As fotos, como sempre, da minha autoria são: Pôr de Sol visto da varanda de casa dos meus Pais em Azurara; Farol da Maia em Santa Maria; Rio Ave visto da ponte que liga Azurara, onde nasci, a Vila do Conde e que eu atravessei milhares de vezes a caminho das camionetas que nos levavam ao Liceu da Póvoa; vista da Praia formosa em Santa Maria onde vivo desde 17 de Março de 1981
METADE DE MIM
Crónica lida aos microfones do emissor do Club Asas do Atlântico no dia 12 de Dezembro de 2005
Aeroporto de Lisboa
Já cheguei a casa. Olho à minha volta e já vi, nestes poucos momentos "montes" de gente de Santa Maria, ouço falar "açoriano", o sotaque que diz “quem não sabe” ser a língua açoriana e eu explico que os Açores são nove ilhas cada qual com a sua identidade cultural e linguarejar próprio: “Aquilo a que, normalmente, chamas de açoriano é restrito a uma ilha, S Miguel, e nasceu numa zona específica mas que devido à mobilidade das populações ser cada vez maior por causa das estradas e acessos, se espalhou e tomou o resto da ilha e já se espalha por outras ilhas do arquipélago, mas ainda não é e certamente não será língua, muito menos dialecto”. Há linguarejares ilhéus que reflectem realidades tão diversas e ricas como, por exemplo, a realidade dos baleeiros do Pico.
Pego no telemóvel e envio a seguinte mensagem: “Só para deixar um último beijo continental. Estamos a embarcar”. É como se uma porta se fechasse e para além dela ficasse metade de mim…A minha metade continental; a minha juventude, os meus Pais e amigos que estão na minha vida quase desde que nasci e outros mais recentes mas que também amo; ficou o “Ana Maria”, o Bom dia Menina que oiço quando ando nas ruas da minha infância; ficaram as livrarias, as discotecas onde me “abasteço” dos livros e cds que me fazem pagar o excesso de bagagem que a SATA não perdoa; ficou o “Rio da minha Aldeia” que por sê-lo é o mais belo do mundo, é único; ficou a feira das Sextas-Feiras onde compro, mas acima de tudo me passeio e passeio os olhos na fartura da fruta colorida, no verde dos legumes, nas loiças, calçado, roupa, peixes…nos ciganos que asseguram vender peças originais de marcas famosas ao preço da chuva. Ir aos ciganos é uma obrigação, mesmo que não tenha intenção de comprar seja o que for pois a festa do pregão, o remexer nas roupas amontoadas é um prazer indescritível. Na feira de Vila do Conde vende-se de tudo ou quase tudo, desde mobílias a peixe a preços inacreditavelmente baratos comparando com o que pagamos em Santa Maria. Quando, paro na dona Elisa, fornecedora da fruta que se come em casa dos meus pais, olho para preços e penso: “como é possível lá (e este lá quer dizer Santa Maria) a fruta ser tão cara? E não falo em diferença de cêntimos mas de mais de um euro em cada quilo.
Mas o que nos torna, verdadeiramente, continentais é o agora estarmos em Lisboa e mais logo à distância de 13 euros, em Vila do Conde. Eu de Lisboa não vejo as luzes dos carros que circulam em Vila do Conde e, no entanto, para lá chegar pago, apenas, 13 Euros.
Estou, neste momento, a bordo do avião. A distância que me separa do continente cada vez maior e a que me aproxima de casa cada vez mais curta. O meu coração acelera emocionada. Já tinha saudades de casa, da ilha que me limita, que fez e faz a outra metade de mim. A metade que olha o cais a partir do forte e sorri, a que se levanta mais cedo e de máquina ao pescoço vai ao cais pela milésima vez tirar mais uma foto (hoje o céu está lindo e o mar espelha-o como nunca). Esta metade Ana Loura que “nasceu” na ilha vai fazer 25 anos em Julho; a Ana Loura que ama a Ilha, que se envolve, se empenha e se dá à Ilha como se não fosse ilhéu de poucos anos mas de toda a vida. Estou voltando para casa, apesar de muitas coisas que não poderei falar neste momento, não para um degredo, mas para a terra onde os meus filhos nasceram trazidos à luz não por gente anónima numa qualquer maternidade, mas por gente com rosto e nome porque a Ilha é ilha.
Esta sou eu, dividida, pelo ser e o não ser ilhéu, pela saudade do lá quando estou cá e pela saudade do cá quando lá estou.
