10 de setembro de 2005

"O rio da minha aldeia"

















O Rio da minha aldeia

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.

O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia

E para onde ele vai
donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.




Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos



Pois o Ave é que é o rio da minha aldeia, Azurara

Até há quase 25 anos, tanto tempo, o Ave fez quase diariamente parte da minha existência.
Da casa onde nasci o Ave entra-nos janelas adentro com as traineiras descendo madrugada em direcção à foz e voltando mais tarde adornando de peixe fresco.

Penso que terei aprendido a nadar entre o mar e o rio. Nos fins de tarde quando o meu pai regressada va Fábrica de Mindelo (encerrada há muitos anos "para balanço" e este tema dará "panos para mangas"), vinha na sua Zundapp e mais tarde no seu NSU e nós já estávamos equipados à maneira e ala para a junqueira ou para o sopé do Monte de Sant'Ana devidamente acompanhados pelo Leão e era tudo para a água, uma festa. Tivemos um barquito a remos que estava fundeado lá e era ver o Júlio e o Alexandre a lançarem-se em altos mergulhos. Eu sempre fui medrosa e nunca me aventurei nesses voos.

Comemos muito peixe que o meu Velho pescou nas águas, então límpidas, do Ave. Aos Sábados ele saia cedinho com a cana e o cesto da pesca a tiracolo e o Leão colado às suas pernas. Dizia o meu Pai "há quem tenha um cão de caça, eu tenho um cão de pesca”. Muito peixe comemos... Ele chegava com o cesto cheiinho de Robalinhos, Tainhas e Pintas que nós amanhávamos no tanque que havia no coberto. Era um fartote de peixe fresco


Hoje o rio da minha aldeia está morto, as águas putrefactas, fétidas. Ainda há quem lá pesque, mas não creio que esse peixe lá pescado faça a felicidade de qualquer família. A ganância, a fúria do lucro, o desrespeito pelas gerações vindouras matou o rio da minha aldeia.

7 comentários:

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

M'ANA:
Gostei muito da foto do Rio da nossa (considero-a também minha) Aldeia. Etambém, do texto que escreveste que tantas recordações boas me trouxe...
O meu Blog, herdei-o do Jorge: www.mimiagatinha.blogspot.com
Não tenho tido tempo pra ele. Mas, logo que possa, vou conntinuá-lo.
Um grande beijo da mana
Margarida

ES disse...

Olá “tias”, quem diria que também andavam por estas andanças : )))
Apesar da minha ainda tenra idade… as minhas recordações de infância… são as que recordo com mais alegria…
Beijinhos às duas… e prometo que sempre que puder vou visitar e deixar bitates nos vossos blogs (se bem que no da Margarida, isso está bloqueado) ***
Marta

almadepoeta disse...

Para já a introdução com um belíssimo poema está uma delícia.
Navegaste no rio das recordações que guardas da tua infância e isso faz-nos tão bem.
Cada vez mais aprecio os teus textos. Parabéns comadre.
Desconhecia essa tua faceta de " tias" srsrsr,,,,vou ler o blog da Mimi, que julgo ser a gatinha.
Beijo.

Anónimo disse...

Olá!
É a primeira vez que visito o seu blog e gostei muito do primeiro texto que li. Sempre que tenha disponibilidade, tenciono continuar a visitar o seu cantinho.
Aproveito a ocasião para agradecer as visitas e os comentários que deixou no meu blog.
Como é bom recordar certos episódios da nossa infância!
Beijinhos.

O Puto disse...

Texto inspirado e bela música, que já não ouvia há bastante tempo.
Obrigado pela visita e bom trabalho!