18 de junho de 2007

Tradição-II Na casa dos Açores do Norte






Bom dia,


“A tradição já não é o que era” dizem muitos acerca de muitas das tradições do nosso Povo e, também, acerca de coisas mais corriqueiras e menos tradicionais. Sabemos que o verdadeiro significado da palavra tradição é, segundo a Infopédia:
1- transmissão oral dos factos, lendas, dogmas, etc., de uma sociedade, de geração em geração;
2- conjunto de práticas e doutrinas transmitidas de geração em geração;
3- memória, recordação
4- forma de pensar ou de agir herdada de gerações anteriores; uso; hábito;
5- RELIGIÃO (religião católica) tradição oral independente da Sagrada Escritura, vinda directamente de Cristo ou por intermédio dos Apóstolos, considerada como fonte de revelação divina, e, por consequência, tida como transmissora de verdades de fé;

Sou tradicionalista, adepta do tradicionalismo, (apego às tradições ou aos usos antigos; conservantismo; doutrina que faz da tradição a fonte e o critério da verdade) mas não sou conservadora, pelo contrário sou pelo progresso. Acho que todo o homem tem direito a usufruir das coisas boas que o progresso, em todas as áreas da vida, traz à humanidade, favorecendo sempre o aumento da qualidade de vida. Por ser tradicionalista e ao mesmo tempo progressista acho que tradições há que preservadas e vividas nos tempos que correm são aberrações, atentados ao progresso e a uma civilização que respeita, deverá respeitar, valores fundamentais de vivência e convivência com a natureza e falo especificamente das touradas, caçadas, lutas de galos, praxes académicas humilhantes, no S. João continuo a preferir o alho pôrro e a cidreira ao irritante martelinho, ou qualquer outra tradição que violente animais ou seres humanos.

Mas, as tradições não podem ser impostas, têm que ser explicadas, inculcadas (inculcar: dar indicações a respeito de; indicar; sugerir, propor, recomendar; infundir no ânimo, incutir) e assim serem mantidas com a alegria de quem entende que as tradições são o realizar, agora, as coisas que fizeram com que sejamos o que e como somos, as nossas raízes. Realizar um Império não pode, de forma alguma, ser apenas um cumprir de tradições, há que saber o que é um Império, porque surgiu e o que significa.

Ontem eu e o Pedro fomos ao Porto participar num Império realizado pela Casa dos Açores do Norte. As Casas dos Açores são organizações importantíssimas na divulgação da nossa cultura e tradições em todo o mundo onde há açorianos. Há-as no Algarve, em Lisboa, no Porto, em Ontário, Quebeque, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo e Winnipeg.

Foi o convidado de honra o Bispo Emérito (Jubilado, “reformado”) dos Açores D. Aurélio Granada Escudeiro que na Homilia acentuou que os Impérios devem ser realizados em Louvor efectivo do Espírito Santo e não apenas porque é tradição, porque na nossa terra se fazia e agora que estamos longe há que fazer como fazíamos lá. Concordo. Ao realizarmos um Império teremos que ter sempre presente, dar-lhe o cunho de louvor ao Divino, de festa, mas nunca sem esquecer o seu pendor de partilha. D. Aurélio lembrou que a Rainha Santa Isabel instituiu a realização dos Impérios em louvor do Espírito Santo, em Tomar, ao fazer colocar uma coroa na cabeça de um homem pobre e fazendo-o sentar num trono como que a lembrar-nos de que é no rosto de quem não tem, de quem sofre carência de pão que veremos o rosto de Jesus, que devemos fazer alvo de partilha do que temos aquele que não tem.

Depois da Missa de Coroação na lindíssima igreja do Convento da Nossa Senhora da Esperança, no Porto, foram servidas sopas e molha de carne à moda do Faial acompanhada por uma deliciosa Massa Sovada vinda de S Miguel, regadas com vinho Curral Atlantis tinto e para sobremesa arroz doce.

