imagem tirada da net, uma carroça sem cão
Cão de carroça
Ainda se vêem pelas estradas de S. Miguel carroças puxadas por cavalos ou mulas onde pequenos lavradores (os grandes já utilizam tractores ou camiões) transportam as bilhas com o leite do pasto aos postos de recolha das fábricas. É raro não se verem por baixo das carroças caminhar pelo menos um cão de fila que de vez em quando sai do seu lugar para dar uma volta, alçar a perna contra uma das árvores da berma da estrada, cumprimentar o companheiro que guarda um dos pastos por onde passa ou apenas para passear sem ter como céu o fundo da carroça. São chamados Cães de carroça. Não consta que algum aquando das suas saídas higiénicas ou sociais não tenha voltado para debaixo da carroça que lhe servia de céu pelo que se construiu o mito de que “cão de carroça volta sempre”.
Contou-me um amigo há anos que um colega de trabalho dava as suas “facadinhas no casamento”, “pulava a cerca”, tinha os seus devaneios amorosos extra conjugais. A esposa traída, que acabava quase sempre por saber que “andava moira na costa” pois o marido “andava num sino”, a pentear o cabelo pela terceira vez pela manhã, a dar-lhe o segundo beijo de despedida com ar ausente e sorriso aparvalhado nessas alturas de paixão efémera mas infinita enquanto durava, dizia a quem lhe vinha bichanar, “na melhor das intenções” que fulano, amigo de sicrano tinha visto o infiel marido enlevado na companhia da ruiva flamejante ou da morena escultural no restaurante tal ou no bar da moda, ou quando no cabeleireiro a manicur entre limadela de unha e pincelada de verniz e a meia voz, o suficiente para que todo o salão ouvisse, comentava que aquela amiga do peito da esposa naquele mesmo dia de manhã tinha confidenciado à menina que chegava os rolos à outra menina que lhe fazia a mise que o marido da sua melhor amiga, e toda a gente sabia a quem ela se referia, estava na véspera naquele recanto da Praia do Pópulo de mãozinha dada com a cunhada do Dr. Antonino (nome fictício, claro). A esposa sorria e dizia: “o meu Armando (nome fictício, claro) é cão de carroça, dá as suas voltinhas mas volta sempre”. Um dia Armando não voltou! Encontrou outra “carroça”mais jovem, pele nacarada e macia, sorriso meigo, gargalhada espontânea sempre que ele contava uma tontice qualquer, a servir-lhe de céu estrelado e azul com cânticos de anjos acompanhados de harpas harmoniosas e sininhos celestiais, mesa farta de pitéus refinadíssimos e cascatas do melhor champagne francês. Diz quem sabe que Armando (nome fictício, claro) “esgalhava” ao volante do veículo que pilotava para que o dia de trabalho terminasse rápido e poder aninhar-se debaixo da sua nova carroça com um sorriso ainda aparvalhado mas feliz.
A esposa traída continuará à espera que se cumpra o mito e o seu "cão de carroça " volte. Espero que bem sentada numa boa almofada.
Ainda se vêem pelas estradas de S. Miguel carroças puxadas por cavalos ou mulas onde pequenos lavradores (os grandes já utilizam tractores ou camiões) transportam as bilhas com o leite do pasto aos postos de recolha das fábricas. É raro não se verem por baixo das carroças caminhar pelo menos um cão de fila que de vez em quando sai do seu lugar para dar uma volta, alçar a perna contra uma das árvores da berma da estrada, cumprimentar o companheiro que guarda um dos pastos por onde passa ou apenas para passear sem ter como céu o fundo da carroça. São chamados Cães de carroça. Não consta que algum aquando das suas saídas higiénicas ou sociais não tenha voltado para debaixo da carroça que lhe servia de céu pelo que se construiu o mito de que “cão de carroça volta sempre”.
Contou-me um amigo há anos que um colega de trabalho dava as suas “facadinhas no casamento”, “pulava a cerca”, tinha os seus devaneios amorosos extra conjugais. A esposa traída, que acabava quase sempre por saber que “andava moira na costa” pois o marido “andava num sino”, a pentear o cabelo pela terceira vez pela manhã, a dar-lhe o segundo beijo de despedida com ar ausente e sorriso aparvalhado nessas alturas de paixão efémera mas infinita enquanto durava, dizia a quem lhe vinha bichanar, “na melhor das intenções” que fulano, amigo de sicrano tinha visto o infiel marido enlevado na companhia da ruiva flamejante ou da morena escultural no restaurante tal ou no bar da moda, ou quando no cabeleireiro a manicur entre limadela de unha e pincelada de verniz e a meia voz, o suficiente para que todo o salão ouvisse, comentava que aquela amiga do peito da esposa naquele mesmo dia de manhã tinha confidenciado à menina que chegava os rolos à outra menina que lhe fazia a mise que o marido da sua melhor amiga, e toda a gente sabia a quem ela se referia, estava na véspera naquele recanto da Praia do Pópulo de mãozinha dada com a cunhada do Dr. Antonino (nome fictício, claro). A esposa sorria e dizia: “o meu Armando (nome fictício, claro) é cão de carroça, dá as suas voltinhas mas volta sempre”. Um dia Armando não voltou! Encontrou outra “carroça”mais jovem, pele nacarada e macia, sorriso meigo, gargalhada espontânea sempre que ele contava uma tontice qualquer, a servir-lhe de céu estrelado e azul com cânticos de anjos acompanhados de harpas harmoniosas e sininhos celestiais, mesa farta de pitéus refinadíssimos e cascatas do melhor champagne francês. Diz quem sabe que Armando (nome fictício, claro) “esgalhava” ao volante do veículo que pilotava para que o dia de trabalho terminasse rápido e poder aninhar-se debaixo da sua nova carroça com um sorriso ainda aparvalhado mas feliz.
A esposa traída continuará à espera que se cumpra o mito e o seu "cão de carroça " volte. Espero que bem sentada numa boa almofada.
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