25 de dezembro de 2008

Feliz Natal, oh Jesus


Há muita solidão por esse mundo fora e gente que terá chorado amargamente ausências de afectos, de pessoas durante este dia. Será que Jesus Nasceu mesmo? Que estes dias, para além da festa, do consumo do supérfulo, de nos terem "roubado" o Presépio e o Menino Jesus e nos terem impingido um gordo barbudo, nos sirvam para nos interrogarmos (nós os Cristãos) se Jesus nasceu, de facto, nas nossas vidas.

De Miguel Torga

NATAL
Outro natal,
Outra comprida noite
De consoada
Fria,
Vazia,
Bonita só de ser imaginada.
Que fique dela, ao menos,
Mais um poema breve
Recitado
Pela neve
A cair, ao de leve,
No telhado.

22 de dezembro de 2008

Régio ou o tinteiro


Fez hoje 39 anos que morreu José Maria dos Reis Pereira, nome de Baptismo do Poeta José Régio. Eu estava a estender roupa no quintal, como sempre o rádio lá de casa estava ligada no programa clássico da então Emissora Nacional, seriam umas onze horas da manhã, a notícia de abertura do noticiário foi a da morte do homem que deu corpo ao poeta, homem que eu via a passar em longas conversas com Orlando Taipa, a formiga e o elefante como eu carinhosamente chamava ao duo, Régio, pequeno, Orlando Taipa alto, entroncado. Caminhavam lado a lado no passeio do outro lado da rua onde esperávamos as camionetas Linhares que nos transportavam ao Liceu da Póvoa mesmo em frente ao Mercado Municipal. Caminhavam lentamente, sem pressas parando amiúde. Nessa altura o meu Pai tinha-me oferecido o livro As encruzilhadas de Deus pelo meu aniversário, ele sabia da minha admiração por Régio pois no meio do montinho de livros que eu trazia da Gulbenkiam havia um dos da Velha casa, ou Davam grandes Passeios ao Domingo. Não contive umas quantas lágrimas. Um dos meus poetas falecera. Nessa altura eu não sabia, ainda, que os poetas são imortais, ficam sempre ao alcance de um gesto na estante dos que amamos ou eternamente em cima da mesa de cabeceira no meio das coisas que amanhecem e anoitecem connosco, o Livro das Horas, a foto dos filhos, a carta de há muitos anos dos Pais, as recordações que a vida fez apenas serem-no e não temos a coragem de arquivar.

A minha família foi ao funeral de José Maria dos Reis Pereira, homem que deu corpo ao Poeta José Régio. Levámos, cada um de nós, na mão uma camélia. Estes dias de enfeites natalícios olhei os ramos de camélias que enfeitam os arranjos e parei muitas vezes a pensar: está a fazer anos que peguei numa camélia e fui no imenso cortejo que subiu a calçada que vai da Meia Laranja à Correcção. Apenas se ouvia a cadência dos passos nas pedras da calçada.

Muitas vezes subi as escadas do Monte para ir a casa da Luísa, amiga do grupo das leituras que também fizeram muito que eu seja o que e quem sou, parei quase sempre no Cemitério e muitas vezes me sentei na pedra tumular de Reis Pereira. Ficava ali minutos, apenas ficava e…pensava como quem conversava com o Poeta.

Hoje, 39 anos depois, mesmo fisicamente longe daquele cemitério eu fiquei lá e pensei como quem conversa com o Poeta. E estrofes, quer da Carta de Amor, quer de “Em cima da minha mesa” me acompanharam no dia e eu, sem muitas respostas ao que me inquieta penso mesmo que se não fosse a Fé e a Esperança eu já teria bebido o tal tinteiro de tinta. Mas eu sei que melhores dias virão, tenho a certeza.

