30 de julho de 2007

"Calafonas"

Bom dia!

Como, penso, toda a gente sabe há um sítio na Internet onde guardo à vista de quem lá quer ir as crónicas que escrevo para vos ler aqui todas as semanas. Esse sítio é o meu blog Mulheres de Atenas cujo endereço é www.luadosacores.blogspot.com. Quem lá vai ler pode, se assim o emtender, deixar comentário, dizer o que pensa sobre o assunto da crónica, desde que o faça com urbanidade, sem insultar, sem ofender. Não é o caso de mais um anónimo que se sentiu com as críticas que fiz às queimadas realizadas no Aeroporto, se calhar até foi ele o “mandante”, quem sabe…Mas foram deixados comentários dignos de serem lidos. Um dos comentário, complemento a um anterior, reza o seguinte: “Outra coisa "fense"?? Eu fiz uma pesquisa no dicionário e o único termo aplicável que encontrei foi "vedação" não sei, mas, parece que esta palavra é estranha para certas pessoas. Infelizmente isto acontece cada vez mais vezes é uma pena ver a língua de Camões banalizada desta forma...”. Por me parecer que a pessoa que escreveu não conhece pormenores das nossas vivências de ilhéus eu apressei-me a tentar esclarecê-lo escrevendo um pequenino texto que passo a transcrever:

Quanto ao fense, tem razão, há que "traduzir". Como saberá Santa Maria e outras ilhas dos Açores têm forte influência da língua inglesa dos USA. Santa Maria, primeiro pela estadia dos engenheiros e técnicos para construção do aeroporto já quase no final da segunda Grande Guerra e depois pelo grande fluxo migratório de marienses para lá (EU). Quando fui para os Açores, Faial, comecei por ler Manuel Ferreira, Dias de Melo e Vitorino Nemésio e cedo me habituei às palavras suera, pana, mapa. Mas mesmo assim, estando eu em Santa Maria há mais de um ano uma amiga, não me recordo em que contexto fala-me num colchão de espurinas (nem sei bem se será essa a palavra) fiquei minente (ara, esta eu aprendi bem depois...). Há imensas palavras ligadas à aeronáutica e aeroportuária e fense é uma delas e sim, é a vedação que separa os terrenos aeroportuários própriamente ditos do resto da área do aeroporto onde está implantado o parque habitacional, oficinas gerais, capela, supermercado...Obrigada pela chamada de atenção e beijinho (sejas lá quem fores) Vou colocar este meu comentário em adenda ao post.

Ora, esta troca de palavras sobre as palavras que são muito nossas, mas de origem nos Estados Unidos da América fez com que eu me lembrasse que esta é a época, por excelência, para a visita dos nossos emigrantes. É vê-los a desembarcarem no terminal do aeroporto carregados com as bégas (malas) a “cheirar à América” atadas com cordas não vá rebentarem pelas costuras de tanto “candim” (rebuçados e afins) e “gamas” (chiclets, pastilhas elásticas), Hersheys (marca de chocolates dos mais apreciados) “snickers” (sapatilhas, ténis), latas de milho, cereais, coisas que se calhar deveria tem vindo à frente num bidão mas que o medo que não chegassem a tempo fizeram com que se tivesse pago muitos “taxes” de excesso de bagagem. É vê-los nos Impérios, com as roupas à moda da “Amerca”, eles de calças de cintura subida e elas com rendas aplicadas em tecidos finos de cores berrantes, sandálinhas de salto muito alto e fino, cabelos compridos, madeixas ou nuances, ondulados e franja levantada à força de laca, a falarem, os mais velhos, um misto de português com pronúncia da “Serra” (Santa Bárbara e Santo Espírito) e um inglês americano aportuguesado onde as palavras, as tais que o meu comentador não entende, apesar de já pertencerem ao nosso vocabulário corrente e por serem a maioria, os faz serem notados; os mais novos, vestindo calças de ganga com o gancho a chegar aos joelhos, T shirts “góticos” ou com as caras dos seus ídolos eavy metal, falam só em inglês mas ainda com algum sotaque da “serra” um pouco acanhados alguns pela diferença de vivências que encontram na terra dos seus pais e dos seus avós, vêm porque a isso são quase obrigados pois pouco lhes diz o como e o que se vive nas ilhas, mas mesmo assim colaboram na realização do Império que o pai ou a mãe prometeu quando ele ou a irmã estiveram doentes e, finalmente, conseguem pagar este ano. São assim os nossos “Calafonas” (de Califórnia, destino de muitos marienses), gostam que saibamos que estão cá, que, este ano, vieram à terra matar as saudades, alguns de muitos anos.

Desejo-lhes boa estadia nesta ilha que apesar de estarem longe, ainda, é sua.

Abraços marienses
Árvore, 30 de Julho de 2007
Ana Loura

2 comentários:

Luís Alves de Fraga disse...

Excelente explicação!
É mesmo assim. E os calafonas também.

É que, sendo natural aqui do continente tenho as minhas mais antigas e pasadas âncoras presas no calhau rolado das ilhas açorianas.

Voltarei

Anónimo disse...

Olá Ana,
Vale apena ouvir:
Os calafãs
E... o Já se sabe (esta é mesmo da minha querida VFC).
Bom domingo

http://www.joaoarruda.net/smiguel/mp3.html