19 de julho de 2004

Crónica Nº 20- Jazz/Blues nos Anjos

Crónica nº 20
Hoje prometo que não vou falar da visita do Governo e de mais um grito a estragar a paisagem da nossa pacata ilha: o outdor, o enorme cartaz com o desenho do novo matadouro. Continua a parecer que quem grita mais alto, enche a paisagem com metros de auto promoção fala verdade e tem razão.
Bom afinal já falei mais do que pretendia...
Hoje eu quero falar das minhas emoções do fim-de-semana, das minhas decepções e alegrias.
Na Sexta e no Sábado fui aos Anjos. Tinha recebido um convite para assistir a uma conferência sobre fotografia e tinha visto anunciado o festival de música Blues/Jazz organizado pela Associação Os Escravos da Cadeinha e que haveria serviço de restaurante. Eu que andava a precisar de arejar as ideias, sair das minhas rotinas e alimentar o corpo e a mente lá fui com o meu filho aproveitar pois nem sempre "há mais marés que marinheiros", os eventos musico/culturais não são frequentes nas épocas invernosas e agora é um "fartar vilanagem", " não há fome que não dê em fartura", e vamos cedo pois com a fominha de eventos se não vamos cedo estacionas o carro na Vila....
Lá fomos para os comes e bebes do corpinho: aquela gente cozinha que é um assombro. Tudo apaladado, bem cozinhado, fartura, acompanhado com um vinho que também era a preceito... Acabado o repasto fomos ao barracão em frente apreciar as exposições de algumas associações cá da terra que incluíam uma pequena mas interessante mostra de artesanato. Um artesão me chamou particularmente a atenção. Um jovem que com palitos de fósforo constrói miniaturas de casas e fontanários marienses. Muito interessante forma de ocupar o tempo. Lindo mesmo. A mostra estava muito bem montada e apresentada.
Entretanto sentei-me à espera da comida para a mente. Pus-me a olhar de roda, a poisar os olhos na "meia dúzia" de pessoas que estavam no recinto e a pensar: teve esta gente esta trabalheira toda para meia dúzia de gatos-pingados, meia dúzia na qual estavam incluídos eu e o meu filho. Afinal a fome de cultura aqui em Santa Maria é virtual, não existe. "Pérolas a porcos" pensei eu. Vão levar bordoada da velha na minha crónica, como alguém insiste dizer que eu dou mas não dou que eu sou muito respeitadora do outros. Acreditem que fiquei triste por ver tão pouca gente. Começou o espectáculo com o grupo de Maria Viana, uma das poucas vozes femininas portuguesas dedicadas ao Blues/jazz e filha do meu querido e falecido camarada o actor José Viana. Apesar de não ser dona de uma voz potente gostei muito das interpretações suas e do bom grupo que a acompanha. Fiquei absolutamente rendida ao grupo que actuou depois dela, uns galegos que se fizeram acompanhar por um exímio tocador de harmónica de boca. Blues rurais, com tábua de lavar Kazoo e tudo. Um espectáculo. A meio do espectáculo apercebi-me que o recinto ia enchendo e o que ao princípio não passava da meia dúzia dos gatos-pingados já ultrapassaria a boa centena...afinal em Santa Maria há é o mau hábito de se começarem as coisas tarde e a más horas e a malta pensa que é sempre assim e não acredita que uma coisa marcada para as 22 comece às 22:20.
No Sábado repeti os alimentos do corpo que mais uma vez estavam dignos dos deuses do Olimpo. Desde os salgados às esmeradas sobremesas passando pelo vinhinho.
O programa musical começou por uma autêntica surpresa: os nossos polivalente músicos da Ronda da madrugada, os manos Furtado e o Roberto Freitas, os do costume, acompanharam com mestria um senhor que penso canadiano ou luso-canadiano, um interprete fabuloso de Blues. Um extra programa que foi uma delícia. Depois dois grupos do continente fizeram as delícias de quem desceu aos Anjos naquela noite. Perdeu quem não foi. O espectáculo terminou ao jeito do famoso "espírito da Maré" que fez dela o festival mais conhecido e importante dos Açores. Todos ao palco num Anjos all stars . É um bom pronuncio. Acho que teremos daqui a vinte anos a vigésima edição deste festival, só espero que ele não perca o "espírito" e engrandecendo-se não perca a dimensão intimista que teve este ano. Parabéns organização e obrigada pelos momentos de felicidade que passei neste fim-de-semana.
E agora "pérolas a porcos" mesmo: na conferência organizada pelo CAV estivemos menos que meia dúzia de pessoas para além da organização. Só perdeu quem não foi e esses foram muitos...e depois digam que não há, que lá fora é que é bom...
Boa semana
Vila do Porto, 19 de Julho de 2004
Ana Loura

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