25 de março de 2008

Esta semana não houve crónica


Eu pela Manela Vaz (experimentação de cãmara fotográfica)
Esta semana não houve crónica


Páscoa, a casa cheia de abençoados afectos e os ruidos inerentes...


Hoje porque almocei molhos, alheira e chouriço com sabor a profunda saudade... vim deixar o meu abraço inequivocamente ilhéu, mariense



Ana Loura

17 de março de 2008

As asdorinhas e violência humana

Bom dia!

Hoje eu ia falar-vos das andorinhas que há dias vi e ouvi cantar num dos cabos eléctricos que fazem circular o metro que passa nas traseiras da casa onde durante o tempo que a NAV teimar em não “facilitar” o meu regresso a casa vivo, andorinhas que cada vez vêm mais cedo devido às alterações climatéricas que segundo os entendidos fazem parte do ciclo de vida da terra mas estão a ser aceleradas pela acção indiscriminada e sem escrúpulos do ser humano. Ia, até, dizer-vos o tal poema de Afonso Lopes Vieira que todos nós, os mais velhos, decorámos e dissemos no estrado da escola com a professora a com a régua a balançar em riste já prevendo hesitações ou falhas

Os passarinhos, tão engraçados
fazem os ninhos com mil cuidados
são prós filhinhos que estão pra ter
que os passarinhos os vão fazer
nos bicos trazem coisas pequenas
e os ninhos fazem de musgo e penas
nunca se faça mal a um ninho
à linda graça dum passarinho
que nos lembremos sempre também
do pai que temos e da nossa mãe!


Ia falar-vos também de uma manifestação promovida pelo Eco clube do Mindelo e em que participaram alunos de diversas escolas de Vila do Conde em defesa da água. A malta passou em passo de corrida pelo centro da vila até à Câmara, cantou, dançou, gritou frases que apelavam à utilização racional, reutilização e poupança da água. Uma das frases que mais gostei foi: Não feches a mente! Fecha a torneira! Como eu gostaria de lhes ter falado que tomei banho no rio Ave e comi peixe que o meu pai pescou nesse rio, mas que a ganância, a falta de escrúpulos dos donos das fábricas de diversas indústrias, principalmente das têxteis do Vale do Ave fizeram com que se despejassem toneladas de químicos resultantes dos tintos dos tecidos, dos detergentes das suas lavagens, águas com lixívia e branqueadores a altas temperaturas. Da Sociedade Industrial do Mindelo foram despejados para os riachos que corriam ali perto na Varziela e arredores e através dos esgotos e que confluíam no nosso rio. Isso eu vi quando era criança, e vi o rio a morrer lentamente e as suas águas cobertas de espuma escura e com cheiro nauseabundo. Muitas das fábricas faliram, mas os seus donos continuam a viver a sua vida regalada sem que seja aplicada a norma de “poluidor pagador” pois as leis são feitas com buracos suficientes para que eles, os poderosos, os transgressores, se esgueirem através das malhas da lei, impunes e a dormirem cada noite de consciência tranquila, se é que as têm.

Mas não, não vou falar-vos de que todos somos responsáveis pelo rápido avançar dos desertos, pela poluição das águas e a cada vez maior escassez da água potável, do acelerado derreter dos gelos polares e consequente subida das águas provocado pelo chamado buraco do Ozono e pela emissão de CO2 dos escapes dos carros e motas de cada um de nós.

Não. Não vou falar-vos de nada disso porque estou triste, quase de luto com notícias que me chegam da terra que amo e me dão conta de que homens maltratam de alguma forma pessoas e animais. Há os que chamam amigos às pessoas e as maltratam por omissão, outros molestam crianças indefesas para satisfazerem instintos sexuais e outros vingam-se violentamente por causa de discussões com o pai no cão da família que pelo mau estado em que ficou teve que ser abatido pelo veterinário.

Será que o nosso pequeno mundo endoideceu? Já não há valores morais? Estaremos todos a tornarmo-nos monstros insensíveis à dor alheia, pessoas para quem a honradez da amizade não conta, para quem uma criança pouco mais é que uma boneca insuflável e um cão um objecto insensível à dor, ao medo, à prepotência e à agressão? Ou serão “apenas” casos pontuais sem grande significado?

