30 de junho de 2008

Cidadania segundo Laborinho Lúcio
















Bom dia!

No último Sábado (28 de Julho) pelas 11:30 tomei conhecimento, por mero acaso, de que a AJISM iria levar a cabo às 15 horas na igreja da Nossa Senhora das Vitórias uma conferência sobre cidadania. Lá fiquei eu indignada por ser obra do acaso o ter tomado conhecimento e ainda por cima por ter, também, sabido que tinham sido distribuídos convites formais a algumas pessoas e colocados cartazes nos locais habituais, que pelos vistos não são os que eu frequento. Mas bendito acaso que me fez ter conhecimento do que se iria realizar pois o que se passou era imperdível e só lamento que a sala não tivesse sido pequena e não estivesse Santa Maria em peso a ouvir falar sobre um tema que interessa a todos. Mas vou tentar fazer a história que sei: A AJISM elaborou há meses um inquérito onde, em resumo, colhia elementos que espelhassem a participação dos inquiridos nas acções relacionadas com o exercício da cidadania, ou seja, se votam, se reclamam quando mal atendidos, se participam em acções de carácter cívico. O que aconteceu no Sábado foi o tirar de conclusões desse inquérito pelo Sociólogo da Universidade dos Açores Dr. Álvaro Borralho que disse que em Santa Maria acontece como no todo nacional em que a “Cidadania é difusa”, há uma fraca participação dos cidadãos embora a maioria dos inquiridos, 76% saiba o que é cidadania mas falta “convicção à sua prática” e deixam nas mãos dos outros essa prática pois achando que se devendo reclamar e reivindicar direitos raramente o fazem, que há um sentimento colectivo de que a participação faz falta, mas por outro lado é notório o aumento da abstenção nos actos eleitorais que em Santa Maria é a mais elevada do arquipélago. Concluiu também que das três vertentes da cidadania, social, política e económica, aquela que é mais reconhecida é a política. Deixou-nos o Dr. Borralho uma frase que é para ser pensada, e aplicada em todas as vertentes “A participação leva à participação”

A “estrela” da tarde, aquela que, parafraseando Daniel Gonçalves fez ser dia de Natal em pleno Junho (para mim foi Natal, Carnaval e quase Páscoa) foi o Senhor Juiz Conselheiro, ex Ministro da República para os Açores Dr. Laborinho Lúcio. Foi para mim um privilégio ter estado diante de alguém que tanto admiro pela lucidez e brilhantismo de discurso. Como costumo dizer só perdeu quem não esteve presente. Foi tanto e tão importante o que foi dito que resumir em poucas linhas é um trabalho difícil e deixar-vos frases desgarradas, fora do contexto pode ser um incorrecção. Mas vou deixar-vos algumas que de per si contêm conceitos fundamentais: A questão fulcral da apresentação de Laborinho Lúcio centrou-se na “Cidadania activa”(Uma ilha a pensar) frase de toque do cartaz da AJISM que eu apenas, com pena, vi nas Vitórias
Depois de ter atirado à queima roupa os dados estatísticos que todos nós conhecemos mas teimamos em esconder com a peneira de que apenas 1,2% do rendimento mundial está nas mão de 3 mil milhões de seres humanos e que 80% do rendimento mundial está na mão de apenas”meia dúzia” de privilegiados , Laborinho Lúcio afirma:
- A exclusão é uma limitação ao acesso à cidadania”
- A exclusão retira o direito a desenvolver as capacidades que potenciam a intervenção
- Só sou cidadão quando projecto a cidadania no outro
- A pobreza é violação dos direitos humanos
- Substituir o pensamento único pelo pensamento crítico
- A escola tem que formar, também, para a desobediência crítica
- É preciso restaurar uma utopia da política de verdade e respeito pelo valor do outro e reclamar profundas transformações políticas
- Pensar globalmente e agir local
- Que o nosso discurso seja de coesão junto dos que necessitam
- A cidadania activa coloca a tónica no lado da ética e da responsabilidade

Conclusão, tirada por mim, claro:
Fundamental olharmos à nossa volta, a nossa rua, o nosso bairro, a nossa ilha e colocarmo-nos no lugar do outro que precisa e sermos activamente solidários, empenharmo-nos nas associações, fazermos trabalho voluntário, participarmos nas instituições, não nos demitirmos dos nossos direitos de exprimirmos as nossas opiniões, do nosso direito/obrigação ao voto.