De José Régio:

Em cima da minha mesa
Da minha mesa de estudo
Mesa da minha tristeza -
Em que de noite e de dia
Rasgo as folhas, leio tudo
Destes livros em que estudo,
E me estudo
(Eu já me estudo...)
E me estudo
A mim
Também
Em cima da minha mesa,
Tenho o teu retrato, Mãe!

À cabeceira do leito,
Dentro de um caixilho,
Tenho uma Nossa Senhora
Que venero a toda a hora...
Ai minha Nossa Senhora,
Que se parece contigo,
E que tem ao peito,
Um filho
(O que ainda é mais estranho)
Que se parece comigo,
Num retratinho,
Que Tenho,
De menino pequenino!...

No fundo da minha mala,
Mesmo lá no fundo a um canto,
Não lhes vá tocar alguém,
(Quem as lesse, o que entendia?
Só riria
Do que nos comove a nós...)
Já tenho três maços, Mãe,
Das cartas que tu me escreves
Desde que saí de casa...
Três maços - e nada leves!
- Atados com um retrós...

Se não fora eu ter-te assim,
A toda a hora,
Sempre à beirinha de mim,
(sei agora
Que isto de a gente ser grande
Não é como se nos pinta...)
Mãe!, já teria morrido,
Ou já teria fugido,
Ou já teria bebido
Algum tinteiro de tinta.



Carta de Amor

Ouve-me!, se é que ainda
Me podes tolerar.
Neste papel rasgado
Das arestas da minh'alma,
Ai!, as absurdas intrigas
Que te quisera contar!
Ai os enredos,
Os medos,
E as lutas em que medito,
Quer dê, quer não dê por isso,
Sem descansar
Um momento...!
Quem sofre - pensa; e o tormento
Não é sofrer, é pensar.
O pensamento
Faz engolir o vómito de fel...
Ouve! se sou cruel
Neste papel queimado
Dos incêndios da minh'alma,
é de raiva de que embalde
Te procure dizer sem falsidade
Coisas que, ditas, já não são verdade...
E procuro eu dizê-las,
Ou procuro escondê-las?
E procuro eu dizer-tas,
Ou procuro a vaidade
De mas dizer, a mim, de modo que mas ouçam
Esses mesmos que desprezo,
E cujo louvor me é caro?
Não me acredites!
O que digo,
Antes ou depois, o peso;
E não!, não é a ti que me eu declaro!
Sei que me não entendes.
Sei que quanto melhor te revelar
O meu mundo profundo,
O fundo do meu mar,
Os limos do meu poço,
O antro que é só meu (sendo, apesar de tudo, nosso)
Menos me entenderás,
Tu..., - a minha metade!
Por isso me não és senão vaidade,
Meu amor!, meu pretexto
Deste miserável texto...
Vês como sou?
Mas sou pior do que isto.
Sabe que, se me acuso,
é só por vício antigo
De me lamber as mãos e agatanhar o peito,
De me exibir a Cristo!
Sabe que a meu respeito
Vou além de quanto digo.
Sabe que os males que ora uso,
Como quem usa
Cabeleira ou dentadura,
São a pintura
Que esconde os mais verdadeiros,
De outro teor...
E sabe que sou pior!:
Sabe (se é que o não sabes)
Que ao teu amor por mim foi que ganhei amor.
Que a ti..., sei lá se te amo.
Sei que me deixam sozinho
Ante o girar dos mundos e dos séculos;
Sei que um deserto é o meu caminho;
Sei que o silêncio
Me há-de sepultar em vida;
Sei que o pavor, a noite, o frio,
Serão jardim da minha ermida;
Sei que tenho dó de mim...
Fica tu sabendo assim,
Querida!,
Porque te chamo.
Mas amar-te?!
Não!, minha vida.
Não! Reduziram-me a isto:
Só a mim amo.
Ama-me tu, se podes,
Sem procurar compreender-me:
Poderias julgar que me encontravas,
E seria eu perder-te e tu perder-me...
Ao menos tu..., desiste!
A sobre-humana prova que te peço,
A mais heróica!,
A mais inglória e a mais triste,
é essa..., - é este o meu preço.
Mais que o despeito, o ódio, a incompreensão
Dos por quem passei sereno,
Estendendo a mão afável
Ao frio, pérfido, amável
Aperto da sua mão,
Me punge,
Me pesa no coração,
O fruste amor dos que me interpretaram.
Ai!, bem quiseram amar-me!
Bem o tentaram.
Mas nunca me perdoaram
O não serem dominados
Nem poderem dominar-me...
E assim o nosso amor foi uma luta
De cobardes abraçados.
Entre eu e tu,
Tão profundo é o contrato
Que não pode haver disputa.
Não é pacto
Dum pobre aperto de mão:
Entre nós, - ou sim ou não.
Despi-me..., vê se me queres!
Despi-me com impudor,
Que é irmão do desespero.
Vê se me queres,
Sabendo que te não quero,
Nem te mereço,
Nem mereço ser amado
Pela pior
Das mulheres...
Poderás amar-me assim,
(Como explicar-me?!)
Por Qualquer Cousa que eu for,
Mas não por mim!, não a mim...!

