Imagem das comemorações realizadas em Lisboa da autoria de João Castela Cravo http://www.1000imagens.com/autor.asp?idautor=107
Autora: Ana Loura (Direitos reservados)
Bom dia!
Santa Maria festejou, mais uma vez, o dia da Liberdade com realizações de carácter desportivo e o desfile da fanfarra dos Bombeiros. Nenhuma realização politico/cultural foi promovida pelos responsáveis autárquicos ou pelos nossos representantes na Assembleia Regional. A única diferença dos anos anteriores foi a presença da atleta olímpica Rosa Mota que foi convidada pela Associação Juvenil de Santa Maria para vir sensibilizar a população, quer juvenil, quer de idade mais avançada para a saudável prática desportiva. A malta jovem aderiu muito bem à iniciativa da corrida que foi bem participada e animada e os mais velhos não tendo respondido ao apelo de fazerem uma marcha entre as Escola Secundária e o Jardim Municipal, estavam já no Jardim à espera.
A nível Nacional e Regional os festejos foram também os costumeiros e nas entrevistas que as televisões apresentaram nas peças sobre o tema a ignorância manifestada sobre a data foi comum na grande maioria dos entrevistados quer jovens quer mais velhos. Imagine-se que algumas das respostas à questão sobre o significado da data é que era o Dia da Independência!! E quando se perguntava independência de quê diziam do Fascismo. Ainda bem que ninguém perguntou quem era o Fascismo…
As preocupações manifestadas na cerimónia comemorativa realizada na Assembleia da República pelo Senhor Presidente da República no seu discurso institucional são pertinentes. É grave o desconhecimento geral sobre a História recente do país. Esta geração dos oito aos dezoito anos é de filhos e netos da geração que fez Abril pelo que a responsabilidade desta ignorância é dos pais e avós das criancinhas que não acham importante explicar à miudagem que as coisas já não foram assim como são hoje, que a Liberdade, houve tempos, em que se limitava a ser um sonho, um desejo urgente e inadiável; que nas escolas os rapazes tinham aulas numa sala e as raparigas noutra e os intervalos eram passados em recreios diferentes, que os professores que nos davam aulas tinham que assinar um documento onde declaravam que não exerciam qualquer actividade considerada contra a Ordem estabelecida, as professoras primárias tinham de pedir autorização ao Estado para casarem, as mulheres tinhas de ter autorização, por escrito, dos maridos para poderem viajar. Estas eram as menores limitações que a Liberdade tinha nos tempos da “Outra Senhora” e acho que serão os exemplos mais simples que poderemos dar aos nossos jovens. Eles pensam, na sua maioria, que estas coisas são estórias, fábulas e não História. Nas escolas de ensino básico o Fascismo tem que ser explicado para que as crianças entendam o que foi conquistado com a Revolução de Abril.
Houve uma declaração que vi/ouvi na RTP Açores que me pareceu anedota: Carlos César desbocou-se em observações jocosas sobre a ignorância, ou não, dos jovens quanto ao significado do 25 de Abril e, contrariamente ao que eu e Cavaco Silva, pelo menos, constatamos acerca da ignorância que a maior parte dos jovens demonstra, César acha que todos sabem muito bem a História e o significado da data e diz com um sorriso de orelha a orelha, que me levou a pensar que César estaria estranhamente eufórico, que apenas lhes falta saber o nome dos Heróis de Abril e que isso não é nem relevante nem necessário. Talvez também não seja necessário aos jovens saberem quem descobriu as ilhas dos Açores, bastando saber que foram descobertas, ou talvez nem isso deva de vir escrito nos compêndios pois se vivemos cá é porque elas foram descobertas e daqui a uns anos não precisarão, também, de saber quem foi o Presidente do Governo Açoriano que no dia 25 de Abril de 2008 disse tamanha bacorada. O nome dos Capitães de Abril, como o nome dos navegadores que descobriram as Ilhas, fizeram viagens de Circum-navegação, descobriram o Brasil, o nome dos Presidentes da República, dos Presidentes dos Governos, são História de Portugal
E porque Abril também é poesia ofereço-vos um texto que gostaria fosse da minha autoria. De Daniel de Sá, escritor Açoriano que viveu em Santa Maria e escreveu um lindíssimo livro “Santa Maria a Ilha Mãe”
TREZENTAS E QUARENTA PALAVRAS
(Em memória do Capitão Salgueiro Maia e do cantor José Afonso)
Conheces o gosto da anona? E o cheiro do incenso em flor nas noites húmidas? Talvez.
Mas com certeza não serás capaz de os explicar. Nem eu nem ninguém.