Abraços sejam eles quais forem
A bordo do avião, o ecrã indica que estamos a sobrevoar Santa Maria, 11 de Dezembro de 2005
Ana Maria/Ana Loura
METADE DE MIM
Crónica lida aos microfones do emissor do Club Asas do Atlântico no dia 12 de Dezembro de 2005
Aeroporto de Lisboa
Já cheguei a casa. Olho à minha volta e já vi, nestes poucos momentos "montes" de gente de Santa Maria, ouço falar "açoriano", o sotaque que diz “quem não sabe” ser a língua açoriana e eu explico que os Açores são nove ilhas cada qual com a sua identidade cultural e linguarejar próprio: “Aquilo a que, normalmente, chamas de açoriano é restrito a uma ilha, S Miguel, e nasceu numa zona específica mas que devido à mobilidade das populações ser cada vez maior por causa das estradas e acessos, se espalhou e tomou o resto da ilha e já se espalha por outras ilhas do arquipélago, mas ainda não é e certamente não será língua, muito menos dialecto”. Há linguarejares ilhéus que reflectem realidades tão diversas e ricas como, por exemplo, a realidade dos baleeiros do Pico.
Pego no telemóvel e envio a seguinte mensagem: “Só para deixar um último beijo continental. Estamos a embarcar”. É como se uma porta se fechasse e para além dela ficasse metade de mim…A minha metade continental; a minha juventude, os meus Pais e amigos que estão na minha vida quase desde que nasci e outros mais recentes mas que também amo; ficou o “Ana Maria”, o Bom dia Menina que oiço quando ando nas ruas da minha infância; ficaram as livrarias, as discotecas onde me “abasteço” dos livros e cds que me fazem pagar o excesso de bagagem que a SATA não perdoa; ficou o “Rio da minha Aldeia” que por sê-lo é o mais belo do mundo, é único; ficou a feira das Sextas-Feiras onde compro, mas acima de tudo me passeio e passeio os olhos na fartura da fruta colorida, no verde dos legumes, nas loiças, calçado, roupa, peixes…nos ciganos que asseguram vender peças originais de marcas famosas ao preço da chuva. Ir aos ciganos é uma obrigação, mesmo que não tenha intenção de comprar seja o que for pois a festa do pregão, o remexer nas roupas amontoadas é um prazer indescritível. Na feira de Vila do Conde vende-se de tudo ou quase tudo, desde mobílias a peixe a preços inacreditavelmente baratos comparando com o que pagamos em Santa Maria. Quando, paro na dona Elisa, fornecedora da fruta que se come em casa dos meus pais, olho para preços e penso: “como é possível lá (e este lá quer dizer Santa Maria) a fruta ser tão cara? E não falo em diferença de cêntimos mas de mais de um euro em cada quilo.
Mas o que nos torna, verdadeiramente, continentais é o agora estarmos em Lisboa e mais logo à distância de 13 euros, em Vila do Conde. Eu de Lisboa não vejo as luzes dos carros que circulam em Vila do Conde e, no entanto, para lá chegar pago, apenas, 13 Euros.
Estou, neste momento, a bordo do avião. A distância que me separa do continente cada vez maior e a que me aproxima de casa cada vez mais curta. O meu coração acelera emocionada. Já tinha saudades de casa, da ilha que me limita, que fez e faz a outra metade de mim. A metade que olha o cais a partir do forte e sorri, a que se levanta mais cedo e de máquina ao pescoço vai ao cais pela milésima vez tirar mais uma foto (hoje o céu está lindo e o mar espelha-o como nunca). Esta metade Ana Loura que “nasceu” na ilha vai fazer 25 anos em Julho; a Ana Loura que ama a Ilha, que se envolve, se empenha e se dá à Ilha como se não fosse ilhéu de poucos anos mas de toda a vida. Estou voltando para casa, apesar de muitas coisas que não poderei falar neste momento, não para um degredo, mas para a terra onde os meus filhos nasceram trazidos à luz não por gente anónima numa qualquer maternidade, mas por gente com rosto e nome porque a Ilha é ilha.
Esta sou eu, dividida, pelo ser e o não ser ilhéu, pela saudade do lá quando estou cá e pela saudade do cá quando lá estou.
Abraços sejam eles quais forem
A bordo do avião, o ecrã indica que estamos a sobrevoar Santa Maria, 11 de Dezembro de 2005
Ana Maria/Ana Loura
1 comentário:
Ainda não conhecia esta tua crónica. Parabéns pela insistência das tuas crónicas, quando todos desistem, mas tunão ( parece que conheço um poema assim). Parabéns porque a cada crónica se descobre as tuas enormes potencialidades para a escrita, e a tua essencia.
Gostei de sentir este teu sentir, afinal já és matade cagarra, metade azurarense ( se á assim que se diz). Saudades da ilha sim, das belezas naturais, da família tb...o resto sabes a minha opinião.
A continuares assim, acho que acabas sendo contratada pelo Baluarte ....opppsssss...esqueci que a cor rosa do papel que imprimem as noticias, só aceitam letras rosa também ;))
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