Crónica lida aos microfones do Clube Asas do Atlântico no dia 24 de Outubro de 2005
Bom dia!
“A palavra “preconceito” tem como significado uma opinião ou um conceito formados por antecipação, geralmente com precipitação, destituídos de análise mais profunda ou conhecimento de determinado assunto, sem levar em consideração suficientes argumentos contrários e favoráveis, sem o devido cotejo entre os múltiplos aspectos que incidem sobre os fatos, por conseguinte, sem a suficiente e necessária reflexão.
O preconceito está geralmente relacionado com a ignorância, aqui vista como a ausência de conhecimento acerca de determinado assunto. Invariavelmente se encontra acompanhada da teimosia, que é sua escrava fiel.
Muitos dos conceitos que hoje assumimos como nossos, de nossa autoria ou simples concordância, nos foram na realidade legados através de confortáveis estereótipos transmitidos de geração em geração, muitas vezes sem justificativa plausível que os ampare como legitimas ou verdadeiros.
Nesse sentido, cabe a cada cidadão arguir, duvidar desconfiar, a todo instante, contestar as fórmulas prontas, os rótulos, as receitas acabadas, não apenas com o objectivo de buscar as próprias respostas para tudo, mas principalmente para minimamente reconhecer as “verdades” e as “mentiras” que povoam o quotidiano individual, até para que a eventual “obediência ao sistema”, decorrente do pacto social anteriormente mencionado, se constitua no resultado de uma opção livre, segura, madura e espontânea.
Exercendo a sistemática confrontação das alternativas através da razão, da ponderação, do estudo (que proporciona o conhecimento), da experiência etc., naturalmente pode-se obter resultados significativos em prol do desenvolvimento moral e intelectual de todos e de cada um.
É preciso estar permanentemente preparado para enfrentar o “novo”, aquilo que ainda se desconhece, com o objectivo de melhor se relacionar com o futuro. Para tanto, é fundamental que as pessoas se encontrem desarmadas de ideias preconcebidas, despidas de preconceitos que em nada favorecem esse sempre difícil relacionamento.
Como é bom e confortável tratar com aquilo que já conhecemos, e, via de consequência, dominamos!
Entretanto, o “novo” se impõe a cada instante, Incomoda a quem não está suficientemente preparado para recebê-lo. Destrói aqueles que o rejeitam.
É comum acreditar que o preconceito só existe no “outro”. Apenas o “outro” é preconceituoso, esquecendo-nos de olhar para nós mesmos, ver o quanto de preconceito carregamos junto a nossos valores, até porque a circunstância mais grave dessa problemática é exactamente a de acharmos que nós próprios não possuímos preconceitos.”
Em: http://www.dhnet.org.br/oficinas/scdh/parte1/conceitos/preconceito.html
Rede de Direitos Humanos e Cultura do Brasil
Foram muitas as pessoas que nas últimas semanas me abordaram a manifestar a sua simpatia pelas minhas crónicas, pela minha intervenção nos debates transmitidos pela RTP e Asas no âmbito das eleições autárquicas. Mas, geralmente, essas manifestações de apreço eram rematadas por um “mas se a Ana estivesse noutro partido…”
Eu muito sinceramente não consigo entender como me podem dizer uma coisa dessas, sendo eu o que sou exactamente por pertencer, muito orgulhosamente, ao Partido Comunista Português.
Ao dizerem-me isto o que querem dizer as pessoas? Que pertenço a um bando de malfeitores? O que é para elas o partido Comunista?
O Salazarismo, numa atitude de defesa do regime, incutiu, ou tentou incutir, no espírito do Povo Português que nós, os Comunistas, comíamos as criancinhas ao pequeno-almoço, dávamos injecções atrás da orelha aos velhinhos. Diziam isso porque tinham medo das nossas posições em defesa dos que menos tinham. Mas entretanto já aconteceu o 25 de Abril, há Liberdade. Essa liberdade traduz-se na liberdade de expressão e em todas as outras liberdades conquistas de Abril. Por isso é estranho que haja alguém que, ainda, pense que ser comunista é ser o diabo em figura de gente.
Mas, ser comunista é ser justo, ser comunista é preocuparmo-nos pelos que têm menos, é acharmos que todos temos o direito à saúde, à educação, a uma casa digna desse nome…Como pode alguém dizer-me que aquilo que sou, comunista, é uma coisa má, uma coisa que me torna indigna de votarem em mim?
Preconceito. Só pode ser preconceito.
Como disse o autor do texto: “É preciso estar permanentemente preparado para enfrentar o “novo”, aquilo que ainda se desconhece, com o objectivo de melhor se relacionar com o futuro.”
Abraços marienses
Santa Maria, 24 de Outubro de 2005
Ana Loura