Como e para quê preocuparmo-nos com o aquecimento global, com a poluição dos rios, com a escassez da água própria para beber se o nosso pequeno mundo está enfermo de doenças gravíssimas?

Neste início da Semana Santa, semana maior para os cristãos, desejo que cada um de nós faça o exame de consciência sobre a forma como interage com os outros ser humanos e com o resto da natureza.

Abraços marienses
Árvore, 16 de Março de 2008
Ana Loura

10 de março de 2008

08 de Março de 2008 Sexo? Feminino!

Sexo? Feminino!



Mulheres pelo direito a votarem

Bom dia!

Os dias mundiais não são nem bons nem maus antes pelo contrário. Muitos passam-nos ao lado, nem conhecemos a sua existência. Mas sempre alguns nos são lembrados pelas circunstâncias do que somos. Sou MULHER. Há muitos, muitos anos festejo este dia ou com jantar com mulheres amigas, ou em realizações culturais, ou sozinha, como hoje, mas reflectindo sobre a minha condição de ter nascido do género feminino. Sou MULHER. Poderia ter nascido do género masculino e aí seria HOMEM. O que nos diferencia, para além dos aspectos físicos óbvios? Existirá a tão falada intuição feminina? Existirá, no feminino, a sensibilidade que alguns poetas cantam? Seremos mais emocionais do que eles? Mais subtis? Terão eles mais força física, serão eles líderes natos? Muito do que se diz sobre a diferença de géneros não está provado, são fruto de questões culturais, de heranças étnicas. As sociedades nossas ancestrais já foram de liderança predominantemente feminina, matriarcal, e mais tarde por razões que os sociólogos e outros homens da ciência explicarão, passaram a patriarcais. O domínio masculino é desde há séculos realidade e a herança judia de nós mulheres sermos consideradas seres abaixo de cão, não termos sequer direito à instrução nem ao voto político e muito menos à nossa sexualidade tem permanecido e nós mulheres temos subido a pulso a corda da dignidade afirmando-nos, cada vez mais, como pilares fundamentais da sociedade, ombreando com os nossos companheiros de existência, os homens, na gestão dos lares, das empresas, das autarquias. Cada vez mais ocupamos lado a lado cargos fundamentais para o desenvolvimento social, cultural, artístico e económico. Já não somos cidadãs de segunda.

Mas, esta transformação da realidade não nos foi dada de bandeja, foi fruto de lutas ao longo dos últimos dois séculos. Mulheres que tomaram a seu cargo a defesa de direitos fundamentais como o direito ao ensino, nomeadamente ao ensino superior, a trabalho em empregos tradicionalmente ocupados por homens, mulheres que lutaram pelo direito a remuneração idêntica para trabalho idêntico pois se ainda hoje as mulheres ganham muito menos que os homens em empregos idênticos, há anos a diferença era muito maior. Muitas mulheres trabalhavam em regime de quase escravatura nas nossas fábricas têxteis, ainda não se falava em assédio sexual e estas mulheres eram alvos de “ataques” dos patrões, dos mestres e capatazes.

Passo a referir alguns dos nomes de mulheres que deveríamos recordar e homenagear, para além de todas aquelas cujo nome não consta em qualquer lista e que silenciosamente, também contribuíram para a evolução da situação da mulher portuguesa no mundo do trabalho, na cultura e em todas as outras áreas incluindo a Expansão Marítima Portuguesa. Fina D’Armada no seu livro Mulheres Navegantes demonstra que foram muitas as mulheres que fizeram parte das tripulações das nossas naus e caravelas, foram Capitãs Donatárias e ocuparam cargos de destaque. No Padrão dos descobrimentos a única figura feminina representada é a de Filipa de Lencastre, Rainha que, para além de ter estado sempre a par dos preparativos da expedição a Ceuta e os ter incentivado, deu origem a uma geração de homens e, principalmente, mulheres com instrução e cultura acima do habitual à época.

