9 de maio de 2005

Barbárie- Imagine

Foto da praça de touros trazida do continente de propósito e montada no campo de futebol do aeroporto para a realização da tourada

Começo, hoje, a colocar no Mulheres de Atenas crónicas antigas que quero que não se percam



MAGINE
Imagine que alguém vai a sua casa e, à força o leva, o mete num contentor, o transporta por mar durante alguns dias, mal alimentado, encurralado, empacado com outros irmãos seus sem se poderem mexer. Chegam a terra, e quando entendem, abrem a porta e esta dá para um quarto cuja única saída é a porta por onde você entrou e que acabou de ser fechada. Você que pensou que aquela porta se tinha aberto para a liberdade, para o devolver a casa e…nada disso. À sua frente está um terrível monstro que o ameaça, o cita, o provoca. Aterrorizado você só tem duas hipóteses, ou sair dali, o que é impossível porque a porta está fechada, ou livrar-se do monstro, por isso toma balanço, fecha os olhos e investe. Quando chega ao pé do monstro sente um ferro cravar-se nas suas carnes, a dor é imensa, insuportável, o sangue escorre pela sua pele, os seus olhos enevoam-se e nada mais lhe resta senão continuar a lutar, mas o adversário é inteligente, tem um aliado precioso, o cavalo, ágil e bem treinado. Você volta a investir, uma, duas, três vezes e de cada uma mais um ferro é espetado nas suas costas e, que por terem arpões cada vez que se mexe se agarram mais à sua carne e com o balanço a dor é cada vez maior e insuportável, começa a ter febre, o sangue quente e húmido escorre cada vez mais, as forças faltam-lhe, não sabe já para onde se virar e pede ao seu deus que o tire dali, que o sofrimento já ultrapassou há muito o limite das suas forças. No meio daquela tortura sanguinária você consegue ter a noção de que afinal não está sozinho com o monstro, monstros iguais, muitos, estão à volta dessa sala, noutra sala, e assistem ao que se passa, aplaudem, gritam de gozo, de emoção, atiram ao ar chapéus, almofadas, fotografam, deliram. A banda toca música. A porta do quarto abre-se e o monstro que o torturou sai e, você, confuso, quer também sair, mas a porta fecha-se no seu nariz. Olhos rasos de lágrimas, tendo a certeza de que nunca mais ver os seus, morrendo de dores e de febre ainda tem uma prova final: uma dezena de monstros entra no quarto, quase não os vê devido às lágrimas, mas eles gritam, esbracejam, correm para si e param, recuam, voltam a gritar, e você com os malditos ferros a queimarem-lhe a carne, o sangue a escorrer quente e húmido pelas costas abaixo, chora de raiva, toma balanço e investe…qualquer coisa bate forte na sua cara e tapa-lhe os olhos, serão os monstros? Agarram-se à sua carne dorida, arrastam-no pelo chão e as forças a esvaírem-se com o sangue que se esvai. Meu Deus mandai-me a morte depressa, que dores horrorosas.
Finalmente abre-se a porta, uns parentes seus vêm buscá-lo, você duvida, mas acaba por segui-los até ao contentor de onde tinha saído. A porta fecha-se, você cai desfalecido no chão, a febre e as dores são tantas que delira e sonha que está em casa, no meio dos seus…mas a realidade é que está a morrer por cada gota de sangue que sai da sua carne torturada. E lá longe continua a ouvir os gritos da multidão de monstros em êxtase…outro dos seus entrou na arena, a barbárie continua.
Cito texto retirado do Site internacional contra as touradas:“Não há justificação moral para recusar ter em consideração o sofrimento de um ser, seja ele animal humano ou animal não humano. Os animais são seres sensientes que experienciam alegria, felicidade, medo e dor do mesmo modo que os animais humanos. Ninguém tem o direito de os fazer sofrer para diversão. Se qualquer tortura infligida a um animal merece ser condenada, as touradas são a pior forma de tortura uma vez que são feitas em nome do entretenimento. Temos que acabar com toda a tortura praticada sobre os animais e terminar de uma vez por todas com estes espectáculos de brutalidade e violência. Quem tortura animais e lhes inflige sofrimento mais tarde ou mais cedo fará o mesmo com o seu semelhante.”
Em Santa Maria vai comemorar-se a Autonomia com a barbárie, com a tortura de animais que como nós sentem a dor. Em pleno século XXI! Tenhamos a coragem de dizer não, de não pormos lá os pés e denunciarmos um espectáculo que assenta na tortura, na dor e na violência e que para além disso é pago pelo Governo Regional com o dinheiro de todos nós, portanto, também, com dinheiro meu que sou contra e aqui o declaro.
Abraços marienses
Ana Loura
Santa Maria, 09 de Maio de 2005
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Circulo de Amigos de S Lourenço (entidade organizadora): casl@caslourenco.com

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