Bom dia!
Escrevo-vos ao som do programa da SIC que analisa os resultados da votação no Referendo para a despenalização da interrupção voluntária da gravidez até às 10 semanas.
Depois de uma campanha que tentou esclarecer os portugueses sobre as perspectivas diversas sobre a questão o Sim ganhou. Observando mais de perto a distribuição dos sentidos de voto no mapa nacional, eu concluo que, as campanhas diretas não atingiram as zonas rurais e que aí prevaleceu a ideia lançada por adeptos do NÃO e veiculada pela comunicação social e a Igreja Católica, de que o que estava em questão era o concordar ou não com a realização de abortos, ser ou não pela morte.
Este assunto será, para mim, sempre um assunto que preferiria não discutir, uma questão que estivesse resolvida à partida com uma educação sexual programada com vontade de que todos os jovens conhecessem o significado do respeito por si próprios, pelos outros e acima de tudo pela vida, um planeamento familiar eficaz, para que o aborto não seja prática vulgarizada, mas um último recurso.
A partir de hoje vai ser possível legislar, regulamentar, apesar do referendo não ser vinculativo devido à elevada abstenção pois, mais uma vez, uma grande maioria dos portugueses optou por não participar na vida democrática do país. O estado, os organismos de apoio social, a Igreja, passam a ter de desempenhar de uma forma mais efectiva e eficaz um papel essencial na criação de condições para que o aborto seja realizado em instituições públicas com assistência médica e em segurança, quando não haja uma outra solução que o evite, de modo que a mulher que se veja obrigada a fazê-lo, seja atendida por equipas compostas por assistentes sociais, psicólogos, médicos no sentido de que não seja realizado o aborto, que se encontrem soluções eficazes e rápidas. Que os sistemas para adopção de crianças sejam mais céleres que tudo se interligue de forma a que o desespero de muitas mulheres não chegue nunca ao ponto da realização de um aborto.
Sabemos que o aborto deixa marcas psicológicas profundas, uma mulher que o pratica nunca o esquece.
O Sim ganhou, agora, que ganhe a VIDA
Abraços marienses
Azurara, 12 de Fevereiro de 2007
Ana Loura
11 comentários:
Quando dizes que uma grande maioria dos portugueses não quiz votar, também não é assim. Não se deve generalizar as causas de tão elevada abstenção. Como não vale a pena estar a escrever tudo de novo, deixo aqui o que comentei no Albarcuel:
"também não se pode partir do princípio que quem não votou fê-lo porque não quiz. Há-que não esquecer dos estudantes deslocados que não podem ir a casa, os professores deslocados que também não podem ir a casa, os portugueses que trabalham fora do país e que também não conseguem cá vir, etc...
Eu tenho pena de fazer parte da abstenção. Não foi por escolha, mas porque não tenho dinheiro para pagar uma viagem de dois dias aos Açores para votar. E sei que muita, muita gente está na mesma situação. Eu, a minha mãe e os meus dois irmãos, e muito mais gente...
Depois sim, há aquelas pessoas que não votaram mesmo por opção.
É uma pena mesmo...
Cheguei mesmo a capacitar-me de que o Não ganhava. Foi de certa forma uma surpresa a vitória do sim.
Agora sim, bem-vindas ao século XXI! :D "
E já agora, gostava de constatar que de todos os concelhos açoreanos, o concelho de Vila do Porto foi o único onde o "Sim" ganhou! Foi rés-vés, mas ganhou! :)
Ângela, tens toda a razão. A nossa foi por força das circunstâncias e há milhares de pessoas como nós. Não nos foi reconhecido o direito de voto. Em votações nacionais, como estas, em que os resultados não são obtidos por circulos, deveria haver forma de podermos votar nas assembleias de voto das nossas residências temporárias. Houve mais que tempo do Estado ter tratado disso. Mas, temos que reconhecer, que houve muita abstenção do deixa andar...dos outros decidam
quando me abstive nao foi nessa do "deixa andar", mas sim naquela de "decida quem tem legitimidade para decidir sozinho, isto é, quem de deireito"
Noticia extraida do DN:
"O resultado do referendo sobre o aborto veio aumentar o interesse das clínicas estrangeiras em Portugal. Até ao momento há duas espanholas interessadas - uma delas vai abrir portas em Março - e uma fundação inglesa. Mas, enquanto a nova lei não entrar em vigor, os médicos contactados pelo DN afirmam que "as consciências já mudaram" e haverá tendência para praticar mais abortos dentro dos limites legais da actual lei. Em particular, na alínea que permite a interrupção voluntária da gravidez por questões de saúde física e psicológica da mãe."...
eis um dos outros motivos da minha abstençao: a actual lei nao estava a ser devidamente aplicada no meu entender... tinha esse pressentimento, mas agora ouço de "viva voz" da classe médica...
essa bendita alínea que fala na "saude psiquica da mulher" podia abranger mtas situaçoes de pratica de aborto justificado por uma causa de exclusão da ilicitude...
tenho imensa pena que as pessas criem as leis e depois nao as apliquem e depois ainda nos façam sentir culpados por dizermos que nao temos que nos pronunciar sobre situaçoes melindrosa pq a lei que as protege já existe..