O convívio foi encerrado com chave de ouro com a arrematação de Massa Sovada vinda fresquinha de S Miguel e um cabaz para angariação de verba para ajudar uma açoreana que tem que se deslocar ao continente para tratamentos de quimioterapia (corrigenda: radioterapia). Como costumo dizer “migalhas é pão”, mas é preciso muito mais do que estas migalhas para ajudar essa pessoa e o espírito de Império, de partilha, não se esgota num dia e todas as dádivas serão bem vindas e poderão ser enviadas para: Casa dos Açores do Norte, Rua do Bonfim, 163, 4300-069 Porto.

Afinal, a tradição ainda é o que era. Cabe-nos a nós, ainda que longe da Ilha, educar os nossos filhos nas nossas tradições, mas não apenas para as cumprirmos, mas porque as tradições significam formas de afirmação de valores fundamentais.

Apenas uma pequena nota de rodapé: abriu, há dias, um estabelecimento "gourmet" de produtos genuinos açoreanos em Braga, Sabores dos Açores, foi de lá que vieram os vinhos, a massa, os artigos que compunham o cabaz e onde constava, até, a laranjada Melo Abreu. Estou inquietinha por lá ir.

Abraços marienses
Árvore, 18 de Julho de 2007
Ana Loura

8 comentários:

Anónimo disse...

Olá prima.
Que brilhante surpresa. Tou siderado com o teu apego às Ilhas. Percebo porquê, (ou julgo perceber).
Mas, desculpa lá, fiquei com uma fomeca!!!
Bjs
Zé e Carol

Anónimo disse...

Olá Ana,
Quem te quer ver feliz e ver-te numa festa que te lembre os Açores! Ainda bem que assim é pois mostra que ficas-te com uma costela de cá . Só tive pena que nesse Império que fos-te ao Porto, não tenhas dado por nada de Santa Maria ... nem a sopinha?? que pena Império Açoreano sem nada que lembre Santa Maria fica um pouco a desejar não é?? Bem eu até pensava que o Bispo D.Aurélio já estava mesmo reformado e ora vejam só ainda aguenta uma caminhada dessas!! mas é bem verdade quem está com Deus nunca tem idade para a Reforma completa. Também espero que a Srª. dos Açores tenha recebido uma boa ajuda para fazer a Radioterapia pois o Povo quando quer sabe ser generoso. Sei bem o que é precisar desses exames e são bem caros- mas para certas pessoas deviam ser de graça, nimguém tem culpa de ser pobre e os Governos deviam ver essas Situações.
Continua a amar a tradição, pois cada vez me surpreendes mais, ainda te hei-de ver como uma verdadeira Socialista, era o que eu mais queria ,sem ofensas claro , mas me parece que se enquadrava melhor com a tua maneira de ser.
Um abraço dos Açores.
L.A.

Ana Loura disse...

Obrigados, queridos Primos, pela vossa visita. Um destes dias convido-vos para provarem umas sopas aqui em casa. Claro que não têm o mesmo sabor como quando cozinhadas em caldeiros de ferro e lume de lenha, mas é o que tenho...

LA, gosto sempre da tua visita e gostaria de esclarecer umas coisinhas: Pelo que ´sei há já alguns anos, todos os anos a Casa convida uma das nossas Câmaras para que apoie a realização do Império. Há 3 anos, creio, foi a nossa e diga-se que terá brilhado. Vieram foliões, as sopas foram feitas a preceito, o Alberto veio prestigiar a função. Este ano terá sido convidada a Câmara das Velas, se não estou em erro, mas, como acontece com a maioria das Câmaras (a lei das Finanças Locais do PS , risos, veio espartilhar as finanças das Câmaras principalmente das mais pequenas)a Câmara estará de tanga e não apoiou. A Casa tinha decidido, inclusivé, não fazer Império. Mas, como entende a sua Direcção, que realizar um Império não é só cumprir calendário, fez uma coisa mais modesta, mas não deixou de "cumprir" a tradição de louvar o Divino.

