11 de junho de 2007

Porque não me apetece




Hoje não me apetece cronicar. Não me apetece e pronto.


Porquê? Não sei muito bem, mas se calhar é mesmo porque não me apetece. Ou porque ando cansada, sem vontade seja do que for, amorfa, com sono. Olho à minha volta e tudo me entedia. Estou farta! De quê? Cá sei…de tudo e de nada. Gostaria de adormecer sem hora para acordar. Gostaria de não acordar à hora “regulamentar”, ao bater das madrugadoras 7 horas como me acontece aos Sábados Domingos e feriados como se fossem vulgares dias de semana. Eu fico quietinha na cama à espera de reatar o sonho que nem estou certa de ter estado a sonhar, de voltar ao soninho reparador que tanta falta me faz. E posso dormir pois as tarefas a que, normalmente me proponho ao fim-de-semana, não têm hora marcada e não preciso de acordar tão cedo. Mas por artes de sei lá o quê, apesar do sono imenso, do tamanho da Légua da Póvoa, não consigo voltar aos braços do Morfeu. Começo a ficar irritada e então não vale a pena continuar na cama. O certo é que me fica o dia estragado. Tenho sono! E não tomando o cafezinho dos dias “normais” da semana ele não desaparece e passo o dia neste nem a dormir nem acordada, nesta “dormideira”, arrastando-me penosamente nas horas do dia e fico assim sem que me apeteça fazer rigorosamente nada…nem escrever a crónica…
Por isso e porque hoje não haverá “A crónica do dia” deixo-vos um poema de Fernando Pessoa

LIBERDADE


Ai que prazer

não cumprir um dever.

Ter um livro para ler

e não o fazer!

Ler é maçada,

estudar é nada.

O sol doira sem literatura.

O rio corre bem ou mal,

sem edição original.

E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal

como tem tempo, não tem pressa...


Livros são papéis pintados com tinta.

Estudar é uma coisa em que está indistinta

A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há bruma.

Esperar por D. Sebastião,

Quer venha ou não!


Grande é a poesia, a bondade e as danças...

Mas o melhor do mundo são as crianças,

Flores, música, o luar, e o sol que peca

Só quando, em vez de criar, seca.


E mais do que isto

É Jesus Cristo,

Que não sabia nada de finanças,

Nem consta que tivesse biblioteca...

Abraços marienses
Árvore, 11 de Junho de 2007
Ana Loura

4 comentários:

Anónimo disse...

É belo o poema e como na tua solidão conseguis-te enquadrar Fernando Pessoa !. Sabes fazem-nos falta as tuas crónicas mas essa é também uma forma de comunicar e como tantas vezes o que descreves nos acontece! há dias em que o mundo não tem graça nenhuma e mesmo assim parece, com a nossa apatia, ele se torna um gigante mais difícil de compreender e afinal nós é que não nos compreendemos . Sai dessa e volta à realdade para não sofreres tanto - ama a vida, as flores e as crianças mesmo que por vezes esse amor pareça irreal.
L.A.

Anónimo disse...

Não devemos permitir que os "papões" tomem conta da nossa felicidade,roubando-nos a paz e alegria de acordar e enfrentar um dia de luta.
Somos tão queixosos,quando há tantos que nem uma palavra têm a quem dirigir ou não têm que os escute.
Temos que ser gratas ao bom Pai,que nos abençoa dia a dia.
bjs e força....:)

Flávio Gonçalves disse...

Eu também ando em estado vegetativo ultimamente, mal escrevo sequer.

Abraço e melhoras.

Anónimo disse...

Obrigada Ana por nos lembrares uma das facetas do que eu chamo "querido amigo Pessoa": ele consegue ser brilhantemente tres num só e ao mesmo tempo nenhum nos tres! um brilhante retrato da complexidade do ser humano e posso dizer que no meu passado os seus livros salvaram-me de momentos de muita solidão e incompreensão de mim mesma.. sei que sentia-me menos só no meu sofrimento ao ler e sentir a dor do Pessoa..(egoísmo meu reconheço)..
Obrigada Ana sempre pelas tuas cronicas..
aproveita esses dias de tédio para descansar.. lol..
tédio passa, solidão é que é mais complicado.. mas tb aí o Pessoa me ajudou e mais tarde Deus claro..
bjs