17 de março de 2008

As asdorinhas e violência humana

Bom dia!

Hoje eu ia falar-vos das andorinhas que há dias vi e ouvi cantar num dos cabos eléctricos que fazem circular o metro que passa nas traseiras da casa onde durante o tempo que a NAV teimar em não “facilitar” o meu regresso a casa vivo, andorinhas que cada vez vêm mais cedo devido às alterações climatéricas que segundo os entendidos fazem parte do ciclo de vida da terra mas estão a ser aceleradas pela acção indiscriminada e sem escrúpulos do ser humano. Ia, até, dizer-vos o tal poema de Afonso Lopes Vieira que todos nós, os mais velhos, decorámos e dissemos no estrado da escola com a professora a com a régua a balançar em riste já prevendo hesitações ou falhas

Os passarinhos, tão engraçados
fazem os ninhos com mil cuidados
são prós filhinhos que estão pra ter
que os passarinhos os vão fazer
nos bicos trazem coisas pequenas
e os ninhos fazem de musgo e penas
nunca se faça mal a um ninho
à linda graça dum passarinho
que nos lembremos sempre também
do pai que temos e da nossa mãe!


Ia falar-vos também de uma manifestação promovida pelo Eco clube do Mindelo e em que participaram alunos de diversas escolas de Vila do Conde em defesa da água. A malta passou em passo de corrida pelo centro da vila até à Câmara, cantou, dançou, gritou frases que apelavam à utilização racional, reutilização e poupança da água. Uma das frases que mais gostei foi: Não feches a mente! Fecha a torneira! Como eu gostaria de lhes ter falado que tomei banho no rio Ave e comi peixe que o meu pai pescou nesse rio, mas que a ganância, a falta de escrúpulos dos donos das fábricas de diversas indústrias, principalmente das têxteis do Vale do Ave fizeram com que se despejassem toneladas de químicos resultantes dos tintos dos tecidos, dos detergentes das suas lavagens, águas com lixívia e branqueadores a altas temperaturas. Da Sociedade Industrial do Mindelo foram despejados para os riachos que corriam ali perto na Varziela e arredores e através dos esgotos e que confluíam no nosso rio. Isso eu vi quando era criança, e vi o rio a morrer lentamente e as suas águas cobertas de espuma escura e com cheiro nauseabundo. Muitas das fábricas faliram, mas os seus donos continuam a viver a sua vida regalada sem que seja aplicada a norma de “poluidor pagador” pois as leis são feitas com buracos suficientes para que eles, os poderosos, os transgressores, se esgueirem através das malhas da lei, impunes e a dormirem cada noite de consciência tranquila, se é que as têm.

Mas não, não vou falar-vos de que todos somos responsáveis pelo rápido avançar dos desertos, pela poluição das águas e a cada vez maior escassez da água potável, do acelerado derreter dos gelos polares e consequente subida das águas provocado pelo chamado buraco do Ozono e pela emissão de CO2 dos escapes dos carros e motas de cada um de nós.

Não. Não vou falar-vos de nada disso porque estou triste, quase de luto com notícias que me chegam da terra que amo e me dão conta de que homens maltratam de alguma forma pessoas e animais. Há os que chamam amigos às pessoas e as maltratam por omissão, outros molestam crianças indefesas para satisfazerem instintos sexuais e outros vingam-se violentamente por causa de discussões com o pai no cão da família que pelo mau estado em que ficou teve que ser abatido pelo veterinário.

Será que o nosso pequeno mundo endoideceu? Já não há valores morais? Estaremos todos a tornarmo-nos monstros insensíveis à dor alheia, pessoas para quem a honradez da amizade não conta, para quem uma criança pouco mais é que uma boneca insuflável e um cão um objecto insensível à dor, ao medo, à prepotência e à agressão? Ou serão “apenas” casos pontuais sem grande significado?

Como e para quê preocuparmo-nos com o aquecimento global, com a poluição dos rios, com a escassez da água própria para beber se o nosso pequeno mundo está enfermo de doenças gravíssimas?

Neste início da Semana Santa, semana maior para os cristãos, desejo que cada um de nós faça o exame de consciência sobre a forma como interage com os outros ser humanos e com o resto da natureza.

Abraços marienses
Árvore, 16 de Março de 2008
Ana Loura

5 comentários:

Anónimo disse...

Ana, nao quero ser pessimista, mas infelizmente isso que pensamos ser casos isolados nao sao tão isolados assim e o pior é que nao noto que as pessoas se toquem mt com isso.. esta insensibilidade assusta-me cada vez mais..
será por defesa? por egoismo? por insensibilidade pura? nao sei.. mas tudo isso me deixa mt triste..
passando a outro assunto Ana:
no outro dia em Lx entro numa igreja (dos martires no Chiado, mui querida para mim, pk apos uma intervençao cirurgica um dia entrei ali e senti um conforto enorme), er adomingo, missa, duas jovens (35+-) mt bem vestidas, tipo socialite (nada contra acredita) estavam à m frente assistindo à missa sempre no "cochicho" o que me estava deveras a irritar (pk sinceramente quem nao tem vontade de estar ali nem sei porque vai! mas tudo bem..). como se nao bastasse, entra um dos mendigos que costumam pedir à porta (e que me deixam quase sp de lagrima no olho, outras nao pk por vezes confesso que penso que pode ser um pouco tb de indolencia da parte deles, mas evito juizo prcepitados sb o que nao conheco), paga a sua velinha e acende-a junto de um dos altares.. que foi isto para essas duas meninas? gargalhada!
pergunto-me Ana, onde está a nossa humanidade e a nossa religião?
só para pensarmos um pouco..
bjs e boa pascoa..
Mcdd

Anónimo disse...

Nesta tua crónica abordas uma imensidão de assuntos muito graves e de grande importância para todos...assim estivesse na boa vontade e na mão dos poderosos a resolução deles.

Anónimo disse...

Passei por aqui e gostei. Um bem-haja pelo que escreve.

Ana Loura disse...

Obrigada pelo simpático comentário

Rui Melgão disse...

A humanidade continua doente... Continua a fazer todo o sentido a vinda do médico que nos cura e que nos transforma...