23 de outubro de 2006

Cheguei...à velocidade de cruzeiro de um ATP

Bom dia!

Cheguei Sábado a casa. Estou na minha casa, na casa base da minha Família, na casa onde permanece latente metade de mim. Com emoção a outra metade aproximou-se dela à velocidade de cruzeiro de um ATP e, quando o avião aterrou de supetão, parecia que o piloto queria abanar-me e dizer: Eh, Ana, abre bem os olhos, chegámos. É aqui que tens descer da nuvem, da tal nuvem por trás do espelho. Tem sido gratificante encontrar os amigos e conhecidos que, carinhosamente, me abraçam e me fazem sentir, ainda mais, filha desta ilha que tanto amo.

Fui à Feira das Actividades Económicas. Confesso que achei péssima a escolha do local, os terrenos da Fábrica da Telha…Terreno desnivelado o que fez com que os esforços e meios aplicados para minimizar o problema não tenham resultado em pleno e passear pelos corredores e apreciar os standes tenha sido, de certo modo, desagradável.

Agradável foi ver que o nosso Comércio se vai expandindo por áreas inovadoras, embora ache que nem todos os comerciantes com volume e áreas de consumo justificáveis tenham respondido e correspondido. Mas também não haveria espaço para mais. Creio haver alternativas ao espaço escolhido, desde o campo de futebol velho sito na zona do Aeroporto aos terrenos que creio pertencerem à Junta de freguesia de Almagreira. Ouvi alguém observar que a opção do campo de futebol teria sido posta de lado por estar na área do Aeroporto e as pessoas das freguesias terem relutância em ir lá. Creio ser um falso argumento quando se aponta exactamente os terrenos, ainda, sob a posse da ANA SA, como a expansão natural da Vila.

Gostaria de referir que em relação aos terrenos e aos edifícios da Fábrica da telha tenho uma opinião que já formulei há anos. Considero o espaço ideal para a implantação de um auditório, sala de congressos, Museu da ilha que comporte todo o espólio aeronáutico da ANA e da NAV que com o andar dos anos tem ou desaparecido ou ficado irremediavelmente deteriorado, todas as ferramentas de todas as artes e ofícios da história da Ilha, os canhões que andam perdidos e enterrados não se sabe bem onde, âncoras, barcos de pesca antigos, carros de bois, carroças. Tantas são as carências da ilha q não seria difícil dar destino aos edifícios e espaços circundantes, onde ficariam lindíssimos jardins do género dos do Centro Cultural de Belém ou Serralves e vastas zonas para estacionamento dos utentes do complexo. Mas parece que os marienses perderam definitivamente a possibilidade daquela estrutura ficar na posse quer o Governo Regional quer da Autarquia. O seu estado de degradação é confrangedor e não faço ideia se a maquinaria que, há poucos anos atrás ainda dava ideia do que terá sido um dia, os moldes das telhas que, ainda, estavam por lá, foram recolhidos ou não como acervo museológico. Não sei se quem tem obrigação de zelar pelo nosso património histórico fez por acautelar alguma coisa ou se algum estrangeiro com visão da cultura que ultrapasse mais do que o comezinho não tenha metido as coisinhas na mala e levado para a sua terra ou mesmo alguém tenha vendido para algum antiquário de S Miguel…ou para o ferro velho, é que “quem o seu não vê, o diabo lho leva” e parece que nem estamos escaldados com acontecimentos idênticos de um passado recente em que peças do nosso barro foram transladadas para a ilha vizinha.

Sei que está prevista a recuperação de um dos edifícios da zona histórica, vi de relance o projecto no espaço da Câmara Municipal, que comportará muitas das valências que referi. Acho fundamental esta recuperação que também já tarda, mas acho, também, que não faltam serviços a precisarem de instalações dignas, um deles o Tribunal.

Como vos disse, é bom voltar a casa, voltar a fazer as “rotinas” que são a minha vida cá. E este Domingo participei na Missa da Matriz. Fui surpreendida pela figura jovem do padre que me impressionou bastante pelo olhar límpido e firme, pelo discurso claro de quem tem a certeza da sua opção de vida. Vou citar o que alguém escreveu no Mulheres de Atenas acerca dele: “Não sendo paroquiana dele, no entanto, desde que chegou a S. Miguel, sempre ouvi as melhores referencias dele como pessoa e como sacerdote…o que mais me cativou no Pe Sérgio (para além da sua bondade e simplicidade por todos referenciadas) foi a forma Universal como faz passar essa Mensagem: trata de forma tão próxima do "igual" o diferente, ou seja, os que um dia se perderam de Deus e de si próprios; não só não julga quem ainda não acredita como os acolhe como filhos do mesmo Pai”

E como eu própria já disse “Estejamos disponíveis e dispostos a respondermos e correspondermos aos apelos de colaboração que, certamente, eles nos fará.”