Existem coisas assim: os sabores, os cheiros, as cores, os sentimentos... Há muitos milhares de palavras, mas nenhumas são suficientes para dizer aquilo que só quando se sente se sabe como é.
Eu gostaria de inventar as palavras que faltam à nossa Língua, a todas as línguas do Mundo, para falar de Abril. Em Portugal. Num dia com cravos a florir nas espingardas, porque ninguém queria usá-las para matar.
Estavam cansados da guerra, uma guerra má como todas as guerras. Em Angola e em Moçambique e na Guiné. Era o medo em Portugal. Havia verdades que era proibido dizer. Havia muita gente que mal tinha que comer. Havia muita gente sem casa onde morar.
Foi na madrugada de 25 de Abril de 1974. Os homens que mandavam neste país, e que não queriam que ele mudasse, talvez dormissem àquela hora sem sonhar com o que ia acontecer. No rádio, uma canção começou: "Grândola, Vila Morena". (Uma revolta que começa com uma canção, sobretudo uma canção como aquela, tem de ser uma revolta boa). Era o sinal combinado. Os militares saíram dos quartéis para dizer ao governo que não o suportavam mais, mas ainda não se sabia quantos portugueses estavam no mesmo lado. Logo se percebeu que eram quase todos, afinal.
E a revolução tornou-se numa festa tão bonita que esse dia foi um dos mais belos da História de Portugal. Foi uma alegria tão grande que se chegou a pensar ter valido a pena tanto tempo de sofrimento e medo para que ela acontecesse...
Mas não! A água mais apetecida é a que se bebe depois de uma longa e penosa sede, e ninguém se deixa estar dois ou três dias sem beber só para ter um gosto enorme ao beber...
Se eu pudesse inventar as palavras que faltam à nossa Língua para dizer isto melhor, nunca mais haveria alguém capaz de duvidar de como foi lindo aquele dia, nunca mais ninguém haveria de permitir que alguma coisa, neste país, se parecesse com as coisas ruins de antes. E muito depressa se mudaria o que ainda não houve tempo de mudar.
Abraços marienses
Santa Maria, 28 de Abril de 2008
Ana Loura
Santa Maria festejou, mais uma vez, o dia da Liberdade com realizações de carácter desportivo e o desfile da fanfarra dos Bombeiros. Nenhuma realização politico/cultural foi promovida pelos responsáveis autárquicos ou pelos nossos representantes na Assembleia Regional. A única diferença dos anos anteriores foi a presença da atleta olímpica Rosa Mota que foi convidada pela Associação Juvenil de Santa Maria para vir sensibilizar a população, quer juvenil, quer de idade mais avançada para a saudável prática desportiva. A malta jovem aderiu muito bem à iniciativa da corrida que foi bem participada e animada e os mais velhos não tendo respondido ao apelo de fazerem uma marcha entre as Escola Secundária e o Jardim Municipal, estavam já no Jardim à espera.
A nível Nacional e Regional os festejos foram também os costumeiros e nas entrevistas que as televisões apresentaram nas peças sobre o tema a ignorância manifestada sobre a data foi comum na grande maioria dos entrevistados quer jovens quer mais velhos. Imagine-se que algumas das respostas à questão sobre o significado da data é que era o Dia da Independência!! E quando se perguntava independência de quê diziam do Fascismo. Ainda bem que ninguém perguntou quem era o Fascismo…
As preocupações manifestadas na cerimónia comemorativa realizada na Assembleia da República pelo Senhor Presidente da República no seu discurso institucional são pertinentes. É grave o desconhecimento geral sobre a História recente do país. Esta geração dos oito aos dezoito anos é de filhos e netos da geração que fez Abril pelo que a responsabilidade desta ignorância é dos pais e avós das criancinhas que não acham importante explicar à miudagem que as coisas já não foram assim como são hoje, que a Liberdade, houve tempos, em que se limitava a ser um sonho, um desejo urgente e inadiável; que nas escolas os rapazes tinham aulas numa sala e as raparigas noutra e os intervalos eram passados em recreios diferentes, que os professores que nos davam aulas tinham que assinar um documento onde declaravam que não exerciam qualquer actividade considerada contra a Ordem estabelecida, as professoras primárias tinham de pedir autorização ao Estado para casarem, as mulheres tinhas de ter autorização, por escrito, dos maridos para poderem viajar. Estas eram as menores limitações que a Liberdade tinha nos tempos da “Outra Senhora” e acho que serão os exemplos mais simples que poderemos dar aos nossos jovens. Eles pensam, na sua maioria, que estas coisas são estórias, fábulas e não História. Nas escolas de ensino básico o Fascismo tem que ser explicado para que as crianças entendam o que foi conquistado com a Revolução de Abril.