Quanto ao ser "verdadeira Socialista, pois podes acreditar que o sou, quem não o é é a Direcção do PS que cada vez vira mais à direita e cada vez é mais Social-Democrata. Ainda ontem comentava com colegas que muitas vezes me foi dito, em relação ao escasso número de pessoas que embora apreciando a minha postura, não votaram nas listas da CDU, dizem "ter pena que eu não esteja no PS" e mo diziam claramente. Se eu estivesse no PS era exactamente como aqueles que lá estão, deixaria de ser como sou e eu ainda acredito que é possível uma sociedade mais justa em que pessoas que precisem de quimio ou radioterapia não precisem da contribuição directa e caridosa de pessoas porque as pessoas já contribuem pagando os impostos e o Estado tem de cumprir a sua função social. E isso é o que cada vez menos vemos. Só se safa quem é muito rico ou quem tem seguros de saúde associados às empresas onde trabalham, como é o meu caso.As taxas moderadoras sobem, as maternidades fecham, as valencias hospitalares são transferidas, as listas de espera não encurtam...enfim... Bom, quase escrevi, neste esclarecimento, uma nova crónica (risos) Mas há tempos que ando para escrever sobre a Utopia, vai ser um destes dias.

Deixo-te um beijinho e um até à Maré.

Anónimo disse...

Que o Espirito Santo ajude o quanto antes a instalar nos Açores um serviço condigno de Radioterapia (embora tenhas falado em quimioterapia, sei que frequentemente mts açorianos vao aí fazer radioterapia por nao existir cá ainda serviço de radio, outros simplesmente desistem...) para que os doentes desta terra nao tenham que se ver "aboiados" na doença para fora de suas casas.. imagino o quao dolorosa - para além de caro - e solitária não é a doença nessas circunstancias, longe da terra e de quem se ama..
Obrigada pela vossa boa Acçao..
quanto a festas, confesso que nao sou mt adepta, mas aprecio quem lhes capta o espirito e a alma, e nota-se que as vives na plenitude..
bjs
mcc

Anónimo disse...

...
Gostei deste post escorreito embora creia que há alguma contradição em ser-se progressista e tradicionalista ao mesmo tempo ! Cá por mim sou cada vez mais conservador e reaccionário, embora reconheça que há que fazer a necessária concordância prática com os bens materiais do progesso. Quanto ao culto do Divino é algo que está entranhado na alma dos Açorianos por mais que os progressistas pós-modernos se esforcem em desvalorizar a tradição. Cá por mim participo activamente no culto e nas festividades da minha Freguesia e creio que são sempre um momento de fraternidade e partilha que nos recorda a essência do Cristianismo. Não aquele dos ritos hierarquizados da Igreja Católica ( que sempre olhou de soslaio para o culto do DES ) mas sim aquele que vive no povo e que traça a matriz de uma identidade cultural e uma nacionalidade. Neste caso a Açoriana pois foi nestas ilhas que o culto sobreviveu e tem vindo a crescer.
JNAS

Anónimo disse...

Aguardo pela tua crónica sobre a utopia vai ser bom apreciar o teu trabalho. Quanto ao resto já sabia que irias reagir assim - mas não estou certa da tua teoria não podemos tomar o trigo pelo joio bons e maus há em todas as Direcções partidárias como bem sabes, eu refiro que gostaria que fosses uma verdadeira socialista e não o digo com qualquer sentido de ofensa, apenas porque acho que ser Socialista enquadra melhor com as tuas tomadas de posição ,é a minha opinião mas tambem me posso enganar ,
um
Beijinho
L.A.

Anónimo disse...
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Anónimo disse...

De certo modo concordo com L.A.
O fermento, fora da massa, não actua. É lá dentro que faz o seu trabalho.
Quanto à lenha e aos tachos/panelas de ferro deixa comigo. Pode ser em minha casa quando quiseres, e traz os teus queridos velhotes.
Um beijo do
Zé e Carolina