12 de maio de 2008

O jardim do meu vizinho e Peregrinos, a Esperança















Bom dia!


O meu vizinho da frente é agricultor e criador de gado bovino. Para construírem a estação do Metro “comeram-lhe” uma larga fatia do campo anexo à casa. “Comeram” a preço baixo, a preço de bem necessário para o bem comum. O meu vizinho não achou piada ao facto de ter de ficar com menos meios de produção, mas como o bem comum é uma exigência incontornável, depois de se calçar em termos jurídicos, habituou-se à ideia e lá vive sem a fatia de terreno do bem comum. O meu vizinho da frente tem um jardim pequenino mas lindo! Há dias encontrei-o com a esposa à porta de casa e o jardinzinho veio à baila “Vizinhos, gosto muito do vosso jardim, os arbustos tem tons de verde tão diferentes e tão lindos. Está tão bem tratado…” “Pois está, mas sabe que nos vão cortar mais uma fatia e vamos ficar sem ele?” “Não diga, mas ainda não cortaram as fatias todas? A estação já está pronta” “ Pois está, mas desta vez vão desviar a estrada e fazê-la ao longo da linha do Metro” Cá se vai mais uma fatia para o bem comum… Este diálogo já tem mais de um mês. Hoje quando saía de casa ouço o jardim do vizinho a ser regado, atravesso a rua e confirmo, o jardim tem a relva impecavelmente cortada, está sem ervas daninhas, as coroas imperiais estão a florir, os arbustos estão podados. Interroguei-me: O que leva a este casal a continuar a cuidar de um jardim que tem os dias contados? Será que é a certeza que têm as pessoas que lidam com a natureza de que há sempre Primavera queira o Homem ou não? Não sei. O certo é que o jardim do vizinho com morte anunciada para breve continua a ser cuidado como se cuida um condenado que está no corredor da morte mas tem a esperança que o indulto seja decretado no próximo Dia Nacional.
Comentário da minha querida amiga Lila com quem vou falando no MSN enquanto alinhavo as palavras com que vos escrevo: “assim nós cultivássemos o nosso jardim interior, que bem sabemos que terá um fim à vista, mas deixamos desleixado tantas vezes como se tivéssemos todo o tempo da eternidade”



Foto retirada do site de Fátima
Há dias estava eu a almoçar e no Telejornal da SIC passaram uma reportagem sobre os Peregrinos de Fátima e sobre os apoios que recebem pelo caminho. Diz um colega meu “E se montássemos uma empresa de apoio aos Peregrinos? Ia-mos ganhar balúrdios” A conversa girou, em tom de riso e alguma chacota em torno do tema, mas depressa a comida veio para a mesa e foi esquecida.

Antes de ontem a minha cunhada e a minha sobrinha vieram, juntamente com os meus pais, festejar comigo e o meu filho o Espírito Santo à roda de uma sopas que preparei com pão, endro e hortelã marienses, (a carne comprei-a cá) e molhos, alheira, morcela e chouriço, também vindos da Ilha do Sol. O meu irmão acabava de chegar a Fátima em peregrinação. Claro que a conversa rodou em torno da peregrinação do meu irmão, dos motivos que o teriam levado a ir. A minha Mãe insistiu em saber se teria sido por promessa, mas ficou na mesma pois as promessas, se existem, são do foro íntimo de cada um e a minha cunhada respeitando essa intimidade de pensamentos nunca o perguntou ao marido.
Diz a minha Mãe: "sempre gostei muito de jogar (lotaria) um dia, há muitos anos tinha 50 escudos, os últimos, comprei uma cautela, e rezei a Nossa Senhora "Fazei com que me saia. Se me sair vou a Fátima a pé". Os dias foram passando e quanto mais se aproximava o dia do sorteio eu comecei a ficar arrependida de ter feito a promessa e na véspera rezei "Nossa Senhora, por favor, faz com que não me saia nada, eu não quero ir a Fátima a pé" Nossa Senhora fez-me a vontade: Não saiu nada!!!!!!



O meu irmão foi a Fátima integrado num grupo de mais de 400 pessoas numa organização de uma Associação de Solidariedade Social de Paredes, dessas associações que tinham aparecido no tal telejornal que tinha merecido a troca de palavras bem dispostas no nosso almoço, dias atrás, e eu perguntei à minha cunhada quanto teria o meu irmão “pago” para ser apoiado durante os todos (acho que quase 5) dias em que comeu três refeições bem servidas, tomou banho todos os dias, dormiu bem acomodado, teve os pés tratados das bolhas e feridas, foi levado ao hospital por causa de uma infecção nos dentes, teve a maleta das roupas, poucas, e escova de dentes transportada num camião e descarregada junto às camas onde dormiu, fruta e água durante a caminhada à descrição. Fiquei boquiaberta! O meu irmão por tudo isso contribuiu com pouco mais de 100 euros. Coitado do meu colega, nunca na vida enriqueceria.




Abençoados os voluntários que deram de si e do seu tempo para que mais de quatrocentas pessoas peregrinassem a Fátima em pagamento de promessas, ou não. Esses sim, são ricos de boa vontade e amor ao próximo.




Abraços marienses
Árvore, 13 de Maio de 2008
Ana Loura

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