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“Carolina Beatriz Ângelo, nascida em 1877. Foi a primeira mulher a votar em Portugal nas eleições para a Assembleia Constituinte em 1911 numa época em que só aos homens com mais de 21 que soubessem ler e escrever e fossem chefes de família era permitido votar, Carolina Beatriz, à altura viúva conseguiu que a sua qualidade de chefe de família fosse reconhecida por um tribunal e votou”;



“Elina Guimarães nascida em 1904 Defensora acérrima da participação das mulheres na vida política, foi uma continuadora dos ideais de Ana de Castro Osório. Jurista, escritora e feminista portuguesa, nasceu em Lisboa. A sua vida foi uma permanente intervenção a favor da liberdade de expressão, na educação das mulheres para os seus inalienáveis direitos como cidadãs. Fez conferências em Portugal e estrangeiro e, sem exagero, pode dizer-se que Elina Guimarães é o feminismo do séc. XX na sua mais completa expressão.”



“Ana Castro Osório, nascida em 1872 foi pioneira na luta pela igualdade de direitos entre os homem e a mulher, escreveu o primeiro manifesto Feminista português. Intelectual, ensaísta, conferencista, jornalista, escritora é considerada a primeira autora de livros infantis em Portugal”;




“Virgínia Moura nasceu em 19 de Julho de 1915 em S. Martinho do Conde, Guimarães. Data de 1933 a sua ligação ao PCP, tendo nesse ano participado na organização da secção portuguesa do Socorro Vermelho (Organização de Socorro aos Presos Políticos Portugueses e Espanhóis).
Primeira mulher portuguesa a obter o título de engenheira civil, foi-lhe negado o acesso à Função Pública, pois a ficha policial já então a assinalava como séria opositora da ditadura fascista. Cursou ainda Matemáticas e frequentou a Faculdade de Letras de Coimbra”;

“Elisa Augusta da Conceição Andrade, natural de Lisboa, foi a primeira mulher portuguesa que frequentou, em regime de voluntariado, uma instituição de ensino superior em Portugal”.

Carolina Michaellis de Vasconcelos (1851-1925), presidente de honra do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, será a primeira professora catedrática no nosso país.


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A estes nomes acrescento o de Maria Lamas, Irene Lisboa, Margarida Tengarrinha, Alda Nogueira, Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa, Olga Morais Sarmento.

Passo a referir, também, algumas datas importantes:

1911- É reconhecido na Constituição da República o direito das mulheres de trabalharem na Função Pública;
1912- Carolina Michaelis é nomeada sócia de mérito da Academis dês Ciências de Lisboa juntamente com Maria Amália Vaz de carvalho;
1913- Licencia-se a primeira mulher em Direito;
1920- As raparigas são autorizadas a frequentar liceus masculinos;
1926- As mulheres passam a poder leccionar nos liceus masculinos;
1931- Expresso reconhecimento do direito de voto às mulheres diplomadas com cursos superiores ou secundários (Decreto com força de lei n.º 19694, de 5 de Maio de 1931) - aos homens continua a exigir-se apenas que saibam ler e escrever;
1935- Primeiras deputadas à Assembleia Nacional: Domitila Carvalho, Maria Guardiola e Maria Cândida Pereira;
1967- Entrada em vigor do novo Código Civil. Segundo este a família é chefiada pelo marido a quem compete decidir em relação à vida conjugal comum e aos filhos;
1968- Lei n.º 2 137, de 26 de Dezembro de 1968, que proclama a igualdade de direitos políticos do homem e da mulher, seja qual for o seu estado civil. Em relação às eleições locais, permanecem, contudo, as desigualdades, sendo apenas eleitores das Juntas de Freguesia os chefes de família;
1969- Foi introduzido na legislação nacional o princípio "salário igual para trabalho igual" (Decreto-Lei n.º 49 408, n.º 2, de 24 de Novembro de 1969 – art.º16º.).

A mulher casada pode transpor a fronteira sem licença do marido (Decreto-Lei n.º 49 317, de 25 de Outubro de 1969).
1971- Primeira mulher no Governo -Maria Teresa Lobo
1976- Abolido o direito do marido abrir a correspondência da mulher
Muitas mais datas são dignas de serem assinaladas, mas o tempo e o espaço limitam a crónica.