Beijo-te os pés, meu amor.


Santa Maria, 22 de Dezembro de 2008


Ana Loura

20 de dezembro de 2008

Santa Maria não vale um caracol
















































Santa Maria não vale um caracol, Santa Maria vale 70 espécies diferentes de caracóis, cerca de 20 a 25 espécies endémicas e uma mão bem cheia de espécies únicas no mundo! Diz o Professor Frias Martins que isto se deve à avançada idade geológica da nossa pequena ilha. Pequena mas recheadinha de coisas lindas que só quem olha com olhos de ver consegue de facto ver e para isso muitas vezes é preciso aproximar os olhos do chão que nós e as nossas vacas pisamos.

Frias Martins, cientista da Universidade dos Açores, e David James Harris, este, investigador chefe de um projecto próprio o Integrated Biology and evolution, para além de integrar o Centro de Investigação de Biodiversidade e Recursos genéticos da Universidade do Porto situado no pólo de Vairão, Vila do Conde (as minhas duas terras ligadas pela ciência, pela Biologia, pela investigação e eu impante de orgulho), desenvolvem, neste momento projectos de recolha de especímenes para a investigação na área dos ADN para identificação e catalogação das espécies raras existentes apenas na nossa ilha em paralelo com um outro projecto na área da evolução biológica, este projecto mais recente. A Universidade dos Açores mantém há anos parceria de investigação com Centro de investigação e biodiversidade e recursos genéticos da Universidade do Porto, parceria essa, que foi nos anos 90 oficializada. Diz Frias Martins que Santa Maria “tem um potencial científico que a torna especial” precisamente pela sua idade e preservação (pelo menos por enquanto no que se refere à preservação, acrescento eu).

Foi uma manhã inesquecível que passei com estes dois cientistas, em que os vi de bruços rostos a centímetros da terra, a esgravatar cuidadosamente à cata de caracoizinhos minúsculos. Emocionei-me quando me colocaram na mão um exemplar de uma espécie de caracol existente apenas em Santa Maria, única no mundo!!!quando brinquei com uma “meia lesma” que desfilou sobre uma folha de conteira enquanto a fotografei, quando vi três ovinhos numa cavidade de uma pedrinha de basalto. Senti-me pequenina naquele mundo minúsculo.

