10 de julho de 2006

Pepe, As valsas e os voos




Foto de autoria de Óscar Fonseca


Bom dia!
“Valsas do Mundo é um projecto fotográfico desenvolvido no âmbito do projecto final do curso profissional de fotografia do Instituto Português de Fotografia/Porto realizado entre 2003 e 2005.
Todo o trabalho foi inspirado e desenvolvido sobre o grande significado de minhas raízes. Neto de artistas de circo (Ema Elisabeth e José Elisabeth/Pepe), embebido à nascença por maravilhosas histórias de danças pelo mundo sem nunca ter presente a certeza da próxima paragem, imagens de uma vida entregue à Caravanas do circo foram crescendo cá dentro.
“Pepe, fotógrafo e as Valsas do mundo” é um documentário que retrata toda a vida de José Elisabeth/Pepe, meu querido Avô, realizado pelo grande músico e cineasta José Medeiros, realizador das fantásticas séries “Mau tempo no canal”, “Xailes negros” e “Gente feliz com lágrimas”, o documentário acabaria por dar nome ao projecto de fotografia.
Assim, Valsas do Mundo, é um partilhar das palpitações sorridentemente aceleradas, estiveram por detrás da grande angular no desenrolar de todo o projecto, é, também, uma sentida homenagem a todos aqueles que fazem da vida uma caravana.
A toda a gente do circo em causa (Circo Mundial) um grande abraço e um obrigado muito grande pela disponibilidade e simpatia. Ao meu amigo Tiago Meireles um abraço atlântico pela sensibilidade…”

Este pequeno texto apresenta as fotografias que Rui /Pepe expõe no “Contagiarte”, um espaço Bar/cultural na Rua Álvares Cabral na cidade do Porto.

Dizia a canção que um filho é "ver-se um homem prolongado". E Rui/Pepe é, na vocação fotográfica, um prolongamento quer do Pai quer do próprio Avô e nesta série de fotografias homenageia as suas raízes circenses. Ao olhar os meus filhos, procuro aquela coisinha que os fazem parecidos comigo ou com o pai, o gosto que eles colocam nas coisas que fazem, ou mesmo o não gosto que os identificam mais com um de nós...e penso: este cada vez está mais parecido com....

O certo é que ver os filhos dos outros que cresceram com os nossos a fazerem coisas, a fazerem-se e a serem gente faz-nos olhar os nossos com mais olhos de ver e vermos que, afinal, também cresceram, quase batem asas, ensaiam voos para longe, já quase não estão debaixo das nossas e isso faz-nos pensar nos tempos que nos esperam e os esperam.

Sou Mãe galinha e esta minha característica faz-me, já, ter saudades da intimidade que cultivei ao longo destes anos todos com a minha ninhada. Cada filho é um ser único e todos e cada um dele me prolonga e prolonga o Pai. Há uma caldeação de características, tão perfeita, em cada um deles que nenhum é tal e qual um ou o outro de nós pais e nenhum é igual ao outro.

Mas este quase esvoaçar, quase voar por conta e risco próprios que os jovens da idade dos meus estão a ensaiar, alguns já a executar, faz-me recear duas coisas: o futuro deles e o meu. O deles porque há a incerteza, o desemprego é uma dura realidade, o mundo "lá fora" é cruel e o que mais poderá recear um Pai que o futuro incerto de um filho. O meu futuro também, porque a distância física entre nós aumentará, eles não encontrarão emprego à porta de casa, e oxalá o encontrem depressa, e eu Mãe galinha gostaria de sentir o bater das suas asas sempre à roda do ninho.

Eu sinto cada sucesso de cada um dos colegas dos meus filhos e cada insucesso como se fossem de filhos meus, pois muitos deles fizeram parte do meu quotidiano, vi-os crescer no jardim infantil da Mãe de Deus, na escola primária do Aeroporto que ficava mesmo juntinho à nossa casa do Bairro de S Lourenço, a enxamearem-me a casa nos fins de semana, nos aniversários...e muitos ficaram meus amigos.

Ter participado na abertura da exposição do Rui/Pepe foi assim como o passar de um filme do crescimento dos meus filhos, foi vê-lo um puto de sorriso travesso feito quase adulto de convicções e projectos, já um profissional, já um artista cujo trabalho vale a pena apreciar. Parabéns, Rui e que muitas mais valsas sejam eternizadas pelas tuas objectivas.


Abraços marienses
Azurara, 10 de Julho de 2006
Ana Loura

4 comentários:

Anónimo disse...

Texto magnífico, sem dúvida u relatar da vivencia de mãe e o poder de querer ter tudo junto dela. Adorei, sem dúvida, adorei, não tenho palavras. parabéns e que o futuro (deles) e não só seja um futuro brilhante.

Anónimo disse...

Gostei muito do teu texto, da tua capacidade de mãe (Galinha? Porquê? Não somos todos assim pelos nossos filhotes?).
Gostei da tua visita aos "Chuviscos", talvez arrastada pela Alice.
Gosto de fotografia e temos um pequeno grupo que dura há quase três anos. Nascemos no Flor de Infesta (S. M. Infesta)e temos andado por aí com algumas exposições, mas sempre de máquinas às costas.
Um dia destes passarei pelo "Contagiarte" e veremos a exposição.
Onten estivemos a ver, com o Viana Bastos - um dos fotógrafos, uma exposição inaugurada no Norte Shopping, na Senhora da Hora, Matosinhos.
Vai ver, p.f., o blog http://movimentum.blogs.sapo.pt/,
post de 6 de Julho.

Um abraço e mais uma vez obrigado pela tua visita.

almadepoeta disse...

Olá cumadre.....vim espreitar e teu blog e sentir o teu sentir....Sinto os teus receios de mãe, identificando-os com os meus.
Na verdade cada filho tem uma personalidade tão sua, com algumas coisinhas nossas.
Um beijo com muito carinho e amizade.

Anónimo disse...

Gostei da forma autêntica e elaborada como expressas os teus sentimentos de Mãe. Do respeito e admiração que nutres pelos familiares que te precederam bem como da alegria e satisfação que vives com os teus filhos, sem deixares de te preocupar com o tempo futuro. Esse que só a Deus pertence e que acompanha o bater do coração da verdadeira Mãe.
partilho das tuas preocupações, mas confiemos nos nossos filhos!
um abraço ANA