Bom dia!
No último Sábado (28 de Julho) pelas 11:30 tomei conhecimento, por mero acaso, de que a AJISM iria levar a cabo às 15 horas na igreja da Nossa Senhora das Vitórias uma conferência sobre cidadania. Lá fiquei eu indignada por ser obra do acaso o ter tomado conhecimento e ainda por cima por ter, também, sabido que tinham sido distribuídos convites formais a algumas pessoas e colocados cartazes nos locais habituais, que pelos vistos não são os que eu frequento. Mas bendito acaso que me fez ter conhecimento do que se iria realizar pois o que se passou era imperdível e só lamento que a sala não tivesse sido pequena e não estivesse Santa Maria em peso a ouvir falar sobre um tema que interessa a todos. Mas vou tentar fazer a história que sei: A AJISM elaborou há meses um inquérito onde, em resumo, colhia elementos que espelhassem a participação dos inquiridos nas acções relacionadas com o exercício da cidadania, ou seja, se votam, se reclamam quando mal atendidos, se participam em acções de carácter cívico. O que aconteceu no Sábado foi o tirar de conclusões desse inquérito pelo Sociólogo da Universidade dos Açores Dr. Álvaro Borralho que disse que em Santa Maria acontece como no todo nacional em que a “Cidadania é difusa”, há uma fraca participação dos cidadãos embora a maioria dos inquiridos, 76% saiba o que é cidadania mas falta “convicção à sua prática” e deixam nas mãos dos outros essa prática pois achando que se devendo reclamar e reivindicar direitos raramente o fazem, que há um sentimento colectivo de que a participação faz falta, mas por outro lado é notório o aumento da abstenção nos actos eleitorais que em Santa Maria é a mais elevada do arquipélago. Concluiu também que das três vertentes da cidadania, social, política e económica, aquela que é mais reconhecida é a política. Deixou-nos o Dr. Borralho uma frase que é para ser pensada, e aplicada em todas as vertentes “A participação leva à participação”
A “estrela” da tarde, aquela que, parafraseando Daniel Gonçalves fez ser dia de Natal em pleno Junho (para mim foi Natal, Carnaval e quase Páscoa) foi o Senhor Juiz Conselheiro, ex Ministro da República para os Açores Dr. Laborinho Lúcio. Foi para mim um privilégio ter estado diante de alguém que tanto admiro pela lucidez e brilhantismo de discurso. Como costumo dizer só perdeu quem não esteve presente. Foi tanto e tão importante o que foi dito que resumir em poucas linhas é um trabalho difícil e deixar-vos frases desgarradas, fora do contexto pode ser um incorrecção. Mas vou deixar-vos algumas que de per si contêm conceitos fundamentais: A questão fulcral da apresentação de Laborinho Lúcio centrou-se na “Cidadania activa”(Uma ilha a pensar) frase de toque do cartaz da AJISM que eu apenas, com pena, vi nas Vitórias
Depois de ter atirado à queima roupa os dados estatísticos que todos nós conhecemos mas teimamos em esconder com a peneira de que apenas 1,2% do rendimento mundial está nas mão de 3 mil milhões de seres humanos e que 80% do rendimento mundial está na mão de apenas”meia dúzia” de privilegiados , Laborinho Lúcio afirma:
- A exclusão é uma limitação ao acesso à cidadania”
- A exclusão retira o direito a desenvolver as capacidades que potenciam a intervenção
- Só sou cidadão quando projecto a cidadania no outro
- A pobreza é violação dos direitos humanos
- Substituir o pensamento único pelo pensamento crítico
- A escola tem que formar, também, para a desobediência crítica
- É preciso restaurar uma utopia da política de verdade e respeito pelo valor do outro e reclamar profundas transformações políticas
- Pensar globalmente e agir local
- Que o nosso discurso seja de coesão junto dos que necessitam
- A cidadania activa coloca a tónica no lado da ética e da responsabilidade
Conclusão, tirada por mim, claro:
Fundamental olharmos à nossa volta, a nossa rua, o nosso bairro, a nossa ilha e colocarmo-nos no lugar do outro que precisa e sermos activamente solidários, empenharmo-nos nas associações, fazermos trabalho voluntário, participarmos nas instituições, não nos demitirmos dos nossos direitos de exprimirmos as nossas opiniões, do nosso direito/obrigação ao voto.
E acrescento: a cidadania deveria ser aprendida, fundamentalmente, em casa pois é aí que se forma a essência do ser humano. Devemos ensinar os nossos filhos a partilhar entre si, a respeitarem os que vivem na mesma casa, o respeitarem os que vivem na mesma rua a serem com eles solidários e intervenientes. O consumo e o acesso a bens de consumo não essencial de uma forma cada vez mais fácil permitem que numa casa onde há três crianças cada uma tenha a sua televisão, a sua consola de jogos pelo que deixou de ser necessária a partilha dos objectos. Temos de repensar com urgência a forma como educamos os nossos filhos, não nos podemos demitir dessa maneira de exercermos cidadania pois o primeiro outro em quem devemos de projectar a nossa cidadania são os nossos filhos.