Obrigada Professor Frias Martins, obrigada Doutor Harris pela vossa paciência em se deixarem acompanhar por mim e obrigada pelas respostas à minha curiosidade. Valeu a pena acordar cedo

Santa Maria não vale um caracol, um corninho de um caracol, isso sim, para a RTP AÇORES, a televisão pública Açoriana, que não achou importante que fosse feita reportagem, notícia, sobre este importante trabalho. Bem dizia o outro: “Um suspiro no Faial e o arquipélago todo tem que gramar a notícia…”


Santa Maria 14 de Dezembro de 2008
















12 de dezembro de 2008

Sou quem sou


Não tenho qualquer dúvida de que sou o que sou principalmente porque o meu caminho se cruzou com caminhos de outras pessoas. Algumas delas contribuíram muito para que eu seja quem sou. Já tenho falado, escrito, sobre algumas. Hoje vou falar um pouco de uma quase mão cheia e deixar aqui registadas algumas fotografias que tirei este fim-de-semana.

Em casa dos meus Pais fomos educados a sermos solidários, o meu Pai pessoa honesta, a minha Mãe também uma grande mulher que sempre retirava do que havia em casa para dar a quem batia à porta em busca de uma “esmola”, as nossas roupas iam, quando deixavam de nos servir para o corpo de quem tinha menos do que nós, (naquele tempo os mais novos vestiam as roupas que deixavam de servir aos mais velhos, os colarinhos eram virados, os sapatos, chancas e botas levavam meias solas pela mão do meu Pai ou pela mão do falecido Senhor Varela), à nossa mesa sentavam-se colegas nossos que situações de vida tornavam a vida mais dura (um dia o Alexandre chega a casa à hora do almoço e traz ao lado um colega, bate à porta, a minha Mãe vai abrir e o Alexandre diz: Mãe o Manuel vem cá almoçar porque o Pai dele foi preso. O Manuel almoçou lá nesse dia e todos os dias até o pai sair da prisão depois todos os Domingos durante muitos anos. Ele e o Vidal, outro amigo, filho de pescadores, alguns irmãos. O meu Pai diz: Na nossa casa o que havia sempre deu para os outros.

A minha mãe conta que um dia ia na “Ponte” e parou um carro ao pé dela, sai uma senhora que a abraça e pergunta: A Dona Margarida não me conhece? Eu matei muitas vezes a fome em sua casa há muitos anos. E contou que estava imigrada há alguns anos num dos países europeus para onde vão muitos dos filhos das terras do Ave, filhos de tecelães das fábricas de têxteis ou de operários das fábricas da sardinha miseravelmente pagos e cujo trabalho quase escravo enriqueceu os senhores que eu via passar de BMW e Mazerattis quando também passava na Ponde fizesse sol ou chuva para apanhar a camioneta em frente do mercado para ir para o Liceu da Póvoa.

Eu naquela altura não entendi muito bem como o Senhor Abel, homem trabalhador, honesto e respeitado tinha sido preso, não entendi porquê quando fomos no passeio da paróquia e passamos em Paços de Ferreira não deixaram gente da nossa terra ir ver e entregar ao Abel um pacotinho com roupa e alguns mimos que a Zeza, sua esposa, tinha mandado.

Fui crescendo e vendo que de vez em quando o rádio que estava na sala não tocava música alto e em vez disso tinha umas vozes diferentes e o som era abaixado e em cima do rádio era posto um púcaro de alumínio com água, naquela altura toda a gente se calava pois o meu pai queria ouvir essa voz, era importante, para ele ouvir. Cresci, mais ainda, e chegou o Maio de 69 e a minha irmã Guida em Coimbra e nós preocupados. Conheci uma família de amigos da minha irmã. Que família linda, os Lopes.
O pai agricultor, mas um agricultor diferente dos que havia nessa época. Respirava-se um ambiente diferente naquela quinta e eu gostava de lá ir, era tudo tão lindo, tudo tão bom! Fui entendendo os porquês de muita coisa. Entendi porque a minha Mãe chorava a ausência dos meus irmãos um em Angola outro em Moçambique. Fui entendendo que como diria mais tarde Fausto “quem conquista sempre rouba” e que a guerra no Ultramar era uma realidade que trouxe o Alexandre com terrores nocturnos, que lhe cortou a vida em antes e depois, num antes de estudos em Direito, Conservatório e quem sabe um pianista de renome e um depois com um emprego, sem o curso de Direito (realizou meio sonho fazendo-se Solicitador) mas com o sonho de pianista para sempre adiado e os terrores nocturnos, esses sempre presentes, o acordar a transpirar e aos gritos…Será que Salazar alguma vez acordou a transpirar e aos gritos??