É bom voltar à ilha, mesmo que seja já com o sabor inevitável da partida, mas por outro lado com a certeza de mais um regresso.

Abraços marienses
Santa Maria, 23 de Outubro de 2006
Ana Loura

16 de outubro de 2006

Na terra do Poder dos sonhos


































Bom dia!

“Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és, ninguém te leva a malNa terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igualNa terra dos sonhos não há pó nas entrelinhas, ninguém se pode enganar. Abre bem os olhos, escuta bem o coração, se é que queres ir para lá morar”

Só mesmo na terra dos sonhos podemos ser o que somos ou o que queremos ser, pois aí ninguém nos leva a mal ou nos exige que sejamos o que não somos, ou espera que sejamos o que querem que sejamos.

O Palácio de Cristal, ou Pavilhão Rosa Mota, festejou os seus cinquenta Anos com um memorável concerto de Jorge Palma ao qual eu assisti. O excerto do poema que citei é de uma das suas canções, não direi das que mais gosto, pois gosto de todas. Jorge Palma é um, com certeza, o cantor português meu favorito. Pelas letras, pela “batida”, o swing das suas músicas, por ele todo.

Recordo que Jorge Palma esteve no Festival Maré de Agosto em 1986, era já meu eleito no panorama musical português. Eu não assisti ao concerto porque foi querido que eu fosse o que não era. E lá fiquei eu em casa triste, sonhando em um dia ser aceite como era como se vivesse “na terra dos sonhos”. Já lá vão 20 anos e eu nunca estive na terra dos sonhos. Alguém sempre acha que eu deveria ser assim ou assado. Os sonhos por vezes são adiados mas lá chega o dia em que, porque não deixámos de sonhar, os cumprimos.

Hoje, 15 de Outubro de 2006, assisti emocionada a um concerto do Jorge Palma.


2006-10-12 FNAC Nortshopping











Estou à beira de realizar um dos meus sonhos e estou SÓ! As lágrimas a rebentarem-me nos olhos. Olho dois jovens da idade da Ângela que carregam os seus Sepúlvedas para os desejados autógrafos. Penso que estarão a realizar, também, um dos seus sonhos (a grande maioria dos meus Sepúlvedas estão em casa, na minha casa onde metade de mim, também, permaneceu. Continuo sem chão, sem estar certa do que pisam os meus pés) Mas, o certo é que estou à beira de realizar um dos meus sonhos e…estou só. Gosto de partilhar, de ter com quem partilhar os meus sonhos. Há percursos na vida que são mais saborosos de mão dadas….
Enquanto espero passo os olhos no “O Poder dos sonhos” e sinto-me dentro dele. A nossa Revolução de Abril foi tão pacífica como a democracia Chilena, O Povo Unido dos Quilapaium, foi também nosso hino, alfabetizámos e fizemos a Reforma Agrária. Não foi Pinochet quem nos deu cabo da Revolução, mas os traidores que descaradamente nos venderam ao Fundo Monetário Internacional. Somos um Povo de “brandos costumes” e, brandamente a direita e o grande capital foi ganhando terreno, as conquistas de Abril mirrando à medida em que os cravos murchavam. Neste momento a Democracia volta a ser sonhada quase com a urgência do 24 de Abril. Sonhamo-la, pois como diz Sepúlveda os sonhos são “irrenunciáveis, são indomáveis,…”
Comprei um exemplar do “Poder dos sonhos” para cada um dos meus filhos e dei-os a autografar ao autor.
Acabo de realizar um dos meus sonhos: Ouvi, ao vivo Luís Sepúlveda a falar dos seus livros, da sua vida, dos seus sonhos. Luís Sepúlveda é uma das minhas paixões, tenho todos os seus livros publicados em Portugal.
Acabo de realizar um dos meus sonhos, sinto-me imensamente feliz, mas só.

Abraços marienses
Azurara, 16 de Outubro de 2006
Ana Loura

9 de outubro de 2006

Haja saúde!!!!


