1 de março de 2004

A minha primeira cronica

Bom dia.
Quando o Ricardo me telefonou a convidar para fazer parte de um grupo de pessoas que realizariam, cada um no seu dia, uma crónica aos microfones do Asas a primeira ideia que me veio à cabeça foi simpaticamente recusar o ainda mais simpático convite. Onde arranjaria eu tema para apresentar semanalmente sem me repetir e sem repetir os temas das crónicas dos meus colegas? Que interesse teria para os ouvintes do Asas a minha opinião sobre o que quer que seja? Onde arranjaria eu tempo para me dedicar a tão espinhosa tarefa?
Bom, pelos vistos aceitei e cá estou para tentar dizer alguma coisa minimamente interessante. Pouco tempo depois de ter chegado a Santa Maria alguém me contou uma estória que nunca mais esqueci: Aquando da passagem das instalações do Aeroporto de Santa Maria das mãos dos Americanos para as mãos dos Portugueses e foram construídas as estradas do aeroporto foi tanto o dinheiro gasto, que Salazar, que como sabemos nunca viajou para parte nenhuma, dizia que gostaria de conhecer a ilha onde as estradas eram pavimentadas a ouro, tais foram as quantias de dinheiro gasto na construção.
Na altura em que me contaram isto as estradas do Aeroporto ainda estavam transitáveis e em muito bom estado. O mesmo não se pode dizer neste momento em que poucos são os metros onde não se corra o risco de dar cabo das molas dos carros pagos com o nosso dinheiro. A ANA limita-se a colocar uma placa no início de cada troço com a indicação de estrada em mau estado e sacode assim a água do capote…transita quem quer…Esquece é que para chegar à casa de cada um não há estradas alternativas sem buracos. Sabemos que a ANA sa não tem vocação para administrar e manter esse tipo de infra estruturas, que os seus serviços que as mantinham, as Oficinas Gerais, há muito que ficaram vazias de pessoal, fala-se tanto na escassez de postos de trabalho em Santa Maria e uma estrutura que empregava e formou os mestres que todos ainda recordamos como profissionais excelentes, lentamente com a aposentação desses mestres fechou para obras definitivamente ao dispensar, há pouco tempo, o serviço de alguns dos seus funcionários.
Se a própria ANA SA reconhece que não tem essa vocação, se a própria Assembleia Legislativa Regional recomenda que essas infra estruturas passem para a responsabilidade da Câmara, porquê isso ainda não aconteceu? Claro que a Câmara não quer receber ruínas, mas enquanto esperamos que a transferência de bens se efective após a reparação mínima das estradas lá andamos nós a fazer gincana a fugir da cova mais funda e a tropeçarmos noutra e arruinarmos os nossos carros. Infelizmente a questão do mau estado das estradas não se limita ao perímetro do aeroporto, estradas há no resto da ilha cuja construção é recente e que já apresentam sinais visíveis de degradação.
Algumas perguntas me vêm à cabeça: Porquê? Quais as causas dessa degradação? Má construção? Não houve fiscalização da obra? Será que as viaturas ligadas à construção civil não circulam com peso para além do permitido pela tipo de estradas que temos e que portanto estas suportam? Quem fiscaliza? Qual a entidade com o dever de fiscalizar a tonelagem que circula nas nossas estradas? A PSP? Tem meios para o fazer? Claro que os empreiteiros querem rentabilizar recursos, mesmo que isso signifique arruinar as nossas estradas feitas com o dinheiro de todos nós, pois quanto mais encherem a caixa dos camiões menos viagens fazem e mais poupam. Isso com o sacrifício dos bens comuns.
Nota de rodapé:
O Navio porta contentores Vitorino Nemésio fez, ontem, a sua última escala em Santa Maria. Foi vendido. Não passa de um navio, mas que durante muitos anos, com a sua tripulação serviu os marienses no abastecimento de bens à ilha. Bom, acho que por hoje chega de cronicar. Deixei algumas questões, que penso, serão preocupações de todos nós… Aqui fica um abraço de uma cagarra importada. Importada porque vim de fora e importada, também, porque me importo, me preocupo com os problemas desta ilha que também é minha,
Abraços marienses
Ana Loura Santa Maria,
01 de Março de 2004

1 comentário:

Ana Loura disse...

Engraçado reler a minha primeira crónica e ver que, infelizmente, ela poderia ter sido escrita hoje...pouco ou nada mudou. É triste...

Abraços marienses