Como eu disse há quatro anos na minha segunda crónica “Só juntos, solidários e participantes, de mãos dadas e olhando no mesmo sentido o homem e a mulher poderão alterar os destinos e tornarem o mundo melhor.

Dados constantes nesta crónica foram retirados da Wikipédia, de Histórias de Mulheres em Portugal e do Blog Kant_o_XimPi

Abraços marienses
Árvore, 8 e 9 de Março de 2008
Ana Loura

3 de março de 2008

Que nunca deixemos de ver o Sol- Marcha pela Democracia














Dias Lourenço, 93 anos, antigo director do Jornal Avante!

Bom dia!

Há diálogos que nos ficam às voltas no cérebro durante horas e por vezes dias. Hoje de manhã recebi um telefonema de um amigo com quem já não falava havia alguns meses.

“Olá, como estás? Eu estou bem. E, tu? Então, que tens feito? Já estás empregado? Ainda não, quem me dera, vou fazendo uns trabalhinhos aqui e ali quando aparecem. Mas aparecem pouco e eu não sei como irá ser quando deixar de receber os trezentos e tal euros do subsídio de desemprego, e está quase. Sabes? Ninguém dá emprego a um homem de 47 anos, quase 48. E não é por incompetência. É mais fácil empregar a malta nova que sai das faculdades, tê-los com ordenados baixos e no fim do contrato não renovar e voltar a empregar outros acabados de sair. Não sei como irá ser. Eles empurram-nos para a valeta, só me resta deitar no meio da estrada e esperar q a morte chegue. Não sei que te diga, João Paulo. Que não nos falhe, ao menos a esperança…Beijo, vai ligando.”

À noite ao contar este diálogo a duas amigas de longa data foi esta a conversa:

“- Ando com o coração apertado, também...o contrato do meu filho acaba em Abril, e a empresa está sem encomendas...já dispensou dois engenheiros nos últimos 2 meses. Nem quero pensar muito nisto...Mas nós podemos juntar-nos e partilhar, ainda assim...
Tudo está subordinado ao princípio do lucro. O lucro como único objectivo.
Tantos anos de lutas sociais...para tudo acabar num mundo gélido em q a injustiça alimenta um terrorismo e uma violência galopantes.

- É verdade....a humanidade levou séculos para conquistar o direito a um trabalho com direitos adquiridos...e tudo se perde numa geração...

- Nem sequer um vínculo que dê a mínima segurança...e depois queixam-se de que nascem poucos bebés... quem se arrisca a ter filhos com fome?
Mas serão os pobres, os famintos, quem virará a história.

- Mas realmente parece que estamos em beco sem saída, porque quem governa, quem detém o poder não está interessado em q haja saída, mesmo que se percam eles próprios e os filhos.

- Sempre assim foi: os escravos revoltaram-se...os bárbaros invadiram o império...os camponeses famintos guilhotinaram reis... os proletários revolucionaram a grande Rússia...os africanos e os muçulmanos sem emprego e sem esperança no futuro, encherão a Europa, farão cair estas pseudo-democracias...

- sim, parece-me que não estamos no fim do mundo certamente, mas no final de um ciclo civilizacional.

- Os sem terra derrubarão e mudarão a América do Sul e os USA ver-se-ão sem saída...
Não estou a falar de fim do mundo, mas de uma mudança radical de paradigma, que só não vê quem está cego”


A estes eu chamo de diálogos inquietantes e fico parada a ler e a reler e a lembrar-me que no Sábado foi perguntado a muita gente porque estavam na Marcha convocada pelo Partido Comunista Português. Acho que todas as respostas se resumem numa: porque o Partido convocou. Estivemos “cerca de 50 Mil” e não estávamos todos.

Faço notar que as minhas duas amigas que assim dialogaram não são militantes do Partido, são “apenas” duas grandes mulheres, empenhadas Católicas a quem vulgarmente se chama de praticantes, mulheres de Fé e de uma Esperança que só as pessoas de Fé têm.
Que nunca deixemos de ver o Sol
"Vozes ao alto!
Vozes ao alto!
Unidos como os dedos da mão
havemos de chegar ao fim da estrada
ao sol desta canção."
José Gomes Ferreira

Abraços marienses
Árvore, 3 de Março de 2008
Ana Loura