Bom dia!

Li no blog do Marco Coelho o último post dele e os respectivos comentários.

Diz o Marco

“Tive a oportunidade de ler num jornal regional que um estudo efectuado pela Direcção Regional de Saúde indicou que existem 20.000 Açorianos sem médico de família, pode-se ler ainda que a Directora Regional disse que as zonas mais problemáticas "são as grandes cidades" nomeadamente Ponta Delgada, Angra do Heroísmo, Ribeira Grande e Horta, devido à "escassez de médicos. Não questiono a veracidade deste estudo, agora, nós por cá já vivemos com esta problemática à muitos anos minha senhora, quantos utentes se deslocam ao CSVP inúmeras vezes para consultas e batem com o nariz na porta ??? Quantos meses levam os utentes marienses à espera de uma consulta???? A direcção Regional de Saúde diz já ter aberto diversos concursos públicos para a contratação de médicos de clínica geral mas cá nem vê-los porquê??? Não interessa, ou não há quem pressione o governo para que tal aconteça??? Ainda há bem pouco tempo foram colocados na cidade da Praia da Vitória médicos espanhóis. Só aqui é que não há maneira de as coisas melhorarem, mas é como digo se calhar não interessa.........”

Os comentários a este post, como sempre, dividem-se entre os anónimos que escrevem propositadamente com erros ortográficos a envergarem roupagens humildes para despistarem quem os lê e poderem dizer mal de tudo e de todos sem serem identificados, e os comentários sérios que pretendem contribuir para a discussão do tema, opinando sinceramente.

Saliento dois dos comentários, um que apesar de anónimo me parece sério e outro assinado com pseudónimo e que me parece, também, sério.

“Já passaram por cá bons médicos, já se deram ao trabalho de analisar porque não param por cá muito tempo?só ouvimos queixas e mais queixas parece que está tudo mal.Mas, os marienses devem de estar felizes porque vivemos neste paraíso socialista, onde tudo está mal mas ninguém denuncia
SÃO ROSAS SENHOR SÃO ROSAS.
MAS TEM CÁ CADA ESPINHO.
e assim vamos vivendo .Quando arranjamos consulta, já é tarde demais ,quando vamos mostrar exames estes já tem mais de um ano.a pequenada nas consultas de rotina como manda o boletim de saúde, só quando é adulta é que vê o medico.
SENHORES PARA QUE MAIS COMENTÁRIOS?
SERÁ QUE SÓ MEREÇEMOS ISTO.”

Outro comentário

“É um problema este C.S. de Vila do Porto mas o problema não é dos médicos cá radicados, esses coitados não dão para as encomendas - não podemos exigir mais da Drª. Isabel ela é muito atenciosa e está sempre disponível para ajudar quem quer que seja mas a mulher também precisa descansar, não pode aguentar 24 seguidas sobre 24 horas. O governo terá de por cobro a esta situação de os médicos que para cá vêem sentirem gosto em cá estar, é que por vezes nem aquecem o lugar outras vezes é o lugar que não aguenta com eles.... e o melhor mesmo é irem embora porque assim nem eles e nem nós temos segurança, e nestas coisas não se pode brincar pois está em jogo muita gente. Por isso acho que os médicos que queiram trabalhar têm muito que fazer. Agora não podemos é continuar a pensar que os melhores terão mesmo de ir para as grandes cidades também precisamos deles nos centros de Saúde, era preferível haver cá um bom especialista em determinada especialidades, equipar a unidade onde tivesse que exercer a sua actividade, a termos que deslocar doentes para fora da ilha, custando ao Estado milhares de Euros mês, fora aqueles que dada a sua gravidade ainda se vêem obrigados a recorrer aos Privados. A Política de Saúde ao longo dos anos não tem tido nada fácil para nenhum Governo mas há que não desanimar e quem sabe até também da nossa parte sermos um pouco mais compreensivos sempre está melhor do que aqui há uns anos atrás onde só um médico existia. Sei que também aqui vão dizer o Mariense tem aquilo que merece!!!! Mas esse é um ponto de vista com o qual nunca concordarei.”
Leitora Atenta.

As questões da saúde, em Santa Maria, parece que vão de mal a pior. Pelo que entendi os doentes do Dr. Dinis continuam sem Médico de Família e os números e percentagens destes doentes não entram nas estatísticas do Governo Regional. Será que é cegueira e a Direcção Regional de Saúde está a precisar de ir ao oftalmologista? Todo o cidadão tem direito a cuidados básicos de saúde e não é porque há zonas mais carenciadas que nos faz deixar de ter direitos e reclamar por eles.