Houve uma declaração que vi/ouvi na RTP Açores que me pareceu anedota: Carlos César desbocou-se em observações jocosas sobre a ignorância, ou não, dos jovens quanto ao significado do 25 de Abril e, contrariamente ao que eu e Cavaco Silva, pelo menos, constatamos acerca da ignorância que a maior parte dos jovens demonstra, César acha que todos sabem muito bem a História e o significado da data e diz com um sorriso de orelha a orelha, que me levou a pensar que César estaria estranhamente eufórico, que apenas lhes falta saber o nome dos Heróis de Abril e que isso não é nem relevante nem necessário. Talvez também não seja necessário aos jovens saberem quem descobriu as ilhas dos Açores, bastando saber que foram descobertas, ou talvez nem isso deva de vir escrito nos compêndios pois se vivemos cá é porque elas foram descobertas e daqui a uns anos não precisarão, também, de saber quem foi o Presidente do Governo Açoriano que no dia 25 de Abril de 2008 disse tamanha bacorada. O nome dos Capitães de Abril, como o nome dos navegadores que descobriram as Ilhas, fizeram viagens de Circum-navegação, descobriram o Brasil, o nome dos Presidentes da República, dos Presidentes dos Governos, são História de Portugal
E porque Abril também é poesia ofereço-vos um texto que gostaria fosse da minha autoria. De Daniel de Sá, escritor Açoriano que viveu em Santa Maria e escreveu um lindíssimo livro “Santa Maria a Ilha Mãe”
TREZENTAS E QUARENTA PALAVRAS
(Em memória do Capitão Salgueiro Maia e do cantor José Afonso)
Conheces o gosto da anona? E o cheiro do incenso em flor nas noites húmidas? Talvez.
Mas com certeza não serás capaz de os explicar. Nem eu nem ninguém.
Existem coisas assim: os sabores, os cheiros, as cores, os sentimentos... Há muitos milhares de palavras, mas nenhumas são suficientes para dizer aquilo que só quando se sente se sabe como é.
Eu gostaria de inventar as palavras que faltam à nossa Língua, a todas as línguas do Mundo, para falar de Abril. Em Portugal. Num dia com cravos a florir nas espingardas, porque ninguém queria usá-las para matar.
Estavam cansados da guerra, uma guerra má como todas as guerras. Em Angola e em Moçambique e na Guiné. Era o medo em Portugal. Havia verdades que era proibido dizer. Havia muita gente que mal tinha que comer. Havia muita gente sem casa onde morar.
Foi na madrugada de 25 de Abril de 1974. Os homens que mandavam neste país, e que não queriam que ele mudasse, talvez dormissem àquela hora sem sonhar com o que ia acontecer. No rádio, uma canção começou: "Grândola, Vila Morena". (Uma revolta que começa com uma canção, sobretudo uma canção como aquela, tem de ser uma revolta boa). Era o sinal combinado. Os militares saíram dos quartéis para dizer ao governo que não o suportavam mais, mas ainda não se sabia quantos portugueses estavam no mesmo lado. Logo se percebeu que eram quase todos, afinal.
E a revolução tornou-se numa festa tão bonita que esse dia foi um dos mais belos da História de Portugal. Foi uma alegria tão grande que se chegou a pensar ter valido a pena tanto tempo de sofrimento e medo para que ela acontecesse...
Mas não! A água mais apetecida é a que se bebe depois de uma longa e penosa sede, e ninguém se deixa estar dois ou três dias sem beber só para ter um gosto enorme ao beber...
Se eu pudesse inventar as palavras que faltam à nossa Língua para dizer isto melhor, nunca mais haveria alguém capaz de duvidar de como foi lindo aquele dia, nunca mais ninguém haveria de permitir que alguma coisa, neste país, se parecesse com as coisas ruins de antes. E muito depressa se mudaria o que ainda não houve tempo de mudar.
Abraços marienses
Santa Maria, 28 de Abril de 2008
Ana Loura
1 comentário:
Pois é o discurso do sr.PR fala de uma tal estatistica sobre os jovens aqui acentuada pela Ana que é PC, mas hoje 30 gostei de ver desmentida a mesma estatistica por uma Jovem Também do PC e não desmentida pelo Velho deputado do CDS, NARANA, e Agora diga-me ANA quem tenta ludibriar os Jovens O Presidente da República ou a Jovem Comentadora do P.C mais o menos jovem Deputado do CDS? (falo fo frente e frente da SIC de hoje dia 30, é que estes últimos parecem ter outra ideia sobre o que sabm os Jovens sobre a Historia do 25 de Abril. nem tudo o que nos dizem deve ser comentado senão ficamos pior do que os comentadores e acabamos fazendo discursos encomendados por fazedores de histórias.
L.A.
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