12 de novembro de 2007

Tabuada do Tempo- Cristóvão de Aguiar
















Fevereiro, 29

“À tulipa que Ela deixou num solitário sobre a secretária resta ainda vigor e saúde para me desejar os bons dias. Ao entrar no meu novo e tão velho refúgio, cuido ter ouvido a salvação dos seus lábios. Subi a persiana para que a paisagem, pesada e enegrecida de humidade, viesse enxugar-se e aquecer-se comigo a esta banca e se não sentisse tão sozinha e desolada. Apressam-se as horas a subir as cordas da manhã. Daqui a pouco terei que me erguer da banca e sair para a vida lá fora. Apetecia-ma ficar por aqui, esquecido entre mim, os livros e os papéis. Já vou suportando a vida um pouco melhor: consigo ver-lhe um til de sentido. Não sei se será de mim, mais cordato, mas sem deixar de ser cada vez mais exigente. Por vezes implacável. Lá de vez em quando sinto alguns acessos de escuridão apunhalando-me os raríssimos instantes de alegria que já se me afloram no íntimo como as borbulhas de água nos instantes que precedem a fervura. Ainda há pouco era noite escura. E mesmo com o Sol já nascido, mas invisível, continua uma húmida escuridade a embrulhar o dia que promete ser repassado de chuva e sobretudo de uma prolongada tristeza.”

O pequeno texto que acabo de ler pertence ao último livro editado do escritor açoriano Cristóvão de Aguiar apresentado pelo o jornalista, professor e investigador universitário, político e escritor, também açoriano, Mário Mesquita, no passado Sábado à noite na Casa dos Açores do Norte, A Tabuada do Tempo.

Disse Mário Mesquita que a escrita do autor, neste livro, oscila entre a autenticidade e o fingimento, que, portanto, o autor e o personagem se confundem, que o autor se desdobra, pois; um dia do século XXI remete-se para a sua infância. No livro há sempre memórias da infância, é um diário destinado a ser publicado (contrariamente aos diários que a maioria das pessoas escreve e que são “íntimos” e se destinam a “consumo” do próprio, palavras minhas). Mário Mesquita evidenciou algumas características da escrita do livro: que será um diário da trilogia “Relação de bordo”, portanto um Metadiário, que a entrada no presente remete, quase sempre, ao passado.É um livro de leitura estimulante pois quando se entra nele não se sai, o próprio livro impõe o ritmo da leitura.

Depois da apresentação feita por Mário Mesquita, o autor, Cristóvão de Aguiar, teceu algumas considerações, ele próprio. Disse que, de facto, o livro é um diário não o sendo na plena acepção do conceito pois “nenhum escritor se desnuda” e que “o livro tem a forma de um diário mas poderia não tê-la” que “não há no livro uma data específica” e que há vários espaços cénicos: A Ilha (S Miguel, o Pico da Pedra sua terra Natal, Bristol que se faz espaço sempre que fala de e com a Mãe) Bristol é o Pico da Pedra da minha infância. Ali se fala tal qual se falava há 50 anos.

Cristóvão de Aguiar rematou a sua curta intervenção dizendo “Sou um homem de Ilha”

Mais uma iniciativa da Casa dos Açores do Norte cujo Presidente, numa breve introdução resumiu os objectivos da existência da casa: Promover os Açores, divulgando-o e contribuir para o seu desenvolvimento como ficou patente na realização do primeiro Congresso do chá e com a promoção de uma viagem aos Açores de empresários do norte do continente. A Casa dos Açores no Norte é, também, aberta à cultura da Cidade do Porto realizando exposições, lançando livros não ligados aos Açores.

O muito interessante serão que começou com um jantar bem servido terminou com a actuação do Grupo Coral do Clube dos Colaboradores da AXA.

Continua a acontecer Açores aqui no continente e eu não perco uma oportunidade de viver esses momentos que me trazem o convívio e as falas das gentes de que sou parte

Abraços marienses
Árvore, 12 de Novembro de 2007
Ana Loura
Casas dos Açores: http://www.casadosacores.pt/ seleccionar norte-fotografias- Cristóvão de Aguiar

1 comentário:

Anónimo disse...

Tomei a liberdade de linkar esta notícia no meu blogue.
Pena não haver fotografias da assistência.