Que o período de reflexão seja, de facto, obrigatório, as equipas pluridisciplinares sejam instituidas e funcionem. Reafirmo tudo o que já disse: que não haja nunca necessidade de mulher nenhuma abortar etc... Concordo contigo: não basta parir leis, é imperioso aplicá-las, passar-se das meias tintas.
Quer queiramos quer não as mulheres abortam sempre, e quando estão decididas não há nada que as impeça. Como dizia e bem no artigo aqui citado, "haverá tendência para praticar mais abortos dentro dos limites legais da actual lei". No meu entender quer isto dizer que os milhares de abortos clandestinos praticados todos os anos passarão a ser feitos dentros dos trâmits legais. Ou seja, isto implicará acompanhamento antes, durante e após a IVG, será feito em condições e, principalmente, as mulheres correrão menos riscos de vida. Nunca ninguém disse que se o Sim ganhasse o aborto iria acabar. Isso nunca esteve em causa e a pergunta nem era essa. O que está em causa é que agora as mulheres poderão fazê-lo ATÉ ÀS DEZ SEMANAS num estabelecimento de saúde legalmente autorizado, e isto implica tudo aquilo que referi há pouco. Outro ponto positivo é o facto de as mulheres já não irem a julgamento por uma coisa que se faz há séculos e que em toda a Europa se faz, com condições, claro.
É óbvio que eu também preferia que não tivesse havido referendo e que o PS não se tivesse acobardado pela segunda vez e tivesse deixado os nossos eleitos, nossos portas-voz, decidirem em Assembleia. Mas pronto. O "sim" ganhou, é o que interessa...
semolina, mas porque é que só agora se sentem com coragem de aplicar uma lei que afinal já existia há anos? .... o que mais me irritou nesta campanha foi nao terem esclarecido bem as pessoas sobre o actual quadro legislativo (que afinal nao era o responsavel por parte dos abortos clandestinos - pelo menos pelos que se podiam subsumir na tal al. b) do artº 142º-, que afinal só se tornavam ilegais porque nao feitos de acordo com o artº 142º ainda em vigor do C.Penal, ou seja, em estabelecimento de saude oficial....e nas condiçoes aí previstas )e irritou-me também nao terem o trabalho de casa mais ou menos feito sobre o futuro quadro, sobretudo a nivel da logistica e de outros aspectos mais praticos que agora se irao colocar, apresentando p.ex. estudos previos sobre o nº de medicos objectores de consciencia, etc,etc...
mas eu já estou cansada de bater na mesma tecla.. talvez assim venha a ser melhor, mas nao apontem as culpas todas á lei ainda em vigor e que afinal talvez esteja a ser alterada sem necessidade, pelo menos juridicamente..
SERÁ QUE O SISTEMA DE SAUDE VAI CONSEGUIR AGUENTAR .
OU VÃO AUMENTAR AS LISTAS DE ESPERA PARA QUEM REALMENTE ESTÁ DOENTE?
Olá Ana ,
somos poucos mas o suficiente para mudar, e o que era necessária era a mudança, principalmnte das mentalidades - coisa que não aconteceu com a ajuda da Igreja, que sempre que abordava o assunto dava a entender que só ela sabe o que é uma vida . Quem melhor do que uma mãe sente as dores e agonia de se ver obrigada a fazer um aborto?? Gostaria que agora com as coisas menos penelizantes essa necessidade, última, viesse a diminuir e estou em crer que assim será, No entanto como pessoa com alguma crença religiosa, não praticante, vejo que cada vez mais a igreja com as atitudes hipócritas que toma sobre vários temas da vida nos leva a cada vez mais nos afastar-mos . Porque ainda não percebi o que vale a vida para a Igreja -? Se é vida o que nasce fruto de uma violação? se é vida aquele que antecipadamente já se sabe vai ser deficiente? para estas vidas "aceita-se" o aborto - Se há vidas para quem a solução é a pena de morte e a Igreja não se pronuncia !!?? então de que vidas fala a Igreja?? Alguém disse um dia .. "quem nunca errou que atire a primeira pedra" Nós estamos todos a aprender com esta lição mas a própria igrega por vezes parece que não tem telhados de vidro...
Desejo boa vontade e que agora alguns médicos não se substituam à Igreja usando das mesmas atitudes para com a mulher... Viva a Liberdade e que todas as mulheres cada vez menos precisem de usar esta forma ,que é o aborto , para resolver os seus problemas mas se a isso forem conscientemente forçadas, que o façam com dignidade e sem qualquer especie de papão mental que é o PECADDO !!! . Viva Portugal e viva ao voto livre !
L.A
L.A.
desculpa-me, mas estava certa de que o tinha publicado. Obrigada por me chamares a atenção. Quanto a não merecer ser publicado...ora...ora, claro...Beijinhos e volta sempre
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