

Bom dia!
“Que tens que ver connosco, Jesus de Nazaré?”
Hoje o tema será recorrente. Há questões que fazem parte do meu dia-a-dia e a minha forma de estar na vida é um deles.
Quando alguém me pergunta como posso ser comunista e católica eu já sorrio pois ser as duas coisas, para mim, é ser só uma: ser o que sou. As pessoas perguntam-me meias a medo: “O teu padre sabe quem tu és?” ou o” Partido sabe que és católica?” Claro, que toda a gente sabe quem eu sou e o que sou. Assumo publicamente as minhas opções.
Raramente falto à missa. Faltar sim, para mim não ir à Missa é faltar. Quando, por qualquer razão, não vou sinto falta e só não vou quando estou numa terra onde não me sabem dizer a que horas se realiza ou se a igreja fica muito longe.
Ontem, claro que fui e senti-me particularmente bem. Há dias em que tudo ou quase tudo concorre para que nos sintamos bem e felizes.
Alguém, há uns anos, chamou-me beata e rata de sacristia…confesso que me senti triste, ofendida, principalmente, por ter o “insulto” saído de onde saiu. Aliás pensando bem foram duas as pessoas que me disseram isso e uma há bem pouco tempo. Na primeira vez calei-me mas da última pus-me em bicos de pés e disse: “Olha lá, se há duas coisas na vida em que não admito que ninguém se meta são nas minhas opções quer políticas quer religiosas, sou o que sou e quem quer gostar gosta e quem não quer gostar cala-se”. Assunto arrumado.
O que terá Jesus a ver comigo? O que terá Jesus a ver com todos e cada um de nós, cristãos? Ser cristão é seguir Cristo. O que é seguir Cristo?
Lembro-me tantas vezes do Padre Jacinto Monteiro e do brilho do olhar dele quando falava do amor louco de Cristo por nós, no Seu amor apaixonado à humanidade. Tão apaixonado que no Jardim das Oliveiras se deixou apanhar pelos soldados Romanos depois de Judas, numa provocação que pensava iria fazer Jesus pegar nas armas e assumir a liderança real do Povo e libertá-lo do jugo Romano, o entregou aos soldados.
Jesus foi abatido porque era pelos escravos, pelos pobres, pelos doentes, pelos desfavorecidos. Não foi o Povo quem matou Jesus, foi o poder instituído, foram os Romanos porque o poder Judaico, farisaico assim o quiz, com o cínico lavar das mãos de Pilatos, de toda a hierarquia judaica, excepto Nicodemos. O Povo, esse, foi manipulado pelos grandes, pelos poderosos, por aqueles que, arranjando testas de ferro, lacaios, sempre o manipula.
Portanto ser Cristão é ser pelos mais fracos, pelos desfavorecidos, pelos doentes do corpo e da alma e ser por eles é ser contra quem os desfavorece, contra quem não lhes dá emprego, quem os explora e, acima de tudo ter coragem de o ser. Não andar “acender velas a Deus e ao Diabo”. É dispor-se para servir quem precisa e onde é preciso. Não esperar sequer ser chamado, é ir ao encontro, pegar nas redes e nas enxadas, pescar nas águas tumultuosas e cultivar as vinhas desta vida.
Os Cristãos não se podem calar à injustiça, à prepotência, ao insulto, à miséria, aos aumentos dos preços, aos aumentos dos impostos, ao desemprego, à falta de solidariedade social, ao compadrio. O Cristão tem obrigação de denunciar alto e bom som, não de encolher os ombros e dizer…estou safo, desta vez não foi comigo. Para o Cristão é sempre com ele pois ser Cristão é seguir o mandamento maior, o mandamento do amar o próximo como a si mesmo.
*************************************************************************************
Assisti, ontem, ao espectáculo de comédia do actor José Pedro Gomes. Gostei do humor inteligente. A casa de cinema não estava lotada, mas razoavelmente composta. Uma aposta de uma organização que teve o mérito de arriscar numa aposta que, seguramente, ganhou.
Abraços marienses
Ana Loura
Santa Maria, 30 de Janeiro de 2006