O voto deveria ser a expressão do descontentamento do Povo. É nas urnas de voto que damos a nossa confiança àqueles que fazem de nós estatísticas reais. Saibamos escolher entre os que nos ignoram e os que se importam.

Abraços marienses
Azurara, 9 Outubro de 2006
Ana Loura

2 de outubro de 2006

O fantástico mundo que nos aproxima de tudo












Bom dia!


“11,2% dos açorianos em rede”
“A ilha que lidera o combate ao isolamento é o Corvo, onde a percentagem de acessos à net por cada 100 habitantes é de 17,9%.”
Frases que iniciam artigo sobre a Internet na Região Autónoma dos Açores editado pelo jornal Expresso da Nove do dia 29 de Setembro último.

Tenho ouvido amiúde pessoas afirmarem que a utilização da Internet é, na maioria dos casos, um vício.

E agora, em que ficamos: vício ou instrumento de quebra ao isolamento

Os dois, eu diria que os dois. Cabe a cada um estabelecer os limites do uso de qualquer objecto, de qualquer tecnologia. O certo é que a Internet encurta as distâncias e quebra o isolamento. Mas, haja tempo e horas do dia para que consigamos visitar e ler tudo o que é escrito de interessante sobre variadíssimos temas. Por exemplo, existem inúmeros blogs açorianos. Listados no “Fogueteabrase” do Nuno barata estão listados creio que 103, penso haver muito mais, mas este número é, já, significativo. Com artigos de opinião, com fotografias, alguns com artigos que versam temas exclusivos de cada ilha, outros sobre poesia, literatura açoriana e de língua portuguesa, muitos de excelente qualidade quer nos textos propriamente ditos quer no grafismo. Perdermo nos neste imenso mar, eu pelo menos perco me.

Mas a net não são só os blogs, são, também, os e;mails que recebemos e nos trazem desde as anedotas mais insípidas e que mal as lemos, quando as lemos, apagamos, até à notícia da morte de alguém com quem fizemos amizade sem nunca nos termos olhado olhos nos olhos, passando pelos anúncios do medicamento milagroso que faz a libido crescer nos homens que andam “desinteressados” das actividades sexuais. Mas também vêm notícias do que a vida nos faz deixar para trás. Há dias tive a imensa alegria de receber um e mail da Laurinda Sousa a dar notícia de como correu a reconstituição histórica da procissão dos Escravos da cadeinha recheadinho de fotos excelentes do Rui Parece. Gostei imenso de constatar que a realização foi muito participada quer a nível de figurantes quer a nível de assistência. Criticas li, também na Internet, de que o texto seria uma adaptação de um utilizado em S Miguel. Bom, mas fez se e cumpriu se.

Noutro artigo diz se no Expresso da Nove
Açores é nome de uma só ilha na net

“A internet contribuiu para que todo o arquipélago ficasse disponível no espaço único do mundo virtual. O impacto desta ferramenta é de tal ordem que alterou hábitos e formas de trabalhar e de viver

Actualmente, um corvino e um micaelense podem, em simultâneo, ir ao mesmo banco, no mesmo balcão; reservar uma passagem de avião sem sair de casa; consultar as últimas notícias sem folhear um jornal ou estar ao corrente das actividades governativas sem assistir aos noticiários televisivos. Tudo isto é possível devido à internet, um mundo virtual que transforma os Açores numa única ilha. A net contribui sobremaneira para a modificação dos hábitos dos açorianos, obrigando, mesmo, muitas instituições e organizações, públicas e privadas, a alterar a forma como apresentam e prestam os seus serviços. Esta transformação foi de tal forma significativa que, actualmente, é possível fazer quase tudo sem sair de casa.”

A Internet serve, também, para eu me ligar à RDP Açores e ouvir diariamente o Interilhas (pena o Asas não ter emissão on line), fazermos amizades, conversarmos e espantarmos um pouco o fantasma da solidão, por isso é que, certamente, o Corvo é a ilha onde 17,9% dos habitantes já aderiu ao fantástico mundo que nos aproxima de tudo, chamado Internet!
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Abraços marienses
Azurara, 2 de Outubro de 2006
Ana Loura