E eu cresci, sim, a interrogar-me e a ter a certeza que a vida em Portugal tinha que mudar, que a reforma do Ensino não podia ser aquela que Veiga Simão, o Governo queriam. Nós estudantes, os professores todos tínhamos direito a discutir a Reforma, a dar opiniões. E reuníamos, clandestinos, a falar baixinho na casa de uns e de outros (todos confiávamos em todos, era preciso confiar) Um dia, o irmão de um amigo da minha irmã aborda-me e diz-me: Ana é altura de ires mais longe, de estares organizada. Queres entrar para a UEC? Eu mal sabia o que era a UEC, mas eu intuía que a Guida estava lá e que era importante. Meses depois conheci o
António Vilarigues, meu controleiro, aquele com me encontrava à hora exacta na Corujeira, que me trazia um montinho de Avantes e me falava baixinho com um sorriso sobre a guerra, sobre as lutas dos operários da marinha Grande, dos ferroviários, têxteis do Fundão, têxteis do vale do Ave, falava que um dia a exploração do homem pelo homem iria acabar, que era preciso lutar para que isso acontecesse. E havia os comunicados que era preciso distribuir no Instituto e o contínuo Sr. Fernando a correr atrás de mim e eu in-extremis a lançá-los pelo ar nas escadas pois não poderia ser apanhada com eles na mão e o homem, da PIDE, dizia com um ar bonzinho, parece impossível, e logo a menina que está a receber as sebentas de graça…

Vou estudar para o Porto em plena campanha eleitoral para a farsa que o Regime preparava para o “inglês” da opinião internacional ver que sim senhor a “Primavera marcelista” já não era a ditadura fascistas (mas havia quem não se deixasse enganar com as papas e bolos) A oposição aproveitava até ao último segundo, até à última força para esclarecer e para mobilizar, uma fantástica campanha eleitoral foi feita com Virgínia Moura,
Margarida Tengarrinha, Óscar Lopes e tantos outros. Um comício memorável no Coliseu do Porto!! Esse tempo foi tempo de Modestos, de TEP, de Lysos de MJT, da UNEP.

Numa Quinta-Feira, cedinho, toca o telefone. A Isabel anuncia-me o dia em que Portugal amanhece livre. Ainda sem sabermos bem o que se estaria a passar. Mas dias lindos de festa, de esperança…25 de Abril sempre, fascismo nunca mais! O Povo unido jamais será vencido!!!!
E veio o tempo das RGAs, da EUC já em liberdade, das Associações de estudantes, da Sede em Aníbal Cunha onde um dia

Carlos Costa me faz telefonista por uns meses e onde Ângelo Veloso me dá um dia um merecido raspanete porque a chamada que ele precisava ainda não tinha sido estabelecida. Vivíamos à velocidade da luz entre as aulas, a associação, a UEC e o partido.

Hoje, trinta e quatro anos passados venho ao Congresso que nunca será mais um e encontro o Agostinho e Teresa Lopes, o António Vilarigues, Margarida Tengarrinha, Carlos Costa e olho-os com saudade, sim, mas certa de que todos eles me fizeram, juntamente com alguns outros, (Irmão Silêncio, Rogério, Maria João, Victor, Natalinha…) ser muito do que sou. Eu acredito numa sociedade sem exploradores nem explorados, que a Paz é possível.

Diz uma das canções que cantamos na igreja. “Pela Graça de Deus eu sou quem sou” e eu entendo que esta Graça está em o meu caminho se ter cruzado com o caminho de todas estas pessoas e, principalmente, ter nascido na família em que nasci.