27 de novembro de 2006

Para a Marta o abraço possível












Bom dia!

Quando estamos, fisicamente, longe uma de duas coisas é possível que aconteça: o esquecimento começa a pouco e pouco a instalar-se e o longe cada vez fica mais longe, ou as memórias e a saudade vão potenciando a frustração de não podermos participar nos acontecimentos e “limitarmo-nos” a ficar felizes com os sucessos e acontecimentos que acrescentam mais valias à vida dos que ficaram ou sofremos impotentes, frustrados numa raiva surda por não podermos pessoalmente chorar, abraçar os que a vida lá tão longe faz sofrer.

Para a Marta, mesmo sabendo que ninguém pode sofrer o nosso sofrimento, mas deixando o abraço solidário e amigo que gostaria de ter dado pessoalmente:

Do Salmo 39

Senhor. Vinde em meu auxílio.
socorrei-me e salvai-me.
Alegrem-se e exultem em Vós
todos os que Vos procuram.
Digam sempre: “Grande é o Senhor”
os que desejam a Vossa salvação.

Eu, porém, sou pobre e infeliz:
Senhor, cuida de mim
Sois o meu protector e meu libertador.
ó meu Deus, não tardeis.

Do Salmo 41

Digo a Deus: Sois o meu protector,
Porque Vos esqueceis de mim?

E ainda:

Porque estás triste, minha alma e desfaleces?
Espera em Deus: ainda o hei-de louvar,
meu Salvador e meu Deus.

Da Primeira carta de S. Paulo aos Coríntios:

Ora, se, se prega que Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, como dizem alguns de entre vós que não há ressurreição de mortos?
Mas, se não há ressurreição de mortos, também Cristo não foi ressuscitadp.
E, se Cristo não foi ressuscitado, logo é vã a nossa pregação, e também é vã vossa fé.
E assim somos também considerados como falsas testemunhas de Deus que Ele ressuscitou a Cristo, ao qual, porém, não ressuscitou, se, na verdade, os mortos não são ressuscitados.
Porque, se os mortos não são ressuscitados, também Cristo não foi ressuscitado.


Porque a morte é consequência directa do facto de se nascer, deveria de ser encarada com a naturalidade que merece qualquer facto natural. Mas porque fomos, desde tempos imemoriais, ensinados a encarar a morte como um castigo, principalmente quando ocorre antes da velhice, acontece que perguntamos sempre, como o salmista: “porque Vos esqueceis de mim?”, ou ainda: porquê só a mim acontecem estas desgraças? Onde estavas Tu, meu Deus que não a evitaste? A morte tem, apenas, a ver com a finitude da vida e com as circunstâncias que se conjugam para que ela ocorra: ou a velhice, ou doença ou acidentes que escapam pura e simplesmente ao nosso controle ou à nossa previsão. Quando isto ocorre só podemos pedir e esperar:

“Senhor, cuida de mim
Sois o meu protector e meu libertador.
ó meu Deus, não tardeis.”

E estarmos certos de que só aguentamos este novo embate porque Deus está, de facto, connosco, nos pega ao colo e nos enxuga o pranto, temos a certeza do Encontro porque não somos falsas testemunhas, mas crentes na Ressurreição. A dor da morte dos que amamos vai se esbatendo, transformando em saudade e em doce memória: sorrimos ao pensarmos nas alegrias que a sua breve passagem na nossa vida nos proporcionou e ficamos gratos por esses momentos de felicidade.

Se me amas não chores

Se conhecesses o mistério imenso
Do Céu onde agora vivo,
Este horizonte sem fim,
Esta luz que tudo reveste e penetra,
Não chorarias, se me amas!
Estou já absorvido no encanto de Deus,
Na sua infindável beleza.
Permanece em mim o teu amor,
Uma enorme ternura
Que nem tu consegues imaginar.
Vivo numa alegria puríssima.
Nas angustias do tempo
Pensa nesta casa
Onde um dia
Estaremos reunidos para além da morte,
Matando a sede
Na fonte inesgotável da alegria
E do amor infinito.
Não chores,
Se verdadeiramente me amas!

Santo Agostinho

“Esta Mulher só pode estar no coração de Deus”


Abraços marienses
Lisboa, 27 de Novembro de 2006
Ana Loura

3 comentários:

Anónimo disse...

Ana: Muito obrigada por teres postado ensinamentos tão profundos sobre como lidar com sentimentos dolorosissimos de perdas.. passei por vários deles, ainda enquanto agnostica, mas mesmo assim acho que Deus esteve sempre comigo para ter aguentado o que aguentei!!(as tais "pegadas na areia"..ALGUEM me deve ter pegado ao colo, pq eu acho que paralisei de dor..)
B Hajas e um abraço à Marta tb! É essencialmente na dor que por vezes crescemos mais interiormente..
nao tenho palavras para mais pq é-me pessoalmente demasiado tocante falar do binomio vida/morte..
abraço!!
maria

Anónimo disse...

e ainda a proposito Ana: em relaçao a uma dessas Pessoas mt queridas que partiu da minha vida terrena (no meu coraçao continua viva claro e mesmo no dia a dia pelos ensinamentos de vida que me foi transmitindo), no outro dia celebrou-se uma missa por sua alma, e de Amigos já só estavamos dois.. todos os outros que tb lhe eram tao gratos em vida, parece que hoje deixaram cair nalgum esqueçimento a sua memória (eu nao queria nunca vir a fazer isso, mas nunca se pode dizer nunca e nem posso fazer juizos de censura sobre essas pessoas, pois cada um terá os seus motivos..mas oxalá nunca eu os venha a ter...oxalá consiga sempre lembrar que a Pessoa continua viva atraves da sua memória..) isso faz-me mta impressão e faz lembrar o poema do Fernado Pessoa sobre a morte e de como após ela a pessoa só é lembrada, quando muito, umas 2 vezes no ano: dia em que nasceu, dia em que morreu.. (nao o tenho de momento cmg, mas é bastante elucidativo sobre o processo de esqueçimento de Pessoa no pós morte).
abraço!
Maria

Anónimo disse...

Há coisas que são incompreensíveis para a mente humana; mas estas, de uma forma ou de outra, não costumam prejudicar muito a nossa vida.
A morte, pelo contrário, deixa em suspenso a nossa alma: uma parte de nós "embarca" com a pessoa que parte, até chegar também à nossa hora.
A lei da existência é vermos partir os nossos pais, por mais dor que isto nos possa causar... mas os nossos filhos é "contra natura". No dizer de Simeão: "uma espada de dor que trespassa a alma".

Às mães que vêem partir o fruto das suas entranhas.

Adriano