectáculos e no antecipar do Festival em dois dias em que o palco foi açoriano e o lançamento do livro, bem escrito pela Laurinda e ilustrado com fotos de todos estes anos, realizado no bar da Maré com a presença de alguns amigos de sempre e outros mais recentes.

Que a Maré não vaze nunca!

Abraços marienses
Ana Loura

Santa Maria, 06 de Setembro de 2004