

CRÓNICA LIDA AOS MICROFONES DA ESTAÇÃO CLUBE ASAS DO ATLÂNTICO NO DIA 21 DE NOVEMBRO DE 2005
Bom dia
No Dicionário Enciclopédico de Língua Portuguesa das Selecções do Reader’s Digest encontramos os diversos significados para a palavra:
Lata- Folha de fero delgada, laminada e às vezes estanhada, utilizada na produção de objectos para usos industrial e domésticos; folha-de-flandres. Caixa de folha de ferro estanhado em que se conserva o azeite e outros produtos alimentares. Litro. Quartilho de vinho. Caibro tosco para assentamento de vigas. Trave transversal do navio. Pequena latada. Coisa que não presta, feita de material ruim, de pouco valor. Gíria A cara. Descaro, desplante, prosápia. Automóvel de qualidade inferior, em mau estado.
E eu digo, é preciso mesmo ter muita lata, eu diria mais, um grande latão. Estou absolutamente indignada, furiosa, revoltada. Gostaria de saber porque haverá alguém que me queira tão mal para dificultar desta forma a minha vida.
É público o meu amor a tudo o que é ser vivo e a minha defesa intransigente dos direitos de qualquer animal. Tenho na minha casa um aquário com peixes, uma caturra, gatos e cães. Faço os possíveis por lhes dar boas condições de vida, por lhes dar cuidados veterinários quando necessário. Muitos, direi até, a grande maioria dos meus animais foram adoptados. Uns voluntariamente, mais ou menos pois poderia sempre fazer vista grossa, pois estavam abandonados em bermas de caminhos e em risco de serem atropelados, foram trazidos para casa por mim ou meus filhos.
Mas muitos dos animais que tenho foram abusivamente deixados à minha porta por pessoas sem escrúpulos que resolvem o seu problema criando, com a maior desfaçatez, um a mim.
A minha vizinhança está farta dos meus animais e não se importa se o cão que ladra de noite foi abandonado à minha porta e eu com pena o acolhi, pois não existe canil municipal que o acolha e o futuro dele ser curto e triste, sujeito para além da fome a ser atropelado e maltratado. A vizinhança não se importa se o gato que faz as suas necessidades nos seus jardins ou nas soleiras das portas é dos abandonados que recolhi ou me largaram à porta. Quando aparecendo riscos nos carros foram os gatos da Ana Loura.
Acontece que o deixarem animais à minha porta se está a tornar o Pão-nosso de cada dia. Na semana passada foram duas gatinhas…Uma seguiu caminho e a outra, imaginem onde está…Ofereço-a a quem adivinhar…
Na Quarta-feira passada fui a um jantar de colegas e quando volto a casa, imagine-se: tinha um caixote de cartão com uma cadela e três, não um, nem dois mas sim três cachorrinhos. A Mãe, uma cadela já entrada na idade e com uma das patas traseiras partida, é branca com malhas acastanhadas. E agora digam-me: pego no presente e vou pôr à porta de outro? À porta da Câmara Municipal que deveria ter um canil e não tem? Por favor ajudem-me a encontrar solução para este problema que alguém para deixar de o ter e por ter uma enorme lata me fez passar a ter.
É engraçado que ninguém me vem trazer peixe para eu comer, ninguém se vem oferecer para, de graça, me limpar o jardim ou pintar a casa, vêm é, isso sim, trazer-me inquietações e despesa…
Conclusão: preciso urgentemente de dar 3 lindos cachorrinhos de raça eventualmente pequena se saírem à mãe, e são-no mesmo, a quem prometer tratá-los bem senão os meus vizinhos fazem um abaixo-assinado para que eu seja expulsa do bairro…e eu não estou a brincar. Vão de porta em porta e perguntem.
Mas é preciso ter lata, uma grande lata para, a coberto do escuro, me deixarem à porta estes presentes.
Abraços marienses
Santa Maria, 21 de Novembro de 2005
Ana Loura