Não quero deixar de referir a presença prestigiante do Senhor Juiz Conselheiro, Representante da República para os Açores Dr. José Mesquita, que patrocinou este evento e na introdução que fez referiu Daniel de Sá, escritor açoriano cuja vivência durante infância e juventude em Santa Maria fez um apaixonado da Ilha-Mãe título do seu livro onde descreve com sabor a sopas de Império e biscoitos de orelha, cheiro a poejo, macela, murta e acácias essa vivência na nossa ilha.
Como acabaram de ouvir/ler, esta foi uma tarde imperdível.
Abraços marienses
Santa Maria, 30 de Junho de 2008
Ana Loura
No último Sábado (28 de Julho) pelas 11:30 tomei conhecimento, por mero acaso, de que a AJISM iria levar a cabo às 15 horas na igreja da Nossa Senhora das Vitórias uma conferência sobre cidadania. Lá fiquei eu indignada por ser obra do acaso o ter tomado conhecimento e ainda por cima por ter, também, sabido que tinham sido distribuídos convites formais a algumas pessoas e colocados cartazes nos locais habituais, que pelos vistos não são os que eu frequento. Mas bendito acaso que me fez ter conhecimento do que se iria realizar pois o que se passou era imperdível e só lamento que a sala não tivesse sido pequena e não estivesse Santa Maria em peso a ouvir falar sobre um tema que interessa a todos. Mas vou tentar fazer a história que sei: A AJISM elaborou há meses um inquérito onde, em resumo, colhia elementos que espelhassem a participação dos inquiridos nas acções relacionadas com o exercício da cidadania, ou seja, se votam, se reclamam quando mal atendidos, se participam em acções de carácter cívico. O que aconteceu no Sábado foi o tirar de conclusões desse inquérito pelo Sociólogo da Universidade dos Açores Dr. Álvaro Borralho que disse que em Santa Maria acontece como no todo nacional em que a “Cidadania é difusa”, há uma fraca participação dos cidadãos embora a maioria dos inquiridos, 76% saiba o que é cidadania mas falta “convicção à sua prática” e deixam nas mãos dos outros essa prática pois achando que se devendo reclamar e reivindicar direitos raramente o fazem, que há um sentimento colectivo de que a participação faz falta, mas por outro lado é notório o aumento da abstenção nos actos eleitorais que em Santa Maria é a mais elevada do arquipélago. Concluiu também que das três vertentes da cidadania, social, política e económica, aquela que é mais reconhecida é a política. Deixou-nos o Dr. Borralho uma frase que é para ser pensada, e aplicada em todas as vertentes “A participação leva à participação”
A “estrela” da tarde, aquela que, parafraseando Daniel Gonçalves fez ser dia de Natal em pleno Junho (para mim foi Natal, Carnaval e quase Páscoa) foi o Senhor Juiz Conselheiro, ex Ministro da República para os Açores Dr. Laborinho Lúcio. Foi para mim um privilégio ter estado diante de alguém que tanto admiro pela lucidez e brilhantismo de discurso. Como costumo dizer só perdeu quem não esteve presente. Foi tanto e tão importante o que foi dito que resumir em poucas linhas é um trabalho difícil e deixar-vos frases desgarradas, fora do contexto pode ser um incorrecção. Mas vou deixar-vos algumas que de per si contêm conceitos fundamentais: A questão fulcral da apresentação de Laborinho Lúcio centrou-se na “Cidadania activa”(Uma ilha a pensar) frase de toque do cartaz da AJISM que eu apenas, com pena, vi nas Vitórias
Depois de ter atirado à queima roupa os dados estatísticos que todos nós conhecemos mas teimamos em esconder com a peneira de que apenas 1,2% do rendimento mundial está nas mão de 3 mil milhões de seres humanos e que 80% do rendimento mundial está na mão de apenas”meia dúzia” de privilegiados , Laborinho Lúcio afirma:
- A exclusão é uma limitação ao acesso à cidadania”
- A exclusão retira o direito a desenvolver as capacidades que potenciam a intervenção
- Só sou cidadão quando projecto a cidadania no outro
- A pobreza é violação dos direitos humanos
- Substituir o pensamento único pelo pensamento crítico
- A escola tem que formar, também, para a desobediência crítica
- É preciso restaurar uma utopia da política de verdade e respeito pelo valor do outro e reclamar profundas transformações políticas
- Pensar globalmente e agir local
- Que o nosso discurso seja de coesão junto dos que necessitam
- A cidadania activa coloca a tónica no lado da ética e da responsabilidade
Conclusão, tirada por mim, claro:
Fundamental olharmos à nossa volta, a nossa rua, o nosso bairro, a nossa ilha e colocarmo-nos no lugar do outro que precisa e sermos activamente solidários, empenharmo-nos nas associações, fazermos trabalho voluntário, participarmos nas instituições, não nos demitirmos dos nossos direitos de exprimirmos as nossas opiniões, do nosso direito/obrigação ao voto.
