10 de maio de 2004

Bull Sheet ou a besta apocalítica

Impossível tirar os olhos do ecrã da televisão. O horror atinge tais limites que incrédula e boquiaberta penso estar a assistir a um filme de terror. É pura ficção o que os meus olhos vêm. Mas a voz do locutor fala no português habitual dos nossos noticiários e o que vejo é real: seres humanos, tão humanos quanto eu, torturam e humilham outros seres humanos, tão humanos quanto eu e quanto eles próprios. "Seres humanos" nascidos e criados na nação "mais civilizada" do planeta Terra são os actores principais deste filme. Como, há muitos anos, no Far West não conheceram limites para conquistarem (quem conquista sempre rouba, diz o Fausto) aos índios as terras e os recursos para se poderem fixar e enriquecer e fazerem dos Estados Unidos um país rico onde a miséria e o desrespeito pelas minorias são de dimensões que ultrapassam a riqueza, os contrastes são escandalosos, um país de Roquefellers e de gente que morre de fome nas ruas perante a indiferença de quem passa, não conhecem limites para se imporem como nação política e economicamente poderosa.
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Num delírio da mais absoluta loucura divertem-se com o sofrimento e a humilhação que perpetram a filhos do povo que foram "libertar" das garras de um tirano que pelo menos tinha o mesmo sangue que os "libertos".
Falou-se neste Domingo no Apocalipse. Perguntou-se com que olhos olhamos o futuro, se há esperança, se o amanhã de paz é possível.
Sinceramente eu começo a ter vergonha de pertencer a esta humanidade, de saber que o ser humano é capaz de ultrapassar os limites da dor dos outros para seu prazer e alegria. Isto não é novo: tive oportunidade de ver um pouco do filme A Paixão de Cristo, exactamente a cena da flagelação em que os romanos invasores da palestina em nome da mesma "liberdade e Paz" que justificou que o exército Americano, com a conivência de alguns outros países incluindo o nosso pela mão do Senhor Barroso, invadisse o Iraque, flagelassem e crucificaram um inocente (os flageladores soltavam urros de felicidade ao flagelarem Cristo, os olhos brilhavam com o mesmo prazer que vimos nos olhos dos soldados americanos)...
Impossível que os graduados americanos desconhecessem o que se estava a passar. Agora vem o Presidente Bush dizer que lamente e irão ser abertos inquéritos...Bull sheet, como eles próprios dizem.
"Dou-vos um mandamento novo" disse o crucificado. Foi isto há dois mil anos... Haverá, ainda, esperança? Confio, apesar da tristeza que sinto, que ainda há, senão tudo seria em vão.
Boa semana
Santa Maria, 10 de Maio de 2004
Ana Loura

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