14 de maio de 2007

"Fulgor e morte de Joaquim Murieta"


Fotos retiradas das internet. Tenho pena de nao ter podido fazer, ao menos, uma foto do espectaculo, mas as novas regras nao o permitem, e muito bem


Bom dia!

“A sua cabeça cortada reclamou esta cantata e eu escrevi-a não só como uma oratória insurreccional, mas como uma certidão de nascimento.”




Pablo Neruda




Diz Vlodia Teitelboin: “Nos dias em que andava de esconderijo em esconderijo sob o regime de Gabriel Gonzalez Videla, Neruda encontrou num acetinado exemplar da National Geographic Magazine a reprodução do cartaz que anunciava a exibição da cabeça de Joaquim Murieta na feira, um facto até então desconhecido. Quando visitou a Califórnia, percorreu as pistas de Murieta e recolheu material.”




O resultado desta recolha é uma peça teatral feita em poema onde é contada a vida, o fulgor e a morte de Joaquim Murieta, provavelmente, Chileno, de Valparaíso, cidade portenha de onde partiram muitos dos exploradores que, na mira de enriquecerem, ou pelo menos deixarem de passar fome se fizeram ao mar e aportaram à Califórnia nos meados do Século XIX na chamada corrida ao ouro.




Sabemos que os primeiros europeus a aportarem ao Novo Mundo com intuitos povoadores foram os Britânicos, que tomaram as terras aos índios, povos locais, os espoliaram, os dizimaram para se fixarem nas terras férteis. Saíam da Europa, em muitos dos casos, com títulos de posse de terras onde as tribos indígenas viviam e quando lá chegavam apoderavam-se das terras que lhes tinhas sido “dadas” por Sua majestade. Há relatos impressionantes das lutas travadas pelos índios na defesa do que lhes pertencia, as suas terras, e dos ataques dos europeus na conquista, e como diz Fausto “Quem conquista sempre rouba”, das terras. Relatos de uma violência de quase fazer corar os mais sanguinários autores de atentados actuais. Aldeias inteiras dizimadas, aldeias onde muitas vezes se encontravam, apenas, mulheres, crianças e idosos pois os homens válidos estavam ou a caçar, ou mesmo a atacar os inimigos brancos.




Quando os americanos do Sul, Chile e outros, chegaram à Califórnia para a “Corrida ao ouro”, foram mal recebidos pelos “ingleses” por temerem concorrência, tendo sido tratados como o foram os Índios americanos e os negros. Ora, acontece que um meio-irmão de Murieta é assassinado pelas costas acusado de um crime que não tinha cometido. Murieta jura vingança. Pouco tempo depois é a sua amada Rosa que é violada e barbaramente assassinada. Murieta a partir desse dia tornou-se num “ bandido” em defesa dos latinos perseguidos e humilhados pelos “britânicos” Para estes, todos os que não são loiros ou de pele branca são alvos a abater. Murieta assalta caravanas, rouba o ouro e mata em nome da defesa da liberdade dos seus iguais, contra a opressão exercida pelos que se consideravam donos de um país roubado aos Índios.




Murieta é caçado, é prometida choruda quantia a quem o caçar, e, finalmente, encontrado. É abatido após longo tiroteio. É decapitado e a sua cabeça conservada em álcool é exibida nas feiras como troféu para exemplo daqueles que ainda têm a veleidade de contestar o “direito” americano sobre a Califórnia e o ouro.




Diz Roberto Merino, chileno, encenador de Fulgor e morte de Joaquim Murieta: “Nós vivemos a época do imperialismo na América latina, mas hoje essa etapa está ultrapassada: pela primeira vez temos presidentes de origem indígena que lutam pela nacionalização das grandes riquezas dos povos americanos…Hoje ninguém questiona que o petróleo da Venezuela seja dos Venezuelanos ou que o gás da Bolívia seja dos bolivianos…Mas, nessa época (anos 70) não nos deixaram construir o nosso sonho, o sonho de um país para todos e não apenas para alguns…Assim sendo, o sentido político desta peça está e estará sempre presente, sempre vigente.”




A peça termina com referências ao 11 de Setembro, não do World Trade Center, mas a do golpe Militar de Pinochet. É um grito quase surdo de revolta e ao mesmo tempo de esperança.




Quem sabe o pelouro da Cultura da nossa Câmara não se interessa por levar a Santa Maria este grande trabalho, não será mais caro do que qualquer espectáculo pimba e, pelo menos, é cultura.




Aqui fica a sugestão e os contactos: Teatro Art’Imagem, Rua da Picaria, 89, 4050-478 Porto, Telefone 222084014




Abraços marienses
Árvore, 14 de Maio de 2007
Ana Loura

3 comentários:

Tiber disse...

Olá
Obrigado pelas tuas visitas ao meu cantinho.. e tenho pena de não retribuir como devia, mas o trabalho não tem ajudado muito... De qualquer forma, é sempre bom passar por aqui e ler o que escreves...
Quanto ao Murieta, não sei se é o mesmo mas há muito, muito tempo vi um filme chamado Joaquin Murieta... Uma daquelas "coboiadas" à Antiga americana... Curioso que ultimamente tem me dado para recordações... A idade não perdoa!

Beijo
Tiber

Ana Loura disse...

Pois é, meu querido amigo, para os americanos qualquer tema serve, principalmente os que poderão mostrar a grandeza dos outros, para fazer uma "caboiada" ou uma "opera de sabão". De facto, parece que mesmo a lenda de Zorro é baseada na vida de Murieta e esse que viste nesse filme deve, também, ser o mesmo. Andei a investigar na net e há teorias contraditórias e uma delas é de que ele seria apenas um bandido sanguinário.

Beijinho

Natália de Abreu disse...

Vi várias fotografias suas no "ZOOM - Clube de Fotografia", onde já nos tem abrilhantado com a qualidade das fotografias...

Parabéns por retratar tão bem a vida mariense.

Bjs nata