E acrescento: a cidadania deveria ser aprendida, fundamentalmente, em casa pois é aí que se forma a essência do ser humano. Devemos ensinar os nossos filhos a partilhar entre si, a respeitarem os que vivem na mesma casa, o respeitarem os que vivem na mesma rua a serem com eles solidários e intervenientes. O consumo e o acesso a bens de consumo não essencial de uma forma cada vez mais fácil permitem que numa casa onde há três crianças cada uma tenha a sua televisão, a sua consola de jogos pelo que deixou de ser necessária a partilha dos objectos. Temos de repensar com urgência a forma como educamos os nossos filhos, não nos podemos demitir dessa maneira de exercermos cidadania pois o primeiro outro em quem devemos de projectar a nossa cidadania são os nossos filhos.
Não quero deixar de referir a presença prestigiante do Senhor Juiz Conselheiro, Representante da República para os Açores Dr. José Mesquita, que patrocinou este evento e na introdução que fez referiu Daniel de Sá, escritor açoriano cuja vivência durante infância e juventude em Santa Maria fez um apaixonado da Ilha-Mãe título do seu livro onde descreve com sabor a sopas de Império e biscoitos de orelha, cheiro a poejo, macela, murta e acácias essa vivência na nossa ilha.
Como acabaram de ouvir/ler, esta foi uma tarde imperdível.
Abraços marienses
Santa Maria, 30 de Junho de 2008
Ana Loura
4 comentários:
Olá
Desculpa mas tenho andado desaparecido em combate...
Só queria dizer que tive a oportunidade de por mero acaso, assistir a uma conferencia do Dr Laborinho Lucio, no Liceu do Funchal... A forma como ele falou, dirigida especialmente a alunos do secundário, a simplicidade, foi uma coisa "do outro mundo"....
Bjinhos
Tiber
Cara, olhando as fotos que tiras-te(?) não me parece que a cidadania esteja alí, provávelmente os que não lá estavam terão sido tão convidados como tu . Mas porque será que uns sabem das coisas e outros não ? eu já tenho reparado que em certos acontecimentos estão sempre os mesmos... mas será que só estes estão mais informados?e de que informação se servem para estarem sempre presentes? como tu também estranho certas coisas - pensava que o "mundo" era de todos mas afinal é so para alguns, de qualquer modo lá estives-te e assim tivemos afinal conhecimento do que se passou , obrigada por partilhares com a cidadania restante o que alí se passou.
L.A.
Ana, amiga
Eu tambéma dmiro muito o Dr. Laborinho Lúcio. Dá-se até o caso curioso, e que honra a minha Maia micaelense, que foi em parte uma conferência (espantosa), que ele nos ofereceu aqui na Santa Casa, que chamou a atenção para o seu nome e o fez ser Ministro da República. Ele mesmo me confessou isso.
Obrigado pela referência a este cagarro incorrigível, que foi de S. Pedro durante quatro anos e "santaneiro" por mais de oito. E que nada lamenta da sua infância e início da juventude nessa Ilha-Mãe.
Ana, foi bom teres trazido para aqui a questão da cidadania. Apreciei a tua reportagem (texto e fotos). O facto de o evento não ter sido publicitado correctamente poderá estar directamente relacionado com a falta de assumpção dessa cidadania quer dos decisores locais quer dos executores da colocação de cartazes. Mas é uma questão menor. O importante é ter acontecido esta reflexão sobre a cidadania, que poderá levar a que outros reflictam na sua necessidade. O Dr.Laborinho Lúcio é um mestre da comunicação e será preciso incitá-lo a levar as suas lições de cidadania a todos os chãos e lagos e lagoas deste Portugal amorfo, mas onde despontam aqui e ali focos de interesse pela coisa pública que precisam ser alumiados e até incendiados. A propósito de abstenção, vai ser interessante fazer a contabilidade da mesma ao longo desta década, a nível local, regional e nacional. E deveras interessante seria verificar, concelho a concelho, e ao longo destes 10 anos, onde ela (abstenção) cresceu e onde diminuíu, para que os políticos tirem as suas conclusões. Pena é os eleitores não estarem suficientemente lúcidos (e para isso seriam necessários muitos "lúcios") para mandarem pentear macacos certos figurões da nossa cena político-partidária... Há necessidade de incendiar o país com mais e mais lições de cidadania!
Bons banhos na Praia Formosa! (A minha preferida).
JoeRebel
Enviar um comentário