E acrescento: a cidadania deveria ser aprendida, fundamentalmente, em casa pois é aí que se forma a essência do ser humano. Devemos ensinar os nossos filhos a partilhar entre si, a respeitarem os que vivem na mesma casa, o respeitarem os que vivem na mesma rua a serem com eles solidários e intervenientes. O consumo e o acesso a bens de consumo não essencial de uma forma cada vez mais fácil permitem que numa casa onde há três crianças cada uma tenha a sua televisão, a sua consola de jogos pelo que deixou de ser necessária a partilha dos objectos. Temos de repensar com urgência a forma como educamos os nossos filhos, não nos podemos demitir dessa maneira de exercermos cidadania pois o primeiro outro em quem devemos de projectar a nossa cidadania são os nossos filhos.

Não quero deixar de referir a presença prestigiante do Senhor Juiz Conselheiro, Representante da República para os Açores Dr. José Mesquita, que patrocinou este evento e na introdução que fez referiu Daniel de Sá, escritor açoriano cuja vivência durante infância e juventude em Santa Maria fez um apaixonado da Ilha-Mãe título do seu livro onde descreve com sabor a sopas de Império e biscoitos de orelha, cheiro a poejo, macela, murta e acácias essa vivência na nossa ilha.

Como acabaram de ouvir/ler, esta foi uma tarde imperdível.

Abraços marienses

Santa Maria, 30 de Junho de 2008

Ana Loura

2 de junho de 2008

Estou em casa




Bom dia!



Há quem diga que nunca devemos trilhar caminhos que já trilhámos, mesmo que tenhamos sido felizes. Pois cá estou eu a trilhar de novo os caminhos da Ilha. Uma vez ilhéu toda a vida ilhéu. Não foi fácil voltar, virar costas às coisas de que eu lá gostava, deixar os meus Pais, uma das razões que me tinham feito partir. De qualquer forma o meu ir foi um ir a prazo, apenas regressei um pouco antes do que previa. Vim bem, vim tranquila, vim feliz. Gosto da ilha e como qualquer ilhéu a minha vida é feita de partidas e chegadas. Esta foi mais uma. Agora, é preciso colocar no sítio as coisas que levei e trouxe e algumas que apenas trouxe; retomar algumas das actividades que de alguma forma deixei em suspenso, embora tenha ao longo deste tempo mantido a fervilhar tudo o que fazia: sempre que vim ensaiei no grupo coral, raramente falhei na escrita das crónicas, apesar de ao longe, acompanhei a actividade política dos meus camaradas de partido e companheiros da CDU; fui pedindo notícias do que era feito na ilha, fui tendo conhecimento das novidades através de conversas telefónicas com amigos e através do blog do Marco Coelho. A bem da verdade quase não saí de cá.



Já cheguei fez esta madrugada uma semana, mas logo na Terça fui para S Miguel para uma acção de formação pois a única mudança de fundo na minha vida neste giro-flé foi ter deixado de exercer um cargo de Assessora no trabalho e ter passado a executar funções que chamamos de TTA “de linha”, ou seja a reparar e a manter os equipamentos usados para que os aviões aterrem em segurança no nosso aeroporto e os usados para controlar o espaço aéreo do Atlântico Norte, área sobe a responsabilidade de Santa Maria e que pela decisão da Assembleia da República, luta em que o Partido Comunista teve um papel fundamental, assim se manteve.



Tendo chegado Sábado à noite logo me quis inteirar se haveria no Domingo algum Império. Como vos contei, no dia de Pentecostes preparei sopas com pão que tinha levado de cá. Pão, endro e hortelã, carne comprada lá, para de certa forma e para além da Eucaristia, louvar o Espírito e celebrar uma das nossas mais arreigadas tradições. Mas Império mesmo é na copeira. E ontem, a meio da tarde, subi os Picos e pus-me na bicha, que felizmente não era muito grande e entrei na segunda mesa. Os Impérios para além do seu principal objectivo do “pagamento” de promessas (como se o Espírito cobrasse as bênçãos que dá…mas isso é tema sério para reflexão obrigatória noutro momento), como dizia, para além da componente de “pagamento” de promessas, o Império tem uma função social indiscutível pois é na bicha que encontramos muitas das pessoas que raramente veríamos não fossem os Impérios. E eu vi muita gente que já não via há muito tempo, abracei, conversei, ri-me com as estórias contadas. Acho que foi na bicha do Império que eu tive a certeza de que ESTOU EM CASA.



Abraços marienses

Santa Maria, 2 de Junho de 2008

Ana Loura